O Globo
A ignorância dos fanáticos não admite as
nuances próprias da democracia. Para eles, é preto ou branco. Nós ou eles.
Amigo ou inimigo, num pastiche tropical da tese do jurista alemão Carl Schmitt,
referência do pensamento político autoritário. Lula e Bolsonaro são populistas
acostumados a seguidores cegos, e os que os criticam são inimigos.
Visões autoritárias convergem em alguns pontos, embora hoje, depois de três anos de governo Bolsonaro, não seja mais possível compará-los. A realidade do desgoverno bolsonarista, que solapa as instituições desde o primeiro dia, impede que seja comparável a qualquer outro governo desde a redemocratização, apesar dos desmandos registrados nos governos petistas.
É impossível, ao ver Bolsonaro usando o Palácio do Planalto para celebrar o indulto que concedeu a um deputado condenado pelo Supremo Tribunal Federal, não lembrar a então presidente Dilma, nos salões do mesmo Palácio do Planalto, ouvindo dirigente da CUT dizer que pegaria em armas para defendê-la. Ou, quando Bolsonaro instiga seus seguidores a atos inconstitucionais, não ouvir o eco de Lula dizendo que, quando Stédile (o chefe do MST) pusesse nas ruas o seu “exército”, todos veriam que “também sabemos brigar”.