terça-feira, 16 de janeiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Chuvas são inevitáveis; mortes, não

O Globo

Governo deve adotar planos eficazes de contingência e políticas de moradia que evitem áreas de risco

O ano mal começou, e as primeiras chuvas intensas já foram suficientes para demonstrar o despreparo das cidades brasileiras para enfrentar intempéries que tendem a tornar-se cada vez mais intensas e letais em decorrência das mudanças climáticas. As respostas a esses eventos previsíveis — e inevitáveis — têm sido insuficientes, como mostra a contagem de mortes depois de cada temporal.

Embora houvesse previsão de chuvas fortes no fim de semana, a cidade do Rio e os municípios da Baixada Fluminense se revelaram despreparados. Até ontem, as autoridades fluminenses contavam 12 mortos e dois desaparecidos. Vias essenciais, como a Avenida Brasil, tiveram de ser interditadas. Parte de um hospital na Zona Norte ficou alagada. Carros da polícia e do Corpo de Bombeiros não puderam deixar os quartéis devido à inundação.

Merval Pereira - A vã ideologia

O Globo

A volta de Marta ao PT mostra que as teses petistas tentando reescrever a História recente, por serem fantasias políticas, não encontram respaldo nos fatos.

Não creio que a chapa Boulos-Marta tenha semelhanças com a vitoriosa Lula-Alckmin. Não se trata de um político de centro-direita se juntando a um líder de esquerda para derrotar extremistas. Boulos é um ex-extremista de esquerda que evoluiu para a esquerda tradicional, enquanto Marta Suplicy é uma política de esquerda que veio para o centro e, no máximo, pode ser classificada de centro-esquerda.

Quase uma chapa puro-sangue, enquanto a vencedora em 2022 sinalizava um governo de união nacional que ainda não se viabilizou. A volta de Marta ao PT mostra, isso sim, que as teses petistas tentando reescrever a História recente, por serem fantasias políticas, não encontram respaldo nos fatos. O propalado “golpe” contra a então presidente Dilma Rousseff, que a retirou do poder por um processo de impeachment supervisionado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), teve o apoio do voto de Marta, então no MDB. E o novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, foi quem presidiu o processo contra Dilma, avalizando-o.

Carlos Andreazza - Os equadores do Brasil

O Globo

O bonde passou. Faz tempo. O do Brasil que pode se tornar um Equador; se não se prevenir. O do Brasil que se tornará, se não agir. Alô! Já é. Já era. Equadorizado está. (Ou brasileirado estará o Equador?) Anestesiados estamos? Observando o que ocorre lá como se possibilidade para cá. Ora. Em largas e crescentes porções de seu território, este país tem — e cultiva — equadores. Quantos há — havendo também no Norte e no Nordeste — apenas no Rio de Janeiro?

Exemplo. Outubro de 2023. A operação da Polícia Civil que matou miliciano na Zona Oeste, aquela guayaquil. O Estado que entra, age — e tem de sair. Que entra e depois corre; porque, desprovido de meios para permanecer, ousou pisar em área que tem dono. O Estado que admite, em sua ação, não poder ficar. Que reconhece não ser completamente Estado. Que reconhece um estado outro.

Zevi Ghivelder - O plano oculto de Netanyahu

O Globo

Ele formulou uma reforma por meio da qual o Parlamento passaria a ter o poder de revisar as resoluções da Suprema Corte

Para entender os posicionamentos irredutíveis de Benjamin Netanyahu, é preciso situá-lo no contexto de sua doutrinação ideológica. Ele é adepto do sionismo revisionista, formulado em Odessa pelo ativista e pensador Zeev Jabotinsky (1880-1940) na primeira metade do século passado. O revisionismo foi adotado pelo Irgun, organização clandestina judaica que combateu com armas os ingleses durante o mandato britânico na antiga Palestina. Com a independência de Israel, o Irgun deu origem ao partido político Herut, que originou o Likud, atual partido de Netanyahu.

O movimento revisionista pregava a implementação de uma nação judaica em seu território ancestral, se necessário pela força, na então Palestina Otomana, incluindo desde a fronteira leste da atual Cisjordânia até o Mar Mediterrâneo.

O traçado da Partilha da ONU, de 1947 — conferindo a Israel um trecho somente do Rio Jordão até o oceano —, foi respeitado durante 20 anos, até o país ser atacado pela Jordânia na Guerra dos Seis Dias. A derrota da Jordânia determinou a ocupação da Cisjordânia. Dessa ocupação resultou a instalação pontual de assentamentos como postos avançados de defesa.

César Felício - Força de prefeitos relativiza polarização nas eleições

Valor Econômico

Especialistas avaliam que avaliação da gestão terá peso maior na escolha

A força dos prefeitos candidatos à reeleição este ano deve prevalecer sobre a polarização nacional entre os apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Dos 26 prefeitos de capital, 17 devem disputar um novo mandato e apenas dois - Rogério Cruz (Republicanos) em Goiânia e Fuad Noman (PSD) em Belo Horizonte - não despontam em pesquisas de forma competitiva, ao menos em empate estatístico com o segundo colocado.

Onze lideram, como é o caso de João Campos (PSB), no Recife, e cinco estão no páreo para um segundo turno, como Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo ou José Sarto (PDT) em Fortaleza. Não há pesquisas recentes disponíveis em Boa Vista, onde o prefeito Artur Henrique (MDB) é bem avaliado.

Andrea Jubé* - Palavra de ordem da vez é ‘passe livre já’

Valor Econômico

Protestos contra aumento de tarifas do transporte público voltam a ganhar protagonismo

Força motriz dos protestos que convulsionaram o Brasil em 2013, o Movimento Passe Livre (MPL) voltou aos holofotes na quarta-feira (10), quando reuniu centenas de pessoas no centro de São Paulo para protestar contra o aumento da tarifa do metrô e do trem que subiu para R$ 5,00.

Difícil não evocar, a partir do reajuste de 60 centavos, uma das palavras de ordem das manifestações de 11 anos atrás: “não é só pelos 20 centavos”. Naquele ano, a indignação coletiva pelo preço da passagem cresceu, e voltou-se para os gastos com a Copa do Mundo de 2014, a qualidade dos serviços públicos e a corrupção na política.

É prematuro avaliar se os protestos deste ano, ainda tímidos, ganharão tração para se alastrar país afora. Mas é possível assegurar que o passe livre e a mobilidade urbana estarão entre os principais temas das eleições municipais, ao lado de segurança pública, saúde e educação.

Rana Foroohar* - EUA têm de falar claro sobre comércio

Valor Econômico

Casa Branca não conseguirá vender sua abordagem ao resto do mundo a menos que explique melhor como as políticas comerciais de Biden diferem das de Trump

A política comercial é o ponto mais importante dos dois grupos de interesse favoritos de Joe Biden - os trabalhadores americanos e os aliados dos EUA. Consideremos a declaração recente sobre a oferta da gigante japonesa Nippon Steel pela US Steel, feita pela principal assessora econômica do presidente, Lael Brainard.

Ela disse que embora Biden dê boas-vindas a “fabricantes do mundo todo que constroem o seu futuro na América, com empregos e trabalhadores americanos, ele também acredita que a compra dessa emblemática companhia por uma entidade estrangeira - mesmo sendo ela de um aliado próximo -, parece merecer um escrutínio sério em termos de seu possível impacto na segurança nacional e na confiabilidade da cadeia de abastecimento”.

Mário Mesquita - Dificuldades do ajuste fiscal nos EUA

Valor Econômico

Massiva necessidade de emissão do governo americano deve contribuir para estabelece piso mais elevado para os Treasuries, constituindo ambiente mais desafiador para as economias emergentes

O mercado de títulos da dívida pública americana está no centro do sistema financeiro internacional e suas oscilações têm implicações globais. Diante das dificuldades da política fiscal nos EUA, com déficits elevados e consequentes aumentos das emissões de dívida pública e das dúvidas acerca da política monetária, em meio a crescimento e inflação resilientes, as taxas de juros dos títulos de 10 anos oscilaram de 3,3% ao ano. em abril para pouco mais de 5% a.a. em meados de outubro, e depois de alguns sinais incipientes de melhora sobretudo no quadro inflacionário, começaram a declinar fortemente, para os níveis atuais de cerca de 4% a.a. Esses movimentos, por sua vez tiveram repercussões por todo o mundo, incluindo o Brasil. Entender os desafios da política fiscal americana tornou-se, portanto, algo mais relevante para quem acompanha e investe nos mercados de ativos. E os desafios são, de fato, importantes.

Eliane Cantanhêde - De mordomias a penduricalhos

O Estado de S. Paulo

Quem é pago para garantir a lei fura o teto constitucional em favor próprio

Há anos, ou décadas, o nosso Estadão grita contra o que era conhecido como “mordomias” do setor público e contra o que é apelidado de “penduricalhos” para magistrados, procuradores, promotores que, assim, não apenas multiplicam seus salários muitas vezes como furam as leis que são pagos para garantir. Os Poderes e os responsáveis fingem não ouvir o grito. Eles vão levando e nós vamos pagando.

O texto constitucional do funcionalismo é o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e nenhum agente público, de qualquer poder ou cargo, pode receber mais do que R$ 41,650,92. Está na Constituição. E na prática? Bem... Quem exige dos cidadãos e cidadãs que estejam dentro da lei é craque em criar atalhos para fugir dela.

Joel Pinheiro da Fonseca - Não, as enchentes do Rio não são fruto de racismo ambiental

Folha de S. Paulo

Causa é a boa e velha pobreza, que afeta brancos, pretos, indígenas e quem mais vier

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, estava apenas repetindo lugares-comuns do discurso progressista, mas acabou furando a bolha —como a fala de autoridades costuma fazer— e gerou reação. Publicou a ministra, no dia 14, em sua conta no X:

"Estou acompanhando os efeitos da chuva de ontem nos municípios do Rio e o estado de alerta com as iminentes tragédias, fruto também dos efeitos do racismo ambiental e climático." Espera aí: então agora devemos acreditar que as enchentes no Rio são fruto do racismo? O ruído, é claro, acabou soando muito mais alto do que o problema social real.

Dora Kramer - Cabeça de juiz

Folha de S. Paulo

Cabem aos magistrados decidirem se devem fidelidade à toga ou gratidão ao presidente

"Cabeça política", para usar expressão de Luiz Inácio da Silva, é atributo essencial aos que, como ele, exercem a Presidência da República ou quaisquer cargos em chefias no Poder Executivo. Se o governante não tiver a referida "cabeça", é caminho (mais que meio) andado para o fracasso das respectivas gestões.

Não é, como disse Lula ao anunciar o nome de Ricardo Lewandowski para o Ministério da Justiça e ao mesmo tempo celebrar, e justificar, a nomeação de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal, critério exigido a magistrados. Quaisquer que sejam as instâncias de seus postos.

Hélio Schwartsman - Árbitro final

Folha de S. Paulo

Número de apostadores em bets sugere que autoridades sanitárias devem ficar atentas para problema do jogo, mas não proibir a atividade

O jogo é um problema. Embora a maioria das pessoas se mantenha sabiamente longe das apostas, minorias ponderáveis assumem comportamentos mais arriscados. Pesquisa Datafolha mostrou que 15% dos brasileiros fazem ou já fizeram apostas esportivas online, as chamadas bets.

Os que o fazem com regularidade, ainda que bissexta, são 8%. Considerando que só uma fração diminuta dos jogadores frequentes desenvolve quadros patológicos, os números não destoam das prevalências globais. A situação muda um pouco se olharmos para coortes específicas. Entre os jovens (16 a 24 anos), 30% já fizeram uma fezinha; 16% apostam com regularidade.

Alvaro Costa e Silva -Bloco da desimportância é puxado por Sergio Moro

Folha de S. Paulo

Dele fazem parte Bretas, Witzel e Temer, que após a superexposição vão desaparecendo

Paulo Francis gostava de escrever que fulano "desponta para o anonimato". Pois os fulanos continuam, em maior número e com desatinada velocidade, florescendo para a obscuridade. Há uma fila deles, que foram mais ou menos influentes na política. Todos buscaram os 15 minutos de fama usando a superexposição nas redes. Depois perderam força sob o peso de seus atos.

Marcelo Bretas, juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, conhecido pela atuação na Lava Jato, confeccionou seu destino com paciência de ourives. Afastado do cargo sob suspeita de conduta irregular, dedica-se à carreira de coach jurídico. No Instagram, apresenta vídeos sobre liderança e direito; aborda assuntos relacionados a "Deus e Família". Ao menos, não posta mais fotos de camiseta regata puxando ferro na academia.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade -"Canto do Rio em Sol"

 

Música | No Cordão da Saideira - Edu Lobo