sexta-feira, 2 de março de 2018

Murillo de Aragão: Águas Quentes de Março

- Blog do Noblat

Entre 7 de março e 7 de abril os detentores de mandato legislativo (deputado federal, estadual e vereador) poderão mudar de partido

Encerrando um trimestre cheio de eventos políticos,o mês de marco será muito importante para a sucessão presidencial. Os desdobramentos do mês podem definir algumas candidaturas e, sobretudo, influir no desenho das coalizões que se desenham.

O mais importante dos eventos é o início da janela partidária – entre 7 de março e 7 de abril – quando detentores de mandato legislativo (deputado federal, estadual e vereador) podem mudar de partido sem risco de perder o mandato. Tal fato irá gera uma imensa mobilização no Congresso já que o tamanho das bancadas influirá no tempo de televisão dos candidatos.

A movimentação deve repercutir na agenda de votações do governo no Congresso dada a instabilidade que as mudanças partidárias podem causar na base governista.

Alguns partidos, como PSDB e REDE, temem redução de suas bancadas na Câmara dos Deputados. O DEM, de Rodrigo Maia (RJ), pode atrair uma boa quantidade de deputados federais já que o o partido deverá estar em alguma coalizão relevante na sucessão.

No âmbito partidário e eleitoral, o PSDB realiza sua pré-convenção no dia 11 para escolher seu pré-candidato à Presidência da República. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin deve ser aclamado já que Arthur Virgilio desistiu de participar do processo de prévias. No dia 7, Geraldo Alckmin participa de debate sobre a sucessão presidencial em Washington. Evento será acompanhado com interesse pelo mercado financeiro.

Fernando Gabeira*: A luta contra fantasmas

- O Globo

Existem várias comissões para fiscalizar a intervenção e poucas articulações para cooperar com o Exército

Outro dia, chamaram-me de general num desses blogs. Não me importo: são os mesmos de sempre, como diria um personagem de Beckett, depois de apanhar. O ponto de partida é minha visão positiva sobre o papel do Exército no Haiti. O que fazer? Estive lá duas vezes, vi com os meus olhos e ainda assim sempre consulto o maior conhecedor brasileiro do tema, Ricardo Seitenfus.

Não estive com o Exército apenas no Haiti. Visitei postos avançados de fronteira da Venezuela, junto aos yanomamis, em plena selva perto da Colômbia. Vi seu trabalho na Cabeça do Cachorro, no Rio Negro, cobri o sistema de distribuição de água para milhões de pessoas no sertão do Nordeste.

Não tenho o direito de encarar o Exército com os olhos do passado, fixado no espelho retrovisor. Além de seu trabalho, conheci também as pessoas que o realizam.

Nesse momento de intervenção federal, pergunto-me se o Exercito para algumas pessoas da esquerda e mesmo alguns liberais na imprensa, ainda não é uma espécie de fantasma que marchou dos anos de chumbo até aqui, como se nada tivesse acontecido no caminho.

Alguns o identificam com o Bolsonaro. Outro engano. Certamente existem eleitores de Bolsonaro nas Forças Armadas como existem na igreja, nos bancos e universidades. Mas Bolsonaro e o Exército não são a mesma coisa.

Merval Pereira: Semana decisiva

- O Globo

A próxima semana será um marco na definição de parâmetros jurídicos do julgamento do ex-presidente Lula. Na terça-feira, dia 6, o TRF-4 receberá a resposta do Ministério Público sobre os embargos de declaração da defesa de Lula, e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgará o pedido de habeas corpus para impedir que o ex-presidente seja preso se confirmada a condenação em segunda instância.

Como o STJ segue à risca a orientação do STF de que execução provisória da pena deve começar depois de a prisão em segunda instância, é improvável que a Turma não siga a decisão do relator Felix Fischer de negar o habeas corpus. No mesmo processo, a defesa de Lula pede que o STJ anule sua inelegibilidade em decorrência da Lei da Ficha Limpa.

Como o momento de recorrer da inelegibilidade é apenas depois que os embargos de declaração estejam terminados no TRF-4, é provável que o STJ nem examine esse aspecto da questão. Dificilmente o tema da prisão depois de condenação em segunda instância voltará ao plenário do Supremo Tribunal Federal, antes da decisão final do TRF-4 sobre os embargos declaratórios da defesa do ex-presidente Lula à sentença condenatória.

A não ser que algum ministro leve o tema “à mesa”, no jargão do STF, o que torna automático o exame do assunto. Mas, mesmo que alguns ministros deem declarações a favor do julgamento da questão pela quarta vez em poucos anos, não apareceu quem queira assumir a responsabilidade de colocar o assunto na pauta.

A presidente Cármen Lúcia continua na disposição de não pautá-lo, e nessa batida a decisão final sobre o recurso de Lula deve ser tomada neste mês de março, provavelmente ainda na primeira quinzena. Confirmada a condenação, a execução provisória da pena será determinada ao Juiz Sergio Moro pelo TRF-4, levando o expresidente Lula à cadeia.

César Felício: Bolsonaro contra Ciro, um cenário possível?

- Valor Econômico

Há gente que não trata política como ciência exata

Em sua longa entrevista de seis horas ao Valor, na semana passada, o economista Paulo Guedes, atual guru econômico de Jair Bolsonaro, lança uma advertência: a mídia, os mais sofisticados analistas políticos, a elite empresarial e partidária, não estão entendendo o que se passa no país. Gasta-se um imenso tempo na radiografia da candidatura de Geraldo Alckmin, na tentativa de se identificar as verdadeiras intenções de Rodrigo Maia e Michel Temer, na aposta em qual será a legenda a que Henrique Meirelles irá se filiar.

Fica o desafio para qualquer um: passar o dia no Viaduto do Chá, em São Paulo, ou na Praça do Ferreira, em Fortaleza, e encontrar ao menos um eleitor de Rodrigo Maia, ou de Meirelles, ou mesmo de Temer. Os de Alckmin sim existem, mas são poucos. Todos juntos ficam aquém da metade das intenções de voto de Bolsonaro.

Na sua tentativa de "racionalizar o caos", como diz, Guedes afirma que estão subestimando o humor da sociedade, o mal-estar da civilização brasileira, o fastio com a classe política e o nervosismo com o fato de que nada mais é sólido. Seja religião, seja a estabilidade econômica, seja a certeza de chegar são e salvo em casa, seja manter intocado o castelo de certezas de cada um. Não entenderam em 2013, não entendem agora.

Quem parte deste entendimento pensa que isto é mais forte do que a aritmética da ciência política: ganha eleição no Brasil quem concentra estrutura partidária, o que torna possível monopolizar o horário de rádio e televisão e montar uma malha de candidatos que funcionem como cabos eleitorais.

Eliane Cantanhêde: Raquel e Fernando

- O Estado de S.Paulo

PGR e PF com Galloro afinados no combate ao crime e à corrupção

Ao mesmo tempo, num movimento que parecia combinado, o presidente Michel Temer nomeou o delegado Fernando Segovia para a diretoria-geral da Polícia Federal e escolheu a procuradora Raquel Dodge para a Procuradoria-Geral da República. E ficou todo mundo de olho nos dois.

Segovia e Dodge, por motivos bem diferentes, sofriam fortes resistências de seus antecessores – Leandro Daiello, na PF, e Rodrigo Janot, na PGR – e suportaram críticas, cochichos e fofocas no sentido de que tinham como compromisso abafar a Lava Jato, preservando principalmente Temer e sua turma.

Segovia, o Breve, que nem era o preferido de Daiello, da corporação e do próprio chefe, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, deu com os burros n’água. Dodge, ao contrário, vem demonstrando firmeza, independência e profissionalismo. Se recebe críticas, é pelo corporativismo.

Em menos de seis meses, e tendo de lidar com erros do antecessor, Dodge vem fazendo tudo o que tem de fazer, sem pressa, sem histeria, sem perseguir nem passar a mão na cabeça de ninguém – nem de Temer. Ao mesmo tempo que anulou as delações premiadas de Joesley e Wesley Batista, os grandes troféus de Janot e fontes das maiores amarguras de Temer, Dodge também não dá sossego ao presidente.

Bruno Boghossian: Ao emparedar Ciro, Lula amplia abismo entre PT e aliados

- Folha de S. Paulo

Em busca de protagonismo, petistas reduzem opções para a eleição presidencial

“O Ciro ou vai para a direita ou não pode brigar com o PT. Eu fico fascinado de ver como uma pessoa inteligente como o Ciro fala tão mal do PT.”

A declaração do ex-presidente Lula em sua entrevista à Folha mostra a dimensão do abismo que se abriu entre a cúpula petista e a candidatura de Ciro Gomes (PDT) para a próxima corrida eleitoral. Dirigentes do partido até viam com simpatia a possibilidade de apoiá-lo já no primeiro turno, mas sob a condição de que a defesa do PT tivesse papel central na campanha —algo que o ex-ministro de Lula não está disposto a conceder.

Enfraquecidos pelo provável afastamento de seu principal líder do processo eleitoral, os petistas pretendem tratar a eleição de 2018 como uma arena para expor uma narrativa de injustiças contra Lula, denunciar o impeachment de Dilma Rousseff e propagandear o legado dos 14 anos em que a sigla esteve no poder.

Nesse sentido, as críticas feitas por Ciro ao PT nos últimos meses geraram uma incompatibilidade determinante entre os dois grupos, a ponto de Lula tratá-lo como rival, excomungando-o do campo da esquerda.

Reinaldo Azevedo: Lula tem dois rasgos de Lucidez em entrevista. E os Partidos da Política e da Polícia

- Folha de S. Paulo

Único favor que Lula poderia prestar seria mobilizar o PT em favor da reinstitucionalização do país

Um país tem um encontro marcado com o caos quando desaparecem os Partidos da Política e só restam os Partidos da Polícia. Infelizmente, a imprensa é parte desse processo, mas não do modo como Lula sugere na entrevista de quinta, nesta Folha, à colunista Mônica Bergamo. O ex-presidente faz tudo parecer uma conspiração. Fosse assim, e seria mais fácil reverter o processo de degeneração. Infelizmente, esse casamento se dá em razão de uma contiguidade que tem história —foi a luta contra a ditadura que os uniu—, mas que é pré-cognitiva.

Esses dois entes são movidos por um espírito de purificação que é avesso a qualquer forma de negociação que não esteja baseada numa retidão abstrata, sem correspondência no mundo real. Nota: o PT é, em grande parte, responsável pelo conjunto da obra. Lula tem de reconhecer que o espírito que move os “Deltans & Moros” é filho daquele mote lançado lá no começo dos 80: “Ética na política”. E “ético” será tudo aquilo que “nós, o partido, definirmos como tal”. Não ocorreu a gente como Marilena Chauí, porque isso está além das suas sandálias, que braços do Estado, com sua força repressiva, poderiam se apoderar dessa fala. E isso aconteceu.

Na vida pública, a maximização ou o exclusivismo da ética da convicção termina em guilhotina, forca, cadeia, nunca em avanço institucional. Quantas pessoas Lula e o PT executaram ao longo de sua história? E a cultura vive um momento especialmente favorável à estupidez convicta. Basta ver o que vai nas redes sociais. Com exceções aqui e ali, a curva dos “likes” coincide com a da burrice convicta.

Lula, que foi condenado sem provas no caso do tríplex de Guarujá, viaja na Terra do Nunca quando trata da possibilidade de ser absolvido. Se Cármen Lúcia cumprir a sua obrigação e pautar a Ação Declaratória de Constitucionalidade que decidirá o mérito da execução da pena depois da condenação em segunda instância, há a chance de ele ser beneficiado por um habeas corpus, que terá prazo de validade: até o julgamento do STJ. Não vejo esse tribunal com autonomia suficiente —em relação ao espírito do tempo— para rever a condenação. Teria de reconhecer que houve violações nas chamadas “questões de direito”, o que implicaria a desmoralização disso que ainda é uma religião, embora decadente: o Lava-Jatismo dos Santos dos Últimos Dias de Banânia.

Ricardo Noblat: Muito barulho por pouca coisa

- Blog do Noblat

Os R$ 42 bilhões para segurança, por ora, são R$ 5 bilhões

A opção derradeira do presidente Michel Temer por um final de governo marqueteiro levou-o a apostar todas as suas fichas no combate à violência – e assim, depois da intervenção federal no Rio, ontem foi a vez do pacote “Realce, quanto mais purpurina melhor”.

Diante de 17 governadores e de representantes dos que faltaram à reunião no Palácio do Planalto, Temer comprometeu-se a emprestar R$ 42 bilhões para os Estados investirem em segurança pública pelos próximos cinco anos. Mas, como? Temer imagina ser candidato e se reeleger?

“Realce, realce, quanto mais serpentina melhor…”

Na verdade, o que ele teria a emprestar este ano seria algo como R$ 5 bilhões. O resto, a depender do próximo presidente, seja ele quem for. Mas nem mesmo os R$ 5 bilhões estarão tão facilmente ao alcance dos interessados. Vamos por partes.

Dora Kramer: Aparências, nada mais

- Revista VEJA

Temer só é candidato a cumprir mandato sem a pecha de “pato manco”

Esse nosso Brasil anda tão virado na confusão que mesmo o velho hábito de políticos simularem desinteresse em disputar eleições até que a base de uma candidatura esteja razoavelmente firme foi invertido. A moda da estação é o lançamento (ao vento) de candidatos sem nenhuma preocupação com a consistência factual das respectivas pretensões.

E aí o que se vê é um espetáculo composto de meras aparências. Conviria ao eleitorado a precaução de não acreditar em tudo o que ouve, lê ou vê, porque nem os autores (ou seriam atores?) dessas histórias acreditam no material que produzem.

Os nomes dos pretensos postulantes à Presidência da República têm sido apresentados em cena de diversas formas: como afirmação, dúvida, insinuação, negação estratégica, hesitação tática, especulação, provocação ou em alguns casos todas as alternativas juntas e misturadas.

Fernando Abrucio: Intervenção não pode ser guiada pela eleição

- Eu & Fim de Semana | Valor Econômico

A intervenção federal no Rio de Janeiro será um teste fundamental para se avaliar a maturidade da democracia brasileira. Neste sentido, estarão em jogo três questões. Primeira: o quanto essa decisão vai ser pautada pela eleição ou será orientada pela lógica de uma "política de Estado" (e não de governo). A segunda coisa que deverá ser monitorada é o efeito dessa medida sobre as instituições políticas. Por fim, e mais importante do ponto de vista dos cidadãos, é a avaliação do quanto a política de Segurança Pública fluminense poderá melhorar estruturalmente com a intervenção federal.

Pelo modo açodado e não planejado da decisão, ela gerou, de início, muitas reações e, sobretudo, surpresa. É evidente que o Estado do Rio de Janeiro já está sem governo há algum tempo, fato que piorou do final do ano para cá. O presidente e seus assessores perceberam isso no Carnaval, principalmente com as imagens de violência transmitidas pelo Jornal Nacional, mas é provável também que o desfile da Paraíso do Tuiuti tenha sido a gota d'água para os governistas. Entretanto, vale lembrar que de forma crescente, desde o ano passado, com o total colapso das contas públicas fluminenses e com o não-pagamento dos salários do funcionalismo, a segurança no Rio já ia de mal a pior.

De todo modo, a ingovernabilidade das políticas públicas é um fato no Rio. A área de segurança pública, por conta de seu efeito sobre os cidadãos, é mais visível e perigosa para o tecido social. Melhor seria se a intervenção fosse sobre o conjunto do governo fluminense, o que seria, sem dúvida alguma, uma decisão de Estado. Mas, já nesse primeiro aspecto, predominou a visão de governo. Afinal, uma intervenção geral significaria decretar publicamente a falência do grupo governante - e não só do governador - e, como se sabe, quem manda no Rio, há 12 anos, é o MDB, o mesmo partido do presidente Michel Temer.

Luiz Carlos Azedo: O espólio de Lula

– Correio Braziliense

A entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Mônica Bérgamo, da Folha de S. Paulo, é um gesto de desespero: o petista sabe que não pode mais ser candidato a presidente da República, mas ainda não se retira da disputa porque acredita que isso seria uma maneira de evitar a prisão imediata, em razão da condenação a 12 anos e 1 mês de reclusão em regime fechado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), com sede em Porto Alegre. Somente os petistas ainda se agarram à candidatura impossível com unhas e dentes, na esperança de conseguir a renovação dos respectivos mandatos, graças ao espólio eleitoral do ex-presidente. Os aliados tradicionais, porém, estão se afastando de Lula e querem compartilhar o espólio.

A troca de farpas entre Lula e o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, ontem é a demonstração cabal deste processo. A vantagem estratégica de Lula nas eleições de 2018, se não fosse impugnado, seria o Nordeste, onde suas alianças com os caciques do MDB que haviam apoiado o impeachment de Dilma Rousseff estavam sendo até recompostas. Com Lula fora da eleição, a alternativa do PT seria lançar a candidatura de Jaques Wagner, ex-governador Bahia, que poderia ter um bom desempenho nos demais estados nordestinos e no Rio de Janeiro, onde nasceu. Entretanto, Wagner também está enrolado na Operação Lava-Jato, o que abre espaço para Ciro Gomes crescer nas pesquisas a partir do Nordeste, capturando os eleitores de Lula. Não é outra a razão de o petista ter dito que o ex-governador do Ceará anda falando demais. Macaco velho, Ciro tirou por menos, disse que tem coração e respeita o infortúnio de Lula. Não vai brigar com os eleitores do petista, que pretende seduzir.

Celso Ming: Ainda devagar, mas sem parar

- O Estado de S.Paulo

Do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB ou renda nacional) no quarto trimestre de 2017 pode-se dizer que não decepcionou. Foi menor do que o 0,3% esperado, não passou de 0,1% em relação ao trimestre anterior, mas completou 2017 com bom resultado, de 1,0% no ano.

Para uma economia que vinha de dois tombos anuais consecutivos de 3,5%, o avanço de 1,0% não deixa de ser promissor. Mas o País terá de crescer mais de 6,0% para chegar ao patamar do último trimestre de 2014.

Bem mais positiva foi a retomada da indústria, de 2,7% no trimestre, maior impulso desde 2013. E animadora foi a recuperação do investimento, de 3,8%, também no trimestre ante o mesmo período do ano anterior.

Todos sabem que, em 2017, a agricultura bateu recorde histórico de produção: cerca de 140 milhões de toneladas de grãos, valor mais de 30% superior à safra anterior. Por isso, pode-se estranhar que, no PIB, o aumento registrado foi de apenas 6,1%. A explicação para o resultado mais contido está em que o PIB mede também valores e não só quantidades. E aí pesou a queda das cotações no mercado internacional.

O resultado razoável do sistema produtivo em 2017 foi obtido mais com base no aproveitamento da capacidade ociosa (máquinas e instalações subutilizadas) do que no crescimento do investimento propriamente dito.

Míriam Leitão: Quem fez a recessão

- O Globo

A recessão acabou, mas deixou um exército de desempregados do tamanho da cidade de São Paulo, a economia ferida e o país menor. A economia começou a cair no meio de 2014 e a queda foi de 5,6% no último trimestre de 2015. Essa recessão foi feita pela política econômica do PT e pelas decisões da presidente Dilma Rousseff. Os números provam de quem é a culpa pelo desastre.

Qualquer que seja a forma de comparação, sempre se chega à mesma conclusão: a recessão começou no governo Dilma e nele chegou ao seu pior momento. Se a conta for feita em quatro trimestres comparados a quatro trimestres anteriores, o fundo do poço é -4,6% no segundo trimestre de 2016, quando a ex-presidente sofreu o impeachment. Na política, os fatos serão narrados de outra forma, mas os números são teimosos e ficarão com suas séries históricas a mostrar o que houve nesta queda da economia.

O IBGE divulgou que o PIB cresceu 1% em 2017. Foi pouco, mas é o fim oficial da recessão. Em cada trimestre do ano passado a crise foi cedendo até chegar a 2,1% de alta em comparação ao último trimestre de 2016. A agropecuária foi decisiva nessa volta do fundo do poço. Cresceu 13% no ano passado.

A economia está saindo politraumatizada da recessão. Nas outras duas grandes quedas, a do governo militar, no começo dos anos 1980, e a do governo Collor, no início dos anos 1990, a recuperação foi mais forte. Em 1993, na presidência de Itamar Franco, o país cresceu quase 5%. Desta vez, há uma massa grande demais de desempregados e um abismo fiscal.

Vinicius Torres Freire: Memória e futuro do desastre do PIB

- Folha de S. Paulo

Economia do Brasil está na lanterna da América Latina nas últimas três décadas

Se der tudo muito certo, a economia vai se recuperar do desastre apenas em 2022. Quer dizer, se o país crescer 3% ao ano de 2018 até 2021, voltará então ao nível da renda por cabeça (PIB per capita) de 2013, véspera da grande recessão.

Terão sido oito anos de atraso em um país já retardado pelos besteirões dos anos 1980 e 1990. Não é trivial haver tanta autodestruição, essa recorrência de décadas perdidas. O Brasil está entre os países da América Latina que menos cresceram desde 1990 (ou mesmo depois de 2003, anos melhores). Desconsideradas as pequenas ilhas, superamos apenas a Venezuela e empatamos com o México.

Essa memória deprimente vem a propósito do crescimento do PIB em 2017, de 1%. Ao menos a recessão termina em todos os setores, inclusive na construção civil e na finança, que impediram crescimento melhorzinho.

A construção civil é um elefante morto na sala, do qual o país pouco se ocupa. Encolheu ainda 5%, mas chegou à estabilidade do fundo do poço no segundo semestre. A queda do investimento público em obras, a baderna das empreiteiras corruptas e a superprodução do setor eram mesmo problemas difíceis de superar, mas não se fez muita força para dar um jeito.

Claudia Safatle: "Caiu a ficha para o PT", diz Barbosa

- Valor Econômico

Primeiro ato do novo governo seria a "PEC do compromisso"

O governo deve deixar duas bombas relógio para o próximo presidente da República, segundo prevê o ex-ministro da Fazenda, Nelson Barbosa: o teto do gasto público, que sem a reforma da previdência ficará difícil de se cumprir; e a regra de ouro da política fiscal, que impede a União de emitir dívida em montante superior aos investimentos. Ou seja, o governo não pode expandir a dívida pública para financiar despesas correntes, sob pena de incorrer em crime e ficar sujeito a processo de "impeachment". Este ano o "buraco" decorrente da "regra de ouro" é estimado em R$ 208 bilhões.

Para que o presidente eleito em outubro não cometa crime fiscal logo no início do seu mandato, Barbosa sugere como primeira medida o envio, para o Congresso, de uma proposta de emenda constitucional que ele chama de "PEC do Compromisso". Nela se resolveria, de uma só penada, as mudanças do teto e da "regra de ouro", a reforma da previdência e a desvinculação geral do orçamento.

Ele propõe que a PEC altere o teto do gasto público do congelamento dos valores reais por dez anos prorrogáveis, como é hoje, para um limite de despesa estabelecido a cada quatro anos. "E vamos discutir qual é esse teto, ok? Mas, para isso, tem que ter reforma da Previdência, tem que regulamentar o teto remuneratório do setor público e tem que rever todas as vinculações que hoje engessam orçamento", disse.

Barbosa é um dos economistas que, no Instituto Lula, debate o programa de governo do PT para uma suposta candidatura do ex-presidente Lula ou de alguém que ele vier a indicar, caso seja impedido de concorrer. Como o programa está sob coordenação do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o ex-ministro deixou claro que nessa conversa ele expressa as suas opiniões.

"Acho que agora caiu a ficha para o PT", observou ele. "O pessoal já sabe que tem que fazer a reforma da Previdência, sabe que tem que fazer reformas".

Hélio Schwartsman: Nada de Novo no front

- Folha de S. Paulo

Liberalismo do partido vale muito mais para a economia do que para a moral

Minha coluna de terça-feira (27), na qual reclamava da inexistência de um candidato “mainstream” que abraçasse o liberalismo não só na economia mas também no campo dos costumes, deflagrou uma minicorrente de emails enviados por simpatizantes do Novo. Eles me recriminavam por não ter citado a pré-candidatura presidencial de João Amoêdo, que seria, na visão deles, o liberal de verdade pelo qual eu procurava.

Vejo com uma ponta de simpatia o surgimento do Novo. A legenda parece diferenciar-se da geleia geral de siglas brasileiras por apresentar contornos ideológicos um pouco mais nítidos e por tentar impor a seus candidatos um maior comprometimento com as teses do partido.

José de Souza Martins: O trem

- Eu & Fim de Semana | Valor Econômico

Orientado pelo "Guia Levi", um minucioso guia ferroviário, ao meio-dia e cinco minutos do dia 4 de janeiro de 1958, um sábado, pelo trem da Companhia Paulista, embarquei na Estação da Luz, em São Paulo, para Bauru. Dali, pela Noroeste, para Corumbá, na fronteira com a Bolívia. De lá, pelo Ferrocarril Brasil-Bolívia, para Santa Cruz de la Sierra. Depois, de ônibus, subi os Andes até Cochabamba.

Finalmente, de trem, pelo altiplano árido, cheguei a La Paz. E, ainda de trem, fui até as ruínas de Tiahuanaco, antiga cidade de uma civilização pré-incaica. Por sua Porta do Sol, nos equinócios, o sol nasce precisamente em seu centro, demarcando o ano solar de 365 dias, desde antes de Colombo chegar à nossa América.

Era minha travessia de adolescente rumo ao coração triste e pobre da América do Sul. Uma viagem entre o olhar alegre e festivo dos passageiros na Luz e o olhar triste de índios cabisbaixos e curvados, a carregar nas costas objetos pesadíssimos nas ruas íngremes de El Alto, em La Paz. Como no tempo da conquista, mascavam coca para aliviar o peso do destino e da história. Era uma viagem ao nosso passado. O hoje e o ontem se tocavam ao longo da ferrovia.

A agenda da eleição

Temer anuncia crédito do BNDES contra a violência e se alinha a discurso de presidenciáveis

André de Souza, Karla Gamba, Maria Lima e Sérgio Roxo | O Globo

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Duas semanas depois de decretar a intervenção na segurança pública do Rio, o presidente Michel Temer (PMDB) deu ontem mais um passo para produzir um discurso nacional que o ponha em linha com o principal assunto da eleição deste ano: o combate à criminalidade. O peemedebista anunciou ontem, ao lado de governadores e representantes de 26 estados, um empréstimo de R$ 42 bilhões, com recursos do BNDES, para reequipar as polícias. A sete meses das eleições, no entanto, as medidas frustraram os chefes de executivos, pois as verbas não serão liberadas imediatamente, mas ao longo de cinco anos. Com isso, a maior parte delas só poderá ser acessada após o fim do mandato dos políticos ali presentes.

No plano, a previsão é de que sejam liberados R$ 5 bilhões em 2018, dos quais R$ 4 bilhões serão por meio de financiamentos do BNDES. A maior parte dos R$ 42 bilhões anunciados na reunião — R$ 33,6 bilhões — virá desta modalidade de financiamento. Mas a liberação ainda não está garantida, uma vez que a diretoria do banco precisa aprovar “prazos, valores e condições”. A reação dos governadores foi de ceticismo: há muitas dúvidas sobre a burocracia para obter o dinheiro, e há outras despesas que não podem ser financiadas pelo BNDES, como custeio de presídios.

Alguns dos presentes temem ter sido “usados” pelo Palácio do Planalto, que quer mostrar resultados na área. A avaliação é que a proposta foi uma maneira de conter a pressão de governadores e senadores por um tratamento igual ao dado ao Rio.

Na reunião, a maior cobrança foi pela criação de um sistema unificado de segurança, para que União, estados e municípios dividam as responsabilidades e recursos para estancar a crise na segurança. Três governadores cobraram isonomia com o Rio e pediram algum tipo de ação, como envio de tropas federais ou militares: Wellington Dias (PT), do Piauí, Robinson Faria (PSD), do Rio Grande do Norte, e Suely Campos (PP), de Roraima. Mas Temer negou qualquer outra intervenção e disse que nesses estados haveria ações pontuais.

É a segurança, estúpido

Preocupação crescente da população com a violência e sensação de medo deram ao tema protagonismo na pré-campanha eleitoral

Gabriel Cariello | O Globo

Os indícios de recuperação econômica, o crescimento nos últimos anos da preocupação com a violência e os resultados do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) em levantamentos sobre intenções de voto ajudam a explicar, segundo cientistas políticos e diretores de institutos de pesquisas ouvidos pelo GLOBO, o protagonismo recente da segurança pública no debate eleitoral. A intervenção federal no Rio de Janeiro fez o tema convergir para o centro gravitacional da atuação do governo, e os presidenciáveis passaram a orbitar a discussão sobre o combate à criminalidade. A oito meses das eleições, não “é a economia, estúpido”, como disse James Carville, estrategista de Bill Clinton em 1992, que parece levar ao Palácio do Planalto. É a segurança pública.

— O tema está na agenda de forma contundente. Quase metade dos brasileiros identifica a presença de facções criminosas no lugar onde mora. Há uma sensação crescente de medo — diz Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha. — Como a economia, que sempre é protagonista das eleições, vem mostrando alguma estabilidade, e a população começa a perceber isso, segurança, saúde e educação podem assumir o protagonismo que não tiveram nas eleições anteriores.

O Ibope também identificou o tema como uma das preocupações centrais do país. Levantamento divulgado no último dia 15 mostra que 38% dos entrevistados se queixavam da segurança pública. Um ano antes, eram 19%.

— O emprego continua sendo o problema número 1 para o brasileiro, seguido por corrupção, saúde e segurança. Mas a segurança veio crescendo e passou a ser uma demanda. Se fizer a pesquisa só no Rio, é possível que seja a questão principal — afirma Márcia Cavallari, diretora do Ibope.

Cesar Maia é contra candidatura do filho e aposta em Alckmin

Cristian Klein | Valor Econômico

RIO - "Acho que ele ganha a eleição [à Presidência]". Em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio, o vereador e ex-prefeito da capital Cesar Maia (DEM) não está falando do filho e presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), que lançará pré-candidatura ao Planalto na próxima semana. A aposta firme e direta é no governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). "É muito forte. É o político que hoje tem o maior poder de aglutinação como candidato a presidente", diz o parlamentar, numa entrevista exclusiva e surpreendente ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, à qual logo reagiu o filho.

Sem apoio do pai, Rodrigo Maia respondeu, por meio de nota, que discorda da ideia de que Alckmin seja o favorito na corrida presidencial e sugeriu que a divergência do ex-prefeito tenha como objetivo protegê-lo de um eventual fracasso eleitoral. Uma derrota ao Planalto deixaria Rodrigo com reduzida influência política, sem mandato e sem foro privilegiado, algo importante tendo em vista que é alvo, ao lado do pai, de inquérito da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). "Cesar Maia falou como pai, preocupado com o filho. Até porque ele sabe muito bem que, pelo cenário hoje das pesquisas, as possibilidades de eleição de um candidato do PT e PSDB são pequenas", disse o presidente da Câmara.

Não é o que pensa Cesar Maia, que considera o governador tucano "muito forte" porque, em suas palavras, é um candidato "residual". "Se não sei com quem eu vou, o Alckmin é um homem de bem, é um crente, enfim, tende a ser um candidato que não cria dificuldade para se apoiar e ser votado". Enquanto as lembranças de 2006 costumam destacar o feito de Alckmin ter obtido menos votos no segundo turno do que no primeiro, o ex-prefeito destaca o desempenho na primeira etapa: "O Lula teve 48% e ele 41%. Tem todas as condições. O Brasil precisa disso".

PIB maior e mais vigor: Editorial | O Estado de S. Paulo

O Brasil tem hoje uma economia bem mais vigorosa que há um ano, mas isso é pouco visível quando se examina só o balanço geral de 2017. Para bem avaliar a retomada, depois de dois anos de recessão, é preciso rever o desempenho em diferentes momentos. Nos três meses finais do ano passado o Produto Interno Bruto (PIB) foi 2,1% maior que no quarto trimestre de 2016. Esse número é pouco mais que o dobro da expansão – 1% – do PIB ao longo de 12 meses. É preciso levar em conta a aceleração dos negócios, assim como a difusão do crescimento entre os vários segmentos de atividade, para uma descrição mais precisa. Entre outubro e dezembro, a produção industrial foi 2,7% superior à de um ano antes. No acumulado de janeiro a dezembro a variação foi zero, mas também esse dado é pouco esclarecedor, porque encobre sensíveis diferenças de resultados de diversos segmentos da indústria. A de transformação, por exemplo, cresceu 1,7% e a extrativa se expandiu 4,3%, enquanto a da construção encolheu desastrosos 5%.

Não se trata apenas de enfeitar o quadro ou de apontar componentes mais vistosos num cenário pouco luminoso no conjunto. A mera reativação da economia depois de dois anos presa no atoleiro já seria um fato animador, mas há algo mais que isso. O desempenho mais vistoso foi certamente o da agropecuária, com expansão de 13% no ano. Além disso, os números iniciais da recuperação dependeram amplamente das estatísticas da atividade rural no primeiro trimestre. Mas o dinamismo se espalhou por outros setores, nos meses seguintes, e a retomada geral ficou muito mais clara no segundo semestre.

PIB tende a crescimento seguro e gradual em 2018: Editorial | Valor Econômico

O Produto Interno Bruto avançou 1% no ano passado, mas o ritmo de recuperação desacelerou ao longo do ano, na comparação trimestre a trimestre dessazonalizada. O consumo das famílias foi decepcionante no último trimestre, com aumento de 0,1%, a mesma taxa de crescimento da economia no período. Os investimentos reagiram mais rapidamente do que o previsto e cresceram 2% na mesma comparação. Esse desempenho modesto reflete as fragilidades da retomada da economia que, porém, em outras comparações, indicam um ganho de velocidade expressiva. O ano terminou com o PIB 2,1% maior do que no últimos três meses de 2016.

Há bons motivos para se acreditar, porém, que o consumo das famílias, que representa 63,4% do PIB pelo lado da demanda, não deve repetir o comportamento anêmico do último trimestre de 2017. A expansão do crédito, a redução do endividamento e o aumento do emprego, que o impulsionaram ao longo do ano passado - ao lado da injeção nada desprezível de recursos com os saques do FGTS - ainda permanecerão no horizonte nos próximos trimestres. A inflação continua surpreendendo para baixo e movendo o poder de compra dos salários um pouco para cima.

Piruetas de Lula: Editorial | Folha de S. Paulo

Em entrevista à Folha, líder petista desenvolve teorias conspiratórias inverossímeis

Diante de um momento dificílimo em sua carreira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez jus a sua reconhecida imagem de político habilíssimo em entrevista concedida a esta Folha.

Como qualquer envolvido em sérias evidências de corrupção, proclama-se inocente, diz confiar nas instituições e ser vítima da perseguição de seus adversários.

Há algo em Lula que se afasta, entretanto, da rigidez persistente ou do tom melodramático com que outros investigados e condenados procuram negar os fatos.

Nota-se no ex-presidente um à vontade, um humor, um toque de intimidade na interlocução que, sem dúvida, poucos na situação seriam capazes de manifestar.

Ele pode beneficiar-se, ademais, do calor indiscutível que lhe transmite a persistente popularidade.

Deriva daí, sem dúvida, o paradoxo que configura todo seu diálogo com a jornalista Mônica Bergamo. Lula estaria morto politicamente, como se diz, mas ainda assim vivíssimo; parece fora da realidade, mas ao mesmo tempo sente a realidade a seu favor. Resvala pelas mais patentes contradições e cobre-as de irônica coerência.

É assim que, de um lado, investe nas delirantes versões de que a atuação do juiz Sergio Moro segue instruções de Washington, motivadas pelas riquezas do petróleo; ou de complôs da Polícia Federal, do Ministério Público e da imprensa.

O mal do preconceito em torno da intervenção: Editorial | O Globo

A prevenção, de raiz ideológica, contra militares leva a equívocos sobre o significado da necessária operação no Rio, executada com base na Constituição

A forma como representantes da esquerda brasileira, com exceções, reagem à imprescindível intervenção federal na área de segurança do Rio de Janeiro diz muito das distorções que as lentes da ideologia provocam na percepção da realidade por parte de militantes.

O fato de a operação ser executada pelas Forças Armadas, com o Exército à frente — o interventor é um general, Braga Netto —, facilita interpretações rasteiras do que está acontecendo. É truque barato dizer que há uma “intervenção militar”, quando se trata de um ato do poder constituído, civil, implementado por meio de decreto encaminhado ao Congresso e por ele aprovado, como estabelece a Constituição.

Trata-se, pois, de ato legal, realizado dentro do estado de direito e na área de jurisdição do recém-criado Ministério da Segurança Pública, cujo responsável é um civil, Raul Jungmann, do PPS, originado do Partido Comunista Brasileiro. Que fosse militar, também não teria importância. Jungmann era ministro da Defesa, por sobre os comandantes militares. Foi importante, há não muito tempo saído da ditadura militar, o país ter tido até agora civis neste Ministério. O substituto de Jungmann é um general. Depois, poderá ser um civil. Simples dessa forma, sem qualquer outra implicação.

PIB cresce 1%, e país precisa de mais 3 anos para se recuperar

Investimento cai 1,8% e atinge a menor proporção desde 1996

Resultado, puxado pelo desempenho da agropecuária, marca o fim da recessão

Após dois anos de queda, a economia brasileira cresceu 1% em 2017, puxada pelo desempenho da agropecuária. O consumo das famílias avançou 1%. Já o volume de investimento recuou 1,8%. A taxa de investimento em proporção ao PIB é a menor desde 1996. O resultado marca o fim da recessão, após os tombos de 2016 (-3,5%) e 2015 (-3,5%). As previsões apontam para crescimento mais forte a partir de 2019, mas o país já contabiliza seis anos de estagnação: o patamar anterior à crise de 2014 só será atingido em 2020. O Brasil ficou em penúltimo lugar em um ranking de crescimento que inclui 33 países.

Desafios da retomada

PIB avança 1% em 2017, mas país levará três anos para retornar ao nível pré-crise

Daiane Costa e Marcello Corrêa | O Globo

Ao crescer 1% em 2017, a economia brasileira decretou o fim da recessão, e as projeções apontam para uma expansão mais forte a partir deste ano. Mas o estrago feito pelos dois anos seguidos de recuo do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro farão com que todo o crescimento registrado até 2020 só sirva para recuperar as perdas deste período. Isso significa que o país só voltará a crescer efetivamente a partir de 2021, tendo perdido seis anos.

— Só voltaremos ao nível de produção pré-crise, de 2014, no ano de 2020 — explica Alessandra Ribeiro, economista da Consultoria Tendências.

Na prática, o país levará mais três anos recuperando sua atividade.

A boa notícia é que, ao contrário de 2017, quando 70% da alta do PIB foram puxados pela expansão recorde da agropecuária devido à supersafra, este ano o crescimento da atividade vai refletir uma melhora mais efetiva do bem-estar das famílias e do setor produtivo, porque haverá aumento do consumo e dos investimentos, segundo analistas.

Após 2 anos em queda, PIB brasileiro cresce 1% em 2017

Economia brasileira cresce 1% em 2017 e confirma recuperação

Números vieram um pouco abaixo do que esperavam analistas do mercado financeiro e o governo

Mariana Carneiro , Nicola Pamplona e Taís Hirata |Folha de S. Paulo

RIO DE JANEIRO - A economia brasileira cresceu 1% no ano passado, informou nesta quinta-feira (1º) o IBGE. Em 2017, o PIB (Produto Interno Bruto) totalizou R$ 6,559 trilhões.

No último trimestre do ano, o PIB cresceu 0,1% em relação aos três meses anteriores, dando sinais de que a recuperação da economia ganhou força após a saída da recessão, no início de 2017.

Ante o quarto trimestre de 2016, quando o país ainda estava em recessão, a alta no último período do ano foi de 2,1%.

Os números vieram um pouco abaixo do que esperavam analistas do mercado financeiro e o governo.

A projeção central de economistas consultados pela agência Bloomberg era de um crescimento de 1,1% em 2017 e de 0,4% no quarto trimestre do ano.

Os números da economia mostram que o país deixou a recessão —iniciada no segundo trimestre de 2014, segundo o Comitê de Datação de Ciclos, da FGV— no primeiro trimestre do ano passado.

Segundo Rebeca Palis, coordenadora de contas nacionais do IBGE, apesar do crescimento de 1% no ano passado, a economia retrocedeu ao mesmo patamar do primeiro semestre de 2011. Ou seja, a recessão que derrubou o PIB em 2015 (-3,5%) e 2016 (-3,5%) destruiu o crescimento de seis anos.

A recuperação começou pelo setor agropecuário e pelas exportações, que deram o primeiro empurrão à economia.

Nos meses seguintes, o consumo saiu do resultado negativo e também o investimento. A indústria voltou a produzir. Todos estimulados por um contexto de taxas de juros cadentes, inflação em declínio e maior circulação de dinheiro na economia com a liberação do FGTS e do FAT.

O quarto trimestre foi marcado pela consolidação da retomada, em praticamente todas as contas que compõem o PIB, principalmente às relacionadas a demanda doméstica.

Carro-chefe da economia brasileira, responsável por cerca de 70% do PIB, o consumo cresceu 0,1% ante o terceiro trimestre e, na média do ano, a alta foi de 1%. Em relação ao mesmo período do ano passado, a expansão foi de 2,6%.

O investimento, que havia despencado 30% durante a recessão, cresceu 2% no quarto trimestre ante os três meses anteriores. Na comparação anual, pela primeira vez desde o início de 2014, o resultado também ficou no positivo: alta de 3,8%. Em 2017, porém, a média ainda ficou negativa em 1,8%.

Dessa forma, a taxa de investimentos (a proporção dos investimentos no PIB) ficou em 15,6%.

O Ministério da Fazenda também tinha essa expectativa, após revisão anunciada em dezembro, quando a Secretaria de Política Econômica elevou de 0,5% para 1,1% a previsão para o crescimento econômico neste ano.

O PIB per capita, divisão do produto pela população e uma métrica de qualidade de vida, ficou em R$ 31.587, com uma variação de 0,2% ante 2016.

Do lado da produção, a indústria voltou a registrar números positivos, pelo segundo trimestre seguido. O setor cresceu 0,5% no quarto trimestre em relação ao trimestre anterior e 2,7% frente ao mesmo trimestre de 2016. No ano, a indústria ficou estável.

O setor de serviços, muito conectado com o que acontece com o consumo e a massa salarial, também ficou positivo em 0,2% ante o terceiro trimestre, pelo quarto período seguido de alta.
Na comparação com o último trimestre de 2016, a taxa ficou positiva em 1,7% e, no ano, registrou crescimento de 0,3%.

País cria 77.8 mil empregos no melhor janeiro em 3 anos

País abre 77,8 mil vagas formais em janeiro, melhor resultado desde 2012

Dados do Ministério do Trabalho que serão divulgados hoje mostram que as contratações superaram as demissões no início de 2018, depois de três anos de resultados negativos em janeiro

Idiana Tomazelli | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Depois de três anos seguidos com as demissões superando as contratações em janeiro, o País começou 2018 com geração de vagas formais de trabalho. Segundo dados obtidos pelo Estadão/Broadcast, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de janeiro, que será anunciado hoje pelo Ministério do Trabalho, deve mostrar a criação de 77,8 mil novas vagas, o melhor resultado para o período desde 2012.

Com esse resultado, o saldo do Caged em 12 meses ficou positivo após três anos de fechamento líquido de postos com carteira de trabalho. São 83,5 mil vagas geradas entre fevereiro de 2017 e janeiro deste ano.

Durante a recessão, entre 2015 e 2016, o País eliminou mais de 3,5 milhões de vagas formais. No ano passado, o mercado de trabalho melhorou, mas não escapou de um resultado negativo de 20,8 mil postos fechados.

Para este ano, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem dito que espera uma geração de vagas formais superior a 2 milhões. A melhora do emprego tem ganhado destaque no discurso do governo, depois do engavetamento da reforma da Previdência.

Setores. A indústria de transformação e os serviços lideraram as contratações no mês de janeiro. Juntos, esses dois setores abriram 96 mil novos postos de trabalho com carteira assinada no primeiro mês do ano.

A agricultura, que costuma ter admissões nesse período de safra, registrou contratação líquida de 15,6 mil. Boa parte das vagas foi gerada no cultivo de soja.

A construção civil, um dos setores mais devastados pela crise, também começou 2018 com contratações, principalmente no segmento de construção de edifícios. O saldo da atividade ficou positivo em quase 15 mil postos.

O resultado final acabou sendo afetado pelas demissões no comércio que, nesse período, costuma fazer ajustes, após as vendas de fim de ano. A atividade fechou pouco mais de 48 mil postos com carteira.

Do ponto de vista regional, o Estado de São Paulo liderou as contratações, com mais de 20 mil novas vagas. Já o Rio de Janeiro, que vive uma crise na segurança pública e tem a área sob intervenção federal, foi o que mais fechou postos de trabalho com carteira: quase 10 mil.

Teresa Cristina - Filosofia (Noel Rosa)

Carlos Drummond de Andrade: Canto ao homem do Povo - Charles Chaplin

(Trecho / parte IV)

IV
O próprio ano novo tarda. E com ele as amadas.
No festim solitário teus dons se aguçam.
És espiritual e dançarino e fluido,
mas ninguém virá aqui saber como amas
com fervor de diamante e delicadeza de alva,
como, por tua mão a cabana se faz lua.

Mundo de neve e sal, de gramofones roucos
urrando longe o gozo de que não participas.
Mundo fechado, que aprisiona as amadas
e todo o desejo, na noite, de comunicação.

Teu palácio se esvai, lambe-te o sono,
ninguém te quis, todos possuem,
tudo buscaste dar, não te tomaram.
Então encaminhas no gelo e rondas o grito.

Mas não tens gula de festa, nem orgulho
nem ferida nem raiva nem malícia.
És o próprio ano-bom, que te deténs. A casa passa
correndo, os copos voam,
os corpos saltam rápido, as amadas
te procuram na noite... e não te vêem,
tu pequeno, tu simples, tu qualquer.

Ser tão sozinho em meio a tantos ombros,
andar aos mil num corpo só, franzino,
e ter braços enormes sobre as casas,
ter um pé em Guerrero e outro no Texas,
falar assim a chinês a maranhense,
a russo, a negro: ser um só, de todos,
sem palavra, sem filtro,
sem opala:
há uma cidade em ti, que não sabemos.