O Globo
Ministro demoliu pegadinhas como as feitas
pelo deputado André de Paula e pareceu se divertir com o despreparo dos
inquisidores
A audiência de Flávio Dino na Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), ontem, funcionou como termômetro de
como pode ser a dinâmica entre lulistas e bolsonaristas num Congresso que, até
aqui, não votou absolutamente nada de relevante, paralisado pela intenção de
Arthur Lira de mudar a Constituição a seu bel-prazer para comandar a tramitação
de matérias — hoje são medidas provisórias, amanhã o que mais?
Não são poucos os temas relevantes sobre os
quais parlamentares devem interpelar o ministro da Justiça de qualquer governo.
Num que começou com um revogaço de medidas do mandato anterior e enfrentou
antes de seu décimo dia uma tentativa de golpe de Estado, mais ainda.
Mas a intenção da tropa de choque
bolsonarista que se aboletou na CCJ não era esclarecer nada, e sim lacrar para
cima do ministro a fim de se exibir nas redes sociais, palco por meio do qual a
quase totalidade desses deputados se elegeu e único espaço em que sabem
transitar.
O ministro entende como poucos no governo
Lula essa dinâmica e tem se mostrado disposto a combater a lógica de
exacerbação da polarização com as armas de que dispõe — conhecimento jurídico
acima da média, experiência política ampla, bom humor e, se preciso, recurso à
Justiça para reparar crimes.
O debate é velho e foi bastante travado nos anos Bolsonaro, em especial na última campanha: imunidade parlamentar pode ser usada como salvo-conduto para a prática de fake news, incitação a crimes, crimes contra a honra, atentados contra o próprio Estado Democrático de Direito e apologia a discurso de ódio? Não pode.