domingo, 11 de dezembro de 2016

Opinião do dia – Thomas More

O fim das instituições sociais na Utopia é de prover antes de tudo às necessidades do consumo público e individual; e deixar a cada um o maior tempo possível para libertar-se da servidão do corpo, cultivar livremente o espírito, desenvolvendo suas faculdades intelectuais pelo estudo das ciências e das letras. É neste desenvolvimento completo que eles põem a verdadeira felicidade.

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Thomas More (1478-1535). ‘Utopia’ (1516) p. 231, Abril Cultural, 1972.

Delação atinge candidatos ao comando do Congresso

Delação atinge candidatos no Congresso e a ministério

Ex-executivo da Odebrecht cita parlamentares que estão na disputa para o comando da Câmara e do Senado e até para pasta do núcleo duro do Palácio do Planalto

Erich Decat, Breno Pires, Lígia Formenti - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - As primeiras informações sobre a delação da Odebrecht movimentaram o mundo político. Enquanto no governo os relatos do ex-diretor de Relações Institucionais da empresa Cláudio Melo Filho causaram preocupação, no Congresso eles atingiram parlamentares que estão na disputa para cargos estratégicos dentro das duas Casas e até para o ingresso no núcleo duro do Palácio do Planalto.

Na lista do ex-executivo estão nomes como do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que trabalha para a reeleição na Casa, e do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), cotado para suceder Renan Calheiros (PMDB-AL). Também foi citado o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), indicado para substituir o ex-ministro Geddel Vieira Lima na Secretaria de Governo – com suas atribuições ampliadas.

Janot vai pedir investigação sobre vazamento de delação da Odebrecht

A PGR afirmou, em nota, que o vazamento, 'além de ilegal, não auxilia trabalhos sérios que são desenvolvidos e é causa de grave preocupação para o MPF'

Beatriz Bulla e Fábio Serapião - O Estado de S. Paulo

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai pedir uma investigação sobre o vazamento do anexo de delação premiada de um dos executivos da Odebrecht. Na sexta-feira, 9, um anexo de 82 páginas da delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de relações institucionais do grupo Odebrecht, foi divulgado por veículos de comunicação.

O Estado obteve o documento, em que o executivo menciona que o presidente da República, Michel Temer, fez pedido de apoio financeiro para o PMDB ao presidente e herdeiro da empresa, Marcelo Odebrecht.

Exército diz que ‘malucos’ apoiam intervenção

General Eduardo Villas Bôas afirma haver ‘chance zero’ de retorno dos militares ao poder, mas que ‘tresloucados’ podem gerar reação em cadeia

Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, diz que há “chance zero” de setores das Forças Armadas, principalmente da ativa, mas também da reserva, se encantarem com a volta dos militares ao poder. Admite, porém, que há “tresloucados” ou “malucos” civis que, vira e mexe, batem à sua porta cobrando intervenção no caos político.

“Esses tresloucados, esses malucos vêm procurar a gente aqui e perguntam: ‘Até quando as Forças Armadas vão deixar o País afundando? Cadê a responsabilidade das Forças Armadas?’” E o que ele responde? “Eu respondo com o artigo 142 da Constituição. Está tudo ali. Ponto”.
Pelo artigo 142, “as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”

TSE julgará chapa em 2017, afirma ministro

Herman Benjamin deve apresentar no início do ano relatório-voto na ação que investiga campanha de Dilma eTemer na eleição de 2014

Luiz Maklouf Carvalho – O Estado de S. Paulo

O ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), disse ao Estado, em entrevista exclusiva, que deixou para o começo de 2017, provavelmente fevereiro, a apresentação do relatório-voto na ação que investiga a prática de abuso de poder político e econômico em benefício dos candidatos Dilma Rousseff e Michel Temer nas eleições de 2014.

“Neste ano não será mais possível”, afirmou o ministro, que é o relator do caso que pode mudar, no curto prazo, o rumo político do País. “Ainda faltam mais perícias, eventuais manifestações das partes sobre elas, avaliação da força-tarefa sobre essas manifestações, alegações finais. E só então é que eu posso elaborar o meu voto. Diante desse quadro, objetivamente, é impossível fazer o relatório neste ano.”

A decisão do ministro-relator, que será oficialmente anunciada na terça-feira, durante a sessão plenária do TSE, descarta de vez a possibilidade de eleições diretas no caso de Temer ser afastado. Se tal acontecer – é uma das alternativas possíveis – a eleição será indireta, como manda a Constituição.

“Nesse processo não tem escurinho de cinema, está tudo online no site do TSE”, disse o também ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) 1943-58, movida pelo PSDB e outros partidos derrotados na eleição de 2014, está, de fato, em cópia integral, na “capa” do site do TSE: são 19 volumes, com a íntegra de todos os 37 depoimentos, e das peças principais, entre elas os laudos das perícias já realizadas.

No relatório-voto que apresentará em fevereiro, o ministro pode: 1) decidir que a ação é improcedente, por falta de provas, e não deve ser aceita; 2) que é procedente. Nesse caso, terá de dizer se só cassa Dilma ou se cassa a chapa Dilma-Temer. O voto do relator será apreciado pelos seis outros ministros que compõem o pleno do TSE, presidido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em que estágio está a formação da sua convicção neste momento do processo? O senhor já a tem pronta, ou quase?

Não tenho. Eu tenho o esquema das perguntas que eu tenho de responder. O que é muito importante. Porque, se eu não partir das perguntas corretas, possivelmente não chegarei às respostas corretas.

Os depoimentos mostram que o senhor faz muitas perguntas diretas, às vezes incisivas – “a presidente Dilma sabia?” ou “o presidente Michel Temer recebeu algum financiamento, de uma forma ou de outra?”.

É talvez por isso que os jornalistas veem aqueles depoimentos, olham o meu histórico como juiz, e dizem “o ministro já decidiu pela cassação da chapa e pelo reconhecimento do caráter siamês dela”. Eu, sinceramente, não fiz esse estudo. Quando faço perguntas incisivas não é que eu estou esperando uma resposta para levar à cassação de quem quer que seja. Não. Porque a resposta negativa é tão importante ou até mais importante do que a resposta positiva.

• Estado - Por que o senhor ainda não fez esse estudo?

Herman Benjamin - Porque eu só posso fazer, para chegar a conclusões definitivas, no que se refere ao meu voto, se eu tiver tanto os depoimentos como a perícia, que ainda não acabou.

Reprovação a gestão Temer dispara, mostra Datafolha

Thais Bilenky – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A popularidade do presidente Michel Temer (PMDB) despencou desde julho, acompanhada da queda na confiança na economia a níveis pré-impeachment, revela nova pesquisa Datafolha.

De acordo com o levantamento, 51% dos brasileiros consideram a gestão do peemedebista ruim ou péssima, ante 31%, em julho.

O levantamento foi realizado entre 7 e 8 de dezembro, antes de virem à tona novos detalhes de delação da Odebrecht com menções a Temer.

Aqueles que veem o governo do presidente como regular reduziram-se a 34%. No levantamento anterior, durante a interinidade do peemedebista, eram 42%.

No período, a percepção da população sobre a economia se deteriorou. Para 66%, a inflação vai aumentar; 19% apostam que ficará como está e 11% preveem queda. O crescimento do desemprego é aguardado por 67%. Outros 16% disseram que diminuirá e 14% acham que fica estável.

Saúde supera corrupção como pior problema para a população

- Folha de s. Paulo

SÃO PAULO - A saúde voltou a ser o principal problema do país para a população, depois de um ano em que a corrupção ocupou o topo do ranking.

Segundo a pesquisa do Datafolha, 33% consideram a assistência médica a grande falha do país e 16%, desvios de recursos públicos.

A última vez que a saúde havia figurado numericamente como maior preocupação dos brasileiros foi em junho de 2015.

Desde então, fora ultrapassada pela corrupção (37%), que teve seu auge como principal problema aos olhos da população em março deste ano, um mês antes do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Naquela pesquisa, a saúde foi lembrada por 17%.

Com 32%, a corrupção continuou no topo em pesquisa realizada em julho deste ano, durante a interinidade de Michel Temer (PMDB). A saúde manteve os 17% pesquisa anterior, em segundo lugar.

Hoje, depois de saúde e corrupção, para 16% dos brasileiros, o desemprego preocupa mais do que qualquer outro problema, apontou o levantamento. Depois vem educação, para 10%.

O projeto lulista para a América Latina

Thiago Herdy - O Globo

SÃO PAULO - Ex-porta-voz do governo Lula, o professor e cientista político brasileiro André Singer cunhou a expressão “lulismo” para definir a marca dos oito anos do metalúrgico no poder: uma forma de fazer política que atraiu o apoio dos mais pobres ao seu partido, o PT, sem entrar em atrito com os mais ricos. Em seu governo (2003-2010) e depois, Lula pôs em prática versão latino-americana da mesma tese: abraçou bandeiras históricas da esquerda no continente — como a integração solidária entre os países — sem se descuidar dos interesses de poderosos grupos econômicos brasileiros, inclusive os mais corruptos.

Trocas de e-mails e mensagens de celular, comunicações diplomáticas e anotações descobertas pela Polícia Federal na Lava-Jato trazem detalhes da pressão das empresas sobre Lula — e como ele aceitou defender a agenda econômica dessas companhias, na mesma época em que recebia vantagens e benefícios pessoais delas. Os indícios de favorecimento a Lula atingiram o coração de um dos projetos centrais de seu grupo político.

O ‘fazedor de presidentes’ se desfaz

Tiago Dantas - O Globo

Nenhum marqueteiro político teve tanto sucesso na última década. Desde 2006, João Santana ganhou oito eleições presidenciais em cinco países. Além de prestígio e milhões de dólares, o trabalho do publicitário brasileiro lhe rendeu o apelido de “fazedor de presidentes” na imprensa latinoamericana. Mas o estrategista não pôde celebrar sua última vitória. Quando um dos seus clientes, Danilo Medina, foi reeleito na República Dominicana com 61,8% dos votos em maio deste ano, Santana já estava preso havia quase três meses na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, pela Operação Lava-Jato. Em todos esses países, a prisão de Santana levantou suspeitas sobre sua atuação.

Santana é réu por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no Brasil. Parte do suborno que seria pago ao PT era encaminhada, diz a Lava-Jato, ao publicitário e a sua mulher, Mônica Moura, responsáveis pelas campanhas de Lula em 2006, e de Dilma Rousseff em 2010 e 2014. O casal afirma que não sabia que o dinheiro era de corrupção. Agentes da Polícia Federal suspeitam que Santana também poderia receber dinheiro por campanhas no exterior.

Lava-Jato já suspendeu 16 obras em seis países

Maior ação anticorrupção feita no Brasil é tema de reportagens de jornais do Grupo de Diários América (GDA)

Cleide Carvalho - O Globo

SÃO PAULO - Maior operação anticorrupção das Américas, a Lava-Jato já afeta diretamente pelo menos seis países da América Latina e Caribe. Por conta das denúncias, o BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, suspendeu o desembolso de US$ 3,6 bilhões para 16 obras de infraestrutura na Argentina, Venezuela, República Dominicana, Cuba, Honduras e Guatemala. O Ministério das Relações Exteriores brasileiro participa das negociações em torno da retomada dos desembolsos, que, no entanto, só ocorrerá mediante assinatura de um termo de compliance (conformidade com regras) entre as empreiteiras e países contratantes. O impacto da operação é o tema de uma série de reportagens do Grupo de Diários América (GDA), formado por 11 dos principais jornais da América Latina, entre eles O GLOBO.

As obras bloqueadas estavam sendo tocadas pelas cinco maiores empreiteiras brasileiras, acusadas de comandar o esquema de corrupção na Petrobras. Os projetos somam US$ 5,7 bilhões e representam 58% do valor destinado pelo banco para financiar a exportação de serviços de engenharia brasileiros na região entre 2003 e 2015.

Século global - Sérgio Besserman Vianna

- O Globo

É preciso que esquerda e direita se desapeguem do século XX

Sempre haverá direita e esquerda. O espaço político não pode prescindir de uma geometria. Sempre haverá conservadores e progressistas, o tempo histórico não pode dispensar a tensão dos elos entre o passado e o futuro.

O século XX foi conflagrado por duas narrativas, ambas com a pretensão grandiosa e, ao mesmo tempo, superficial de “resolver” ou “realizar” a História, acabando com essa tensão.

Com a Queda do Muro, uma das narrativas morreu. Uma resistência a esse fato tentou salvar o “socialismo real” contando a história de que este havia acabado por falta das liberdades democráticas, não por irrealismo econômico. A China está aí para demonstrar que não era só isso.

Alvoroço – mundo e Brasil - *Pedro S. Malan

Aumento dos graus de incerteza na política, na economia e na interação de ambas é assustador

“Não existe nada estável no mundo: o alvoroço é a nossa única música”, escreveu o poeta John Keats a seu irmão, em 1818. A frase faz sentido, a julgar pela experiência dos últimos 200 anos, e segue relevante, hoje, para o mundo e para o Brasil neste final do surpreendente ano de 2016. Afinal, não é todo ano que temos a eleição de um Trump, um Brexit, nacional-populismos e tiranias em ascensão no mundo e, no Brasil, o fim do ciclo do “projeto” petista.

O alvoroço (uproar no original inglês) não é a nossa única música (existem as boas), mas os graus de incerteza na política, na economia e, particularmente, na interação de ambas – nos âmbitos nacional, regional e global – vêm aumentando de forma assustadora. E não foi algo que aconteceu de repente, não mais que de repente. Não se trata apenas de um fenômeno cíclico, passageiro. Não existe esse tal de “novo normal” à frente, que alguns procuram – em vão – identificar. André Lara Resende está correto ao insistir na observação de que tanto no Brasil como no mundo “nunca a conjuntura foi tão pouco conjuntural”.

O ano da encruzilhada- Fernando Gabeira

- O Globo

E se nunca pudermos sair de 2016? Esta pergunta me impressionou, embora fosse apenas uma piada. O ano foi tão intenso que parece um longo pesadelo. Talvez tenha sido intenso para todos, mas aqui no Brasil, com a profunda crise econômica e um toque de realismo fantástico, 2016 foi mais assustador. Às vezes penso que toda essa intensidade não se deve apenas ao ano que termina. Num mundo conectado, muitos de nós consultam a internet de 15 em 15 minutos e ficam desapontados quando não acontece nada.

Nossa demanda por fatos novos parece ter aumentado. O Brasil tem sido generoso, embora os fatos sejam quase sempre negativos e não nos levem, necessariamente, a lugar nenhum. Ferreira Gullar dizia que a vida não basta, daí a importância da arte. Goethe, por sua vez, dizia que a arte é um esforço dos vivos para criar um sistema de ilusões que nos protege da realidade cruel. Dentro de um universo mais amplo, a política também deveria ser um sistema de ilusões que nos ampara da brutalidade do real. Carmem Lúcia, de uma certa maneira, expressou isto quando disse ou democracia ou guerra, referindo-se a uma possível falência do estado, o que nos jogaria numa batalha de todos contra todos.

Na educação, a síntese dos fiascos brasileiros - *Rolf Kuntz

- O Estado de S. Paulo

As más classificações em educação e em competitividade são itens do mesmo quadro

O fracasso na educação pode ser a síntese de todos os fracassos do Brasil neste começo de século, refletidos na maior recessão em muitas décadas, no baixo potencial de crescimento, na estagnação da produtividade, no escasso poder de competição internacional, no retorno humilhante à armadilha da crise fiscal e na corrupção como componente da rotina política. A ilusão do avanço e a queda na realidade foram marcadas em duas capas famosas da revista The Economist – na primeira, o Cristo Redentor subindo como um foguete, na segunda, despencando de cabeça para baixo. Uma fantasia permanece, no entanto, em alguns discursos políticos e, talvez, na mente das pessoas mais crédulas. Ainda se fala sobre o resgate de dezenas de milhões de pessoas da pobreza.

De fato, milhões ingressaram no mercado de consumo graças a transferências de dinheiro por mecanismo fiscal e à elevação real do salário mínimo por decisão política. Quantos desses pobres, ou ex-pobres, segundo os mais otimistas, se tornaram mais capazes de ganhar a vida no mercado, em condições normais, apenas com suas habilidades e seu esforço? Ninguém respondeu ainda a essa pergunta, mas, além disso, poucos a têm formulado de modo explícito. O Brasil ainda é conhecido por seus indicadores de pobreza e desigualdade, mesmo depois das alardeadas façanhas do populismo e da melhora de alguns números. Mas houve mesmo tanta melhora?

Mundo paralelo ilegal - Merval Pereira

- O Globo

É impressionante tomar conhecimento das negociações por baixo dos panos entre parlamentares os mais diversos, dos vários partidos, e diretores da empreiteira Odebrecht, uma empresa que se organizou na clandestinidade para tratar de maneira profissional as demandas dos políticos, que por sua vez organizaram suas carreiras com base no financiamento ilegal de campanhas eleitorais, muitos sabendo que na maior parte tratava-se pura e simplesmente de propina.

Criaram um mundo paralelo ilegal que todos compartilhavam, uma dark web política, que em vez de vender drogas e armas vendia prestígio e corrupção.

As duas corporações, empreiteiras e políticos, desmontaram ao longo dos anos o sentido de seus papéis sociais para transformarem-se em braços de uma mesma estrutura corrompida, que baseava no toma-lá-dá-cá a razão de existir, sem que tivessem a menor importância os partidos que representavam, os programas que apoiavam, as obras que idealizavam ou construíam.

Turbulência - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Com os problemas do PMDB e de seu entorno, Temer precisa do Congresso e do PSDB

O ano de 2016 vai terminando e o de 2017 bate à porta com mais dúvidas do que certezas e com a sensação de que, quanto mais o presidente Michel Temer se isola no governo, mais ele fica refém de um Congresso carente de credibilidade e apavorado com a Lava Jato. A única boa notícia de Temer na semana passada foi a queda da inflação. Nesta, deve ser a aprovação do teto de gastos.

No mais, Temer se imiscuiu na crise entre Legislativo e Judiciário, deixou vazarem que cedia em temas centrais da recém-lançada reforma da Previdência e recuou na escolha do substituto de Geddel Vieira Lima na Secretaria de Governo. Convenhamos, não são exatamente movimentos de quem se sente firme feito uma rocha.

O ano que não acaba - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

Citado na Lava-Jato, o presidente Michel Temer é o mais blindado: a Constituição impede que seja investigado por fatos anteriores ao exercício do mandato

Depois de uma semana de fortes emoções, com o país à beira de uma crise institucional, na qual o Senado e o Supremo Tribunal Federal se digladiavam, novas revelações sobre a Operação Lava-Jato esquentam o fim de semana. O presidente Michel Temer é o principal alvo da delação premiada do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, que vazou para a imprensa na sexta-feira. Durante jantar no Palácio do Jaburu, em 2014, Temer teria pedido R$ 10 milhões ao presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht.

Esse valor, segundo o delator, foi supostamente pago a pessoas próximas do presidente, como o atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o assessor especial da Presidência José Yunes. Os recursos teriam sido entregues em dinheiro vivo. Melo entregou à Lava-Jato uma lista “suprapartidária” de políticos que, segundo o delator, receberam recursos da Odebrecht. Também estão citados o secretário especial da Presidência Moreira Franco, os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) e Eunício Oliveira (PMDB-CE) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Todos negam ter recebido doações ilegais, mas o vazamento atingiu em cheio a cúpula do governo.

O tsunami chegou - Bernardo Mello Franco

Folha de S. Paulo

Os vazamentos de sexta à noite (9) começaram a confirmar as previsões mais apocalípticas sobre a delação da Odebrecht. Estamos diante de um tsunami de proporções inéditas, com potencial para varrer os principais partidos e pré-candidatos à Presidência em 2018.

A primeira onda quebrou com força sobre o atual inquilino do Planalto. O delator Cláudio Melo Filho afirma que Michel Temer pediu "direta e pessoalmente", em jantar no Palácio do Jaburu, que Marcelo Odebrecht repassasse R$ 10 milhões para as campanhas do PMDB em 2014.

Em modo de provocação - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

Renan e companhia tentam acirrar a crise para forçar saída negociada a políticos

Era visível o constrangimento de alguns ministros – em especial nos semblantes e nas vozes hesitantes de Cármen Lúcia e Rosa Weber – na sessão em que o Supremo Tribunal Federal considerou por 6 a 3 que Renan Calheiros não pode substituir eventualmente o presidente da República, mas pode presidir o Senado de forma permanente.

O meio-termo talvez não fosse a solução ideal no entendimento dos ministros, mas era a saída possível para conter naquele momento a escalada de provocações posta em prática pelo presidente do Senado. O STF fez mais que esfriar a crise: evitou cair no jogo de Calheiros, cujo objetivo é acirrar a crise ao ponto em que o impasse criado possa alimentar a ideia de que só uma solução negociada entre os Poderes pode levar o Brasil a retomar um ambiente de normalidade institucional.

Calma e sangue-frio – Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

A economia surpreendeu para pior no quarto trimestre. A previsão do Ibre de crescimento de 0,6% para 2017 será revista para 0,3%.

Todo o novo cenário do Ibre será divulgado no seminário de conjuntura de fechamento do ano, nesta segunda-feira (12), na FGV-Rio.

O governo Temer vive momento difícil. A lentidão da recuperação deve-se ao desastre que foi construído entre 2009 e 2014 no setor real da economia. Uma série de programas estimulou excesso de investimento em setores com baixa rentabilidade, sob a hipótese de que a capacidade financeira do setor público -Tesouro Nacional, estatais e bancos públicos- fosse ilimitada.

A realidade obrigou a forte redução dos investimentos nos setores naval, petrolífero, automobilístico, sucroalcooleiro, de construção civil (em razão das revisões do Minha Casa, Minha Vida) e em muitos outros.

Para a plateia - Míriam Leitão

- O Globo

Estamos em plena temporada da dissimulação. O PT chegou a propor teto para os gastos em duas ocasiões, hoje prefere exibir sua cômoda amnésia. Também reduziu pensões de viúvos e viúvas, e a ex-presidente Dilma estava preparando um projeto de reforma da Previdência. Portanto, o repúdio dos petistas às propostas é mais um dos vários atos de hipocrisia política.

O projeto de reforma se propõe a reduzir desigualdades dentro do sistema de aposentadoria, apesar de manter várias delas. A Previdência sempre foi muito desigual, mas agora é que alguns políticos e sindicalistas criticam os tratamentos diferenciados. As últimas semanas têm sido de declarações feitas para ludibriar o público. Uma delas foi do deputado Henrique Fontana (PT-RS). Segundo ele, a reforma, ao estabelecer a idade de 65 anos, pune o trabalhador mais pobre, sem qualificação, que começa a trabalhar cedo. Quem usufruiu todos estes anos da aposentadoria precoce foi o trabalhador de maior renda, que tem qualificação e que trabalhou no setor formal. Para o pobre e sem qualificação, sempre valeu a idade mínima de 60 anos.

A tradição cultural do jeitinho - Cacá Diegues

- O Globo

Por sua folha corrida, Renan Calheiros já devia estar, há muito tempo, todo encalacrado com o Ministério Público e a Polícia Federal. A liminar do ministro Marco Aurélio Mello seria, a essa altura, apenas mero enfeite pendurado em seu pescoço largo de senador da República, como se fazia com os condenados na Idade Média. Hoje, ele responde a 12 processos no Supremo Tribunal Federal.

O senador é um político vitorioso, notoriamente um dos mais poderosos do país; e isso é básico, numa atividade em que o poder é o único objetivo de quase todos. Seu sucesso é, certamente, fruto dessa fidelidade ao desejo de um poder que nunca subestima, nem deixa se desgastar. A estratégia de todo homem poderoso parte sempre de uma recusa a qualquer ferida narcísica, qualquer perda do que ele quer que seja visto como sua integridade humana. Renan quer ser a síntese da nação.

Sobriedade – Editorial / O Estado de S. Paulo

Especialmente nos momentos de crise, o País precisa da autoridade da Justiça

Tem havido casos – mais frequentes do que a prudência recomendaria – de excessivo protagonismo por parte de integrantes do Poder Judiciário, como se celebridades fossem. A crescente importância institucional do Poder Judiciário nem de longe legitima esse tipo de performance pública, cujos efeitos daninhos não se restringem à imagem do funcionário da Justiça, mas podem afetar a autoridade da própria instituição.

Situações de protagonismo pessoal podem surgir nas mais variadas ocasiões, seja nos próprios autos do processo, seja na vida pública e social.

Por exemplo, em razão de sua atuação firme e isenta, muitos juízes se tornam figuras conhecidas pela opinião pública. Naturalmente, diante desse fenômeno, a presença de tais magistrados nos mais variados eventos sociais passa a ser objeto de intensa disputa. Certamente, a lei não os impede de frequentar tais salões, mas é preciso reconhecer que o cargo que ocupam lhes exige criteriosa prudência na hora de ponderar a conveniência de aceitar cada convite.

Pressão de corporações pode agravar crise – Editorial / O Globo

A reação de grupos organizados, de dentro e de fora do Estado, ao ajuste torna mais doloroso o reequilíbrio das contas e cria o risco de mais recessão e inflação

As cenas de manifestações violentas no Centro do Rio, com tentativas de invasão da Assembleia Legislativa, depredações, fogueiras no meio da rua, balas de borracha, pedras e gás lacrimogêneo, devem ficar para a posteridade como registro iconográfico da quebra do Estado brasileiro, na qual a situação fluminense é um dos destaques.

O enfrentamento das forças de segurança tem sido feito por servidores públicos desse próprio setor — policiais, bombeiros etc. —, com a indefectível atuação de bandos de anarquistas, característica dos conflitos de rua na cidade desde 2013, e não apenas no Rio.

Rota insustentável – Editorial/ Folha de S. Paulo

A necessidade da reforma da Previdência salta aos olhos quando se considera a relação entre os gastos com o sistema e o perfil demográfico brasileiro. Referências internacionais indicam que o país já gasta em excesso antes de sua população se tornar mais velha.

Os principais motivos da discrepância são as aposentadorias precoces no INSS e as regras injustificáveis que beneficiam alguns setores, como os servidores públicos.

O Brasil ainda é um país relativamente jovem, mas envelhecerá rapidamente nas próximas décadas. É uma decorrência inevitável da baixa taxa de natalidade atual.

De acordo com o IBGE, a chamada "taxa de dependência" (que é a relação entre pessoas inativas, que chegaram a 65 anos ou mais, e a população em idade ativa, entre 15 e 64 anos) crescerá de 11,5% em 2015 para 25% em 2035. Em 2060, a taxa atingirá 44,4%.

Os domingos – Paulo Mendes Campos

Todas as funções da alma estão perfeitas neste domingo.
O tempo inunda a sala, os quadros, a fruteira.
Não há um crédito desmedido de esperança
Nem a verdade dos supremos desconsolos –
Simplesmente a tarde transparente,
Os vidros fáceis das horas preguiçosas,
Adolescência das cores, preciosas andorinhas.

Na tarde – lembro – uma árvore parada,
A alma caminhava para os montes,
Onde o verde das distâncias invencidas
Inventava o mistério de morrer pela beleza.
Domingo – lembro – era o instante das pausas,
O pouso dos tristes, o porto do insofrido.
Na tarde, uma valsa; na ponte, um trem de carga;
No mar, a desilusão dos que longe se buscaram;
No declive da encosta, onde a vista não vai,
Os laranjais de infindáveis doçuras geométricas;
Na alma, os azuis dos que se afastam,
O cristal intocado, a rosa que destoa.
Dos meus domingos sempre fiz um claustro.
As pétalas caíam no dorso das campinas,
A noite aclarava os sofrimentos,
As crianças nasciam, os mortos se esqueciam mortos,
Os ásperos se calavam, os suicidas se matavam.
Eu, prisioneiro, lia poemas nos parques,
Procurando palavras que espelhassem os domingos.
E uma esperança que não tenho.

Edu Lobo - Frevo Diabo

Íntegra da posse da nova Direção da FAP (3/12/2016) com Cristovam Buarque, FHC e convidados