sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Novo secretário da Segurança é acerto de Lewandowski

O Globo

Indicação de Mário Sarrubbo revela foco no combate ao crime organizado e distância saudável da ideologia

Logo depois de anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski afirmou ao GLOBO que a segurança pública seria “prioridade absoluta”. Nesta semana, transformou as palavras em ato ao convidar o procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo, para assumir a Secretaria de Segurança Pública. A escolha deu fim a temores de indicação de acadêmicos ou políticos sem experiência em uma área crítica para o êxito não apenas da gestão de Lewandowski no ministério, mas do próprio governo Lula.

Sarrubbo integra o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) desde 1989 e tem longo histórico no combate ao crime organizado, tendo trabalhado com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Sua prioridade no governo, como revelou a colunista do GLOBO Vera Magalhães, será promover maior integração entre Polícia Federal, polícias estaduais e ministérios públicos. É o rumo certo. A pulverização dos dados de inteligência por diferentes silos e investigações isoladas tem há muito beneficiado as redes criminosas, cuja atuação se espalha por diferentes estados ou mesmo países. Sarrubbo levará para Brasília os métodos bem-sucedidos do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP paulista, no uso de inteligência e estrangulamento financeiro do crime organizado.

José de Souza Martins* - A celebração da democracia

Valor Econômico

A mensagem ideológica das mentiras norteou a caminhada da manada que se deslocou pela Praça dos Três Poderes em direção aos alvos de fúria de “patriotas” de aluguel

A intentona autoritária de 8 de janeiro de 2023 pelo golpe militar e pela anulação do mandato legítimo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, escondia e esconde um conjunto extenso de autorias e protagonismos que não tiveram visibilidade nas prisões efetuadas. Examinando o conjunto conhecido dos fatos e a sequência de ações de agentes do Estado e de seus coadjuvantes, é inevitável reconhecer brechas e invisibilidades nas evidências de conexões necessárias ao andamento e ao desfecho do processo golpista.

As celebrações de 8 de janeiro deste ano, do triunfo das instituições, podem sugerir que as capturas e condenações realizadas pegaram os manifestantes mas nem todos os que deveriam ser capturados e processados. Os principais agentes da conspiração não foram devidamente identificados e presos. A multidão alucinada da ilegalidade notória, reunida à sombra de um quartel do Exército, revelou-se multidão de manobra da baderna preparada há muito.

Vera Magalhães - Sem apaziguamento

O Globo

O que se busca a partir de agora é mostrar a cadeia de eventos que desaguou no dia 8 de janeiro, que nada teve de aleatória

Foi deflagrada ontem a 24ª fase da Operação Lesa-Pátria, mas na verdade o que se viu foi apenas o começo de uma etapa crucial das investigações em torno do 8 de Janeiro: a que pretende chegar aos idealizadores, incitadores, organizadores e financiadores da tentativa de provocar uma ruptura institucional por meio da baderna e da abolição da ordem democrática.

Nesse contexto, Carlos Jordy parece ser um peixe pequeno, mas capaz de levar a outros maiores. Assim como a Polícia Federal chegou ao nome do deputado bolsonarista por meio de um dos líderes de grupos que participaram dos atos do dia 8 de janeiro, a expectativa dos investigadores é que a quebra dos sigilos do parlamentar leve a outros nomes envolvidos na mentoria intelectual dos eventos.

Uma das estratégias intensificadas nos últimos meses pela extrema direita é tratar o que houve em Brasília naquele dia como uma espécie de catarse espontânea, sem comando nem objetivo definido. Parece que tem funcionado. Pesquisas realizadas por institutos como Atlas e Quaest mostram ser bem disseminada na sociedade a ideia de que, ainda que condenáveis, os atos não podem ser atribuídos concretamente a Jair Bolsonaro ou a seu grupo.

Fernando Gabeira - Segurança pública como o patinho feio

O Estado de S. Paulo

É uma tarefa audaciosa num país como o Brasil defender verbas adequadas para a área. Mas temos insistido na relação insegurança e economia

A troca de ministro da Justiça é mais uma oportunidade para trazer para a agenda o tema de segurança pública. Minha tese é de que podemos ter uma política democrática e eficaz no setor. Mas o caminho não é fácil.

Não sou especialista nem pretendo esgotar o tema. Quero apenas avançar algumas ideias acumuladas em alguns anos de reportagem policial e décadas de observação política.

A segurança pública nunca foi um tema empolgante para os líderes nacionais, sobretudo nesse período de redemocratização. Ou é vista como algo secundário ou mesmo perigoso, pois arrisca dividir com os Estados um desgaste que deveria ser só deles, os responsáveis legais pela tarefa. O tema é visto mesmo até com um certo desprezo, pois não tem as características nobres de outras atividades do estadista.

César Felício - O PT tem planos para Alckmin em São Paulo

Valor Econômico

Uma oitava candidatura presidencial de Lula pode deslocar o vice-presidente para a disputa regional em São Paulo

A articulação por uma candidatura de reeleição já começa, por mais que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha em alguns encontros feito declarações que sinalizem não haver definição nesse sentido.

No entorno do presidente há o entendimento de que somente Lula tem popularidade e capacidade de montar alianças amplas para enfrentar a oposição em 2026. A simples presença do presidente no cenário muda o cálculo até do lado oposto.

É possível, por exemplo, que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) procure garantir sua reeleição e adie um projeto presidencial no caso de uma nova candidatura de Lula. Sem Lula na urna, aumenta a chance de Tarcísio entrar, em uma aliança que pode englobar o PL de Bolsonaro, o PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira, o União Brasil, e, talvez, o MDB.

Eliane Cantanhêde - ‘Ano da colheita’

O Estado de S. Paulo

Em 2024, Lula colhe voto para seus candidatos em outubro e planta apoio para militares

Se 2023 foi o ano do “Brasil voltou”, 2024 está programado para ser o “ano da colheita” (ou dos palanques, inaugurações, PAC), como disse o presidente Lula no seu primeiro giro pelo Nordeste do ano, quando, além de tentar colher apoio para seu governo e votos para seus candidatos em outubro, tratou de plantar boas notícias para as Forças Armadas.

Quem planta colhe, mas plantar dá trabalho, custa caro e depende de São Pedro, do El Niño e dos fatos. Logo, Lula precisa plantar, aguar e cuidar bem de suas relações com Exército, Marinha e Aeronáutica, onde o grosso do eleitorado lhe virou as costas e votou em Jair Bolsonaro em 2022, apesar de todos os investimentos bilionários que ele fez em equipamentos e tecnologia para a área militar nos seus dois primeiros mandatos.

Flávia Oliveira - De mal a pior

O Globo

Há uma diferença entre saber que haverá temporal e como agir

Todo ano a mesma chuva. Certas como a morte — não raro, trazendo-a — são as tempestades de verão no Rio de Janeiro. E, ainda assim, o poder público dá vexame. O governador Cláudio Castro, de férias nos Estados Unidos, retornou às pressas para declarar que não faltou nada à população e que, no ano passado, choveu em abril, não nesta época. Para dizer isso, nem precisava voltar.

Quatro dias depois da chuvarada que massacrou bairros da Zona Norte da capital e municípios da Baixada Fluminense, deixando 12 mortos, áreas de Duque de Caxias ainda estavam alagadas, e moradores assombrados com a previsão de mais chuva no fim de semana. Faltaram água e luz; trechos da Rodovia Washington Luís/BR-040, federal, ficaram inundados por mais de uma dezena de horas; alagadas, estações da Linha 2 do metrô pararam. Sinal de que as concessionárias tampouco sabem enfrentar os eventos climáticos frequentes e intensos, que especialistas anunciam há tempos.

Cláudio Carraly* - Novo Pacto Federativo e a Importância do Poder Local

A questão do poder local e a necessidade de um novo pacto federativo são temas cruciais para o Brasil contemporâneo. O poder local, representado pelos municípios, é a esfera mais próxima dos cidadãos e tem grande impacto em suas vidas cotidianas. É onde políticas públicas relacionadas à educação, saúde, transporte, cultura e outros aspectos essenciais são formuladas e implementadas. Contudo, ao longo da história, os municípios brasileiros enfrentaram desafios significativos, incluindo a falta de recursos adequados para atender às demandas locais. Ressalte-se que no papel temos estabelecidas as responsabilidades entre os três níveis de governo dos entes federativos sendo eles, Governo Federal, Estadual e Municipal, o problema é que a maior demanda de ações ficam ligadas aos municípios, enquanto o dinheiro é concentrado principalmente nos governos Federal e Estadual, como observamos:

Vinicius Torres Filho - O capital após a fraude na Americanas

Folha de S. Paulo

Companhias voltam a captar recursos para investir e arrumar suas contas, bom sinal

Na segunda metade do ano, o mercado de capitais no Brasil ressuscitou. É importante. Trata-se do atacadão de dinheiro, onde as empresas tomam o que grosso modo são empréstimos por meio de títulos de dívida privada (como debêntures) e vendem novas ações.

Lá arrumam recursos a fim de expandir suas atividades ou arrumar suas contas, tentando melhorar suas dívidas (alongar prazos, pagar taxas de juros menores).

Se as empresas têm confiança de levantar dinheiro e encontram investidores dispostos a fazer negócio, é um indício de que a economia pode vir a crescer mais.

Bruno Boghossian - A festa da prebenda

Folha de S. Paulo

Assim como mostrou eficiência a partir da influência política, grupo exibe desenvoltura nas ameaças

A fúria da bancada evangélica contra a decisão da Receita que suspendeu um benefício tributário ajuda a entender como as igrejas escolheram fazer política em Brasília. Tudo indica que, nos últimos tempos, essa turma ficou mal-acostumada com o acesso privilegiado ao poder.

O peso eleitoral dos evangélicos passou a ser negociado sem pudor. Às vésperas da campanha de 2022, depois de um lobby intenso, o governo Bolsonaro atropelou um entendimento técnico de anos e determinou que a Receita não cobrasse contribuição previdenciária sobre um tipo de pagamento feito aos pastores.

Marcos Augusto Gonçalves - Marta Suplicy não é um Alckmin de saia

Folha de S. Paulo

Ex-prefeita tem histórico na base da pirâmide e não é queridinha da classe média

Até que ponto a volta de Marta Suplicy ao PT para ocupar a função de vice do candidato Guilherme Boulos, do PSOL, é comparável à escolha de Geraldo Alckmin para a chapa de Lula na eleição presidencial?

Alguma correspondência pode ser vista. A ex-prefeita brigou com a sigla na qual fez sua carreira política e apoiou o impeachment de Dilma Rousseff em companhia de conservadores.

Acontece que o desentendimento de Marta foi provocado em grande parte pela vontade dela de que Lula substituísse Dilma na corrida eleitoral, escolha que, com o correr do tempo, talvez tenha passado a fazer mais sentido. O "se" em história é um exercício muito duvidoso, mas sempre é possível especular se o líder do partido, caso eleito, teria feito melhor para conter a crise que acabou por expelir a presidente petista.

André Roncaglia* - A paranoia liberal contra o BNDES

Folha de S. Paulo

Análise de políticas públicas requer mais racionalidade e transparência

Em seu mais recente artigo para a Folha, meu colega Marcos Mendes voltou a investir contra o BNDES, lançando uma suspeição indevida sobre a instituição. Para o bem do debate público, contesto algumas de suas afirmações a seguir.

Em primeiro lugar e mais grave, o uso do termo "granaduto" lança mão do glossário lava-jatista para associar o banco a práticas opacas e até ilegais. Evocar a imaginária caixa-preta do BNDES contrasta com o reconhecimento do banco, pelo TCU e pela CGU, como a instituição pública mais transparente do Brasil.

Segundo, quanto aos impactos do BNDES na economia brasileira entre 2008 e 2014, o relatório do CMAP (Conselho de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas) faz uma avaliação preliminar de custo e benefício dos financiamentos do BNDES entre 2008 e 2014.

Hélio Schwartsman - O incorrigível CFM

Folha de S. Paulo

Autarquia federal continua ignorando ciência e atuando como linha auxiliar do bolsonarismo

Ah, o Conselho Federal de Medicina... O órgão colocou em sua página na internet uma enquete para aferir a opinião de médicos sobre a vacinação contra a Covid-19 em crianças que está dando o que falar. Várias organizações, como a SBPC e a Sociedade Brasileira de Imunizações, questionam a iniciativa, que já virou objeto de ação judicial. A polêmica não é sem motivo.

Ruy Castro - Piano na Ouvidor

Folha de S. Paulo

Livraria carioca faz 20 anos em rua histórica que ela ajudou a transformar em novo ponto de encontro

Há 20 anos, Rodrigo Ferrari me telefonou eufórico para dizer que sua livraria, a pequena e charmosa Folha Seca, iria se mudar do Centro de Artes Helio Oiticica, na praça Tiradentes, para um espaço maior na rua do Ouvidor, entre 1º de Março e Travessa do Comercio. Sem que ele pedisse, fui logo me metendo. Era um erro, exclamei. Imagine trocar o Helio Oiticica, naquele prédio lindo de 1872, pela rua do Ouvidor. Ela fora chique no tempo de Machado de Assis, mas era agora uma rua triste e abandonada. Nada de importante acontecera nela desde a troca de bengaladas entre Olavo Bilac e Pardal Mallet em 1889. Rodrigo riu, me ignorou e convidou para a inauguração.

Há dias, ele ligou para me lembrar da festa dos 20 anos, neste sábado (20), da Folha Seca na Ouvidor. E nem precisaria porque, nos últimos 20 anos, a cada dia 20 de janeiro, compareci a todos os aniversários da livraria. São Sebastião é testemunha. A rua de fato ainda tinha seus encantos quando Rodrigo foi para lá, mas seu dinamismo ajudou a reavivá-los. Ele tinha razão —a Folha Seca só podia estar ali.

Poesia |Cidadezinha, de Mário Quintana

 

Lucas Brêda - Zeca Pagodinho celebra 40 anos de carreira: cheiro de saudade

Folha de S. Paulo

Cantor que despreza mundo das celebridades prefere a vida em Xerém, vasculhando o passado em fitas que achou na pandemia

RIO DE JANEIRO - Zeca Pagodinho está atarefado. Atende ligações e conta dinheiro para fazer um pagamento enquanto dá entrevista —algo que notoriamente odeia, só menos do que posar para fotos. Em uma das unidades do Bar do Zeca, temático sobre o sambista, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, ele brinca que a última vez que ganhou no jogo do bicho foi três dias atrás, mas pouca coisa, só R$ 900.

De muitas maneiras, Zeca, 64, continua o mesmo. Prepara o início da turnê de 40 anos de carreira, a começar pela gravação de um show no estádio Nilton Santos, o Engenhão, em 4 de fevereiro. O repertório é aquele consagrado por ele, com participações de parceiros antigos, caso de AlcioneSeu Jorge, Jorge Aragão, Xande de Pilares, Diogo Nogueira e Marcelo D2, e novos, como Djonga.

Mas seu entorno mudou. A malandragem, ele diz, era diferente de quando Beth Carvalho o alçou de partideiro e compositor frequente nas rodas de samba do Rio a intérprete, no começo dos anos 1980, dando início à carreira de quatro décadas, uma das mais bem-sucedidas da história da música brasileira.

"Até na maneira de conversar", diz. "Malandro antigamente não falava ‘a gente vamos’. Os caras sabiam falar. Liam. [O pessoal do bicho] também. No subúrbio, a gente vivia no meio de tudo."

Música | Ainda é tempo pra ser feliz - Zeca Pagodinho e Beth Carvalho