quarta-feira, 24 de junho de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

Acho que o presidente Lula, mais do que ataques à atual presidente, sua criatura, tem que reassumir sua parcela de responsabilidade pelo que vem acontecendo no Brasil. E não há como descolar uma coisa da outra: o governo é o PT, o governo é Dilma, o governo é Lula. Foi assim nos momentos positivos e será assim nesse momento de grandes dificuldades. Lamentavelmente, essa obra é uma obra conjunta do ex-presidente Lula, da presidente Dilma, e, obviamente, do PT."


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Aécio Neves é senador (MG) e presidente nacional do PSDB. O Globo, 23 de junho de 2015.

Discurso de Lula é oportunismo para se eximir de "desastroso governo do PT", diz Freire

• Para Roberto Freire, comportamento de Lula é uma coisa vergonhosa

: Valéria de Oliveira - Portal do PPS

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), classificou de “deslavado oportunismo” o discurso que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem fazendo sobre o PT e o governo Dilma Rousseff.

“Lula inaugurou um festival de oportunismo, em que não respeita o seu partido e a presidente da República de seu governo”, afirmou Freire. O deputado vê, no gesto, “um claro intuito de tentar se afastar e se eximir de qualquer responsabilidade da grave degradação que estamos vivendo no país durante o desastroso governo do PT”.

Para Roberto Freire, a estratégia de Lula não vai funcionar porque a opinião pública brasileira “não vai se deixar enganar por um reles oportunismo desses”. Na avaliação do presidente do PPS, o comportamento de Lula “é uma das coisas mais vergonhosas que a política brasileira já experimentou”.

O parlamentar lembrou que já se teve na política brasileira problemas entre o presidente e o vice, rupturas de aliados quando no governo, coisas que, segundo ele, a política explica. “São fatos que ocorreram e a história nos dá vários exemplos. Mas com esse grau de desfaçatez que Lula começa a explicitar não se tinha conhecimento”, criticou.

No entender de Freire, com a atitude que vem tomando em relação a Dilma e ao PT, Lula se descredencia ainda mais perante a sociedade brasileira. “Nós estamos sentindo. Há uma desaprovação tão grande a isto que uma certa comiseração para com Dilma começa a aparecer - e veja bem que é rejeitada como poucos na história brasileira”.

Lula declarou que Dilma está “no volume morto”, pela baixa popularidade e que o PT está na mesma posição. O partido, segundo Lula, perdeu a utopia. “A gente só pensa em cargo, a gente só pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito e ninguém mais trabalha de graça”, afirmou o ex-presidente. Ele tem lembrado, em seus discursos, que a presidente Dilma garantiu, na campanha eleitoral, que não mexeria nos direitos trabalhistas, mas mexeu. Lula ainda cobrou boas notícias da presidente e disse que é impossível fazê-la viajar o Brasil.

Depois de arrumar a vida, Lula resolveu criticar os companheiros, diz líder do PPS na Câmara

Assessoria do PPS

Ao comentar nesta terça-feira as últimas declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, como se nada tivesse com isso, num ato de oportunismo político criticou o governo da presidente Dilma Rousseff e foi a público dizer que o PT de hoje só está preocupado em arrumar emprego, o líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), afirmou que após “arrumar sua vida” o petista resolveu sair pregando lição de moral.

“É bom até dizer que essa cobrança surge depois que ele conseguiu um tríplex no litoral paulista com ajuda da OAS, do João Vaccari (ex-tesoureiro do PT preso na operação Lava Jato) e da cooperativa dos bancários. Arrumou a vida dele e agora quer cobrar postura dos outros companheiros do PT, inclusive de Dilma, que são suas crias. É preciso compreender que com esse discurso ele quer desviar a atenção da população da pesquisa que está aí e aponta a presidente com apenas 10% de aprovação”, avaliou o líder do PPS.

Para Rubens Bueno, Lula e o PT estão perdidos no cenário político brasileiro. “Esse papo de refundar o PT eu já estou ouvindo há muito tempo. Eles criaram um partido que trazia toda uma proposta de sentimento ético e reformas profundas, mas chegaram ao governo e fizeram a pior de todas as administrações. Se transformaram por completo”, finalizou.

As razões e consequências dos ataques de Lula a Dilma e ao PT

• Críticas são estratégia para se descolar do desgaste petista, para se distanciar da impopularidade da presidente e para sobreviver

Alessandra Duarte e Sérgio Roxo – O Globo

RIO E SÃO PAULO - O navio começa a afundar, e ele é o primeiro a sair. Ao deixá-lo, cria o fato político que o governo da sucessora não consegue gerar. Ao animar a política, ocupa um espaço que poderia ser da oposição. E mostra por que tem conseguido passar por mensalões e Lava-Jatos praticamente sem se molhar. Para analistas políticos ouvidos pelo GLOBO, a saraivada de críticas que o ex-presidente Lula tem feito ao seu partido e à presidente Dilma nos últimos dias é uma estratégia: para se descolar do desgaste petista, para se distanciar da impopularidade da presidente e para sobreviver, porque 2018 vem aí.

Ricardo Ismael, cientista político da PUC-Rio
“É um cálculo político. Lula critica, mas não faz autocrítica. Coloca-se alinhado com a opinião pública. Sem dúvida, é a postura de um candidato à Presidência. Ele se comporta como um capitão que já deixou o navio, está em terra firme e observa o navio de fora. Dá o recado de que é o lulismo que vai liderar essa renovação que ele diz que o PT precisa. A renovação é ele, ele é que vai conduzi-la. À presidente, cabe se sacrificar por 2018 e ajudar Lula tentando recuperar a economia até lá”.

Oswaldo do Amaral, cientista político da Unicamp
“Um eventual descolamento de um governo de baixíssima popularidade é um movimento de quem quer deixar uma possibilidade aberta para concorrer em 2018. Dizer que o partido precisa se renovar também é uma maneira de tentar reacender um pouco a militância mais jovem do PT. As declarações de Lula sinalizam ainda a necessidade de o partido fazer mudanças. O PT não vai conseguir se recuperar com a manutenção dos mesmo líderes.”

Fernando Azevedo, cientista político da UFSCar
“Lula está explicitando algumas críticas que já vinha fazendo internamente. Ao mesmo tempo, é um possível movimento tático de se deslocar para evitar uma contaminação da sua popularidade, que ainda é melhor do que a do governo e a do PT. Internamente, o impacto é a abertura de um debate no partido, que vive um momento muito crítico. Em relação ao país, Lula começa a fazer uma autocrítica para o público externo da ação partidária e da própria atuação do governo.”

José Álvaro Moisés, cientista político da USP
“Lula está vendo o navio fazer água. Está assumindo uma posição de se dissociar da sorte do governo e do partido, sem assumir responsabilidade sobre o que aconteceu nos últimos 13 anos. É preciso saber se ele vai tomar iniciativa no sentido de enfrentar o problema. Teria sido uma coisa importante se ele tivesse feito essas afirmações durante o Congresso do PT (entre 11 e 13 de junho, em Salvador). Mas falou depois. Portanto, não é para levar a sério. É só uma maneira de jogar para a plateia”.

Eugenio Giglio, pesquisador de marketing político e professor da ESPM-Rio
“Lula é um dos políticos mais inteligentes do Brasil. Ninguém pode acusá-lo de ingenuidade: sabia que o que falava ia ter repercussão. Como a época é favorável à oposição, ele ocupa esse espaço. Critica a economia como se dissesse a Dilma: ‘Não foi para isso que botei você lá’. Não sei se combinou com o PT, que, além do próprio Lula, não tem líderes nacionais. Mas, por ser próximo de Dilma, talvez tenha articulado com ela. Lula reafirma que é maior que o PT porque quer sobreviver”.

Maria Celina D’Araujo, cientista política da PUC-Rio
“Lula está fazendo o que ele disse que precisava ser feito: política. Está animando o ambiente político, criando agenda. Na avaliação dele, é o que o governo não faz. Isso é parte de uma lógica dele de sempre ter voz; não é para contrariar Dilma. Não sei se é com vistas a 2018. É para hoje, amanhã, é para a vida dele. Agindo assim, Lula tira um pouco o fôlego da oposição, porque ele ocupa o centro do debate de oposição”.

Petistas: Lula ataca para ser ouvido

Ofensiva planejada

• Para petistas, Lula criticou Dilma por não ter sido defendido pelo governo

• Ex-presidente trabalhou para que a bancada petista no Senado divulgasse nota de desagravo a ele; deputados pretendem fazer o mesmo

Fernanda Krakovics e Cristina Jungblut - O Globo

BRASÍLIA - Após confidenciar a aliados estar cansado de não ser ouvido pela presidente Dilma Rousseff nem ser defendido pelo governo ao ter seu nome ligado a empreiteiras investigadas pela Operação Lava-Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a articular o contra-ataque por conta própria. Além de fazer duras críticas ao governo Dilma e cobrar abertamente reação por parte do PT, o ex-presidente trabalhou para que a bancada petista no Senado divulgasse nesta terça-feira uma nota de desagravo a ele. Os deputados do partido pretendem fazer o mesmo nesta quarta-feira.

Desde a última sexta-feira, quando o presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, foi preso, Lula acionou emissários, como os ex-ministros Gilberto Carvalho e Luiz Dulci, para conversar com petistas e articular sua defesa pública. Depois que deixou a Presidência, Lula fez viagens internacionais pagas pela empreiteira. Nessas ocasiões, ele deu palestras para empresários e teve encontros com políticos em países onde a Odebrecht tinha interesse em obras.

“Usam cínica e seletivamente da imprescindível luta contra a corrupção para tentar destruir um projeto nacional e popular que elevou o Brasil e o seu povo”, diz trecho da nota divulgada pelos senadores petistas.

No documento, a bancada do PT manifesta “sua total e irrestrita solidariedade ao grande presidente Lula, vítima de campanha pequena e sórdida de desconstrução de uma imagem que representa o que o Brasil tem de melhor: sua gente”.

A nota foi redigida pelo senador Paulo Rocha (PT-PA). O líder da bancada, senador Humberto Costa (PT-PE), estava em seu estado, devido às festas de São João, mas foi consultado pelo telefone. À noite, o documento foi lido em plenário pelo senador Jorge Viana (PT-AC), rodeado por outros petistas. Dos 13 senadores do PT, três são investigados na Lava-Jato: Humberto Costa, Lindbergh Farias (RJ) e Gleisi Hoffman (PR).

O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), marcou uma reunião da bancada para quinta-feira e também pretende fazer um desagravo ao ex-presidente:

— Temos que preservar nosso grande ícone — disse Sibá, que cobrou mais diálogo por parte do governo.

Dissidentes petistas comemoraram as críticas de Lula ao governo Dilma:

— Eu vinha fazendo críticas à política do governo, e muita gente vinha dizendo que eu queria sair do PT. Se aquelas críticas minhas me levariam para fora do PT, acho que eu ia junto com o Lula — disse o senador Walter Pinheiro (PT-BA), que se opôs ao ajuste fiscal.

Queixas sobre Cardozo
Segundo integrantes da bancada, no atual embate entre Dilma e Lula, os senadores do PT optaram pelo ex-presidente. Petistas afirmam que a bancada do Senado quis reforçar o discurso de Lula de que é preciso ter atuação mais pró-ativa em relação à Lava-Jato, que investiga esquema de corrupção na Petrobras.

Ainda de acordo com eles, Lula tem se sentido abandonado, reclama que o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) atua como se não tivesse controle da Polícia Federal e que Dilma teria “lavado as mãos”.

O ex-presidente quer que o governo e o PT condenem supostos excessos do juiz Sérgio Moro, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, que conduz a Lava-Jato, e da Polícia Federal. Segundo petistas, Lula quer ser “blindado”.

Em abril, Lula montou uma operação para abrir uma vaga na Câmara para o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Wadih Damous (PT-RJ), justamente para que ele fizesse um debate jurídico qualificado de contestação da Lava-Jato. Damous assumiu no fim de maio.

Enquanto o ex-presidente cobra um debate político em torno da Lava-Jato, com a defesa de sua gestão e do PT das acusações de corrupção na Petrobras, Dilma tem afirmado que a PF tem autonomia para trabalhar e que os culpados serão punidos, “doa a quem doer”.

Ao tomar conhecimento do teor da nota divulgada pela bancada do PT, da qual faz parte, o líder do governo, senador Delcídio Amaral (PT-MS), ficou aliviado de não haver ataques à presidente Dilma. Ela não é citada no texto.

O documento de solidariedade a Lula foi divulgado três dias depois de o GLOBO revelar críticas feitas pelo ex-presidente ao governo Dilma, na semana passada, em reunião com religiosos em seu instituto. Na ocasião, Lula disse que ele e Dilma estão no “volume morto”, em referência à baixa popularidade, e afirmou que ela mentiu na campanha à reeleição ao dizer que não mexeria em direitos trabalhistas e não faria ajuste fiscal. O ex-presidente também reclamou que o governo é “mudo”.

— Tem uma frase da companheira Dilma que é sagrada: “Eu não mexo no direito dos trabalhadores nem que a vaca tussa”. E mexeu. Tem outra frase, Gilberto, que é marcante, que é a frase que diz o seguinte: “Eu não vou fazer ajuste, ajuste é coisa de tucano”. E fez. E os tucanos sabiamente colocaram Dilma falando isso (no programa de TV do partido) e dizendo que ela mente. Era uma coisa muito forte. E fiquei muito preocupado — disse Lula na reunião com religiosos.

Petistas com trânsito tanto com Lula quanto com Dilma estão preocupados com a deterioração da relação entre os dois. Dizem que eles precisam se entender, se não “vão morrer abraçados”. Esses petistas afirmam que não há como um se descolar do outro.

“Posição de vanguarda”
Na mira de Lula, o ministro da Justiça corroborou nesta terça-feira as críticas feitas pelo ex-presidente ao PT. Cardozo faz parte da Mensagem ao Partido, maior ala de oposição interna do PT, que pregou a “refundação” da sigla durante o escândalo do mensalão. Ele afirmou que “há algum tempo” faz parte de uma corrente da sigla que propõe mudanças, com “correção do que é necessário”:

— Mais uma vez, o presidente Lula toma uma posição de vanguarda e coloca um tema em debate. E cabe a todos nós meditarmos a respeito disso, uma vez que parte de um líder que mudou esse país e construiu o partido — afirmou Cardozo, ressaltando falar como petista, não como ministro.

Em um evento público, Lula afirmou na última segunda-feira que o PT “perdeu um pouco a utopia” e que hoje “só pensa em cargo, em emprego, em ser eleito”.

Quanto às divergências com Dilma, elas não começaram agora nem se resumem à Lava-Jato. Desde o ano passado Lula se queixa da política econômica, da articulação política e da comunicação do governo. Ele também tentou influir, sem sucesso, na reforma ministerial promovida pela presidente em janeiro. Lula também reclama que o ajuste fiscal não pode ser um fim em si mesmo e que o governo também precisa dar boas notícias para a população.

Convocação de Okamotto foi estopim
Mas a escalada de reação do ex-presidente começou há doze dias. O estopim foi a convocação, pela CPI da Petrobras, do presidente de seu instituto, Paulo Okamotto. Inconformado, Lula cobrou explicações do vice-presidente da República, Michel Temer, que é responsável pela articulação política do governo; do relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ); e do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

Embora concordem com o conteúdo, a divulgação das críticas de Lula ao governo e ao partido provocaram mal-estar entre dirigentes do PT. A avaliação é que o ex-presidente dá discurso para a oposição e enfraquece o governo e o partido.

Lideranças petistas também afirmam que as críticas feitas por Lula vêm fora de hora, já que o PT acabou de realizar o seu 5º Congresso justamente com o objetivo de repensar o partido.

Essa não foi a primeira vez, no entanto, em que Lula fez esse tipo de crítica ao PT. Em ato preparatório ao 5º Congresso, em dezembro, ele comparou a sigla a um filho que cresce e começa a dar trabalho. (Colaborou Renata Mariz)

'Minhas palestras vocês assistem', diz FH

Silvia Amorim – O Globo

• Ao comentar ligação de Lula com empreiteiras sob investigação, ex-presidente deixa provocação no ar

SÃO PAULO- Perguntado sobre as doações feitas por empreiteiras investigadas pela Operação Lava- Jato ao Instituto Lula e sobre a ligação do petista com essas empresas, o ex- presidente Fernando Henrique Cardoso disse que os repasses, em si, não são ilegais, mas deixou no ar uma provocação:

— Eu não quero falar sobre o que eu não sei. O que foi dito é que o Instituto Lula recebeu dinheiro, e pode receber. Foi dito que o presidente Lula recebeu por palestras, e isso também pode. Se houve desvio para fins políticos, eu não sei. As minhas palestras eu dou e vocês assistem — disse Fernando Henrique, em entrevista na sede do instituto que leva seu nome, em São Paulo.

“Não tem relação com política”
Fernando Henrique não negou que seu instituto também tenha recebido verbas das construtoras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, investigadas na Lava- Jato. Disse desconhecer se isso aconteceu, mas lembrou que o recebimento de recursos de empreiteiras não é o problema, e sim a destinação que se dá às verbas.

— Pode ser que tenha recursos ( de empreiteiras) aqui. Muita gente deu recursos aqui, mas aqui o recurso é para fazer o que estamos fazendo. Não tem nenhuma relação com política e com partidos — disse o tucano.

Desde a semana passada, integrantes do PT têm acusado, por meio de redes sociais, o instituto de Fernando Henrique de receber doações de empreiteiras desde a sua criação. A revista “Época” publicou no fim de semana passado a informação de que a Odebrecht doou tanto para o Instituto Lula como para a entidade do ex- presidente tucano. Segundo a revista, as duas entidades teriam confirmado o recebimento das doações, mas não informaram valores.

As investigações da Lava- Jato identificaram uma doação de R$ 3 milhões da Camargo Corrêa para o Instituto Lula. O diretor da entidade, Paulo Okamatto, foi convocado a prestar esclarecimentos na CPI da Petrobras sobre o recebimento dos recursos. O dirigente tem defendido que toda quantia doada é lícita e motivo de orgulho para o Instituto Lula.

Por enquanto, o instituto de Fernando Henrique não fez qualquer manifestação a respeito dos doadores da instituição. A entidade do tucano também não apresentou a relação de empresas que contribuem com a entidade.

FH defende ida à Venezuela
Fernando Henrique comentou a polêmica que se instalou entre políticos brasileiros e o governo da Venezuela após visita frustrada de senadores, entre eles líderes do PSDB como Aécio Neves e Aloysio Nunes, àquele país, semana passada. O ex- presidente defendeu a atuação dos senadores brasileiros, que não conseguiram visitar um preso político e acusaram o governo de Nicolás Maduro de ter impedido a visita.

— Polêmica sempre é bom porque chama a atenção ( para o problema). Para que é feito o Legislativo? Para fazer política. É isso que eles estão fazendo, defendendo valores democráticos. Minha posição é clara. Acho que eles ( Venezuela) passaram do limite do aceitável.

Senado pretende ampliar temas da reforma política

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O Senado começa a discutir reforma política na semana que vem com a promessa de ampliar as mudanças aprovadas pela Câmara.

Senadores querem incluir novos temas e rediscutir pontos mantidos praticamente inalterados pelos deputados, como o financiamento de campanhas.

Os projetos serão discutidos em comissão, criada nesta terça (24) e a ser instalada na próxima terça (30). A ideia é concluir os trabalhos até julho, para que algumas propostas possam entrar em vigor nas eleições municipais de 2016.

Por isso, os senadores cogitam não entrar em recesso no meio do ano.

"A Câmara votou essas matérias em determinada conjuntura, nada impede que sejam repaginadas [...]. Queremos que a reforma seja mais abrangente", disse o relator da comissão, senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Financiamento de campanhas deve ser um dos principais assuntos. Os deputados aprovaram as doações de empresas privadas para partidos políticos, e não mais para candidatos, mas os senadores consideram a mudança tímida.

Defensor do financiamento público, o PT quer rediscutir o tema. Partidos como o PMDB querem doação de empresas para só um candidato a cada cargo eletivo.

Juiz da Lava Jato mantém prisão de ex-tesoureiro do PT

• Sérgio Moro considera ‘louvável’ as explicações da defesa do ex-tesoureiro do PT, mas afirma que continuam existindo elementos para mantê-lo preso e nega pedido de soltura

Mateus Coutinho, Fausto Macedo e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba – O Estado de S. Paulo

O juiz Sérgio Moro, responsável pelas ações penais da Lava Jato, negou nesta segunda-feira, 22, o pedido da defesa do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto de revogar sua prisão preventiva. No despacho, o magistrado elenca os depoimentos de cinco delatores da Lava Jato citando o ex-tesoureiro como operador de propinas do PT e aponta que “não houve uma alteração relevante do quadro probatório” que levou à prisão do ex-tesoureiro.

A decisão ocorre após a defesa de Vaccari apresentar no fim de maio resposta aos questionamentos de Moro, sobretudo referentes aos repasses em dinheiro vivo do ex-tesoureiro para sua esposa Giselda Rousie de Lima entre 2008 e 2014. Neste período ela recebeu R$ 583 mil de Vaccari, valor que, segundo a defesa, foi declarado à Receita Federal e é compatível com a renda bruta de R$ 3,4 milhões que Vaccari teve no período.

Apesar de considerar “louvável” as explicações da defesa do ex-tesoureiro em seu despacho, Moro lembra que as transações para a esposa de Vaccari não foram os elementos determinantes que levaram à decretação da prisão preventiva “ até mesmo porque, como alega o MPF, João Vaccari Neto participaria do esquema criminoso recolhendo a propina para o Partido dos Trabalhadores e não para si próprio”, afirma Moro na decisão. “Não há condições, por outro lado, deste Juízo nesse momento processual, avaliar, com profundidade, as explicações apresentadas pela Defesa de João Vaccari sobre essas transações, incluindo a afirmada correlação entre saques em espécie na conta de João Vaccari e depósitos em espécie na conta de sua esposa Giselda”, assinala o magistrado.

“Embora o fato seja possível, é de se questionar, quanto à explicação da suposta origem e como também efetuado pelo MPF, o motivo de não se ter optado por transferências bancárias conta a conta, muito mais seguro do que a movimentação de valores em espécie”, continua Moro.

Delações. Mesmo entendendo que as delações estão sujeitas à interpretação, o magistrado lembrou dos depoimentos dos delatores Pedro Barusco, Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa, Eduardo Hermelino Leite e Augusto Ribeiro Medonça que implicam Vaccari no esquema. Além disso, ressalta o magistrado, no caso do depoimento de Augusto Ribeiro Mendonça também foram apresentados comprovantes de doações oficiais das empresas do delator ao PT que teriam sido efetuadas com dinheiro de propina, além de comprovantes de pagamentos à Gráfica Atitude supostamente para mascarar repasses ao PT. O caso é alvo de uma ação penal específica na qual Vaccari também é réu.

O magistrado lembra ainda que, à exceção de Eduardo Leite, que já foi ouvido pelo juiz, todos os outros delatores serão ouvidos em audiência na ação penal que corre contra o ex-tesoureiro e poderão ser questionados pela defesa de Vaccari.

A decisão de Moro de manter Vaccari preso atende ao pedido da força-tarefa da Lava Jato que investiga vários episódios envolvendo ele e, sobretudo, sua cunhada, Marice Corrêa de Lima, suspeita de ocultar patrimônio supostamente ilícito para o ex-tesoureiro, que está preso desde 15 de abril deste ano e é réu na Lava Jato acusado de corrupção e lavagem de dinheiro.

O MPF investiga o ex-tesoureiro nos seguintes episódios: a) empréstimo da CRA – empresa de Carlos Alberto Pereira da Costa, réu em diversos processos da Operação Lava Jato – para Giselda Rousie de Lima, esposa de Vaccari, no valor de R$ 400 mil; b) aquisição, por Marice Correa de Lima, de apartamento junto ao Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo) no valor de R$ 200 mil e a revenda dele para a construtora OAS por R$ 432 mil; c) Marice ter declarado o recebimento de R$ 240 mil fruto de indenização por rescisão de contrato de trabalho, PDV, acidente de trabalho ou FGTS, não sendo, todavia, válida a descrição da origem do montante; d) o empréstimo de R$ 345 mil de Marice para Nayara de Lima Vaccari, filha de João Vaccari Neto; e) a evolução patrimonial de Nayara entre 2012 e 2013 de aproximadamente R$ 724 mil; e f) depósitos sucessivos e de pequenos valores na conta de Giselda entre 2008 e 2014 e que totalizam R$ 583,4 mil.

Diante disso, Moro assinala em seu despacho que algumas explicações apontadas pela defesa de Vaccari ”ainda soam estranhas, como o aludido empréstimo (da CRA), com devolução, um ano depois, sem correção monetária e juros.”

“Observo ainda que não foram apresentadas explicações sobre as transações e movimentações de Marice Correa de Lima, como o estranho negócio com a OAS, o que seria oportuno já que ela é apontada como intermediadora de valores de propina para o acusado João Vaccari, o que também encontra apoio na interceptação telemática (como consignado na decisão da preventiva)”, segue o magistrado, que entende que os motivos que levaram à prisão de Vaccari continuam existindo e por isso decidiu mantê-lo preso

Executivo que acompanhou Lula em viagens ao exterior pede demissão da Odebrecht

• Alexandrino Alencar, que teve prisão prorrogada por um dia, pediu desligamento da empresa

Tiago Dantas – O Globo

SÃO PAULO - Ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, o executivo Alexandrino Alencar pediu demissão da empresa nesta segunda-feira para se dedicar à sua defesa na Operação Lava-Jato. Alexandrino cumpre prisão temporária de cinco dias na carceragem da Polícia Federal em Curitiba e teve seu depoimento ouvido nesta segunda-feira. Em 2013, ele acompanhou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma série de viagens internacionais, conforme noticiou O GLOBO.

Nesta terça-feira, o juiz Sérgio Moro prorrogou a prisão de Alexandrino por mais um dia. A Polícia Federal havia pedido a transformação da prisão temporária em preventiva, mas o magistrado optou, antes de decidir, ouvir as manifestações do Ministério Público Federal e da defesa do executivo. Por isso, prorrogou a prisão temporária por mais 24 horas. No mesmo despacho, Moro negou o pedido de prorrogação das prisões temporárias de Christina Maria da Silva Jorge, empresária da Hayley do Brasil, de Antonio Pedro Campelo de Souza, executivo da Andrade Guttierrez, e Flávio Lúcio Magalhães, que era executivo da Andrade Gutierrez, mas, em depoimento, negou vínculo com a empresa. Os três haviam sido presos na sexta-feira, na 14ª fase da Lava-Jato.

A cópia do pedido de desligamento de Alexandrino da empresa entrou nos arquivos da Justiça Federal do Paraná no fim da noite de segunda. No documento, endereçado à diretoria da Odebrecht, Alexandrino diz: “em virtude dos fatos envolvendo a minha pessoa e vindos a público na última sexta-feira, comunico meu afastamento e desligamento da empresa, a fim de que possa me dedicar integralmente à minha defesa no procedimento em que figuro como investigado”.

O advogado Augusto de Arruda Botelho utilizou o desligamento de Alexandrino para justificar um pedido de liberdade protocolado nesta segunda-feira. Diz o texto: “para fulminar em definitivo qualquer receio de risco à ordem pública, o peticionário informa que na presente data afastou-se e desligou-se em definitivo de suas funções na Construtora Norberto Odebrecht S/A”.

Em janeiro de 2013, o executivo acompanhou o ex-presidente Lula em viagens a Cuba, República Dominicana e Estados Unidos. Oficialmente, as viagens não tinham relação com atividades da empresa nesses países. Lula foi a um evento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) sobre o clima, visitou o presidente da República Dominicana e falou no congresso de trabalhadores da indústria nos EUA.

A relação oficial de passageiros do voo, obtida pelo GLOBO, mostra que Alexandrino era o único que não fazia parte do círculo de convivência de Lula. Estavam na aeronave funcionários do Instituto Lula, o biógrafo Fernando Morais e o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques. Para evitar que fosse vinculada ao fretamento, a Odebrecht usou uma de suas parceiras para pagar a despesa: a DAG Construtora, da Bahia.

Braskem pagou propina no exterior, diz Costa

André Guilherme Vieira - Valor Econômico

SÃO PAULO - O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e delator Paulo Roberto Costa afirmou que a Braskem, braço petroquímico da Odebrecht, pagou parte da propina por ele recebida em contas secretas na Suíça, abertas pelo operador Bernardo Freiburghaus.

Costa reafirmou ontem à força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba ter participado de reuniões na sede da petrolífera com Alexandrino Alencar (então vice-presidente de Relações Institucionais da Braskem) em que se acertou pagamento de "contraprestação financeira" de US$ 3 milhões a US$ 5 milhões por ano, entre 2006 e 2012, para favorecer a empresa na compra de nafta. Alencar se demitiu ontem da diretoria de Relações Institucionais da Odebrecht. Ele foi preso temporariamente na sexta-feira durante a 14ª fase da Lava-Jato. O juiz Sergio Moro estendeu a detenção provisória até o final da tarde de hoje, para que avalie pedido da Polícia Federal (PF), que quer o executivo em prisão preventiva. Os outros três presos temporários foram liberados.

No depoimento ordenado pelo Supremo Tribunal Federal, o ex-diretor de Abastecimento disse que parte desses pagamentos pode ter sido "operacionalizado no Brasil por José Janene", mas que a maioria dos valores pagos pela Braskem "chegou às suas mãos por meio de Bernardo [Freiburghaus]".

Costa contou ter presenciado Alencar "tratando do assunto relativo ao pagamento de propinas" em reunião em hotel de São Paulo em que Janene estava presente. "Nessa oportunidade foi tratado de forma clara o assunto relacionado ao pagamento de vantagens ilícitas em troca de benefícios à Braskem na compra de nafta da Petrobras".

Ouvido anteontem pela PF em Curitiba, Alencar disse ter mantido contatos com Janene entre 2002 e 2005 para tratar da consolidação do setor petroquímico. Ele falou que esperava que a Petrobras pudesse fornecer nafta por preço "que não prejudicasse a competitividade".

Afirmou que a partir de 2007 tratou com Janene sobre "a quem a Odebrecht iria apoiar politicamente" e que a empresa "fez doações ao PP e a alguns candidatos nos anos de 2008 e 2010".

Ele negou o fornecimento de nafta à Braskem pela Petrobras por preço vantajoso. Disse ser falsa a afirmação feita também pelo doleiro Alberto Youssef, de que o benefício teria a contrapartida de propina de até US$ 5 milhões.

Em nota, "a Braskem reafirma que todos os contratos com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança da Companhia". O comunicado diz que "os preços praticados pela Petrobras na venda de nafta sempre estiveram atrelados às mais altas referências internacionais de todo o setor, prejudicando a competitividade da indústria petroquímica brasileira".

Alexandrino Alencar nega ter intermediado qualquer tipo de pagamento a ex-dirigentes da Petrobras. Segundo sua defesa, "as contradições entre os depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, reiteradas no depoimento do ex-diretor, confirmam a fragilidade das acusações".

O advogado Augusto Botelho ressalta que Youssef atribui a Costa ingerência sobre o preço da nafta, enquanto o ex-executivo diz que a questão era de definição técnica.

Delator cita doleiro da Suíça em propina de US$ 5 milhões da Braskem

Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, Mateus Coutinho e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

• Em novo depoimento, prestado nesta terça, Paulo Roberto Costa envolve Bernard Freiburghaus e detalha pagamento de petroquímica intermediado por ex-diretor da Odebrecht, Alexandrino Alencar

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa detalhou em depoimento prestado nesta terça-feira, 23, à Polícia Federal o pagamento de propina de US$ 5 milhões por ano pela petroquímica Braskem – empresa que tem a Odebrecht como sócia da Petrobrás – intermediado pelo diretor demissionário da Construtora Norberto Odebrecht Alexandrino Ramos de Alencar. Primeiro delator da Operação Lava Jato, ele revelou que o doleiro Bernardo Freiburghaus, acusado de operar propina para a empreiteira, foi quem cuidou dos depósitos em contas secretas mantidas na Suíça.

Alexandrino Alencar trabalhou na Braskem de 2002 a 2007, quando foi transferido para a holding da Odebrecht. Até a noite de segunda, ele era diretor de Relações Institucionais da empreiteira. Após a empreiteira confirmar a demissão do diretor, sua prisão temporária de cinco dias foi prorrogada por mais um dia pelo juiz federal Sérgio Moro – que conduz os processos da Lava Jato, em Curitiba.

Segundo Costa, ele, Alexandrino Alencar e o ex-deputado José Janene (morto em 2010) negociaram o pagamento das propinas da Braskem em um encontro em hotel na capital paulista. De acordo com o delator, o esquema de propinas teria perdurado de 2006 a 2012 com a atuação de Freiburghaus no exterior.

“Um percentual deste montante (propina) era destinado a sua pessoa (Paulo Roberto Costa), tendo recebido valores junto a suas contas mantidas na Suíça por meio do operador Bernard Freiburghaus”, relatou Costa no seu depoimento.

Freiburghaus, que mora na Suíça é tratado pelos investigadores como peça-chave para a descoberta do suposto envolvimento da Odebrecht no esquema de cartel e corrupção na Petrobrás. Ele é considerado foragido pela força-tarefa (mais informações no texto ao lado) e foi apontado por pelo menos três delatores como o responsável pelas movimentações da empreiteira fora do País.

Mensalão. O próprio Alexandrino Alencar, em depoimento prestado aos investigadores na segunda, admitiu que tratou de doações da Braskem ao PP em encontros com Janene, o doleiro Alberto Youssef e Costa em hotéis de São Paulo. De acordo com o executivo, as “tratativas” foram interrompidas após Janene ser citado no escândalo do mensalão, que veio à tona em 2005.
Alexandrino Alencar, contudo, nega que tenha tratado de propinas nas reuniões. Ele afirmou que cuidava de doações eleitorais da empreiteira e admitiu que, a partir de 2007, participou de reuniões na casa de Janene, em São Paulo para “tratar de assuntos políticos” e “inclusive quanto a quem a Odebrecht iria apoiar politicamente”.

Ainda segundo o executivo, as doações ao PP e a “alguns candidatos”, que ele não detalhou no depoimento, em 2008 e 2010 foram definidas a partir destes encontros. O executivo já admitiu que o “carregador de malas” de Youssef Rafael Ângulo Lopes foi à sede da Odebrecht em “quatro ou cinco oportunidades”.

Conhecido pelo bom trânsito entre os políticos, Alexandrino Alencar chegou a acompanhar Luiz Inácio Lula da Silva em uma viagem do ex-presidente a a países da América Central e do Norte em 2013.

Com a palavra, A Braskem
Em nota à imprensa, a Braskem assegurou que todos os contratos com a Petrobrás ‘seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança da Companhia’. Segundo a Braskem, os preços praticados pela Petrobrás na venda de nafta sempre ‘estiveram atrelados às mais altas referências internacionais de todo o setor, prejudicando a competitividade’.

Leia a íntegra da nota da Braskem
“A Braskem reafirma que todos os contratos com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança da Companhia. É importante lembrar que os preços praticados pela Petrobras na venda de nafta sempre estiveram atrelados às mais altas referências internacionais de todo o setor, prejudicando a competitividade da indústria petroquímica brasileira.”

Com a palavra, Alexandrino
O executivo Alexandrino Alencar negou “veementemente” ter intermediado qualquer tipo de pagamento a ex-dirigentes da Petrobrás e disse que as “contradições” entre os depoimentos de Costa e Youssef “confirmam a fragilidade da acusação”.

Abaixo, a íntegra da nota de Alexandrino
“Alexandrino Alencar nega veementemente ter intermediado qualquer tipo de pagamento a ex-dirigentes da Petrobrás. As contradições entre os depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, reiteradas no depoimento de hoje do ex-diretor da Petrobrás confirmam a fragilidade das acusações”.

BC prevê retração ainda maior na economia e inflação de 9% em 2015

Banco Central prevê retração de 1,1% na economia e inflação de 9% em 2015

Eduardo Cucolo – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O Banco Central espera uma retração de 1,1% da economia brasileira em 2015. Há três meses, a instituição projetava queda do PIB (Produto Interno Bruto) de 0,5%.

A estimativa de retração divulgada no Orçamento do ano é de 1,2%. A projeção do mercado pela pesquisa Focus é de queda de 1,45%.

A instituição também elevou a projeção de inflação medida pelo IPCA (índice de preços ao consumidor) para o ano de 7,9% para 9,0%, maior valor desde 2003 (9,3%), acima do teto da meta, de 6,5%.

Para 2016, a previsão passou de 4,9% para 4,8%. Em junho de 2017, segundo o BC, a inflação ao centro da meta de 4,5%. O objetivo da instituição é alcançar esse valor em dezembro do próximo ano.

As estimativas consideram a taxa básica de juros atual, de 13,75% ao ano, e um dólar cotado a R$ 3,10.

Os dados fazem parte do Relatório Trimestral de Inflação do BC, divulgado nesta quarta-feira (24).

A instituição tem sinalizado que continuará a subir a taxa básica de juros até que sua projeção para o IPCA de 2016 esteja em 4,5%, que é o centro da meta de inflação.

A meta tem um intervalo de tolerância que vai até 6,5%. Quando esse valor é superado, o BC precisa divulgar uma carta aberta ao Ministério da Fazenda para explicar o motivo de não ter cumprido o objetivo fixado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), formado por BC, Fazenda e Ministério do Planejamento.

A chance de estouro da meta em 2015, segundo o BC, é de cerca de 99%.

O BC também projetou a inflação utilizando as expectativas do mercado para juros e câmbio. As previsões dos analistas são de um dólar mais caro ao longo do período e de uma taxa básica que chegaria a 14% ao ano no fim de 2015, para depois cair para 12% em 2016.

Nesse caso, a inflação ficaria em 9,1% no fim de 2015, 5,1% em dezembro de 2016 e 4,8% em junho de 2017, segundo cálculo do BC.

Desemprego
Apesar dos dados recentes que mostram aumento do desemprego e queda na renda, o BC afirma que ainda prevalece risco "significativo" de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade, com repercussões negativas sobre a inflação.

"Moderação salarial constitui elemento-chave para a obtenção de um ambiente macroeconômico com estabilidade de preços", diz o BC no relatório. "A dinâmica salarial ainda permanece originando pressões inflacionárias de custos."

Segundo o BC, depois de um período necessário de ajustes, o ritmo de atividade tende a se intensificar, na medida em que a confiança de firmas e famílias se fortalecer.

Esses ajustes, entre eles a alta dos juros, são necessários para que "as taxas de crescimento do PIB potencial e efetivo retomem patamares mais elevados".

O BC diz ainda que aumentou a possibilidade de queda da inflação, hoje em 8,47%, para 4,5% no final de 2016. "Contudo, os avanços alcançados no combate à inflação (...) ainda não se mostram suficientes. Nesse contexto, o Copom reafirma que a política monetária deve manter-se vigilante", diz a instituição indicando que haverá novos aumentos de juros.

Marisa, Riachuelo, Renner e C&A demitem 1,2 mil em SP

Cibelle Bouças – Valor Econômico

SÃO PAULO - O segmento de moda e vestuário ampliou o número de demissões neste ano, como reflexo da retração econômica e da queda nas vendas no varejo. Em São Paulo, as quatro maiores varejistas de moda - Renner, Riachuelo, Marisa e C&A - fecharam 1,2 mil postos de trabalho de janeiro até 15 de junho. O número de homologações é 45% maior que as demissões efetuadas no mesmo período de 2014, quando as empresas demitiram 818 pessoas. Os dados são do Sindicato dos Comerciários de São Paulo.

No Brasil, essas varejistas mantêm 1.236 lojas e empregam 91,7 mil pessoas. Desse total, aproximadamente 120 lojas estão localizadas em São Paulo.

Procuradas, Renner e Riachuelo não responderam ao pedido de entrevista doValor. A Renner é a maior varejista de moda com operação na BM&FBovespa. A empresa fechou 2014 com receita de R$ 5,2 bilhões. Atualmente a empresa possui 258 lojas no país e emprega 17 mil pessoas. A Riachuelo é a segunda maior companhia aberta do segmento, com receita de R$ 4,73 bilhões, 269 lojas e 40 mil empregados no país.

A Marisa, terceira na bolsa, com receita de R$ 3,34 bilhões em 2014, informou em comunicado que realizou uma adequação no quadro de colaboradores para o cenário deste ano. "A Marisa não tem planos de realizar novos ajustes de quadro", informou a companhia. A varejista de moda possui atualmente 14,7 mil funcionários e 414 lojas.

A C&A, por sua vez, informou em comunicado que "oscilações no quadro de funcionários podem acontecer em função das exigências de mercado". A empresa também informou que vai manter seu plano de expansão de longo prazo no Brasil. A C&A é a maior companhia de varejo de moda no país em receita, de acordo com a consultoria Euromonitor. A empresa possui 295 lojas em operação no país e emprega atualmente 20 mil pessoas. A C&A tem como meta de longo prazo manter um ritmo de expansão de lojas similar ao de anos anteriores, com 29 a 30 unidades por ano. De acordo com informações da empresa, a C&A abriu 34 lojas nos últimos 18 meses (cinco neste ano) e colocou no ar, em fevereiro, o seu site de comércio eletrônico.

São Paulo é o maior produtor e também consumidor do segmento de vestuário no país. De acordo com o Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), o Estado foi o que mais empregou na área de vestuário em 2014, com 293,7 mil postos de trabalho, distribuídos em 7,1 mil unidades de produção.

De acordo com um último levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, a indústria de vestuário fechou 7,3 mil postos de trabalho no Brasil no acumulado de janeiro a maio. O comércio como um todo demitiu 159,3 mil pessoas nos primeiros cinco meses do ano. No mesmo período do ano passado, a indústria do vestuário registrava uma adição líquida de 17,4 mil postos de trabalho. O comércio como um todo havia fechado 55,9 mil postos de trabalho no mesmo intervalo.

Em Santa Catarina, outro grande polo do setor têxtil e de vestuário, o número de postos de trabalho formais aumentou no acumulado deste ano, em 4.475 vagas, para 45,8 mil empregos formais. Vivian Kreutzfeld, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Blumenau, Gaspar e Indaial, disse que na região - onde estão concentradas a maioria das confecções do Estado -, o número de homologações ficou de 8% a 10% maior do que em 2014. "As indústrias falam que a situação está difícil, mas não houve na região um grande volume de demissões devido à falta de mão de obra qualificada. Muitas confecções ainda seguram os profissionais nas oficinas para garantir uma mão de obra qualificada quando houver recuperação econômica", disse Vivian.

De acordo com os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o comércio varejista de tecidos, vestuário e calçados acumula queda de 4,2% de janeiro a abril, ante o mesmo intervalo de 2014. Em 12 meses até abril, a queda é de 1,9%.

Merval Pereira - A Revolução Cultural de Lula

- O Globo

Não é sem razão que o líder do PT José Guimarães teve coragem para se levantar contra as críticas de Lula ao PT. Ele faz parte de uma elite política que galgou degraus na hierarquia partidária a partir da abertura de vagas provocada pela prisão dos principais líderes do partido.

Quando um assessor seu foi preso num aeroporto com dólar escondido na cueca, José Guimarães não era ninguém a nível nacional, onde reinava seu irmão Genoíno, condenado no mensalão e posteriormente anistiado pela presidente Dilma.

Alguns anos depois do mensalão, lá está Guimarães no primeiro plano. E logo agora vem Lula querer uma revolução interna? Lembro-me bem de uma cena icônica do alpinismo social que tomou conta das figuras proeminentes do PT assim que chegou a poder.

Numa mesa do restaurante Antiquarius no Rio, o recém-eleito presidente da Câmara João Paulo Cunha, hoje em prisão domiciliar, o professor Luizinho e outras figuras menos conhecidas na época (talvez até mesmo o próprio José Guimarães) tomavam um porre de licor francês, embriagados de poder.

Guimarães pode nem saber direito, mas está estrebuchando contra o que pressente ser uma manobra de Lula contra seus interesses. “[...] O PT precisa urgentemente voltar a falar pra juventude tomar conta do PT. O PT está velho. (...) Fico pensando se não está na hora de fazer uma revolução neste partido, uma revolução interna, colocar gente nova, mais ousada, com mais coragem. Temos que decidir se nós queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos, ou queremos salvar nosso projeto. E acho que nós precisamos criar um novo projeto de organização partidária nesse país”.

Fora o ato falho de falar em “livrar a nossa pele”, quase uma confissão, Lula está tentando fazer sua pequena Revolução Cultural dentro do PT, e pode sobrar para gente como José Guimarães. A Revolução Cultural foi comandada pelo então líder do Partido Comunista Chinês, Mao Tsé-tung, para neutralizar o fracasso do plano econômico Grande Salto Adiante, que gerou a morte de milhões de pessoas devido à fome generalizada.

A oposição crescente a Mao no interior do Partido Comunista foi atacada pelos “comitês revolucionários”, formados por jovens radicais que seguiam cegamente o pensamento de Mao e desmoralizavam os intelectuais e membros mais antigos do Partido que o criticavam.

Não chegamos a esse ponto no PT, mas, à sua maneira, Lula, como faziam os jovens chineses com os críticos de Mao, está colocando metafóricos chapéus de burro na presidente Dilma e em todos os petistas que, como José Guimarães, acham que ele no momento mais atrapalha do que ajuda com essas sessões de terapia pública que vem fazendo.

E não é à toa que o senador Lindbergh Farias voltou a ser o cara-pintada de outrora para defender Lula das críticas de Guimarães. Uma disputa de gerações petistas, boa para Lula, que está tentando salvar a sua pele, fingindo que quer salvar o PT.

Todo esse desvario de Lula nos últimos dias tem a ver com a Operação Lava-Jato, que o pega num momento de fragilidade política do governo, do PT e de sua própria figura, antes inatacável, hoje exposta às críticas da opinião pública.

Por isso mesmo, o truque que deu certo diversas vezes, hoje tende a não dar. Toda essa crise petista tem a ver com Lula, foi ele quem levou o partido para acordos políticos deletérios, em nome de um pragmatismo político que cobra seus custos.

O aparelhamento do estado, uma das características do governo petista desde o primeiro momento foi uma estratégia montada por Lula e José Dirceu para tomar conta do poder central. A ampla coalizão partidária sem nexo programático e sem cobranças morais, que acabou em mensalões e petrolões, saiu da cabeça de Lula e José Dirceu, que muito antes de o PT chegar ao poder central já praticavam essa promiscuidade entre o público e o privado nas prefeituras controladas pelo partido.

A morte do prefeito Celso Daniel, exemplar da conseqüência extrema desse tipo de política fisiológica, precedeu a eleição de Lula para a presidência em 2002, e o mensalão de 2005.

A presidente Dilma, que na visão de Lula estaria com ele no “volume morto” da política, foi criação única e exclusiva do ex-presidente, a “nova matriz econômica” começou a ser colocada em prática na metade de seu segundo governo, e deu no que deu.

Lula agora tenta dissociar-se dela e do PT, que está “velho” e só pensa em “empregos, em vencer eleições”. No último momento, com um salto triplo carpado, o grande canastrão tenta dar uma reviravolta política no destino decadente que se avizinha.

Dora Kramer - Gaiato no navio

- O Estado de S. Paulo

Se há uma característica que o ex-presidente Luiz Inácio da Silva mantém inabalável – ao menos em público – é a autoconfiança. Impressionante. O mundo está desabando ao seu redor e ele ali, impávido, dando lição de moral como se nada tivesse a ver com o desmonte em questão.
É um especialista no tema. Um esperto, sobretudo, no que tange ao ofício da enganação.

Encontra paradeiro em Paulo Maluf, mas vai além, pois sabe como capturar simpatias, despertar sensações respeitáveis, aliviar e fazer pesar consciências. Tudo na medida de suas conveniências.

Assim se mantém em evidência. Como personagem, um fascínio na capacidade de se repetir e, ainda assim, surpreender pela desonestidade de ação e pensamento.

Como político, um vivaldino que dá sinais de esgotamento. Lula parece estar em grande dificuldade para achar a saída do labirinto em que se encontra. Ele, seu partido e o governo da presidente cuja qualificação e excelência Lula afiançou ao País.

Em duas ocasiões recentes, reunido com correligionários, o ex-presidente fez observações extremamente depreciativas em relação ao PT e a Dilma Rousseff. Chamou o partido de velho, fisiológico, interesseiro e oportunista. A presidente acusou de mentirosa, por dizer uma coisa na campanha eleitoral e fazer outra, e ainda chamou o gabinete de trabalho da companheira de “desgraça”, uma usina de más notícias.

Evidentemente Lula sabia tanto do efeito de tais declarações como estava ciente de que elas seriam devidamente divulgadas. Não quisesse ver nada disso publicado teria mantido a boca fechada, como de resto faz quando lhe interessa. Se fala, tem um propósito.

Ao dizer, por exemplo, que é o “próximo alvo” da Operação Lava Jato depois que os investigadores chegaram ao topo do núcleo empresarial, o ex-presidente procura criar um clima de suspeição – como se estivesse sendo vítima de perseguição –, aplicar uma espécie de vacina para o fato de que é mesmo alvo da desconfiança de que teria o domínio de todos os fatos ocorridos sob a sua presidência.

Quanto à diatribe direcionada ao PT, Lula comporta-se como o comandante responsável pela manobra desastrosa e que na hora do naufrágio salta na frente dos outros no bote salva-vidas.

Prega uma “revolução” no partido quando acabou de orientar o PT a adotar uma posição conformista em seu 5.º Congresso, onde toda crítica e autocrítica foi devidamente interditada em nome da preservação do governo da “companheira Dilma” e da sobrevivência eleitoral da nação petista.
Esta a prática. O discurso (na direção oposta) pelo visto tem a finalidade de construir uma realidade paralela em que ele aparece como o grande indutor da renovação, crítico severo da banda podre, guia genial dos novos tempos.

Como se vê pelas pesquisas que apontam a perda acentuada de densidade de Lula junto à população, o problema é que já não há tanta gente disposta a cair nessa conversa. Se o PT perdeu a utopia, como ele diz, foi Lula quem exigiu do partido o mergulho na era do pragmatismo.

Ditou o rumo nos últimos anos, elogiou os meios e modos do partido, desqualificou os que se tornaram dissidentes por discordarem do caminho imposto por ele e várias vezes ignorou todos os alertas. Preferiu dobrar apostas, agredir, alimentar a cizânia, disseminar a ideia de que o exercício da oposição era sinônimo de golpismo.

O estoque de truques se esgotou. Perdido, Lula distribui acusações a respeito das quais é o maior responsável e de cujos resultados ele foi, e ainda é, o mais alto beneficiário.

Bernardo Mello Franco - Perdoa-me por me bateres

- Folha de S. Paulo

Depois do silêncio, o aplauso. Foi assim que o PT reagiu às críticas do ex-presidente Lula, que atacou o governo Dilma e acusou o partido de ter envelhecido e só pensar na ocupação de cargos.

No início, ninguém quis contestar o chefe. "Todo mundo tem direito de criticar", desconversou Dilma. "Não me estresso com essas coisas", disse o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães. "Não vejo como críticas, mas como uma provocação, um chacoalhão", enrolou o líder da sigla, Sibá Machado.

Quando ficou claro que não haveria debate a sério, os senadores petistas se encorajaram a emitir uma nota de desagravo ao ex-presidente. "A bancada do PT no Senado manifesta sua total e irrestrita solidariedade ao grande presidente Lula, vítima de campanha pequena e sórdida de desconstrução", afirmaram.

O texto soou estranho porque Lula não foi atacado para inspirar solidariedade dos comandados. Pelo contrário: ele é que fez duros ataques ao partido, ao governo e a Dilma, solenemente ignorada pelos senadores.

O novo discurso do ex-presidente lembra uma famosa estocada de Anthony Garotinho, que em 1999 rebatizou o PT como Partido da Boquinha. A diferença é que o então governador do Rio vivia em guerra com o petismo, e Lula continua a ser o líder máximo do partido.

A apatia não é apenas um sintoma de subserviência ao ex-presidente. Os petistas ainda batem cabeça para entender aonde ele pretende chegar com as críticas à sigla que fundou e à presidente que alojou em seu lugar. Há quem aposte em um esboço de estratégia para se descolar da imagem de Dilma, mas muita gente vê apenas irritação, destempero e temor com os avanços da Lava Jato.

Para sorte do Planalto, a oposição parece pouco interessada em tirar proveito da combustão interna do PT. Nesta terça, Aécio Neves e aliados gastaram a maior parte da sessão do Senado com longos discursos sobre a crise... na Venezuela.

Luiz Carlos Azedo - A tática do bigode

- Correio Braziliense

• Com a popularidade baixíssima, Dilma não tem como enfrentar a situação criada por Lula sem correr grave risco de desestabilização política. As críticas do ex-presidente da República estão levando o PT à oposição

Na Constituinte da fusão da Guanabara com o antigo Estado do Rio, o líder do então MDB, amplamente majoritário na Casa, era o deputado fluminense Cláudio Moacir, com reduto eleitoral em Macaé. Seu estilo era uma mistura de populismo trabalhista com esperteza pessedista, as duas grandes correntes que controlavam a legenda, lideradas, respectivamente, pelo ex-governador Chagas Freitas e o senador Ernani do Amaral Peixoto.

O novo estado era governado pelo almirante Faria Lima, um interventor nomeado pelo general-presidente Ernesto Geisel, e tinha como líder do governo uma lacerdista histórica, Sandra Cavalcanti, da Arena. Não demorou muito para que os emedebistas fizessem um acordo velado com o governador e Sandra renunciasse ao cargo, dando lugar a um deputado ligado a Chagas Freitas. Indagado sobre a posição de sua bancada acerca do governo, Cláudio Moacir me confidenciou: “Vamos adotar a tática do bigode: na boca, mas do lado de fora”.

Lembrei-me da Constituinte da fusão, instalada em 1975, porque foi nela que estreei como repórter político, no antigo Diário de Notícias, à época, o jornal de preferência dos professores e dos militares cariocas. E as recentes críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à presidente Dilma Rousseff sinalizam um reposicionamento tático semelhante à manobra fisiológica de Cláudio Moacir.

O petista continua sendo o político mais poderoso junto ao governo, mesmo sem mandato, mas começa a se pronunciar como quem está politicamente fora dele. Ontem, ao participar de reunião com integrantes do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio-2016, no Rio de Janeiro, Dilma acusou o golpe: “Eu acho que todo mundo tem o direito de criticar. Mais ainda o presidente Lula. Até porque ele é muito criticado por vocês”. A petista não respondeu se concorda ou não com a fala dele, mas sabe que o líder petista não é qualquer um.

Desde que a Operação Lava-Jato chegou ao andar de cima, como se diz, e agora mais ainda, com a prisão dos donos e executivos das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, o ex-presidente da República vem subindo o tom das críticas ao governo e ao PT. Num encontro com religiosos, não teve papas na língua ao falar mal de Dilma; depois, numa reunião do Instituto Lula, desceu o sarrafo no próprio partido: “Eu acho que o PT perdeu um pouco a utopia. Hoje, a gente só pensa em cargo, em emprego, em ser eleito. Ninguém trabalha mais de graça”, afirmou. Para ele, a sigla não mobiliza multidões, a não ser em troca de dinheiro, se afastou da juventude e está diante de uma encruzilhada. “Temos que definir se queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou se queremos salvar o nosso projeto.”

A desestabilização
Qual projeto? O lulismo tem uma narrativa que, dependendo do tema ou da situação, alterna “nós contra eles”, “pobres contra ricos”, “trabalhadores contra patrões”, “esquerda versus direita”, “patriotas contra entreguistas”, mas nunca teve um projeto claramente definido. Quando Lula assumiu o poder, até a eclosão da crise mundial, manteve os fundamentos da política econômica que herdou do governo de Fernando Henrique Cardoso.

Deu uma cara própria ao seu governo ampliando a escala das políticas de transferência de renda com o programa Bolsa Família. Em meados do segundo mandato, ao adotar as chamadas “medidas anticíclicas”, deu início à política econômica de forte expansão do crédito e do consumo e de investimentos maciços na construção civil e no setor de energia, depois chamada de “nova matriz econômica” por Dilma.

Adotou-se uma espécie de “capitalismo de Estado” revisitado, que serviu de fonte de financiamento eleitoral para o PT e seus aliados, até eclodir o escândalo da Petrobras. O modelo está indo para o brejo. Uma incrível sequência de medidas equivocadas e mal planejadas na condução da economia, como o congelamento de preços dos combustíveis, a redução das tarifas de energia e a baixa forçada da taxa de juros, num ambiente externo desfavorável, trouxe de volta a inflação, a estagnação e o desemprego.

Logo após assumir o segundo mandato, Dilma foi obrigada a dar um cavalo de pau na economia, com o ajuste fiscal e a alta dos juros, e terceirizou a condução política do governo, entregue ao vice-presidente, Michel Temer, que hoje é uma espécie de fiador da governabilidade. Lula tenta se desvencilhar dos desgastes do governo, mas é impossível fazê-lo sem desencarnar do PT, cujo envolvimento no escândalo da Petrobras começa a contaminar a imagem do petista.

Com a popularidade baixíssima, Dilma não tem como enfrentar a situação criada por Lula sem correr grave risco de desestabilização política. As críticas do ex-presidente da República estão levando o PT à oposição cada vez mais aberta à condução do governo; por sua vez, isso aumenta o poder de barganha do PMDB e a tendência da legenda a impor a sua própria agenda no Congresso. É aí que a tática do bigode pode ser um desastre total, porque todos os partidos aliados gostariam de adotá-la, ou seja, usufruir do bônus de participar da coalizão governista e deixar para Dilma o ônus do mau governo.

Eliane Cantanhêde - Volume morto

- O Estado de S. Paulo

Nunca antes o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou tão cabalmente a máxima do senador Cristovam Buarque sobre ele: “Tudo o que é bom foi o Lula quem fez; tudo o que dá errado é culpa dos outros”. Valeu para o mensalão, vale para o petrolão, vai valer para os erros crassos do governo Dilma Rousseff.

Lula está coberto de razão no seu diagnóstico de que ele, o PT e Dilma estão no “volume morto” e quando diz que Dilma se distanciou dos pobres, não ouve ninguém e não dá bola nem mesmo para os seus próprios conselhos. E o que dizer da avaliação de Lula de que o PT perdeu a utopia, está velho, viciado em poder e só pensa em cargo, emprego e em vencer eleição? Alguém discorda?

Há, porém, alguns probleminhas nas declarações de Lula, que, faz tempo, já não está mais tão “paz e amor assim”. O principal deles é que ele, como disse brilhantemente Cristovam, ex-petista e ex-ministro da Educação demitido por telefone, sempre arranja um jeito de jogar a culpa nos outros, mas jamais assume sua parte nesse latifúndio de responsabilidades do seu partido, da sua pupila e do governo que patrocinou.

A culpa é sempre da imprensa, agora é também de Dilma e desabou sobre o lombo já curtido do PT. Mas e Lula? Está no “volume morto” só por causa dos outros? Não tem nenhuma culpa pela velhice precoce do PT? Também não se viciou em poder, tanto quanto o partido? E, afinal, Lula não tem responsabilidade nenhuma por ter escolhido Dilma para a Presidência, autocraticamente, contra tudo e contra todos – aliás, contra o próprio PT?

Outro probleminha é o “timing” das críticas a Dilma e ao partido. Lula desandou a falar todas essas verdades dias depois do congresso do PT em Salvador, aquele que ia fazer e acontecer e acabou não fazendo nem acontecendo. Antes do congresso, era uma braveza danada. Passamos semanas ouvindo e lendo que seria o mais importante da história, com grandes reviravoltas, e consta até que o ex-ministro e ex-governador Tarso Genro criou um bunker no Rio de Janeiro para dar as linhas intelectuais e preparar o ataque em Salvador.

Na hora “h”, porém, todos miaram e seguiram mansamente a tendência majoritária, que, olha só, é a mesma de Lula. Ele deixou as versões rolarem, ouviu tudo calado, fez lá o seu discurso obrigatório, mas bastou apagarem a última luz do congresso do partido para ele pregar... “uma revolução no PT”! Por que não falou isso no congresso? Não seria o fórum mais adequado?

Em Brasília, atordoada, a pergunta que não quer calar é por que, afinal, Lula decidiu botar a boca no trombone. Como está no “volume morto”, bateu o desespero? Ou ele pode estar exatamente como acusa o partido: sem utopia, viciado em poder, só pensando em cargo e na eleição (de 2018)?

No Planalto e na oposição, nos gabinetes de Dilma e de Aécio Neves, a percepção é a mesma: o objetivo óbvio de Lula é se descolar de Dilma. E não só dele. Em nota, os senadores do PT usaram 559 palavras derramando elogios à realmente admirável história de Lula, mas sabe quantas vezes citaram o nome de Dilma? Nenhuma! É cada um por si.

Aliás, os ministros Aloizio Mercadante, José Eduardo Cardozo, Ricardo Berzoini e Miguel Rossetto estão no pior dos mundos: vivem o dilúvio com Dilma, mas o espaço para eles na “arca de Noé” prometida por Lula é zero.

Propaganda enganosa. Aécio apresenta hoje projeto com normas de transparência e punições para a publicidade institucional da Administração Pública direta e indireta da União, Estados, DF e municípios. Para resumir, é contra a propaganda enganosa dos governos, que hoje mentem a rodo, citam números fabulosos e fica por isso mesmo. Vide eleição de 2014.

Rosângela Bittar - Lula no espelho

= Valor Econômico

• É uma crise da elite do PT, não do Partido dos Trabalhadores

O PT vem se degradando, como o próprio partido demonstra quando se junta em congressos, reuniões e bancadas, fato já aqui exposto mais de uma vez. Mas não por ação dos seus quase 2 milhões de filiados, nem dos 50 milhões de eleitores que o seguem nas campanhas. Quando seu presidente de honra, o ex-presidente da República Lula da Silva lhe faz o ataque que fez em duas oportunidades nos últimos dias, está falando mais de si mesmo do que do partido.

Uma imagem criada pelo ex-deputado mineiro e sociólogo Paulo Delgado ilustra a representação das duas conversas desesperadas do ex-presidente, uma, em encontro com religiosos, na semana passada, e outra em seminário do instituto que leva seu nome, esta semana. "A fala do Lula me parece ter sido feita num quarto de espelhos".

Intelectual, estudioso do partido, ao qual vinculou seus mandatos eletivos e seu trabalho político, e do qual sempre teve uma avaliação crítica rigorosa, o sociólogo acabou criando uma referência para quem estranhou essas duas últimas reações de Lula.

O ex-presidente estaria realmente falando para si e sobre si mesmo numa iniciativa atabalhoada, ao seu estilo, porque está se vendo acossado.

Esta não é uma crise do PT, é uma crise da cúpula do PT, da sua direção, dos seus ocupantes de cargos eletivos e administrativos, dos que fizeram campanha eleitoral financiados com recursos agora sob suspeição de desvios dos cofres públicos.

São 1.586.362 filiados ao PT.

Se forem somados à presidente da República e ao ex-presidente da República os 66 deputados federais, 14 senadores, 20 ministros, 619 prefeitos, 5 governadores, não se atinge mil no que se poderia considerar direção, cúpula, comando. A crise está na elite partidária.

O ex-presidente tentou preservar-se, ficar fora do grupo que vem sendo atingido por denúncias há 12 anos, mas está vendo que os grandes escudos caíram e sua figura se aproximou do alvo.

Tal situação se coloca num momento dramático, em que o partido, a presidente no cargo e o ex-presidente chefiando uma espécie de governo paralelo no seu instituto, perderam o amálgama e, junto com ele, o elã para governar, para atuarem em conjunto, para serem um só projeto.

Há, nas duas manifestações de Lula, um claro desrespeito com todos. Como sempre. Antes, era seu jeito. Agora a intolerância ao estilo se manifesta sem pudor.

Seus adversários internos no partido, também da elite, estão todos no governo Dilma, especialmente as correntes DS e mensagem, que não têm preocupações com o exercício da solidariedade.

No domingo, Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul, agora um político tentando se plantar no Rio, falou a "O Globo" sem prestar reverência alguma a Lula; no mesmo dia, Jaques Wagner, ministro da Defesa, falou ao "Correio Braziliense", também sem referência e ambos trataram apenas de PT. No governo pontificam Aloizio Mercadante e Ricardo Berzoini, ministros fortes por ele marcados como aloprados, pecha que jamais os abalou. José Eduardo Cardozo, da Justiça, está fora do seu grupo e criticado por ele, agora, principalmente pela atuação da Polícia Federal.

O Instituto Lula virou praticamente um partido, e na contabilidade desse partido, presidido por Paulo Okamotto, a PF sequer sofreu contingenciamento de verbas para não ser tolhida na sua capacidade de ação. Ação contra o ex-presidente, subentende-se. Miguel Rossetto é do grupo mais à esquerda e possivelmente o mais distante de Lula entre os integrantes da elite partidária com lugar cativo à direita presidencial.

O governo vai mal, Dilma parece ter perdido substância. Mas o governo paralelo de Lula também vai mal, sem deixar muito claro ainda porque. Quem vai menos mal é o PT. A tática do ex-presidente Lula é não admitir que a crise seja da elite. Mas não há 2 milhões de petistas em crise.

Lula, como Dilma e políticos petistas da elite, resistem a aceitar a ideia do erro. Mas a crise é deles.

Esta semana surgiram informações de que o ex-presidente teria conversado com velhos amigos da Igreja, frades conhecidos e com credibilidade, que o teriam aconselhado a se acalmar, se desculpar, pois o brasileiro teria capacidade de perdoar.

O atual mea culpa de Lula, se é que se pode caracterizar assim suas manifestações, pode ser uma resposta a esses conselhos. Seria reconhecimento do erro dizer que ele próprio está no volume morto, mas jogando a presidente Dilma e o partido no mesmo lamaçal? Seria pedir perdão dizer que o partido quer cargos, quer mandatos, e que precisa se distanciar do poder? Lá isso é pedido de desculpa? Não seria Lula quem quer tudo isso?

Se for esse o ato de contrição, está inadequado. Ele agravou a situação da presidente Dilma para desagravar a sua.

Admita-se que o recado contido nas duas manifestações seja um pedido de desculpas no momento em que a desconstrução do seu governo o vai demolindo mais do que tem demolido o governo Dilma.

Há, porém, descrentes contumazes, para os quais os dois discursos da semana já fazem parte do arsenal Lula 2018. O ex-presidente estaria montando o palanque, o velho apelo da vítima, com a tentativa de desvincular-se do enorme desgaste partidário para iniciar a sua nova corrida eleitoral. A ideia seria, primeiro, testar sua invencibilidade, depois testar o discurso. O autoflagelo é recurso do seu arsenal eleitoral, agora em nova construção.

Os senadores do PT entraram nessa e divulgaram ontem uma nota de solidariedade a Lula, como se ele estivesse sendo atacado e não atacando. O governo não reagiu. Dilma fez uma brincadeira sobre o assunto com a imprensa. E o presidente do PT, Rui Falcão, mistério em pessoa, não teve opinião. Esse foi o saldo do primeiro dia após a nova tática exibida no picadeiro.

O volume morto, expressão que o ex-presidente aprendeu, junto com o resto do Brasil, por causa da seca na Cantareira, e estava demorando a usar, veio à cena para aliviar, dar um charme à sua autocrítica. A presidente Dilma, realmente, pode estar no volume morto, com um governo em extrema dificuldade, com os indicadores da economia e da política, ao mesmo tempo, péssimos, pouca criatividade, pouca iniciativa, pouca capacidade gerencial. Mas Lula, não. O que se vê, ao seu redor, não é seca, é abundância.

Elio Gaspari - O momento Gorbachev de Lula

- O Globo

• A 'revolução' que Nosso Guia espera é uma ideia tardia; a 'gente nova' pensa numa direção oposta à dele

Lula, essa metamorfose ambulante, apresentou-se com uma nova roupa. Dizendo-se "velho" e "cansado", defendeu uma "revolução interna" no Partido dos Trabalhadores. Quer colocar nele "gente nova, gente que pensa diferente". Por duas razões, é possível que esteja perdendo seu tempo.

Primeiro porque não está falando sério. Ele diz: "Não sei se é defeito nosso ou do governo". Se acha que o defeito pode ser do governo, e não "nosso", acredita que alguém seja capaz de separar um do outro. Diz mais: "Eu acho que o PT perdeu um pouco de sua utopia". Casos como o do assassinato de Celso Daniel, o "mensalão" e as petrorroubalheiras dificultam a percepção de que o PT tenha perdido só "um pouco de sua utopia". Com a proteção que Lula e o partido deram aos comissários nos escândalos que hoje os trituram, ele perdeu toda a utopia. Pior, detonou as utopias históricas dos grandes contratadores de negócios com o Estado. Num fato inédito desde que o marechal Deodoro foi acusado de proteger uma empreiteira, conexões petistas levaram maganos para a cadeia. Os companheiros que prometiam prender empresários corruptos ajudaram a conduzir bilionários simpáticos à sua tesouraria para a carceragem de Curitiba e foram junto.

O segundo motivo pelo qual Lula pode estar perdendo seu tempo foi exposto ao país no congresso do apartido em Salvador, quando o nome do tesoureiro João Vaccari Neto recebeu uma ovação do plenário. A "gente nova" que um dia foi para o PT hoje grita nas ruas para que ele se vá.

Aos 69 anos, a guinada utópica de Lula tem alguns ingredientes da ilusão de Mikhail Gorbachev quando pensou em rejuvenescer o sistema político soviético. Ele achou que o partido comunista tinha conserto. Felizmente para o Brasil, o PT pode viver sua crise sem destruir o Estado. Como no baralho do regime de Gorbachev não havia a carta da regeneração, ele acabou como garoto propaganda das malas Louis Vuitton.

Apesar de tudo isso, não se deve subestimar a metamorfose ambulante. Lula surgiu no cenário nacional emergindo vitorioso de uma greve com a qual pouco teve a ver, a da Scania em 1978. E triunfou nos dois anos seguintes liderando paralisações ruinosas. Já entrou em assembleia tendo feito um acordo com o patronato e, ao sentir o clima de peãozada, renegou o acerto, marchando heroicamente para uma derrota. Saiu vitorioso no fracasso. Cresceu a cada um desses lances, chegou ao Planalto e colocou um poste no seu lugar.

A primeira eleição de Lula deveu-se em boa parte às suas virtudes. A partir daí, os êxitos do PT deveram-se principalmente às inclinações demofóbicas de seus adversários. Quando Lula surpreende dizendo que tanto ele como a doutora Dilma estão no "volume morto", a oposição rejubila-se, como se isso lhe bastasse. Esquece-se que até bem pouco, quem estava literalmente no volume morto era o governador Geraldo Alckmin, ameaçado por um racionamento de água em São Paulo. Depois de dez meses de ansiedade, subiu o nível do sistema Cantareira e o tucano é candidato a presidente.

A guinada e o rejuvenescimento petista são utopias que Lula vende, mas não compra. Sua esperança está onde sempre esteve: na demofobia dos adversários.