quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Opinião – Luiz Werneck Viana : “viagem redonda”

 Com a expressão “viagem redonda”, metáfora-síntese do seu clássico Os donos do poder, Raymundo Faoro queria aludir às grossas linhas de continuidade que, segundo a sua interpretação, dominavam o processo de formação histórica brasileira da colônia ao nosso tempo. Na sua explicação, tal continuidade se deveria a um fator estruturante desse processo — o patrimonialismo na ordem estatal centralizada —, nunca removido, e que, a tudo superior, se imporia como um desígnio da Providência na reprodução da vida social.

A ação da Providência nos negócios humanos é objeto de um pequeno ensaio de Hannah Arendt, “De Hegel a Marx”, contido em A promessa da política (Difel), em que confronta as posições desses autores sobre o assunto. Neste pequeno e brilhante texto, ela sustenta que só existiria uma diferença essencial entre Hegel e Marx: enquanto Hegel teria projetado sua visão histórica mundial exclusivamente para o passado, deixando sua consumação esbater-se no presente, Marx, contrariamente, a conceberia no sentido do futuro, compreendendo o presente como “simples provedor”.

Não haveria mais por que interpretar o mundo, pois os filósofos, diz Marx na 11ª. tese sobre Feuerbach, já fizeram isso — exemplar a obra de Hegel —, cabendo, agora, transformá-lo. A ação consciente dos homens já não deveria ser prisioneira da Providência nem vítima dos ardis com que a história parece se voltar contra as intenções dos humanos, tomando rumos que escapariam inteiramente do seu cálculo.

Estes dois registros — o da Providência e o da “vontade política” — parecem oportunos quando se considera a trajetória do Partido dos Trabalhadores (PT), às vésperas de comemorar seus 30 anos, no governo há quase oito, e que ora se credencia para disputar mais uma sucessão presidencial. Com efeito, o PT nasce, no início dos anos 1980, com destino declarado de ser um agente de ruptura com a herança perversa, sempre renovada em nossa história — “os quinhentos anos” perdidos —, a fim de instituir uma nova fundação para o país. O ator, ao recusar os caminhos da Providência, ele próprio se apresentava como providencial. A interpretação do país estaria feita, o que faltava era a vontade política de transformá-lo.

Oito anos incompletos de governo do PT, no entanto, a “viagem redonda” de seis séculos, de João 1º a Vargas, da metáfora de Faoro, parece retomar seu curso, como se o partido assumisse, inconscientemente, a tradição que pretendeu renegar. Sintomático disso tanto a acomodação do seu sindicalismo às estruturas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como sua atual valorização do nacional-desenvolvimentismo, ideologia da modernização brasileira, cuja forma mais bem acabada se encontra nas formulações do Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), agência de intelectuais criada, ao tempo do governo JK, como lugar de reflexão sobre os rumos a serem seguidos para os fins de desenvolver o país.

Luiz Werneck Vianna, professor-pesquisador da PUC-Rio. A viagem (quase) redonda do PT, julho de 2009

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO


O ESTADO DE S. PAULO


FOLHA DE S. PAULO

VALOR ECONÔMICO

ESTADO DE MINAS

CORREIO BRAZILIENSE

ZERO HORA (RS)

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Cabo de guerra sobre CPI

Oposição obtém assinaturas para investigar Transportes, mas governo faz senador voltar atrás

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

No segundo dia de funcionamento do Congresso após o recesso, e um mês depois do início da crise nos Transportes, que já levou à demissão de quase 30 pessoas no Ministério e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a oposição conseguiu ontem as 27 assinaturas necessárias para a criação de uma CPI no Senado. A instalação da CPI, porém, ainda é uma incógnita. O Palácio do Planalto usou sua força e, ainda ontem à noite, conseguiu retirar a assinatura do senador João Durval (PDT-BA). Também se esforçava para convencer o senador Reditário Cassol (PP-RO) a fazer o mesmo. Enquanto isso, a oposição buscava apoio de outros descontentes da base aliada.

Durval, para justificar a retirada de sua assinatura, disse que, pressionado pelos dois lados, preferiu ficar com o governo, já que é da base aliada. O seu partido, o PDT, tem o titular do Ministério do Trabalho, Carlos Lupi, além de ocupar dezenas de delegacias regionais. Da mesma forma, o PP do senador Cassol tem o Ministério das Cidades. O governo não pretendia tentar a retirada de assinaturas dos dissidentes do PMDB.

As quatro últimas assinaturas foram coletadas enquanto o senador Alfredo Nascimento (PR-AM), ex-ministro dos Transportes, discursava na tribuna, negando seu envolvimento ou conivência com o suposto esquema de corrupção no Dnit. Para a oposição, o apoio de senadores da base aliada foi um sinal de que o ex-ministro não convenceu.

Das 27 assinaturas coletadas pelo líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), pelo menos dez são de parlamentares de partidos da base governista: quatro do PMDB, três do PDT, um do PMN e dois do PP. Além de Cassol e Durval, assinaram ontem o pedido de CPI os senadores Zezé Perrela (PDT-MG) e Ricardo Ferraço (PMDB-ES). O requerimento foi enviado ontem mesmo à Secretaria Geral da Mesa do Senado, para a conferência das assinaturas.

- Se não fosse a base governista, não teríamos o número necessário de assinaturas - reconheceu o líder do DEM, senador Demóstenes Torres (GO).

Para o Planalto, foi um recado da base aliada

A notícia surpreendeu o Palácio do Planalto. Auxiliares da presidente Dilma Rousseff avaliaram que, mais do que uma ação da oposição, a iniciativa foi um recado da base aliada. Por essa avaliação, houve um "descuido proposital" do PMDB, que impedia a adesão à CPI. Um ministro reclamava que não houve nenhuma mobilização dos comandos partidários para evitar as assinaturas dos aliados. E reconheceu que a articulação política do governo, hoje sob o comando da ministra Ideli Salvatti, também falhou.

Após o estrago, o Planalto foi a campo e determinou ao líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), que tentasse retirar assinaturas do requerimento de CPI. O principal alvo passou a ser Reditário Cassol, suplente de Ivo Cassol (PP-RO), o último parlamentar a assinar a CPI. Segundo um auxiliar de Dilma, a CPI, se instalada, representará uma "faca no pescoço" do governo.

- Nenhuma CPI é boa para o governo, ainda mais uma que tem como alvo o Dnit, o que poderá paralisar o órgão. Mas, primeiro, vamos ver se vai ter mesmo CPI - disse Jucá mais cedo, antes de iniciar a ofensiva para retirar as assinaturas.

- Essa CPI está saindo com a assinatura de quem quer constranger a presidente Dilma - emendou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

O comportamento de líderes peemedebistas, após o anúncio da oposição de que conseguira as 27 assinaturas, só aumentou a desconfiança do governo. O presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), deixou claro que não pretendia constranger os quatro peemedebistas que apoiaram a CPI: Jarbas Vasconcelos (PE), Pedro Simon (RS), Roberto Requião (PR) e Ricardo Ferraço (ES).

- Não vou pedir a nenhum senador para retirar assinatura. Até porque, aqui, cada senador é uma entidade - avisou Raupp.

Antes do início do recesso parlamentar, a oposição já garantira a maioria das assinaturas. Agora, com a crescente insatisfação dos aliados, o senador Álvaro Dias não teve dificuldade para obter as quatro que faltavam.

- Foi uma demonstração de que as explicações e providências tomadas até agora pelo governo não foram suficientes para acabar com a crise no Ministério dos Transportes - disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

FONTE: O GLOBO

'O PR não é lixo'

Ao reassumir o mandato no Senado após ser forçado a se demitir do Ministério dos Transportes diante de denúncias de corrupção, Alfredo Nascimento (PR-AM) disse ontem não ter tido apoio da presidente Dilma e reagiu à faxina na área: "Eu não sou lixo, o PR não é lixo para ser varrido da administração."

Nascimento: "Não sou lixo, o PR não é lixo"

Ex-ministro diz que não teve apoio de Dilma e acusa o atual, Paulo Sérgio Passos

Maria Lima

BRASÍLIA. Pressionado por aliados a deixar o bloco do governo e entregar todos os cargos indicados pelo partido, o presidente do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), defendeu-se ontem no plenário atirando no atual ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, e afirmando que não teve o apoio da presidente Dilma Rousseff. Nascimento acusou o Planalto de ter vazado informações confidenciais sobre uma reunião privada no governo que teriam provocado a crise no Dnit - crise que tornou Nascimento e seus liderados alvos da faxina comandada pela presidente. Antes do discurso, o ex-ministro dos Transportes concordara com companheiros de partido que o PR deveria se declarar independente, mas terminou a fala afirmando que continua na base governista.

Num pronunciamento que não convenceu a oposição nem os aliados do governo, o ex-ministro foi enfático em sua defesa, do partido e do filho Gustavo, cuja empresa teve grande crescimento em pouco mais de cinco anos. Nascimento e outros senadores do PR protestaram contra o tratamento dado ao partido, mais rigoroso do que o dispensado a outros aliados suspeitos de irregularidades:

- Eu não sou lixo, o meu partido não é lixo, nossos sete senadores não são lixo! Somos homens honrados e queremos que seja apurada, pelo menos, a minha participação como senador da República no Ministério dos Transportes - bradou Nascimento, reforçando a mágoa com a faxina feita por Dilma nos Transportes. - O PR, cuja presidência assumi, não é lixo para ser varrido da administração!

Ele frisou que o PR foi um dos primeiros partidos a apoiar a candidatura de Dilma e que, em seis anos de dedicação exclusiva como ministro de Lula, nunca teve seus atos contestados.

- Continuaremos a apoiar a presidente Dilma convencidos de que é isso que esperam nossos eleitores. Nos últimos anos, fui um ministro convocado para resolver problemas. Não aceito que usem meu nome para corrigir distorções que não criei. Que cada um assuma sua responsabilidade - disse, lamentando não ter tido o apoio da presidente. - Renunciei ao cargo de ministro no momento em que, diante dos ataques violentos contra mim desferidos, não recebi do governo o apoio que me havia sido prometido pela presidente Dilma.

Nascimento teve o apoio dos senadores do PR presentes, que cobraram a imediata entrega de todos os cargos e a saída do bloco governista. O senador Blairo Maggi (MT), um dos mais irritados, cobrou da presidente o mesmo rigor para apurar todas as denúncias de corrupção.

- Viramos lixo, a escória da política! Que a presidente Dilma diga se o PR é um partido do bem ou do mal e que dê aos outros partidos o mesmo tratamento que deu ao PR. Dois outros partidos já sofreram denúncias de revistas e nada foi feito. Por que a diferença de tratamento? Estou junto com o líder Magno Malta. O PR não tem que ser mais responsável pelos Transportes. Se quer continuar com Passos, que continue, mas ele não é do PR e não tenho mais ninguém no governo - desabafou Blairo, num aparte.

Antes do discurso, o senador Clésio Andrade (PR-MG) disse que Nascimento havia consultado os senadores do partido e que todos concordaram que a bancada deve ser independente para votar como quiser.

- Somos sete senadores. Se dependesse só de mim, o PR diria para a presidente Dilma: toma seu ministério. O PR tem que dizer: presidente Dilma, tchau e bênção! Faça o que quiser com seu ministério! - aparteou o líder Magno Malta (ES), pedindo a saída do bloco governista.

No longo pronunciamento, Nascimento disse que não é ladrão e que nunca fez um ato lesivo ao país. Emocionado, culpou seu sucessor e atual ministro, Paulo Sérgio Passos, pelo descontrole de gastos com aditivos e inclusão de R$14 bilhões em novas obras não previstas no orçamento, entre março de 2010 e janeiro de 2011, quando retomou a pasta:

- Quando saí, junto com a presidenta Dilma, então ministra, o PAC do Ministério dos Transportes significava um pacote de investimentos da ordem de R$58 bilhões. Quando retornei, já estava em R$72 bilhões. Dediquei os primeiros 90 dias de gestão a uma imersão em todos os projetos e ações programadas em andamento. Em fevereiro, fui o primeiro a perceber a disparada dos gastos previstos e determinei um pente-fino para conhecer a origem de tal movimentação - disse, sem citar o nome de Passos e frisando que os aumentos eram decididos pelos ministérios do Planejamento, da Fazenda e da Casa Civil.

O ministro caiu em 6 de julho, quatro dias após a denúncia da "Veja" sobre o esquema de cobrança de propina em contratos do setor e no mesmo dia em que O GLOBO relatou o crescimento do patrimônio da empresa de seu filho Gustavo - dados contábeis da empresa indicam crescimento de mais de 86.000%.

Nascimento disse que a reportagem é mentirosa. Com a voz embargada, defendeu o filho, mas admitiu que a empresa Forma fora criada com um patrimônio de cerca de R$60 mil, e que, em um ano, saltou para R$52 milhões, mas sem recursos públicos:

- É mentira! O meu filho não é ladrão. Eu vou provar porque tenho toda a documentação, vou buscar a correção dessa injustiça que cometeram com meu filho. O Gustavo tem tino empresarial que justifica o sucesso da empresa. Não se apropriou de dinheiro público.

- Se houve condenação e prejulgamento, partiu de seus superiores no Palácio do Planalto - aparteou o tucano Aécio Neves (PSDB-MG).

Senadores da oposição cobraram que Nascimento assinasse a CPI do Dnit, já que desejava ver tudo apurado. Ele negou-se.

FONTE: O GLOBO

Governo vai gastar até 25% mais para proteger indústria

De olho na concorrência estrangeira e disposto a proteger a empresa nacional, o governo Dilma Rousseff anunciou ontem uma nova política industrial que alivia encargos da Previdência, fixa mais prazo e menos juros para financiamentos e institui um "prêmio" de 25% nas licitações para quem se comprometer a gerar empregos e renda no Brasil em vez de comprar importados. Só em desonerações de tributos, são R$ 24,5 bilhões. O plano, chamado Brasil Maior, traz medidas que vinham sendo cobradas pelos empresários, como a desoneração da folha de pagamento, mas ela será restrita aos setores de calçados, confecções, móveis e software, que deixarão de recolher 20% de INSS e passarão a pagar entre 1,5% e 2,5% sobre o faturamento. O Tesouro bancará as perdas

Política industrial prevê R$24 bi em desoneração

Entre as medidas de proteção, governo poderá comprar produtos nacionais até 25% mais caros que importados

Martha Beck, Eliane Oliveira, Chico de Gois e Geralda Doca

BRASÍLIA. Para tentar abrandar o desânimo que abate o empresariado brasileiro, o governo anunciou ontem o Plano Brasil Maior, nova política industrial ancorada na proteção do setor produtivo contra a concorrência predatória e as crises globais que se anunciam. São R$24,5 bilhões em desonerações da folha de pagamento, das exportações e de investimentos até o fim de 2012, medidas de defesa comercial, financiamento a condições vantajosas e preferência de compra nas licitações públicas, por preço médio até 25% maior, às empresas que produzam aqui com conteúdo nacional e valor agregado.

A uma plateia de empresários - que elogiaram as medidas, apesar de considerá-las insuficientes -, a presidente Dilma Rousseff pediu ânimo e ousadia para combater a concorrência desleal imposta por bens importados que inundam o país.

- Iniciamos uma cruzada em defesa da indústria brasileira diante de um mercado internacional com uma competição, na grande maioria das vezes, desleal e predatória - disse ela, que foi aplaudida e acrescentou: - A indústria nacional tem em mim uma aliada, uma parceira consciente das dificuldades, mas também das potencialidades do nosso setor produtivo.

A presidente também deixou claro mais uma vez que sua prioridade é o crescimento da economia, com inclusão social, mas ressaltou que não abrirá mão do controle da inflação e da responsabilidade fiscal:

- Aos que pensam que, em um momento de incerteza internacional como o que vivemos, o mais prudente é não agir e esperar a onda passar, eu contra-argumento, amparada na experiência que tivemos durante o período do governo do presidente Lula, em 2008 e 2009: é justamente em uma situação de tensões no mundo que devemos mostrar, além do indispensável bom senso, uma boa dose de ousadia.

No pacote, estão medidas que vinham sendo cobradas pelos empresários como a desoneração da folha de pagamento de empresas. Ela, porém, será temporária e restrita aos setores de confecções, moveleiro, software e calçadista. O governo vai zerar a contribuição previdenciária patronal de 20% que incide sobre a folha de pagamento das empresas e criará uma nova cobrança (que varia entre 1,5% e 2,5%) sobre o faturamento. O Tesouro ficará encarregado de colocar R$1,6 bilhão na Previdência para cobrir uma possível perda.

Também foi criado o programa Reintegra, que concede crédito imediato de 3% sobre receitas de exportação de bens manufaturados, com renúncia fiscal estimada em R$7 bilhões. A lista de produtos industrializados que terão direto ao benefício será regulamentada.

- É algo inédito, capital de giro na veia da indústria. País desenvolvido é país que tem indústria. Vamos defender a nossa - disse o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel.

"Quanto menos competidores, maior a chance de sobrepreço"

O governo comprometeu-se ainda a regulamentar a preferência de compra de produtos nacionais, aprovada no ano passado pelo Congresso, com preço até 25% maior. Começará pelas áreas de saúde, defesa (compra de fardas e coturnos, por exemplo, na qual a China vem ganhando espaço) e tecnologias da informação e de comunicação.

Pimentel destacou que a ideia é estabelecer condições que garantirão um tratamento diferenciado a empresas que geram empregos, fabricam itens com maior valor agregado e que usem, em sua maioria, insumos nacionais. Serão fixadas margens máximas de preços para diferentes setores, assim como percentuais de nacionalização.

Especialistas e oposição, em geral, saudaram a preferência nas compras, mas lembram que ela precisa vir com medidas que reduzam distorções do câmbio e deficiências de infraestrutura.

- Acho bem-vinda a iniciativa de dar preferência a produtos nacionais nas compras governamentais, mas desde que não distorça as oportunidades das cadeias produtivas. Não adianta abrir uma porta e fechar outras - afirmou o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP).

- Muitos países usam este expediente para reativar ou desenvolver a sua economia. Os EUA fazem isso desde 1933. O mesmo acontece na China, Índia e Coreia. Se fizer de maneira inteligente, vai poder agregar valor à indústria. Mas se for usado de maneira errada, pode dar margem à corrupção - ponderou Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP.

O advogado Jonas Lima, especialista em licitações, advertiu que a falta de normas traz insegurança jurídica para fornecedores estrangeiros. Ele alertou que a preferência tende a reduzir o número de competidores e pode levar a condições de contratação aquém do desejado:

- Quanto menor o número de competidores, maiores as chances de sobrepreço.

O Brasil Maior também prorroga desonerações do IPI para a construção civil, bens de capital, caminhões e veículos comerciais leves do fim de 2011 para o fim de 2012, além de zerar o prazo para que as empresas aproveitem créditos de PIS/Cofins. O BNDES também entrou no conjunto de ações com reforço nas linhas de financiamento e de capital de giro com juros reduzidos. Um orçamento estimado de R$500 bilhões entre 2011 e 2014 do banco estará afinado com as diretrizes da política industrial.

Para o setor automotivo, está sendo criado um novo regime de incentivos, no qual reduções do IPI estarão atreladas a investimentos em inovação e produção de conteúdo local. Pimentel adiantou ainda que, provavelmente este mês, sairão incentivos tributários para os setores de semicondutores e de redes de telecomunicações.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, previu que a crise nos países ricos deve durar mais três anos e defendeu proteção.

- O mercado brasileiro deve ser usufruído pela indústria brasileira e não pelos aventureiros que vêm de fora.

FONTE: O GLOBO

PMDB se reúne no gabinete de Temer e articula demonstração de unidade

Partido pode entregar um dos seus, mas fará tudo para ficar no governo

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A estratégia montada pela cúpula do PMDB para esvaziar a crise política envolvendo o partido inclui a possibilidade de eventualmente entregar algum partidário envolvido em irregularidades, para preservar a aliança com o governo e a figura do vice-presidente Michel Temer. Após várias reuniões realizadas ontem pela cúpula do partido, alguns peemedebistas adiantaram que não pretendem blindar ninguém.

- O PMDB não pretende blindar ninguém se houver a confirmação de alguma irregularidade. Mas não vamos aceitar que o erro de uma pessoa com CPF seja debitado na conta de quem tem CNPJ. Não teremos dificuldades de apoiar qualquer investigação, mas não aceitaremos marquetagem em cima do PMDB, assim como fizeram com o PR - adiantou um peemedebista com cargo no governo.

Em reunião de emergência no gabinete do próprio Temer, os caciques do partidos avaliaram que, para evitar o risco de o PMDB se transformar no próximo alvo da "faxina" da presidente Dilma, seria necessário demonstrar unidade política e dar resposta imediata às denúncias envolvendo o Ministério da Agricultura - daí a ida do ministro Wagner Rossi hoje à Câmara.

Na reunião, os peemedebistas disseram que a presidente Dilma tem dado tratamento adequado ao partido. E reconheceram que, se o PMDB não tivesse tanta força na Câmara e no Senado, teria recebido tratamento semelhante ao do PR quando estourou a crise no Ministério dos Transportes. Além do próprio Temer, foram chamados para a reunião os ministros Edison Lobão (Minas e Energia) e Nelson Jobim (Defesa), os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), Renan Calheiros (PMDB-AL) e Valdir Raupp (PMDB-RO), o líder na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), entre outros.

A preocupação entre os governistas, em especial o PT, é com a possibilidade de o PMDB tentar desviar o foco de uma eventual investigação sobre Rossi, obrigando o governo a ampliar ainda mais o âmbito da faxina promovida por Dilma. Uma das hipóteses cogitadas seria a de o partido fazer corpo mole hoje na reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, deixando que a oposição aprove um requerimento de convocação do petista Expedito Veloso, que poderá ressuscitar o escândalo dos aloprados.

- O PMDB deverá usar todos os instrumentos de que dispõe para colocar o governo contra a parede, se o partido virar alvo da faxina de Dilma - advertia ontem um senador petista

Além da crise que ronda o Ministério da Agricultura, o PMDB vive ainda uma incógnita em relação ao futuro do ministro da Defesa, Nelson Jobim. Ontem à noite, ele foi convocado para uma audiência com a presidente Dilma Rousseff na manhã de hoje. Na semana passada, Dilma ficou contrariada com a afirmação do ministro de que votou no tucano José Serra, em 2010.

Ontem, assessores do Planalto interpretavam como uma "declaração de amor" os elogios à presidente feitos por Jobim em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura. Mas também admitiam que a situação dele é desconfortável.

FONTE: O GLOBO

Ex-ministro ataca 'faxina' de Dilma e lança suspeitas

No primeiro discurso no Senado 27 dias depois de deixar o Ministério dos Transportes sob denúncias de irregularidades, o senador Alfredo Nascimento criticou a faxina promovida pelo governo na pasta comandada por seu partido, dizendo que o PR "não é lixo" e que "carrega as qualidades e alguns dos defeitos de todos os outros partidos". Ele lamentou a falta de apoio da presidente Dilma Rousseff e fez insinuações sobre o uso da máquina para elegê-la. O PR avisou que não mais votará fechado com o governo no Senado

Ex-ministro diz que "PR não é lixo" e, agora, partido promete "independência"

Presidente da sigla, Alfredo Nascimento discursou no Senado 27 dias após deixar Transportes, fez insinuações sobre o uso do PAC para eleger Dilma, e disse não ter recebido apoio da presidente; à noite, legenda informou que voto não é mais automático

Rosa Costa e Andrea Jubé Vianna

BRASÍLIA - No primeiro discurso no Senado, 27 dias depois de deixar o Ministério dos Transportes, o senador Alfredo Nascimento (AM) criticou a faxina promovida pelo governo na pasta comandada pela sigla, dizendo que o PR "não é lixo para ser varrido". Visivelmente magoado, Nascimento, que preside o PR, acusou o Palácio do Planalto de "julgamento sumário", lembrou a adesão do partido à campanha eleitoral de Dilma Rousseff e fez insinuações sobre o uso da máquina para eleger a petista em 2010. Por fim, disse que deixou o cargo de ministro por "falta de apoio".

Apesar das críticas, algumas bem diretas e outras mais sutis, o presidente do PR não formalizou a saída do partido da base aliada. Porém, à noite, dirigentes da sigla anunciaram que, a partir de agora, o PR é "independente".

Ontem à noite, o senador Blairo Maggi (PR-MT) comunicou a decisão do PR de deixar o bloco que formava com PT, PSB, PC do B, PRB e PDT e mandou mais um recado ao governo: "Quando se está no bloco, está fechado com o governo. Pelo menos com o PR era assim, que sempre foi o partido mais fiel. Daqui para a frente, deixa-se livre quem tem mais afinidade com a matéria".

Num gesto combinado com a direção do PR, Maggi disse que o partido "não tem mais o Ministério dos Transportes e não tem mais obrigação nenhuma com a condução do ministério".

"O PR não é lixo para ser varrido da administração. Não somos melhores nem piores do que ninguém", afirmou Nascimento da tribuna. Ele foi enfático ao assegurar que o partido defende a apuração e punição de deslizes.

"Que cada um assuma a responsabilidade. Eu não sou lixo! Meu partido não é lixo! Nossos sete senadores não são lixo! Somos homens honrados." Nascimento deixou o comando da pasta no dia 6 de julho. Além de dar detalhes de conversas privadas com a presidente no auge da crise e antes de decidir deixar o cargo, afirmou que entregou à Procuradoria-Geral da República, no mesmo dia do pedido de demissão, uma solicitação de investigação em que abre mão de seus sigilos fiscal e bancário.

Convocado pelo líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), a assinar a CPI dos Transportes, esquivou-se: "Se eu tivesse prova, teria tomado a iniciativa de afastar os servidores".

Eleição. Após lamentar a falta de apoio de Dilma para que continuasse no governo, o senador lançou suspeitas sobre o comportamento do governo Lula na campanha para eleger a sucessora. Ele deixou a pasta para disputar o governo do Amazonas.

O senador disse que o ministério que deixou em 2010 é diferente do que encontrou. Informou que, no período, a pasta tinha um "pacote de investimentos do PAC de R$ 58 bilhões". "Quando retornei (10 meses depois), já estava em R$ 72 bilhões. Fui o primeiro a perceber a disparada dos gastos previstos e determinei um pente-fino para conhecer a origem de tal movimentação." Segundo ele, a preocupação com "o descontrole no orçamento do PAC" foi levada à ministra Miriam Belchior (Planejamento).

Provocado pelo líder do DEM, Demóstenes Torres (GO), que creditou o aumento de gastos a seu substituto, Paulo Sérgio Passos, Nascimento inocentou o antigo auxiliar. Disse que ele não teria "competência nem poderes para colocar despesas extras no PAC" ou retirá-las.

No discurso de cerca de 40 minutos, o senador defendeu seu filho da acusação de ter, em dois anos, aumentado o patrimônio de sua empresa em 86.500%. Disse que ele não negociava com firmas que tinham negócios com o governo. "Fui acusado, julgado e condenado sem a apresentação de uma prova sequer."

"O Partido da República não é lixo para ser varrido da administração pública. Temos alguns dos defeitos e virtudes de todos os partidos. Somos um grupo de 7 senadores e 40 deputados que participamos com lealdade. Acreditamos no governo da presidenta Dilma. Eu não sou lixo, meu partido não é lixo, nós somos homens honrados"

"Renunciei ao cargo de ministro no momento em que, diante dos ataques violentos contra mim desferidos, não recebi do governo o apoio que me havia sido prometido pela presidenta Dilma"

"Volto a negar veementemente as acusações que foram lançadas contra mim. Fui julgado e condenado sem que pudesse me defender"

PARA LEMBRAR

1 mês de crise e 27 afastados

A crise nos Transportes completou um mês ontem e a faxina determinada pela presidente Dilma Rousseff, que já afastou 27 pessoas ligadas à pasta, continua. As punições começaram no início de julho, quando uma reportagem da revista Veja revelou um suposto esquema de propina e superfaturamento montado para irrigar os cofres do PR. No mesmo dia, Dilma pediu o afastamento de quatro funcionários, entre eles o diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, que logo em seguida entrou em férias e só saiu do cargo no dia 25 de julho.

Diante das denúncias, e sem receber o apoio esperado da presidente, o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, entregou a sua carta de demissão no dia 6.

Para o seu lugar chegou a ser cogitado o nome do senador Blairo Maggi (PR-MT), mas quem ficou com o cargo foi Paulo Sérgio Passos, homem de confiança de Dilma e que ocupava a secretaria executiva da pasta.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO