Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quinta-feira, 23 de março de 2017
Opinião do dia – Marcus Pestana
"O momento é inoportuno. É fatal que a opinião pública vá enxergar que as lideranças estão no meio de uma crise profunda querendo se esconder atrás da lista. É uma interpretação questionável, mas isso vai ser a realidade.
Não existe uma tradição de vida orgânica e democracia interna [nos partidos]. Por isso há uma desconfiança sobre o processo de construção da lista."
*Marcus Pestana é deputado federal (PSDB-MG) e vice-presidente da Comissão da reforma política na Câmara. Valor Econômico, 23/3/2017.
Temer: ‘Não tenho simpatia pela lista fechada’
Em entrevista ao jornalista Roberto D'Avila, da GloboNews, presidente ressalta que não quer interferir no trabalho do Legislativo, mas considera o voto majoritário "a melhor fórmula"
- O Estado de S.Paulo
O presidente Michel Temer disse que “não tem tanta simpatia” pela chamada lista fechada – proposta que vai constar do relatório do deputado Vicente Cândido (PT-SP) na Comissão da Reforma Política da Câmara, que deve ser levada à votação pelos parlamentares em maio. “Se eu puder dizer, a melhor fórmula é a do voto majoritário”, afirmou o presidente, ressaltando que não gostaria de interferir no trabalho do Legislativo.
Pela lista fechada, o eleitor vota em uma seleção de candidatos já estabelecida pelo partido. Já pelo sistema preferido por Temer, o voto é direcionado ao próprio candidato.
O presidente concedeu entrevista ao jornalista Roberto D’Avila, veiculada na noite desta quarta-feira, 22, na GloboNews.
Temer diz que financiamento público só serve com lista fechada
À GloboNews, presidente também responde a acusações de Dilma
- O Globo
Em entrevista a Roberto D’Avila, na GloboNews, o presidente Michel Temer falou sobre reforma política e defendeu a ideia de que a aprovação do financiamento público de campanha teria que estar vinculada à lista fechada de candidatos. Ele reconheceu, no entanto, que há muita resistência ao modelo:
— O dinheiro público só pode se juntar à ideia de uma lista de candidatos. O dinheiro vai para o partido. Mas eu senti que há muita resistência a isso. A levarse adiante a ideia de um fundo público, ele só pode se destinar a partidos e não a candidatos.
Em resposta à ex-presidente Dilma Rousseff, Temer afirmou que “os que se dizem fortes destruíram o país”:
Para FHC, proposta de lista fechada 'quer evitar que Lava Jato vá adiante'
Em vídeo postado em rede social, ex-presidente afirma que eleitor nem sabe nome dos partidos e que medida vai eleger direção dos partidos
Alexandra Martins, Isadora Peron, Daiene Cardoso e Igor Gadelha | O Estado de S.Paulo
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou na manhã desta quarta-feira, 22, que a proposta de lista fechada defendida hoje pelo Congresso é uma forma de evitar que a Operação Lava Jato 'vá adiante'. "Eleita vai ser a direção do partido e o povo vai votar em partidos. Quais? O povo nem sabe o nome dos partidos. Não dá para aprovar nada que tenha cheiro de impunidade.
Isso é uma lei que, na verdade, quer evitar que a Lava Jato vá adiante. Não pode", disse o tucano, em vídeo postado em rede social.
Para ele, o"s nosso partidos hoje, vamos falar com franqueza, estão muito mal das pernas. Os políticos todos estamos mal das pernas. Então, não acho que seja o momento de fazer proposta".
Vazamento é usado para atacar, melhor tirar sigilo, diz FHC
Thais Bilenky I Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) condenou o vazamento de informações sob sigilo judicial que seria, segundo ele, usado para atender interesses.
"Vazamento é uma coisa que está acontecendo com muita frequência e é ruim" disse, "porque é manipulável. Você usa o vazamento para atacar. E se for falso? E se for só uma parte? Quanto mais depressa for possível a Justiça deixar transparente tudo, melhor", afirmou à Folha nesta quarta-feira (22).
O tucano deu razão ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, em suas críticas à Procuradoria-Geral da República e à Polícia Federal por supostos vazamentos nas operações Lava Jato e Carne Fraca.
PSDB rejeita voto em lista fechada na reforma política
Por Fernando Taquari | Valor Econômico
SÃO PAULO - Em sintonia com os movimentos que lideraram as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff e voltam às ruas no próximo domingo, as principais lideranças tucanas se manifestaram contra o voto proporcional em lista fechada. O movimento une os grupos do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), e do governador paulista, Geraldo Alckmin, pré-candidatos que disputam a indicação do partido para concorrer à Presidência em 2018, além do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O ex-presidente foi o primeiro tucano a puxar a fila publicamente contra a proposta. Em vídeo divulgado ontem, na rede social Facebook, FHC condenou o modelo em que os eleitores passam a votar em uma lista fechada, que permite o pré-ordenamento dos candidatos pré-ordenada pelos partidos. Esse sistema, segundo ele, tem "cheiro de impunidade" e visa evitar o avanço da Lava-Jato. Pouco tempo depois, aliados de Aécio e Alckmin também se colocaram contra a medida.
Lista fechada pode 'engessar' Congresso e garantir foro privilegiado, dizem pesquisadores
Acadêmicos afirmam que modelo defendido pelo Congresso distancia eleitor de candidatos e alertam sobre superconcentração de poder a partidos
Elisa Clavery | O Estado de S.Paulo
Debatida na proposta de reforma política, a lista fechada pode engessar a composição do Congresso Nacional e garantir o foro privilegiado a parlamentares suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção investigado na Operação Lava Jato, dizem especialistas consultados pelo Estado. Nesse sistema eleitoral, o voto é destinado ao partido, que, por sua vez, determina o parlamentar que vai ocupar uma cadeira no Parlamento. O modelo virou alvo de manifestação convocada para o próximo dia 26.
A professora de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV-Rio) Silvana Batini destaca o barateamento das campanhas eleitorais com uma eventual mudança. "No sistema proporcional de lista aberta, que temos hoje, cada candidato tem de conquistar pessoalmente muitos votos. Se o partido fizer uma campanha única, pode concentrar os recursos", afirmou.
Segundo a pesquisadora, porém, o modelo não deveria ser adotado no Brasil da forma que está sendo discutido. Para facilitar a aprovação no Congresso, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), querem propor prioridade aos atuais deputados no "ranking" das listas - o que lhes garantiria o foro privilegiado. "A ideia não pode ser perpetuar as pessoas no poder", criticou Silvana. "A lista fechada deixa o nome do candidato escondido dos eleitores, e isso pode favorecer as pessoas investigadas por corrupção".
Janot fala em ‘disenteria verbal’ em resposta a críticas de Gilmar
Na véspera, ministro do STF havia dito que vazamentos de delações eram crime
Jailton Carvalho, Juliana Castro | O Globo
-RIO, BRASÍLIA E SÃO PAULO- Num dos mais fortes discursos desde o início de sua gestão, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reagiu ontem às críticas do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anteontem acusara o Ministério Público Federal de fazer vazamento criminoso de nomes citados na Lava-Jato. Janot acusou Gilmar de sofrer de “decrepitude moral” e “disenteria verbal”.
O procurador fez as críticas em resposta à acusação do ministro de que procuradores teriam convocado uma entrevista coletiva na semana passada em off — quando a autoridade pede para não ser identificada — com o objetivo de vazar nomes dos políticos citados na delação da Odebrecht. Janot disse que Gilmar apontou o dedo contra o Ministério Público, mas se omitiu sobre o uso do off no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional e no próprio STF.
Incontinências em Brasília
Bate-boca entre Janot e Gilmar estabelece novas fronteiras da crise
Flávio Tabak | O Globo
Típica das tribunas do Congresso, a fúria verbal atravessou a Praça dos Três Poderes, andou mais um pouquinho e estacionou na Procuradoria-Geral da República (PGR). Não é a primeira vez e nem será a última que integrantes da Justiça Federal e do Ministério Público trocam farpas. Mas, com a “disenteria verbal’’ propalada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o nível de zero a dez chega quase ao limite. Externa uma minúcia do que deve dizer dentro de seu gabinete.
Diferentemente de outros ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que se pronunciam somente — ou principalmente — nos autos, Gilmar Mendes, também presidente do TSE, tem se manifestado rotineiramente desde que a crise chegou ao seu último dos vários ápices recentes, com a nova lista de Janot baseada na delação da Odebrecht.
O bom exemplo alemão | José Serra*
- O Estado de S. Paulo
Voto distrital misto corrigiria distorções do corrosivo sistema eleitoral brasileiro
No formato atual das eleições para deputados, cada Estado brasileiro corresponde a um grande distrito com múltiplas vagas. O número de eleitos, por partido ou coligação, depende do número de votos obtidos pela agremiação em todo o Estado. Os mais votados até o limite das vagas obtidas pelo partido são eleitos.
Esse sistema enfraquece os partidos até porque, entre outras coisas, faz do correligionário o adversário a ser batido para se obter uma cadeira. A falta de cláusula de barreira nacional e a possibilidade de coligações fazem explodir o número de agremiações, que, em vez de organizarem as correntes de opinião, se transformam em trampolins para corporações e minorias organizadas.
Esse modelo é um dos responsáveis pela crise política: não só dificulta a formação de maiorias programáticas, como faz proliferar partidos de aluguel e coligações de conveniência. E eleva os custos de campanha a níveis alucinantes. Em São Paulo, cada candidato tem de disputar o voto entre 33 milhões de eleitores. Se gastar um real para chegar a cada eleitor, um candidato paulista terá de gastar R$ 33 milhões.
E são milhares de candidatos. Isso não faz sentido e tem de acabar logo.
Brasília em transe | Merval Pereira
- O Globo
Vivemos “tempos interessantes”, como se algum chinês da antiguidade nos tivesse jogado essa praga. Viver em tempos turbulentos como o nosso, exige do homem público esforço adicional. Mas, pode revelar grandezas insuspeitadas ou misérias conhecidas. Brasília é uma capital em transe, e o clima de barata voa está por toda parte, e não apenas na Operação Carne Fraca, como identificou a economista Monica de Bolle.
Disputas de grupos dentro da Polícia Federal e do Ministério Público; disputa de grupos políticos em busca de saídas para a enrascada em que se meteram. E todos parecem já terem passado do ponto de não retorno, enquanto o Palácio do Planalto procura debilmente manter uma certa ordem na casa, para escapar do naufrágio que volta e meia parece inevitável.
O fato do dia ontem foi o encontro do ministro Gilmar Mendes com o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, na posse de Alexandre Moraes no Supremo Tribunal Federal. Os dois estariam à distância de uma cusparada, como se diz nas brigas de rua, com apenas a autoridade moral do ministro Celso de Mello e sua bengala entre os dois.
Coxinhas à paulista | Maria Cristina Fernandes
- Valor Econômico
Doria e Haddad podem voltar a se encontrar em 2018
"Naquele jantar, num clique de olhar, Lucília encontrou o amor de sua vida. Olha daqui, olha dali, o clique do amor nasceu naquela noite, uniu Lucília e Trabuco e acelerou. Fico feliz por vocês dois. Minha amiga, você encontrou uma pessoa maravilhosa para completar seu coração". Recepcionado pela dona da casa como a "esperança do Brasil", João Doria retribuiu à altura, no papel de padrinho daquela união surgida durante a campanha eleitoral. De cima de um sofá, para melhor enxergar sua plateia, tinha um tapete Aubusson por pano de fundo: "Estou amando ser prefeito e trabalhando loucamente. Tem gente que até emagreceu porque não dormimos no ponto. É o spa do Doria".
A empresária e o presidente do segundo maior banco privado do país, Luiz Trabuco, viúvo há quase quatro anos, receberam à entrada de sua casa os convidados do jantar oferecido ao prefeito de São Paulo. Ao lado de Geraldo Alckmin, Doria encenou o número que já virou um clássico na política paulista. Trocam elogios mútuos e anunciam o evento de que participarão juntos às 7h da manhã do dia seguinte. O prefeito jura que o governador é seu candidato ao Palácio do Planalto em 2018, mas é a ele que se dirigem os gritos de 'presidente' de diferentes lugares da plateia.
Mais é menos | José Roberto de Toledo
- O Estado de S. Paulo
Hoje, nada é mais valioso na política do que eleger quem será lavado em público
Pior do que os vazamentos seletivos só mesmo os crimes selecionados. Num país onde esquemas ilícitos são regra, a mera escolha de qual deles vai ser investigado e receberá a atenção do público é, por consequência, um ato político. Na semana em que se conheceriam as delações dos empreiteiros, os boiadeiros viraram os vilões da vez. Sai Lava Jato, entra Lava Vaca. Hoje, nada é mais valioso na política do que determinar a agenda – e eleger quem será lavado em público a cada ciclo noticioso.
Nos dias em que deveria desvendar os miúdos e graúdos do poder brasiliense, a Lava Jato foi muito mais notícia pelas críticas que recebeu do que pelos fatos que revelou. Não sem motivo. Os investigadores se esmeraram em atravessar a rua para escorregar em cascas de banana. Fizeram “coletiva em off” para vazar investigação ainda sigilosa, e, ironicamente, pressionaram blogueiro para descobrir a fonte de um outro vazamento.
Combustível básico da corrupção é o gigantismo estatal | Jarbas de Holanda
As vésperas da abertura pela Câmara do processo de impeachment, Dilma Rousseff criou oito estatais. E, na semana da conclusão do processo pelo Senado, mais cinco. Elevando para 55 as instituídas por ela e pelo antecessor e padrinho Lula. Estas, bem como praticamente todas as 159 ativas da máquina administrativa da União, usadas como peças importantes de um salto do gigantismo estatal no país. No plano da economia, potencializado pelo emprego de recursos dos bancos públicos, sobretudo do BNDES, dos fundos de pensão, das grandes estatais, à frente a Petrobras do petrolão, com dois objetivos maiores. Primeiro – a implantação de amplo assistencialismo eleitoreiro. E segundo, com montagem bem disfarçada – o financiamento do projeto de poder do lulopetismo, através do uso dos contratos e decisões dos diversos órgãos e empresas federais (de obras, serviços, empréstimo subsidiados, desonerações) para escolha seletiva, em troca de propinas, de grupos privados beneficiários.
Gigantismo preexistente mas reforçado por intenso aparelhamento partidário e pela exacerbação do intervencionismo governamental na economia. Ingredientes do produto que coordenadores da operação Lava-Jato qualificaram como “organização criminosa”. E que se reforçou também nas outras duas esferas político-administrativas sob pressão da agenda estatizante e populista predominante no país até o impeachment de Dilma, e de projetos de conteúdo semelhante postos em prática em vários estados dos quais o grande exemplo foi o do Rio.
Um cenário ingrato | Bernardo Mello Franco
- Folha de S. Paulo
A turma que tenta melar a Lava Jato ganhou mais um motivo para sonhar. O ministro Gilmar Mendes sugeriu que a delação da Odebrecht pode ser anulada pelo Supremo Tribunal Federal. Seria um tiro fatal nas investigações sobre os repasses da empreiteira a políticos.
O motivo alegado por Gilmar é a publicação de informações sigilosas na imprensa. Ele acusou a Procuradoria-Geral da República de tratar o Supremo como "fantoche" e afirmou que o vazamento de informações é "eufemismo para um crime".
"Cheguei a propor no final do ano passado o descarte do material vazado, uma espécie de contaminação de provas colhidas licitamente e divulgadas ilicitamente. Acho que nós devemos considerar esse aspecto", afirmou Gilmar.
Partidos sem projeto | Luiz Carlos Azedo
- Correio Braziliense
O ambiente político no Congresso é pautado pelo instinto de sobrevivência, num momento em que o país precisa se reinventar sob vários aspectos
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em vídeo distribuído nas redes sociais, fez um alerta de que o Congresso não está no seu melhor momento para fazer uma reforma política profunda; sugeriu que se limite a discutir as medidas que estão em tramitação na Câmara e no Senado, como o fim das coligações e a cláusula de desempenho. Alertou que a proposta de lista fechada — que ganhou força graças ao relator da reforma política na Câmara, deputado Vicente Cândido (PT-SP) — aparece para a opinião pública como um subterfúgio para que os candidatos enrolados na Operação Lava-Jato mantenham privilégios e se livrem de eventuais processos.
Sua declaração é uma espécie de alto lá para o PSDB e aliados, que já estavam embarcando na proposta petista, que foi agarrada com as duas mãos pelos políticos enrolados do PMDB e outros partidos envolvidos no escândalo da Petrobras. Com a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na rua, a proposta da lista fechada interessa, sobretudo, ao PT, que não está sendo oportunista, vale ressaltar, pois historicamente defende essa posição. Está apenas puxando a brasa para sua sardinha em tempos de Murici, digamos assim.
Rombo maior | Miriam Leitão
-- O Globo
O rombo de R$ 58,2 bilhões é resultado de o governo ter superestimado receitas quando fez o Orçamento. E esse governo disse que não faria isso. Os ministros da área econômica já apontaram também um caminho que durante algum tempo disseram que não iriam trilhar: o aumento de impostos. Devem aumentar alíquotas de PIS, Cofins e IPI.
A notícia boa é que a equipe econômica está levando a sério o que manda a Lei de Responsabilidade Fiscal que determina que, diante do balanço bimestral de receita e despesa, o governo anuncie o que fará para manter o país no rumo da meta. Nos últimos anos do governo Dilma, a meta era descumprida e isso ia ficando cada vez mais claro a cada balanço bimestral. No fim do ano ,o governo mandava uma nova meta do tamanho do estouro que havia feito e pedia que o Congresso convalidasse. Depois dizia que havia cumprido a meta.
Estridência descabida – Editorial | Folha de S. Paulo
O vazamento de nomes de políticos sob a mira da Lava Jato despertou reação despropositada —pelo linguajar grosseiro e a ligeireza com que se trocaram acusações graves— de autoridades que deveriam dar exemplo de equilíbrio na condução das investigações e eventuais processos judiciais.
A escalada de ataques começou pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que atribuiu à Procuradoria-Geral da República responsabilidade pela divulgação de informações ora sob sigilo. "Não tenho dúvidas de que aqui está narrado um crime", disse o magistrado nesta terça-feira (21).
Um dos motivadores de tal declaração foi coluna da ombudsman desta Folha, Paula Cesarino Costa, com críticas à cobertura da imprensa referente a pedidos de inquérito, que serão examinados pelo STF, envolvendo ministros e parlamentares citados em delações premiadas da Odebrecht.
De acordo com a ombudsman, cuja atuação é independente da Redação do jornal, dados sobre a lista de nomes foram passados por integrantes do Ministério Público a veículos de imprensa, de maneira simultânea, sob a condição de anonimato da fonte.
A responsabilidade é dos Estados – Editorial |O Estado de S. Paulo
É inegavelmente forte o risco de se consolidar a interpretação de que a decisão do presidente Michel Temer de retirar da proposta de reforma da Previdência Social a revisão das regras para a aposentadoria de servidores públicos estaduais e municipais é um recuo. Anunciada durante uma entrevista coletiva à imprensa convocada de maneira inesperada, a decisão passou, de fato, a impressão de que Temer, sem condições de resistir à pressão crescente de parlamentares e de grupos de servidores, aceitou modificar o projeto de iniciativa do Executivo que está em discussão no Congresso. Afastada a espuma que tem encoberto o exame convencional do tema, porém, surgem na decisão do presidente da República componentes que lhe dão razão, como necessidades políticas e institucionais cujo atendimento facilita a aprovação da reforma sem comprometer o ajuste fiscal esperado, pelo menos no que se refere às contas da União.
Recuo de Temer promete mais crise fiscal em estados – Editorial | O Globo
Por temerem pressões de corporações de professores, policiais civis e outras, governadores haviam pedido que o governo federal incluísse a reforma da Previdência de seu funcionalismo — a depender do caso, como o Rio de Janeiro, bastante deficitária — na emenda constitucional que tentará atualizar o Regime Geral (INSS) e o Regime Próprio (servidores federais), tornando suas regras menos díspares, e enfim condizentes com a nova realidade demográfica do país. Assim foi feito, mas agora o Planalto, num jogo de empurra, devolve o problema aos estados, para facilitar a aprovação da PEC no Congresso.
Pode ajudar no plano político. Aprovada a emenda, será um avanço e aliviará as contas públicas, se pontos básicos da reforma federal forem aprovados: como a idade mínima de 65 anos para a aposentadoria, com um gatilho demográfico — o limite subirá à medida que a expectativa de vida do brasileiro aumente —, e, além de outros aspectos, não sofrerem grandes alterações as regras de transição para o novo regime.
Avanço da Lava-Jato põe as instituições sob pressão – Editorial | Valor Econômico
Três anos de Operação Lava-Jato - e não se sabe quantos mais virão - colocaram em xeque os usos e costumes do Legislativo e o modo de operação do Judiciário. A maior ação contra a corrupção da história republicana sublinha os exageros do foro privilegiado, a morosidade do Supremo Tribunal Federal em aplicar tempestivamente a Justiça a políticos que maltrataram as leis e, como reação, pode provocar uma das mais apressadas e piores reformas políticas já feitas. Ela também pôs as instituições à beira de um ataque de nervos, como mostraram nos últimos dias os duelos verbais entre o ministro Gilmar Mendes e o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot.
Consequências objetivas da operação são a necessidade de encontrar formas de financiamento eleitoral que corte os laços promíscuos entre o político eleito e as empresas que bancam suas campanhas, de firmar um padrão republicano no relacionamento do Estado com seus fornecedores, de dotar o país de um aparato legal compatível para enfrentar a ameaça da corrupção sistêmica e criar uma estrutura legal e administrativa para combatê-la. Só parte das 156 delações premiadas vieram parcialmente a público e revelam fatos estarrecedores. Mas o legado que a Lava-Jato pode deixar dependerá de um rearranjo institucional difícil e cheio de obstáculos. O risco de frustração é tão grande quanto as esperanças que a Lava-Jato avivou.
Mãos dadas | Carlos Drummond de Andrade
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
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