O mundo celebra hoje os 75 anos do fim da 2ª Guerra Mundial no continente europeu. Analistas comparam a discussão da nova ordem mundial pós-conflito com a situação que terá de ser enfrentada pelo países diante do atual colapso da economia global, informa
75 ANOS DO FIM DA 2ª GUERRA
Pandemia leva Europa a celebrar data com discrição e a traçar paralelos históricos
VIVIAN OSWALD Especial para O GLOBO
LONDRES - Enquanto ainda conta os mortos da pandemia do novo coronavírus, o mundo celebra hoje a portas fechadasos75anosdofimdaSegunda Guerra Mundial na Europa, com a rendição da Alemanha. Tradicionais paradas e desfiles em amplas avenidas do continente darão lugar a homenagens mais intimistas. Muitas delas on-line. Ironicamente, a geração que viveu e lutou o conflito mais sangrento do século passado é também a mais atingida pela Covid-19.
UMA NOVA ORDEM
Nos últimos quatro meses de crise sanitária, líderes europeus não economizaram em expressões tomadas de empréstimo da guerra. As comparações tornaram-se incontornáveis depois que metade da população do planeta foi submetida a uma dolorosa quarentena, enquanto assiste à morte dos seus e ao colapso da economia global. E, como também ocorreu após silenciarem as armas em 1945, entra em discussão uma nova ordem pós-coronavírus.
— Nosso mundo continua vivendo episódios que nos lembram das profundas perturbações de guerra do século XX. De repente, o interesse público exige a limitação do trabalho e do lazer. Governos determinam que cada um faça a sua parte. Estratégias de empresas, planos familiares e objetivos pessoais são transtornados. Cada cidadão tem que recalibrar ambição pessoal, vínculos familiares e necessidades da sociedade. Há mortes e perdas. Alguns fazem sacrifícios, enquanto outros são sacrificados — afirma o economista Mark Harrison, coautor do livro “Economics of the Second World War Seventy-Five Years on” (“Economia da Segunda Guerra Mundial: 75 anos depois”, em tradução livre), que acaba de lançar com Stephen Broadberry, professor de História da Economia da Universidade de Oxford.
Três quartos de século se passaram e a agenda do pós-guerra volta à pauta dos líderes internacionais. Fala-se em uma nova ordem mundial, que deve mudar a face da arquitetura institucional erguida nos pilares do consenso que sucedeu o conflito, em esforços coletivos de reconstrução e na prioridade à proteção do cidadão. Foi depois da Segunda Guerra — terminada oficialmente em 2 de setembro de 1945, após a rendição do Japão —que surgiram os organismos multilaterais internacionais, pacotes bilionários de estímulo ao crescimento e o Plano Marshall para a reconstrução dos países aliados na Europa, liderado pelos americanos.
Isso sem falar no nascimento no Estado de bem-estar social no Reino Unido, uma das grandes vitórias do país que perdeu o império na guerra, mas ganhou o NHS, o sistema nacional de saúde que inspirou o SUS no Brasil, e de que os britânicos se orgulham até hoje.