- Valor Econômico
Dizem que não há mais espaço para outsiders. Será?
Neste maio de preâmbulo eleitoral, chama a atenção a Rotunda que se armou com os nomes e situações da disputa. Ainda não há sequer cenários a considerar, há um imenso e amarrotado pano de fundo. Os dicionários de teatro, um de Ubiratan Teixeira e outro de Luis Paulo Vasconcelos, explicam: a Rotunda é uma cortina de pano colocada em semicírculo no fundo do palco. Determina a profundidade de onde vai se desenrolar o espetáculo, do local mais próximo ao espectador até o infinito. Ela limita o espaço da cena e pode envolver depois vários cenários. Cria um campo neutro que é a imagem mais próxima possível do nada. O cenário é limitado, já a Rotunda libera a cena no tempo e no espaço.
Exatamente como o Brasil se encontra, hoje, na eleição presidencial que escolherá o novo líder da nação, em outubro próximo. Algumas situações, que os analistas chamam de cenário, contém o improvável permitido pela antecedência e estão sendo desfeitos. O que há, mesmo, é a Rotunda onde cabem todas as situações ou nenhuma.
A pesquisa MDA feita por encomenda da Confederação Nacional dos Transportes (CNT/MDA), divulgada ontem, mostrou a ausência de forma e outras definições no quadro eleitoral além de um amontoado de questões e situações. As preferências estão do mesmo tamanho que estavam há dois meses, Lula continua a dominar a votação na visão irreal de sua presença, mesmo na curva do palco. Lula não é Gabriel Jesus (com esse nome e jogando no berço do football nem precisa fazer gols), mas está jogando muito, mesmo trancafiado na cadeia de Curitiba. Eis a primeira imprecisão gritante: como irão se comportar os renitentes eleitores de Lula? Viu-se que ele quer fazer o papel de uma espécie de Mandela tropical, tentando ter voz de dentro da prisão. Dará certo?
Jair Bolsonaro, Marina Silva e Ciro Gomes existem fisicamente, de fato, não são candidatos-miragem, como Lula. Mas onde Jair Bolsonaro buscará a quantidade suficiente de novos votos para ultrapassar a barreira dos 20%, ou mesmo para vencer como preveem os astrólogos? No dividido PP, partido cujos eleitores não primam pela homogeneidade e devem buscar opções por todo lado, será difícil. Os eleitores de Ciro Gomes são os mesmos 12% de todas as campanhas em que disputou a presidência, por diferentes partidos? E Marina Silva, vai trabalhar só com a herança para aumentar seus votos?
A verdade é que foi pífio o crescimento dos três na disputa dos últimos dois meses, subiram pouco para o tamanho da perda dos demais. Geraldo Alckmin, que também é uma candidatura real, caiu alguns degraus na preferência do eleitorado, e seu partido espera o momento dramático em que o ex-prefeito de São Paulo, João Doria, vai dar-lhe o bote já armado. É uma operação complexa essa substituição, pois Alckmin tem o partido nas mãos, tomou a si a presidência da legenda e, com ela, a máquina. Tem a obsessão de ser candidato a presidente tanto quanto Ciro Gomes tem a obsessão de ser presidente.