quinta-feira, 6 de julho de 2023

Maria Hermínia Tavares* - Os fantasmas da ultradireita

Folha de S. Paulo

Cabe tentar desmontar os argumentos que sustentam a miragem do comunismo

Especular sobre o futuro político de Jair Bolsonaro é exercício fútil. Mais proveitoso é tratar de entender as variadas aspirações dos cerca de 30% dos brasileiros que, segundo o Datafolha, continuam a acreditar que o seu governo beneficiou o país. Eles seguirão por aqui seja qual for o destino de quem foi banido da vida política até 2030 e ainda poderá enfrentar outras penas.

Dessa população faz parte uma amiga que votou em Bolsonaro tanto em 2018 como no ano passado. Ela me abastece regularmente de material que circula em suas redes sociais, servindo-lhe uma dieta reforçada de antipetismo e teorias conspiratórias. Da última vez, enviou artigo recém-publicado na revista Oeste, de certo uma voz estridente da extrema direita na mídia nacional. O texto quer fazer crer nada menos que o Brasil está em vias de se transformar em um "país soviético".

Ruy Castro - Quase Trump, quase Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Robert Kennedy Jr. é um democrata de extrema direita que quer ser presidente dos EUA

Ele é um pregador antivacina, adepto de teorias da conspiração e militante do ódio. Quer ver todo mundo armado e sua especialidade são mentiras, documentos falsos e acusações sem prova. Bolsonaro? Quase. É também hidrofobamente contra remédios e receitas médicas. Se eleito para a Casa Branca em 2024, ameaça fechar de vez a fronteira com o México. E promete salvar os americanos da "desesperança em que vivem hoje". Donald Trump? Também não. É Robert Kennedy Jr., 69 anos, pré-candidato à Presidência dos EUA —pelo Partido Democrata, pode crer.

William Waack - Falando grosso, mas sem um plano

O Estado de S. Paulo

O ativismo internacional do presidente carece de planos de ação

Lula decidiu sair ao mundo esbravejando. Não se sabe se ele está satisfeito com a própria performance, mas até aqui a tática aguarda melhores resultados.

O presidente brasileiro esbravejou contra potências ocidentais que estariam mais interessadas em prolongar do que terminar a guerra da Ucrânia. Colheu como resposta uma sucessão de refutações em público por parte de dirigentes dessa aliança (e de variadas correntes políticas) – e severas críticas de relevantes órgãos de imprensa nos dois lados do Atlântico.

Esbravejou contra a “inoperância” da ONU e a composição do seu Conselho de Segurança, pleiteando uma “governança global” que nunca existiu, além de um lugar nesse mesmo conselho do qual o Brasil continua distante como sempre.

Míriam Leitão - A hora da reforma sempre adiada

O Globo

Relator promete alterações no texto nesta quinta: estão previstos um fundo de bioeconomia para a Zona Franca e uma nova forma de tomada de decisão no Conselho Federativo

Os dias de intensa negociação sobre a reforma tributária criaram um ambiente de cooperação federativa depois de anos de muita polarização e conflito. Além disso, está sendo demonstrado que a reforma considerada impossível nunca esteve tão próxima. O ambiente está “cooperativo” como dizem os que estão à frente da negociação, e os bloqueios estão sendo removidos. O dia ontem passou por um encontro entre o ministro Fernando Haddad e o governador Tarcísio de Freitas. Teve negociação sobre como resolver o problema da Zona Franca de Manaus. E terminou com a leitura do texto no plenário. Hoje promete ser mais um dia de grande negociação.

O governador Renato Casagrande, do Espírito Santo, me disse logo cedo, antes das sete da manhã, que havia “ambiente político para votar a reforma” nesta quinta. O deputado Reginaldo Lopes naquele momento contou que era apenas uma questão de ajustes. O presidente da Câmara, Arthur Lira, se permitiu, ao longo da tarde, uma pequena comemoração prévia. “É uma felicidade estar presidindo a Câmara nesse momento”, disse. Mas ainda é preciso votar. As negociações continuaram pelo dia todo.

Merval Pereira - Diálogo maduro

O Globo

Postura do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, na negociação da reforma tributária é exemplar

A postura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na negociação da reforma tributária é exemplar de como separar as posições ideológicas das institucionais, valorizando a relação democrática de diálogo que visa ao projeto de desenvolvimento econômico do país a longo prazo.

Sair do que já nos acostumamos a chamar de “manicômio tributário” para um sistema mais simplificado e, por isso, mais eficiente é um passo fundamental para alcançarmos uma estabilidade econômica que favorece a todos, governistas e oposicionistas. As empresas brasileiras são conhecidas como as que precisam gastar muito dinheiro numa estrutura tributária que aumenta o custo dos produtos.

Bruno Boghossian - A paternidade da reforma

Folha de S. Paulo

Proposta tem discrição de Lula, ação de Haddad, domínio de Lira e sinais de instabilidade na oposição

Lula falou pouco da reforma tributária desde que voltou ao Palácio do Planalto. Em discursos e entrevistas, o presidente se referiu à proposta em termos genéricos e comentou a importância do projeto sem discutir detalhes. Celebrou as perspectivas de aprovação do texto, mas evitou tomar a bandeira em suas mãos.

Não é que o governo não tenha interesse no tema. Lula queria uma reforma com impacto redistributivo, mas a simplificação debatida no Congresso já foi considerada um passo largo. A Fazenda criou uma secretaria especial para cuidar do assunto, e Fernando Haddad se envolveu diretamente na negociação.

O avanço da proposta resume um processo de adaptação do governo e de outros atores aos arranjos políticos que marcam os seis meses iniciais de Lula. O presidente examinou os limites de sua atuação, o centrão trabalhou para maximizar seus ganhos, e a oposição exibiu sinais de uma fase de instabilidade.

Luiz Carlos Azedo - Com R$ 2,1 bi em emendas, governo destrava reforma

Correio Braziliense

Houve mudança no posicionamento das bancadas do Centrão, principalmente as do PP e do União Brasil, em favor do texto que vem sendo negociado para ser votado hoje à noite

Depois de muitas negociações, que demandam ainda um ajuste final no relatório do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), o governo conseguiu destravar a votação da reforma tributária, que deve começar hoje. Foram liberados R$ 2,1 bilhões do Orçamento da União para a execução de emendas de bancadas, a maior parte no Ministério da Saúde, a pasta que era cobiçada pelo Centrão nas negociações com o Palácio do Planalto. Ao mesmo tempo em que mandou liberar os recursos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa da ministra Nísia Trindade, que permanecerá à frente da pasta, apesar das especulações de que sua cabeça seria uma moeda de troca na aprovação da reforma.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se empenhou pessoalmente nas articulações para demover resistências. Esteve em São Paulo e no Rio de Janeiro para conversar com os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Cláudio Castro (PL), que haviam engrossado a resistência à reforma, liderada pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). O resultado dessa movimentação foi o encontro do ministro Fernando Haddad com o governador paulista, no Ministério da Fazenda. Ambos posaram para foto depois da conversa, o que sinalizou para o mercado que a reforma desceria do telhado.

Maria Cristina Fernandes - Por que a reforma tributária agora vai

Valor Econômico

Se as resistências baixaram é porque se chegou a conclusão de que afundarão todos sem a reforma

Foi preciso que São Paulo passasse a ser governado por um carioca para baixar a guarda na reforma tributária. A origem de Tarcísio de Freitas, porém, é que menos conta na história. A chave, para ficar no trocadilho da reforma em curso, é o destino.

É verdade, como tem dito o próprio governador, que todos os seus antecessores fizeram oposição às sucessivas tentativas de reforma tributária ao longo das últimas três décadas. E é fato também que nenhum deles foi bem-sucedido em suas pretensões presidenciais.

E não se trata apenas de enfrentar a imagem de um Estado de costas para o Brasil que tanto tem prejudicado candidatos paulistas à Presidência. Mas de ir contra empresários, investidores e formadores de opinião da economia nacional que, de maneira inaudita, se manifestaram pela reforma.

Vinicius Torres Freire - Petistas ausentes na tributária

Folha de S. Paulo

Governo não faz campanha nacional e política para aprovar mudança e causa ira no Congresso

O governo tem liberado ou prometido mais dinheiros a parlamentares desde o final do mês passado. Não se trata aqui de corrupção, mas de emendas ou de crédito rural, por exemplo. Vai enfim entregar as chaves do ministério do Turismo ao União Brasil. A demora ameaçava quebrar uns dedos do governo em votações do Congresso.

É esforço pela reforma tributária? Não. O Planalto e a Fazenda estão empenhados em aprovar a mudança no Carf, o tribunal administrativo dos litígios entre contribuintes e Receita, de modo que o governo volte a ter voto de desempate.

Fazenda ainda se bate pela reforma tributária. Mas ministros e assessores do Planalto e, em particular, Luiz Inácio Lula da Silva largaram a negociação da tributária na mão do Congresso e de representantes da Fazenda. No fim da quarta-feira, Alexandre Padilha, ministro de Relações Institucionais, chegou para aliviar o clima, que era de palavras impublicáveis sobre a "ala política do governo".

Felipe Salto* - Não à PEC 45!

O Estado de S. Paulo

O que se vê sobre a Mesa da Câmara é um conjunto de aberrações técnicas, econômicas e políticas reunidas num texto inconstitucional. Monstrengo precisa ser fulminado

Sou favorável aos princípios do destino, da não cumulatividade e da simplificação. Defendo-os há bastante tempo. Quando fui secretário da Fazenda e Planejamento de São Paulo, apresentei proposta de reforma tributária que começava pelo ICMS. Já o que se vê sobre a Mesa da Câmara é um conjunto de aberrações técnicas, econômicas e políticas reunidas num texto inconstitucional. O monstrengo, como tenho chamado, precisa ser fulminado enquanto há tempo.

Estão brincando com a sociedade, colocada à margem do debate pelos bastiões da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 45. Negam-se a divulgar números e detalhes básicos. É como se dissessem àqueles que ousam discutir: “parem de falar, pois estão atrapalhando; temos pressa!” Só aceitam manifestação do tipo vestir a camisa do time, soltar rojão e jogar confete e serpentina sobre a proposta. Sempre fugi do adesismo tosco, sobretudo depois de 16 anos estudando e trabalhando com contas públicas.

Roberto Macedo* - Brasil: pouca poupança e muita gastança com dívida

O Estado de S. Paulo

Em geral, países que poupam mais têm mais recursos para financiar investimentos que levam ao crescimento do PIB

De modo geral, pesquisas indicam que o brasileiro poupa muito pouco e que a poupança como porcentagem da renda aumenta com o valor desta e com o nível educacional das pessoas. Resumirei a seguir resultados de algumas pesquisas e tratarei também da gastança.

Levantamento do Banco Mundial realizado anualmente mostrou que a poupança como porcentagem do PIB em mais de cem países alcançou média de 27% em 2021, e a do Brasil ficou em 18%, caindo para 16% em 2022. Outra pesquisa, do Banco Central, em 2016, analisou não a poupança em si, mas a “capacidade financeira mensal das famílias brasileiras, isto é, se costumam ter sobra de dinheiro depois de pagar as contas e de comprar os itens básicos no mês”. A pesquisa é de 2016, mas trata-se de problema estrutural que não muda rapidamente. Ela concluiu que 45% das famílias não conseguiam gerar excedentes mensais, 37% tinham alguma sobra e apenas 18% costumavam receber mais do que gastavam regularmente, o que também é um mau resultado. E o que faziam com os excedentes, quando existiam? Reservas para imprevistos e emergências foi a razão mais citada, com 60% das respostas, enquanto 28% preferiam usar o excedente com compras supérfluas, o que demonstra a força das tentações do consumo.

Entrevista | Aloysio Nunes: ‘A democracia tem de ser um valor absoluto'

Por Vera Rosa / O Estado de S. Paulo

Ex-chanceler afirma que é preciso banir bolsonarismo do partido, critica Eduardo Leite e vê ‘grave erro político’ de Lula ao se referir à situação da Venezuela

BRASÍLIA – Primeiro tucano a defender o apoio a Luiz Inácio Lula da Silva na eleição, o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira diz ver com tristeza a “agonia” do PSDB, que governou o País duas vezes, com Fernando Henrique Cardoso, e completou 35 anos no mês passado. “O PSDB, hoje, não é confiável nem para oposição. Não é nada”, afirma o ex-ministro das Relações Exteriores.

Na avaliação de Aloysio, a cúpula do PSDB faz a “leitura errada” do quadro político e não consegue nem mesmo discutir assuntos de interesse do País. “Para meu espanto, li a notícia de que o PSDB contratou uma influencer para definir o programa do partido. É um absurdo”, criticou ele.

Apesar de ter apoiado Lula, o ex-chanceler acha que o presidente cometeu “grave erro político” ao afagar o venezuelano Nicolás Maduro. “Na Venezuela, a imprensa não é livre, as eleições não são livres, a oposição é reprimida, o Judiciário é controlado. Se isso não é ditadura, o que é?”, questionou.

O PSDB acabou de completar 35 anos, mas agora em sua maior crise. Perdeu o governo de São Paulo, tem sua menor representação no Congresso e enfrenta debandada de prefeitos. Por que o PSDB faliu?

Essa crise não aconteceu de repente: foi preparada por quatro anos de ausência absoluta de oposição que um partido social democrata teria o dever de fazer a um governo que foi autoritário, reacionário e regressivo do ponto de vista social e ambiental. O PSDB não só não fez oposição como em muitos momentos apoiou algumas das medidas mais nefastas do governo Bolsonaro.

Como o sr. define o PSDB hoje: é um partido de centro ou de direita?

É um partido de direita. Está na mesma confusão entre vazio político, clientelismo e distanciamento da base social, assim como outros partidos que povoam esse campo da direita. Com um agravante: o que os líderes do PSDB falam não é ouvido. Se é que alguém fala alguma coisa.

IEPfD |Para que Serve a Política? Aula 2 – Cursos de Formação Política com Marco Aurélio Nogueira

 

IEPfD |Para que Serve a Política? Aula 3 – Cursos de Formação Política com Marco Aurélio Nogueira

 

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Ata do Fed justifica juros mais altos e não pausa

Valor Econômico

A pausa confusa do Fed não elimina o fato de que o ciclo de alta dos juros está perto do fim

A ata da reunião do Federal Reserve americano indicou que os juros continuarão subindo nos Estados Unidos e não esclarece a misteriosa decisão por uma pausa nas altas tomada em junho. A análise das condições econômicas pelo staff do Fed e pelos membros do comitê de mercado aberto, que decide o rumo dos juros, aponta sem deixar muita margem a dúvidas que a inflação continua resistente e bem mais alta que a meta de 2%, que o mercado de trabalho segue vigoroso e que a economia, ainda que em “passo moderado”, mantém um ritmo que não parece compatível com a diminuição do nível de preços.

A comparação fria do comportamento da inflação entre as duas atas mostra que não houve melhoria significativa. A da reunião de maio aponta que o índice de gastos pessoais do consumo (PCE) nos doze meses encerrados em março foi de 4,2% e o findo em abril, de 4,4%. O núcleo desse índice, a medida preferida pelo Fed, evoluiu de 4,6% antes para 4,7% agora. A rigor, esses índices estão na mesma posição que estavam em janeiro, apesar das variações mensais. Da mesma forma, a evolução do pagamento médio por hora trabalhada, um dos indicadores de pressão inflacionária e da situação do mercado de trabalho, subiu de 4,2% para 4,3% entre uma alta e outra. O desemprego aumentou um pouco, de 3,5% para 3,7%, mas praticamente não aliviou a escassez de mão de obra.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - Os ombros suportam o mundo

 

Música | Zeca Pagodinho - Caviar