sábado, 10 de abril de 2010

PT: o passado condena:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Os que especulam sobre o significado da não reação do ex-governador Aécio Neves ao comentário da candidata oficial, Dilma Rousseff, de estímulo à chapa Dilmasia um voto híbrido nela para presidente da República e no candidato a governador Antonio Anastasia, do PSDB , querendo perceber uma sutil admissão de Aécio à cristianização do candidato tucano, José Serra, em Minas, não perdem por esperar.

O discurso do ex-governador mineiro hoje, no evento que marcará em Brasília o lançamento da candidatura de Serra à Presidência da República, será uma inequívoca tomada de posição.

Mais que isso, será uma definição de linha de ação política do PSDB, um ataque frontal ao passado do PT e um assumido orgulho do passado do partido tucano.

Sobre a passagem de Dilma por Minas, o ex-governador Aécio Neves lembra que seu avô Tancredo dizia que, em uma campanha eleitoral, há lugares em que é melhor não ir do que ir e ter problemas.

Foi o que aconteceu com a candidata oficial, Dilma Rousseff, ao visitar São João Del Rei. Se fosse lá e não visitasse o túmulo de Tancredo, seria acusada de mais uma vez estar desdenhando o grande líder político mineiro.

Indo, provocou a ira dos próprios mineiros, pois o PT não apenas não apoiou Tancredo no Colégio Eleitoral, em 1985, como expulsou os seus três deputados federais que o fizeram à revelia do partido.

Para exemplificar o repúdio mineiro à atitude de Dilma, basta ler o título do artigo semanal que o ex-senador Murilo Badaró escreve: A profanação do túmulo de Tancredo.

Dilma já havia confundido anteriormente Governador Valadares com Juiz de Fora, demonstrando que sua mineiridade não está muito em dia.

Quando, desta vez, caiu na armadilha ao defender a chapa Dilmasia, prestou dois serviços aos adversários políticos: desprezou o PT e o PMDB mineiros, que ainda se digladiam para ver quem dará o candidato a governador, e deu a chancela de que a candidatura de Antonio Anastasia é uma opção tão viável que ela admite cristianizar seus candidatos para receber o apoio do ex-governador Aécio Neves, o grande líder político atualmente em Minas.

O ex governador não quis reagir pessoalmente à ida de Dilma ao túmulo de seu avô para não dar um cunho meramente pessoal e familiar ao comentário, mas foi consultado pelo senador Sérgio Guerra sobre a nota que os partidos de oposição divulgaram.

Vai aproveitar o discurso de amanhã para tirar da frente os fantasmas do constrangimento.

Aécio vai dizer claramente que nós temos que ter orgulho enorme do que fizemos, e definirá com clareza e coragem o que considera uma verdade política: não teria havido o governo do presidente Lula se não tivesse havido o governo Fernando Henrique.

Isso é real, é claro, e o maior avalista disto é o próprio Lula, que manteve intacta a política econômica do Fernando Henrique.

Para Aécio, quem diz da importância do governo de Fernando Henrique é Lula, mais do que qualquer outro. O ex-governador mineiro lembrará que, apesar das pressões do PT no início do governo, o Palocci, com o aval do Lula, manteve intacta a política econômica.

Aécio defenderá que o debate na campanha deve ser sobre o futuro e o presente, mas pretende ressaltar que é fundamental que se debata também o passado.

O PT quer circunscrever o seu passado aos oito anos do governo Lula, ressalta Aécio, negando validade a essa estratégia. Sorte nossa que o PT não era um partido expressivo naquela época. Se prevalecessem as ideias do PT, teríamos adiado o processo de redemocratização, poderíamos ter de novo um retrocesso institucional na saída do Collor, com o Itamar sem qualquer apoio, não teríamos uma Constituição.

O tema central da fala de Aécio será o passado condena o PT.

Ele diz que, na campanha, o PSDB vai falar das privatizações, da Lei de Responsabilidade Fiscal, do próprio Plano Real, de tudo o que foi feito com a raivosa oposição deles.

O próprio Lula já reconheceu que, se fosse eleito em 1989, seria uma tragédia, pois não estava preparado para governar o país. E será que a Dilma está preparada? A Dilma hoje não é o Lula de 89?, pergunta Aécio.

Para o ex-governador mineiro, o governo de Fernando Henrique Cardoso foi um governo respeitável, mesmo quem não tem saudades respeita, independentemente do que o PT fez com egoísmo durante esses 25 anos.

Ele define o PT como beneficiário da nossa responsabilidade e da nossa visão de país, porque, ao contrário da gente, o PT sempre colocou o seu projeto partidário acima do projeto do país em todos esses momentos.

Aécio Neves relembra que, para o PT, valia sempre a lógica do que era melhor para o partido. Não era bom se misturar conosco no Colégio Eleitoral, dane-se o resultado; não era bom apoiar o Itamar porque o Lula vem aí, dane-se o Brasil.

O ex-governador mineiro diz que está na hora de levantar a cabeça e partir para cima. Ele vai lembrar que foi candidato a candidato a presidente da República ano passado e sempre dizia que a unidade era a grande força, o mais vigoroso instrumento para ganhar a eleição.

Aécio diz que, no momento em que notou que o partido ia em outra direção, fez o mais importante gesto a favor da unidade quando anunciou que seu candidato era o Serra: Eu tenho compromisso com o partido e com o país, quero encerrar esse ciclo petista. Acho que tenho autoridade moral para dizer isso, finaliza.

Este é o espírito com que o ex-governador mineiro discursará hoje no lançamento da candidatura de José Serra à Presidência da República.

Uma tomada de posição sem dar margem a dúvidas.

E agora, José?:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pronto. Como queriam oposicionistas de todos os costados, o tucano José Serra anuncia hoje que é candidato à Presidência da República e põe fim ao longo período de cobranças em que dificuldades da oposição e êxitos dos adversários eram postos no mesmo balaio e atribuídos à indefinição da candidatura.

Removido o obstáculo ? real em muitos casos; em outros, mera fumaça ? começa agora o mais difícil: a construção da candidatura, a articulação das alianças regionais, o grau de prioridade que partidos e personagens, principalmente os do PSDB, emprestarão ao projeto nacional, o índice de fidelidade à candidatura presidencial, o empenho a que se disporão ao trabalho e as escolhas que farão conveniências pessoais e o interesse partidário de representação de um campo de pensamento diferente do que está atualmente no poder.

Certo ou errado, o PT fez sua opção claríssima: apostou tudo na presidencial. Dos Estados importantes onde não disputa a reeleição, só concorre no Rio Grande do Sul e insiste na candidatura em Minas Gerais.

No restante do País, abriu mão de eleger governadores, o que significa também se arriscar a reduzir as bancadas no Congresso, para investir na eleição de Dilma Rousseff. E ponto final, sem questionamentos.

Evidentemente que o PSDB sendo um partido de ações, conformação e personagens diferentes, não tem a obrigação de imitar o adversário. A citação ao PT serve só como referência.

No que concerne aos tucanos e área de influência, é de se conferir se a realidade das ações políticas corresponderá à ansiedade das cobranças para a definição da candidatura de José Serra, porque nas duas eleições presidenciais anteriores, 2002 e 2006, o desacerto e a inaptidão foram notáveis.

De parte a parte. Do candidato, das campanhas, dos aliados e vice-versa. Ninguém falava a mesma linguagem. Em 2006, havia Estados, como Pernambuco, onde Geraldo Alckmin nem sequer contava com estrutura de campanha. Em 2002, José Serra conseguiu se coligar oficialmente com o PMDB ? sua vice foi Rita Camata ?, mas várias seções do partido se aliaram a Lula. Isso sem falar nas defecções explícitas dentro do PSDB, que se repetiram em 2006.

Se a desordem se repetir, não adianta definição de candidatura, qualidade de candidato nem a evidente desvantagem comparativa da adversária. Campanha, óbvio, é um todo. Leva quem revela aptidão para a vitória. Muito mais que qualificação para governar.

Dilma Rousseff não é do ramo. Mas o partido dela é craque e o chefe, então, nem se fala.

José Serra, nem os adversários negam, preparou-se a vida toda para a Presidência. Mas o partido dele até agora só ganhou como copiloto do Plano Real. No comando, perdeu as duas eleições nacionais que disputou. E por demérito próprio.

Tem agora a chance de mostrar se oito anos na oposição lhe deram disciplina e senso de direção ou se de novo prefere se dispersar nas lides da picuinha rumo a quatro anos, talvez oito, quiçá 16 anos de ostracismo.

Reparo. Depois de rever a descortesia de "esconder" Fernando Henrique Cardoso da campanha e incluir o ex-presidente na lista de oradores do ato de lançamento da candidatura de José Serra hoje, em Brasília, PSDB e aliados resolveram que não bastava.

FH será alvo de homenagens e citações nos pronunciamentos.

Programáticos. Os presidentes dos dois partidos da aliança com o PSDB, DEM e PPS, preparavam para hoje discursos com as propostas que as duas legendas gostariam de ver incluídas no programa de governo de Serra, que, no entanto, só deverá ser apresentado na convenção oficial do PSDB em junho.

Rodrigo Maia (DEM) e Roberto Freire (PPS) decidiram antecipar suas propostas porque é a chance de que elas ganhem algum destaque para debate, pois em junho a atenção será toda do programa do candidato.

O discurso de Serra hoje será mais conceitual, na linha do pronunciamento feito na despedida do governo de São Paulo.

Eu quero é botar meu bloco na rua - Simone

Serra será lançado hoje com defesa da ética

DEU EM O GLOBO

Festa tucana terá Aécio e FH, além de partidos aliados, e evitará confronto com a pré-candidata do PT e Lula

Adriana Vasconcelos e Flávio Freire*

BRASÍLIA. Numa festa preparada para 4 mil pessoas e orçada em R$ 560 mil, José Serra (PSDB) retoma hoje, no lançamento de sua pré-campanha à Presidência, em Brasília, o discurso de que a política deve ser feita com honra e caráter, como fez quando se despediu do governo de São Paulo, semana passada.

Após amplo debate com a direção nacional do partido, que considera a bandeira da ética uma demanda nacional, Serra vai ressaltar a tese de que, mais importante que fazer uma comparação entre governos, o eleitor precisa é ficar de olho na ficha de cada candidato.

Serra não pretende entrar em confronto com a pré-candidata petista, Dilma Rousseff, tampouco com o governo do presidente Lula, ao menos nessa reta inicial da campanha. O evento, que acontece num auditório e será transmitido simultaneamente para outros dois espaços na área hoteleira da cidade, foi pensado ao longo da semana para que não se dê margens para a infiltração da adversária na festa. Em princípio, referências nominais aos adversários devem ser evitadas.

A ideia é mostrar unidade em torno de Serra. Para isso, os tucanos não pouparam esforço.

Pelos salões foram espalhados telões de alta definição e TVs para registrar cada detalhe. Só de São Paulo chegarão mil pessoas.

O PSDB bancou passagem e hospedagem para 2,5 mil correligionários.

Mais de 300 pessoas formam o exército de funcionários que cuidarão da festa.

Os mesmos marqueteiros da campanha presidencial de 2002 participaram da organização.

Para evitar o molde padrão de eventos políticos, não haverá palanque nem mesa de autoridades.

Apenas um púlpito, e os principais convidados ficarão em cadeiras logo à frente.

FH vai abrir evento do PSDB

Em resposta à provocação petista, a direção do PSDB decidiu que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso abrirá a série de discursos. O PT dizia que tucanos tentavam escondê-lo, sob pretexto de evitar comparações entre governos. Logo depois, falam os presidentes dos partidos: Sérgio Guerra (PSDB), Rodrigo Maia (DEM) e Roberto Freire (PPS). Ontem à noite, buscava-se uma prefeita para falar em nome dos prefeitos do país.

Serra acompanhará os discursos nos bastidores. Só entra no local duas horas depois de começado o evento, minutos após o vídeo de seis minutos que contará sua trajetória política.

Com canhão de luz em sua direção, ele atravessará a plateia até o púlpito. Deve falar por, no mínimo, uma hora. A mulher do ex governador, Mônica, e os dois filhos, Verônica e Luciano, estarão na primeira fila.

A modelo-atriz-apresentadora Ana Hickmann fará as vezes de mestre de cerimônia. Mensagens recebidas pelo Twitter de Serra serão transmitidas ao vivo nos telões, cuidadosamente editadas.

Assim como, politicamente, a estratégia é não dar voz aos adversários, o partido quer também evitar constrangimentos no ninho tucano. A direção proibiu que correligionários façam manifestações para que Aécio Neves assuma a condição de vice. Faixas e cartazes pró-chapa puro sangue serão vetadas.

Nenhum tucano está autorizado a fazer pressão para que o Aécio seja vice diz o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

Aécio dará demonstração de que a relação com Serra anda de vento em popa. Mandou para o auditório dois painéis de apoio ao tucano: Nas montanhas de Minas, o caminho é Serra.

* Enviado especial a Brasília

Aécio sugere, e Serra se mostrará como 'pós-Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O tucano José Serra vai lançar hoje a sua pré-candidatura ao Planalto reforçando o discurso de que disputará a eleição na condição de candidato pós-Lula. Na prática, Serra vai incorporar a ideia defendida pelo colega de Minas, Aécio Neves, em abril do ano passado, de que a campanha não pode ser contra Lula e anti-Dilma Rousseff, a pré-candidata do PT. Na festa em Brasília, Serra vai se apresentar como a alternativa mais qualificada para levar o País a avançar, fazendo melhor.

Serra adota tese de Aécio e se lança hoje como candidato do pós-Lula

Ana Paula Scinocca, Christiane Samarco, Julia Duailibi

BRASÍLIA - Ex-governador de São Paulo, o tucano José Serra vai lançar hoje a sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto, assumindo e reforçando o discurso de que vai disputar as eleições de outubro próximo na condição de "candidato pós-Lula". A estratégia é assumir o continuísmo, mas criticar a ideia de que o Brasil só começou a melhorar a partir de 2003.

Na prática, Serra vai incorporar a tese defendida pelo colega de Minas, Aécio Neves, em abril do ano passado, de que a campanha não pode ser contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e anti-Dilma Rousseff, a pré-candidata do PT à Presidência.

Hoje, no encontro organizado pela oposição, em Brasília, Serra vai se apresentar como alternativa "mais preparada e qualificada" para que o País "avance mais, fazendo melhor". Isso vai permitir que o tucano fuja da armadilha da eleição plebiscitária defendida por Lula, que deseja comparar seu governo ao de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Serra dará largada à corrida sucessória repetindo o conceito do "Brasil pode mais", bordão já usado dez dias atrás, na despedida do governo de São Paulo. Vai propor um governo sem ruptura e com evolução. Ao se apresentar como candidato da continuidade ele quer centrar a disputa em Dilma, tirando Lula dos debates.

No lançamento de Serra estarão presentes correligionários e aliados de pelo menos cinco partidos - DEM, PPS, PTB, PSC e PMDB. O patrocínio da festa ficará por conta do trio que compõe a aliança oposicionista: PSDB, DEM e PPS. Os três partidos organizaram um encontro nacional para não afrontar a Lei Eleitoral, que proíbe campanha antes das convenções de junho, que vão oficializar os candidatos.

No discurso, para cerca de 3 mil lideranças políticas e militantes de todo o País, Serra vai bater na tecla de que o Brasil avançou nos últimos anos, mas as conquistas não foram de um governo, e sim da sociedade como um todo.

O pré-candidato do PSDB não pretende negar os avanços obtidos pelo governo Lula - avanços que dão sustentação à alta popularidade do presidente, em especial entre à população de baixa renda. Mas tudo será trabalhado na perspectiva de que as conquistas começaram antes de 2003, quando o PT chegou ao poder.

Sem críticas ao presidente Lula e sem citar a petista Dilma, Serra vai deixar claro que os avanços são um processo. Começaram, dirá ele, com a redemocratização no governo José Sarney (1985-1990), com a abertura da economia promovida por Fernando Collor (1990-1992) e o Real de Itamar Franco (1992-1994) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), passando pelas privatizações.

O tucano vai se colocar como o candidato da Nova República, que começou com o presidente Tancredo Neves, sem a participação do PT, em 1985. E falará de sua biografia, que a oposição acredita ser o "grande trunfo do candidato tucano" no confronto com Dilma.

Sem se alongar sobre sua passagem pelo Ministério da Saúde, pela Prefeitura de São Paulo e pelo governo paulista, alguns programas vitoriosos serão lembrados como vitrines que podem ser ampliadas.

Quando disser o que deseja para o Brasil, ele vai focar no desenvolvimento - como em seu discurso de posse no governo paulista em 2007, Serra voltará à ideia do "Estado ativo", propondo-se a fazer um governo em que a máquina pública focada na gestão eficiente, que elimine a gastança, é a principal indutora do crescimento.

Discursos programados para o evento de hoje

10H30
O primeiro a discursar será Fernando Henrique

11H10
Roberto Freire, do PPS

11H20
Rodrigo Maia, do DEM

11H30
Sérgio Guerra, presidente do PSDB

11H45
O ex-governador de Minas, Aécio Neves

12 HORAS
O presidenciável José Serra inicia discurso

Da feira à política em oito minutos

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Vídeo a ser exibido durante encontro vai reforçar estratégia de comparar biografias de Serra e Dilma

BRASÍLIA – Um vídeo com a trajetória política e a vida de José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência da República, será exibido hoje na festa que o partido organiza para a apresentação do nome do tucano na disputa pelo Palácio do Planalto.

A iniciativa dá sustentação a uma das principais estratégias da oposição para a campanha presidencial deste ano: a comparação das biografias de Serra e de sua principal adversária, a ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff (PT).

A ideia é mostrar desde o nascimento de Serra, filho de feirantes, que viveu na Mooca, bairro da zona leste de São Paulo, até seus cargos e realizações como político.

Filho único de Francesco e Serafina, imigrantes italianos, Serra foi criado cercado por mulheres. Sua maior referência afetiva na infância foi a avó materna, Carmela, de ascendência calabresa nascida na Argentina.

Mercado Municipal. Seus pais tinham uma barraca de frutas no Mercado Municipal da Cantareira. O pai queria que Serra ajudasse na feira, mas a mãe insistiu que ele estudasse.

Iniciativas tomadas à frente do Ministério da Saúde, como a criação dos genéricos, os mutirões e a articulação para a quebra das patentes dos remédios de combate à aids, vão ser exploradas.
Depoimentos de pessoas beneficiadas por esses programas serão exibidos nos telões do Centro de Eventos Brasil 21, em Brasília, local escolhido para a festa. O ingresso na vida política aos 21 anos, quando foi eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), também vai merecer destaque no filme.

O vídeo, com oito minutos de duração, foi elaborado pela equipe do jornalista Luiz Gonzalez, provável marqueteiro da campanha, e vai contar ainda com depoimentos da Mônica Serra, mulher do ex-governador, e da filha Verônica. Os netos Antonio, Gabriela e Francisco também vão aparecer. Já o filho Luciano, mais discreto, e a xodó de Serra, a tia Carmelita, devem ficar de fora.

Emoção. Quem assistiu ao filme disse ontem que ele foi elaborado com o objetivo de emocionar as pessoas.

O comando do PSDB preparou uma festa para 3 mil pessoas, mas ontem a expectativa era de que perto de 4 mil comparecessem ao evento. Foram instalados quatro telões e 20 TVs de plasma em salões anexos ao principal. / A.P.S., C.S. e J.D.

Tucanos põem FHC na vitrine em evento

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A princípio ele não discursaria, mas partido avaliou que "escondê-lo" municiaria rivais

Ana Paula Scinocca, Christiane Samarco, Julia Duailibi

BRASÍLIA – O presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, foi escolhido para abrir os discursos na festa do partido para o lançamento da pré-candidatura de José Serra à Presidência, hoje em Brasília. Para fazer a corte ao ex-governador Aécio Neves (MG), vice dos sonhos na chapa de José Serra, será dele o último discurso antes da fala do pré-candidato.

Como manda a praxe política, a ordem dos oradores é sempre crescente. Mas Fernando Henrique funcionará como uma espécie de cicerone do encontro e dará a palavra aos presidentes das três legendas que integram a coligação da campanha oposicionista: Roberto Freire, pelo PPS, Rodrigo Maia, pelo DEM, e Sérgio Guerra, pelo PSDB. O ex-presidente, que inicialmente não falaria na cerimônia, vai discursar após avaliação interna de que "escondê-lo" daria munição ao argumento dos adversários.

A chegada de Serra deve ter um toque triunfal, ao contrário do que o próprio pré-candidato queria no começo. Cauteloso, ele havia planejado uma festa mais discreta. Não queria que o evento tivesse cara de show e também pediu que não se usasse música. Mas foi convencido pelos caciques do PSDB e dos partidos aliados da necessidade de um evento de maior visibilidade, até para fazer um contraponto ao lançamento da pré-candidatura da principal adversária, a ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff (PT), em fevereiro.

Para a formatação do evento, foi contratada a empresa Mix Brand Experience, que faz cerimônias para bancos e empresas. A modelo e apresentadora de TV Ana Hickmann foi escalada como mestre de cerimônias da festa, que vai ser realizada no Centro de Convenções Brasil 21.

Enxuto. A orientação dada pelos organizadores foi de que os discursos não ultrapassassem dez minutos ? o único a se estender será o do pré-candidato, que deve durar quase uma hora. Marcada para começar às 9 horas, a cerimônia, que oficialmente vem sendo chamada de Encontro dos Partidos ? sugestão aceita pelos organizadores para não haver problemas com a Justiça Eleitoral (oficialmente a campanha começa só em julho) ?, só contará com a presença de Serra depois do meio-dia.

Ontem pela manhã, Serra pessoalmente pediu ajustes na organização da festa. Exigiu acessibilidade a deficientes físicos à plateia e a contratação de profissional que faça linguagem de sinais para que deficientes auditivos tenham acesso ao seu discurso.

A expectativa inicial dos tucanos era reunir 2 mil pessoas, mas ontem já se falava em um público perto de 3 mil participantes. Orçada em R$ 500 mil, a cerimônia vai ser transmitida em quatro telões e 20 TVs de plasma espalhadas por salões anexos ao principal do centro de eventos.

PSDB aposta em prefeita negra de olho no popular

DEU EM O ESTDO DE S. PAULO

A apresentadora Ana Hickmann não será a única estrela feminina na festa dos tucanos de hoje. Para falar em nome das mulheres do partido, o PSDB convidou Judite Botafogo , prefeita de Lagoa do Carro (PE). Negra, ela fala direto ao eleitor feminino e de baixa renda. Encaixa-se no figurino que acabou por se tornar caro numa eleição onde haverá Marina Silva e Dilma Rousseff como adversárias do PSDB.

A prefeita tucana não faz parte dos quadros tradicionais do partido, mas aparece como um símbolo importante numa eleição em que os tucanos se esforçarão em mostrar que sabem fazer um "governo popular", segundo expressão usada pelo ex-governador José Serra em sua despedida do Palácio dos Bandeirantes.

A tucana foi convidada para o evento apenas na tarde de ontem. A presença dela como oradora, no entanto, ainda dependia da aprovação de Serra. O partido tratou a questão com discrição para não causar ciúme em outras tucanas que, mais engatadas na máquina partidária, não foram chamadas para discursar.

Não é a primeira vez que Judite é convidada para estrelar um evento do partido. Em 2009, quando Serra foi ao Recife encontrar o ex-governador de Minas Aécio Neves, que naquela ocasião ainda sustentava o seu nome como pré-candidato ao Planalto, a prefeita foi chamada. Judite Botafogo, primeira prefeita negra eleita em Pernambuco, é professora universitária e tem mestrado e doutorado em Teoria da Literatura. / A.P.S, C.S. E J.D.

Serra deve alfinetar Dilma em discurso

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

No lançamento da pré-candidatura, tucano vai destacar 10 tópicos do programa de governo, entre eles saúde e educação

Fala, apesar de não citar a petista, vai tentar explorar pontos desconfortáveis a ela, como economia verde como opção a desenvolvimento

Catia Seabra
Silvio Navarro
Enviados especiais a Brasília
Andreza Matais
Da sucursal de Brasília

Disposto a insistir no lema o "Brasil pode mais", o tucano José Serra exaltará hoje, no discurso de lançamento de sua pré-candidatura à Presidência da República, temas desconfortáveis para a sua adversária petista, Dilma Rousseff.

Segundo aliados, Serra não citará o nome da ex-ministra e recomendou até que ela fosse poupada de ataques na cerimônia, a ser realizada em Brasília.

No discurso, o tucano apresentará cerca de dez tópicos para o programa de governo, entre eles saúde e educação. A interlocutores Serra afirmou que sua fala "não será defensiva nem agressiva". A exemplo de sua despedida do governo de São Paulo, persistirá na defesa de valores e princípios.

Mas, apesar da promessa de delicadeza das palavras -num discurso "que jogue para frente" e com direito a nova citação de Guimarães Rosa-, Serra tentará imprimir na agenda política pontos que, para tucanos, seriam de maior vulnerabilidade no campo adversário. Além da defesa de respeito a instituições, ele deve pregar, por exemplo, a economia verde como caminho para o crescimento.

À frente da Casa Civil, Dilma teve embates com a ex-ministra do Meio Ambiente e pré-candidata do PV, Marina Silva. "Serra apostou, no governo, na economia verde", afirmou o futuro coordenador de programa de Serra, Xico Graziano.

Diante de 3.000 convidados, o tucano deverá investir dados da sua biografia -entre eles, a criação do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), a aposta na qualidade de ensino e o programa de combate à Aids -como garantia de que o Brasil pode crescer mais.

Num contraponto a Dilma, deve defender investimentos em infraestrutura e a competitividade do produto brasileiro -leia-se câmbio- como condições para o crescimento.

Serra deverá ressaltar ainda o papel do presidente Tancredo Neves para a redemocratização. Segundo tucanos, a ideia é mostrar que o PT encontrou a democracia consolidada e a inflação sob controle em 2003. E que, asseguradas essas condições, o potencial de crescimento do Brasil, em relação a vizinhos, poderia ser maior. Além disso, a menção de Tancredo toca na controvérsia da semana: a visita de Dilma a seu túmulo, embora o PT não tenha apoiado sua eleição.

O ex-presidente Fernando Henrique foi escalado para abrir o evento, e a fala do ex-governador Aécio Neves (MG) antecederá a de Serra -após o discurso, será exibido em telões o Twitter de Serra.

O prédio alugado para a festa foi todo enfeitado com painéis que têm fotos de Serra e Aécio. Um desavisado poderia pensar que o candidato é o mineiro.

Acompanhe a partir das 9h a cobertura em tempo real do evento tucano

Em MG, Marina faz crítica velada a Dilma por fala "oportunista"

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Questionada se defenderia o voto "Marina-Anastasia", como a petista apoiou o "Anastadilma", senadora diz que "eleitor é livre"

Pré-candidata do PV citou o mensalão do PT durante entrevista e afirmou esperar que a "minoria que cometeu erro" seja responsabilizada

Paulo Peixoto

BELO HORIZONTE - A pré-candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, visitou ontem Minas Gerais e alfinetou sua concorrente Dilma Rousseff (PT), dizendo que não faz "discurso oportunista e de conveniência".

A crítica, embora não nominal, foi ao fato de Dilma, ao visitar Minas dois dias antes de Marina, ter defendido o voto do eleitor mineiro na sua candidatura à Presidência e na de Antonio Anastasia (PSDB) para o governo de Minas, uma espécie de "dobradinha" PT-PSDB, apelidada de "Anastadilma".

Ontem, Marina foi indagada se iria defender o voto "Marina-Anastasia". "Eu não faço discurso oportunista, de conveniência", respondeu Marina.

"O eleitor é livre, ele faz a junção que quiser", afirmou.

Ela disse que o PV terá um candidato ao governo de Minas, o deputado federal José Fernando Aparecido de Oliveira.

Marina também criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ele ter dito que juiz não deve interferir no debate eleitoral. "Vi com preocupação", disse a senadora."A necessária reforma política que nós precisamos fazer não é para colocar os políticos acima da Justiça. Aliás, é para ajudar a colocar a política nos trilhos da justiça econômica, social e da ética", disse ela.

"Em função da ausência da reforma, os partidos viraram máquinas de ganhar eleição. É só ver o que aconteceu no Congresso", acrescentou, referindo-se ao mensalão do PT.Marina já havia citado o mensalão na entrevista que dera horas antes à rádio Itatiaia.

Ao explicar sua saída do PT, disse que foi "uma minoria que cometeu erro" e que espera que as pessoas que participaram do esquema para apoiar o governo em troca de dinheiro sejam "responsabilizadas".

Ela também pregou uma campanha sem "embate". Repudiou uma "campanha de currículos" entre seus adversários Dilma e José Serra (PSDB), dizendo que o país não precisa de "gerentes". "O Brasil precisa se dispor ao debate", afirmou.

Na sua pré-campanha por Minas, onde participou de eventos do PV-MG , Marina também fez críticas ao valor baixo do royalty do minério.

Ainda na entrevista à rádio, ela se colocou contra o aborto, mas disse que não condena quem defende o direito de a mulher abortar. Afirmou que, tanto sobre essa questão quanto sobre a descriminalização da maconha, um plebiscito poderia ampliar os debates e permitir a decisão pela população.

Stravinsky - Firebird (suite 1919) part 1

Orquestra Sinfônica de Moscou, direção do maestro Arthur Arnold.


Ele está tentando fazer chacota da decisão da Justiça

DEU EM O GLOBO

MOZART VALADARES BRITO, PRESIDENTE DA AMB

SÃO PAULO. O presidente da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), Mozart Valadares Brito, criticou ontem o presidente Lula por suas declarações sobre a Justiça Eleitoral. Valadares Brito afirmou que Lula dá dois maus exemplos aos brasileiros, quando usa a máquina pública para propaganda eleitoral e quando ironiza o TSE. Mais cedo, em nota à imprensa, Valadares Brito havia afirmado que Lula não pode utilizar a máquina pública para pedir votos nem favorecer sua candidata.

Tatiana Farah

O GLOBO: Como o senhor avalia as declarações do presidente Lula?

MOZART VALADARES BRITO: Ele está dando um mau exemplo quando, no exercício do cargo, usa a máquina para apoiar sua candidata e outro mau exemplo quando tenta desqualificar a Justiça Eleitoral.

O presidente não compreendeu bem que seu cargo não lhe dá o direito de estar acima da legislação, de desobedecer à lei. Todos os cidadãos, o presidente da Câmara, o presidente do Senado, o presidente da República têm de de obedecer à legislação eleitoral.

O presidente está desafiando a Justiça?

BRITO: Não, não acho que ele esteja desafiando. Não vejo crise institucional entre os poderes. Mas foi uma declaração infeliz.

Em Osasco, o presidente perguntou ao público quem pagaria a multa do TSE (a primeira, de R$ 5 mil). As pessoas ergueram o braço dizendo que sim, que pagariam...

BRITO: Este é o mau exemplo: quando ele se comporta com essa ironia, esse linguajar sobre a Justiça Eleitoral.

Ele pode ser punido pelo TSE por esse comportamento?

BRITO: Não há sanção contra essas ironias. Todos temos o direito à opinião. A sanção é moral. Nesse caso, o presidente não está ofendendo nenhum magistrado, mas está tentando fazer chacota da decisão da Justiça. O TSE merece todo o respeito, tem dado uma lição de vigilância. Já cassou o mandato de dois governadores por propaganda e multou até o presidente da República.

O presidente recebeu duas multas, uma de R$ 5 mil e outra de R$ 10 mil. O senhor acha que os valores deveriam ser maiores?

BRITO: Só a aplicação da penalidade já é um exemplo. As multas seguem a lei eleitoral e, quanto aos valores, poderia se discutir a alteração da lei.

O presidente Lula afirmou que, ao sair do governo, vai gritar para fazer a reforma política. O senhor acha que ele fará isso?

BRITO: O presidente teve oito anos de governo, com uma base parlamentar, para fazer a reforma política e não a fez. Acho difícil que queira fazê-la depois. A reforma política é necessária, mas ainda não foi feita porque a população não se deu conta dos benefícios que terá com a reforma, com o fim do caixa dois de campanha e dos partidos de aluguel. E, sem a pressão popular, os políticos não a fazem porque não lhes interessa.

Sonho lulista

DEU EM O GLOBO

POSSUÍDO DE rara ansiedade eleitoral, ávido na defesa de sua candidata, Lula continua sem entender seus limites institucionais.

JÁ MULTADO por esta razão, o presidente, em mais um transe de campanha, defendeu uma reforma política que limite o poder da Justiça Eleitoral sobre os candidatos.

MAS SERÁ preciso mais que uma reforma política. Como, no regime republicano, qualquer cidadão está subordinado ao Poder Judiciário, o sonho de Lula, para ser realizado, passa pela mudança do próprio regime.

Para um muito pior, de estilo autocrático.

Juízes reagem a Lula

DEU EM O GLOBO

Já ministro da Justiça e assessor dizem que presidente só defendeu reforma política

Maria Lima, Isabel Braga e Luiza Damé

BRASÍLIA e RIO - A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação de Magistrados do Brasil reagiram ontem às reclamações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a Justiça Eleitoral e endossaram as críticas do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, às constantes queixas de Lula contra a aplicação da legislação eleitoral. Lula, condenado ao pagamento de duas multas por campanha antecipada para a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, disse anteontem no congresso do PCdoB que não podemos ficar subordinados ao que um juiz diz que podemos ou não fazer, defendendo uma reforma política.

Fernando Cesar Baptista de Mattos, presidente da Ajufe, classificou de inaceitáveis as declarações de Lula.

Em nota, lembrou que, no passado, Lula recorreu várias vezes à Justiça e teve seus pleitos reconhecidos para reparar danos. E que agora, ao ser punido, reclama.

Toda decisão judicial agrada a uma das partes do processo e desagrada à outra.

Isso faz parte da democracia. Tantas vezes, o então candidato, e agora chefe do Poder Executivo recorreu e teve seus pedidos acolhidos pelo Poder Judiciário, diz a nota. Os juízes não esperaram elogios por isso, porque estavam cumprindo seu papel, decidindo com independência, de acordo com a Constituição, as leis e as provas apresentadas.

Mattos citou a advertência feita pelo presidente do STF, de que Lula não deveria fazer brincadeiras com a Justiça, e disse que o presidente da República deveria ser o primeiro cidadão a defender o cumprimento da Constituição Federal e das decisões judiciais.

Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes reiterou que todos os brasileiros estão sujeitos às leis: Todos nós estamos subordinados à lei e à Constituição disse.

Sobre a declaração de Lula no congresso do PCdoB, disse: Não temos soberanos no Brasil.

Aqui todos estão submetidos à lei.

Quando haja algum eventual equívoco numa decisão judicial, dela se deve recorrer.

É muito simples.

O presidente do TSE, ministro Carlos Ayres Brito, disse: Pessoalmente não me enxergo na frase, nem estou achando que foi endereçada à Justiça Eleitoral.

O Palácio do Planalto não comentou as reações. Já o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, e o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia saíram em defesa de Lula. Para Barreto, o presidente está certo: a legislação tem de ser clara para ser cumprida. Para Marco Aurélio, Lula não criticou a Justiça, mas defendeu a reforma política.

Ao defender Lula, o assessor atacou o ministro Gilmar Mendes. Marco Aurélio Garcia disse que o ministro deveria falar menos nos microfones e mais nos autos dos processos no STF.

O presidente da Corte Suprema deve falar mais nos autos. É o que diz a tradição política brasileira disse Marco Aurélio.

Não é se preservar, é preservar o STF.

Lula foi multado duas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por fazer campanha antecipada para Dilma.

Em eventos públicos, o presidente disse que não tem dinheiro para pagar as multas no total R$ 15 mil.

Gilmar reagiu, dizendo que não se pode brincar com a Justiça.

Para o ministro da Justiça, a Lei Eleitoral não é subjetiva, mas as regras de comportamento na campanha devem ser sistematizadas e esclarecidas para preencher eventuais lacunas e evitar que a Justiça seja acionada para dizer o que é permitido ou proibido. O ministro é contra a chamada judicialização do processo eleitoral.

O presidente está correto em sua colocação. A legislação precisa ter regras claras para que sejam cumpridas argumentou Barreto.

Colaborou: José Meirelles Passos

Presidente do STF reage às críticas de Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente do STF, Gilmar Mendes, reagiu às críticas do presidente Lula à Justiça Eleitoral, que o multou por fazer propaganda para a ex-ministra Dilma Rousseff. Todos nós estamos subordinados à Constituição e à lei, disse Mendes. Nós não temos soberanos. Todos estão submetidos à lei. Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República, criticou Mendes: Ele deveria talvez falar mais nos autos e menos nos microfones.

Mendes: "Todos estão submetidos à lei"

Mariângela Gallucci

BRASÍLIA - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, reagiu ontem às críticas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez na véspera à Justiça Eleitoral, que o multou duas vezes por propaganda eleitoral antecipada em favor da ex-ministra Dilma Rousseff. "Todos nós estamos subordinados à Constituição e à lei", afirmou Mendes.

"Nós não temos soberanos. Todos estão submetidos à lei", disse o ministro. "Se há eventual equívoco numa decisão judicial, dela se deve recorrer."

Na abertura do encontro do PC do B, na quinta-feira Lula afirmara que ninguém pode ficar esperando, a cada eleição, mudanças na lei e garantira que fará "campanha na rua" para Dilma. "Não podemos ficar subordinados ao que um juiz diz que podemos ou não fazer", declarou o presidente durante o evento.

Recentemente, o presidente foi multado duas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em R$ 5 mil e R$ 10 mil. A maioria dos ministros do TSE concluiu que ele fez propaganda eleitoral antes do permitido durante eventos em Manguinhos, no Rio de Janeiro ? em maio de 2009 ?, e em São Paulo, no Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados de São Paulo, no dia 22 de janeiro deste ano.

O presidente tem negado reiteradamente que faça propaganda "dissimulada". Ao ser multado pela primeira vez, creditou a punição aplicada pela Justiça Eleitoral a "barulho" da oposição. E recorreu contra a penalidade. "Espero que a multa seja anulada, uma vez que, no meu entendimento, não houve nem tem havido campanha antecipada nem dissimulada", afirmou no fim de março. Ocorre que seu recurso foi negado pelo plenário do TSE e a primeira multa, de R$ 5 mil, acabou mantida.

O evento do PC do B, na noite de quinta-feira, veio na sequência dessa derrota e serviu de palco para o presidente expressar seu inconformismo. "Não podemos permitir que nosso destino fique correndo de tribunal para tribunal" , protestou.

Transposição. Já o presidente do Supremo não é a primeira vez que critica o comportamento de Lula, exatamente por causa de suposta campanha eleitoral antecipada. Em outubro do ano passado, Mendes já dizia que o presidente "testa os limites de tolerância da Justiça Eleitoral" nas viagens com Dilma.

"Como vimos na mídia, houve sorteio, entrega, festas, cantores. Isso é o modo de se fiscalizar tecnicamente uma obra?", questionou o ministro, ao se referir a vistoria feita pelo presidente e pela então ministra às obras de transposição do Rio São Francisco. "Ninguém pode impedir o governante de governar e existe sempre a mais valia natural dos candidatos vinculados ao governo. Agora, é lícito transformar um evento rotineiro num comício?

Entendo que não. Certamente o órgão competente da Justiça tem de ser chamado para evitar esse tipo de vale-tudo."

Na lei ou na marra:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

O Ministério Público entra com ação contra o leilão de Belo Monte, e o presidente Lula diz que a usina será feita de qualquer maneira. O TCU aprova relatório mostrando a distribuição desequilibrada de recursos públicos, e o presidente diz que é leviandade. A Justiça Eleitoral multa o presidente, e ele diz: Não podemos ficar subordinados ao que um juiz diz que podemos ou não.

Tudo isso num dia. O chefe do Executivo investe contra o Ministério Público, o Tribunal de Contas da União e a Justiça Eleitoral, num ataque serial em apenas 24 horas. A República pressupõe independência dos poderes, portanto, a vontade do Executivo não é soberana; ela é contida pelo Judiciário, ao qual se recorre para revisões das decisões.

O TCU é órgão do Legislativo com pessoas nomeadas pelo governo para fiscalizar o uso do dinheiro público. O Ministério Público é independente e é função dele cuidar da legalidade da gestão pública.

Enfim, todos os órgãos estão cumprido seus papéis institucionais. Mas isso tem provocado reações furiosas do presidente da República.

Se fosse um cidadão comum fazendo essas declarações, seria um equívoco, sendo o presidente, com os poderes que tem, é perigoso.

Como remédio para os limites impostos pela legislação eleitoral, ele propõe uma reforma política, pela qual diz que vai lutar, quando estiver fora do governo. Não é para relaxar as regras de uso da máquina que a reforma foi pensada, mas é bom lembrar que como chefe do Executivo, com sua bancada majoritária, ele tinha mais chances de fazer a reforma do que quando for ex-presidente.

Sobre Belo Monte, recaem muitas dúvidas. De toda ordem: financeira, ambiental, de engenharia. Isso é que está assustando investidores.

Há um canal gigantesco que precisa ser feito, cujo estudo nunca foi feito adequadamente. Não se sabe se esse terreno é 90% pedra e 10% terra, ou o contrário. O custo do canal vai depender da natureza desse terreno diz Mario Veiga, presidente da PSR.

Portanto, o que assusta os investidores são dúvidas razoáveis.

O pesquisador Francisco Hernandez, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, coordenou um painel com 40 especialistas para estudar a obra. Ele chegou à conclusão de que o projeto não deveria ser feito, por ser ruim e caro. Além disso, a região é considerada de biodiversidade extrema. Normalmente, o impacto ambiental das hidrelétricas acontece com os alagamentos. Em Belo Monte, o impacto será duplo: além do alagamento, será preciso secar outra região, porque o rio terá que ser desviado. Isso nunca aconteceu no país e torna o projeto mais arriscado.

A ideia de construir hidrelétricas no Rio Xingu vem dos anos 80. No início, imaginavase a construção de seis a sete usinas, mas a pressão de ambientalistas, índios e técnicos fez com que os projetos fossem abandonados, restando apenas o de Belo Monte.

Desta vez, as autoridades ambientais disseram que fizeram exigências que a tornariam realizável. Mas as incertezas continuam. A usina será feita em área indígena, que exige legislação própria; continua a haver dúvidas sobre impactos graves; o leilão só pode ser feito depois da Licença de Instalação e só há a Licença Prévia. O Ministério Público está apontando uma série de descumprimentos de exigências a serem atendidas antes da licitação. Mesmo assim, o governo está dizendo que ela será feita. Só se reeditar o bordão na lei ou na marra, de um triste período do Brasil. A única forma de se fazer qualquer obra no estado de direito é respeitando todos os constrangimentos previstos na lei, todos os limites exercidos pela Justiça.

Na marra, não dá.

Do ponto de vista econômicofinanceiro, é uma temeridade iniciar qualquer obra apenas porque ela é um ícone do PAC, que é o carro-chefe da candidata do governo. A controversa usina de Belo Monte tem assustadores pontos obscuros do ponto de vista da viabilidade financeira também, além de ambiental.

O governo está dizendo que se não houver investidor privado fará com empresas estatais ou com fundos de estatais.

Isso pode acabar gerando mais um rombo para o país enfrentar no futuro.

Belo Monte tem sido apresentada como a terceira maior hidrelétrica do mundo, com capacidade de produzir 11 mil MW de energia, mas isso é o pico. Na média, a usina produziria 4,2 mil MW.

Hernandez explica que a flutuação das águas do rio é enorme: no inverno, a vazão é 40 vezes maior que no verão.

No período de baixa, será impossível ligar as turbinas.

Com isso, o potencial energético do rio será de apenas 39%, um dos mais baixos entre as hidrelétricas do país.

O pesquisador diz que a obra exigirá a construção de grandes represamentos, e isso contraria a recomendação da Comissão Mundial de Barragens (CMB), que chegou à conclusão, em 2002, de que quanto menor, melhor: Na nossa avaliação, Belo Monte é apenas um convite para novos barramentos. Depois que a usina ficar pronta, se chegará à conclusão de que novas barragens serão necessárias para aumentar a eficiência. Com isso, novas obras serão feitas. Esse projeto é uma reedição da ideia inicial, dos anos 80, só que começando pelo fim.

O projeto é distante do centro consumidor, exigirá obra de grande envergadura, desvio do rio. Não pode ser iniciada apressadamente apenas para constar das obras a serem brandidas nos palanques. Pela nota do Ministério Público, alertas de técnicos do próprio governo foram ignorados, na pressa em se conceder a licença prévia para a construção.

Em Belo Monte, se prepara para fazer concessões maiores para atrair investidores a qualquer preço e iniciar a obra em qualquer contexto jurídico, passando por cima de quaisquer dúvidas ambientais.

Isso porque, como disse o presidente: Belo Monte será construída. Talvez seja mesmo, mas antes será preciso cumprir a lei. Na marra, não será possível.

Com Alvaro Gribel

Rubens Ricupero: Adesão não contraria interesse nacional

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Da mesma forma que a democracia, segundo Churchill, é a pior forma de governo, exceto todas as demais, o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é desigual e injusto, mas superior às alternativas existentes. Durante os 40 anos de sua vigência, renunciaram à arma atômica 11 países que já a possuíam ou desejavam adquiri-la (entre eles Brasil, Argentina e África do Sul).

Dos 4 que se tornaram nucleares, 3 (Índia, Paquistão e Israel) jamais assinaram o TNP, e a Coreia do Norte teve que deixá-lo antes de construir a bomba. O controle das armas de destruição de massa não é impossível, pois desde Hiroshima e Nagasaki o mundo viveu 65 anos sem que a tragédia se repetisse.

Brasil e Argentina tomaram juntos a decisão de abandonar seus programas nucleares rivais, desarmando perigosa corrida armamentista na América Latina e abrindo caminho à integração do Mercosul.

O processo culminou, em 1991, com a assinatura do acordo entre o Brasil, a Argentina, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Agência Argentino-Brasileira de Controle, pelo qual os dois países aceitaram as inspeções da agência da ONU.A adesão ao TNP constituiu a consequência natural, pois a proibição da arma nuclear já constava da Constituição de 1988 e o acordo de 1991 havia criado para o país todas as obrigações que decorreriam do tratado.

Quando a adesão se deu, em 1997-1998, os únicos que não haviam assinado eram Índia, Paquistão e Israel, que tinham para isso uma razão: queriam adquirir a bomba (o quarto era Cuba, que aderiu logo depois). Que sentido teria tido para o Brasil ficar de fora, em companhia dos três belicistas, se já havíamos assumido na prática as obrigações do TNP?

O mesmo argumento se aplica ao Protocolo Adicional, que não é mais que a aceitação de fiscalização reforçada. O Brasil é dos raros países que permitem à agência acesso até a suas instalações militares. O que teríamos a temer se nada temos a esconder?

Alega-se que deveríamos proteger a originalidade de nossa tecnologia. O objetivo é legítimo, mas, segundo especialistas, pode ser perfeitamente assegurado pela negociação com a agência de modalidades que preservem os segredos tecnológicos.

Até agora, a recusa era justificada pelo desinteresse do governo americano de cumprir a obrigação de desarmamento constante do TNP.

A situação mudou totalmente com o advento do governo Obama, o acordo com a Rússia para redução de ogivas nucleares e a nova estratégia dos EUA, que restringe o papel das armas nucleares. Ainda se está longe do desarmamento, mas é mudança construtiva que deve ser encorajada.

Neste momento, a persistência da recusa será vista como obstrução à evolução positiva em curso. A infeliz coincidência com a visita do presidente Lula a Teerã avivará suspeitas sobre nossas intenções.

Cedo ou tarde, o processo de reforço do TNP conduzirá à proibição da exportação ou importação de urânio enriquecido e restrições de acesso tecnológico para os que rejeitam o protocolo. É risco gratuito quando nossa tecnologia pode ser preservada por negociação cautelosa.

Se o real motivo for armamentista, equivale a golpe gravíssimo contra a Constituição. O argumento da soberania não procede, pois a adesão não contraria o interesse nacional.

Que interesse haveria em adquirir a bomba para país que não está sob ameaça ou em zona de conflito, tendo completado 140 anos de paz ininterrupta com seus dez vizinhos?

Na hora lancinante da catástrofe do Rio de Janeiro, só o delírio de grandeza e a perda de contato com a realidade explicam desviar recursos escassos para prioridades erradas e desnecessárias como os desvarios atômicos. A realidade que chega pela tela da TV nos revela aonde estão nossos inimigos: não no exterior, mas aqui dentro.

A corrupção e a incompetência diante da urbanização selvagem, a patética incapacidade de salvar vidas, a falta de dinheiro para dar casa decente aos trabalhadores -são essas as ameaças a enfrentar. E não será com submarinos nucleares e urânio enriquecido que vamos diminuir um só desses perigos reais e imediatos.

Rubens Ricupero , 73, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, é colunista da Folha . Foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco).

"Los Piqueteros" :: Cesar Maia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A crise argentina que culminou com a queda do presidente De La Rua trouxe ao palco político os "piqueteros", ou desempregados que ocuparam as ruas, praças e estradas e pararam o país.

Os fatos explicavam a ação, violenta e incendiária. A força desses fatos levou documentaristas a fixar a imagem e as razões deles. O destaque foi tanto que os "piqueteros" passaram a ser um movimento permanente, independente da superação da crise que lhes deu origem. Como era de esperar, foram sendo incorporados a partidos políticos e por estes usados como força de pressão.

Com isso passou a haver "piqueteros" de distintas cores, e em especial os "piqueteros" kircheristas, ligados ao casal presidencial. "Piqueteros" profissionais, prontos a cumprir tarefas políticas, com ou sem razões.

A greve dos professores de São Paulo, provavelmente partindo de razões econômicas justificáveis, foi vendo surgir em meio aos que protestavam uma coluna de "piqueteros" profissionais, mobilizados partidariamente, de forma a cumprir um papel nesse processo eleitoral, a comando dos que apoiam a candidatura do governo. E foram até justificados pelo presidente da República. As imagens gravadas e disponíveis mostram que os "piqueteros" são partidários e profissionais e cumprem um papel como braço longo daqueles interesses eleitorais.

A superação desse fato específico não deve deixar a sua análise cair no esquecimento. A incrustação no poder de dirigentes partidários e sindicais, de movimentos, ONGs e organizações no estilo, generosamente financiadas pelos cofres públicos, aponta para uma luta aberta, antidemocrática, violenta, com o objetivo de criar pressões, constrangimentos e desgastes para a oposição.

O que há de novidade nisso não é o uso político das reivindicações econômicas, há tanto tempo conhecido, mas uma organização paralela, paramilitar, permanente, que surge nesse processo eleitoral, formatada como os "piqueteros" profissionais. A Alemanha dos anos 20 traz memória similar.

Dois desdobramentos são institucionalmente preocupantes.

O primeiro, no próprio processo eleitoral, em que, em cima do palanque esteja a retórica apaziguadora, mas embaixo estejam os "piqueteros" orientados para os mesmos objetivos. O segundo é que se deixe essas milícias políticas prosperarem e, numa alternância política própria da democracia, venham, como elemento de desestabilização política, afetar as instituições democráticas brasileiras.

Que se corte o mal pela raiz a tempo e a hora para que a democracia brasileira siga seu rumo de aperfeiçoamento, longe dos estímulos "bolivarianos".