quarta-feira, 18 de outubro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Congresso quer fundo eleitoral sem cabimento

O Globo

Mantida a vontade dos congressistas, o Brasil deverá gastar por eleitor quase o quádruplo do México

Partidos políticos articulam no Congresso um aumento inédito no fundo que financiará a campanha municipal no ano que vem. O valor cogitado está entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões, retirando recursos da Justiça Eleitoral ou das emendas de bancada no Orçamento. Nem a manobra para mudar o destino da verba, nem o valor aventado têm o menor cabimento. O bom senso e a experiência internacional mostram que os congressistas deveriam desistir da ideia e entrar num acordo para reduzir o fundo eleitoral dos R$ 4,9 bilhões gastos em 2022 para algo como R$ 2,5 bilhões (gasto em 2020, ano da última eleição municipal, corrigido pela inflação).

Bernardo Mello Franco – O dia que não terminou

O Globo

Relatora elogia Forças Armadas e propõe medidas inócuas, como incentivar "educação midiática" e criar Dia Nacional de Defesa da Democracia

O relatório final da CPI do Golpe pediu o indiciamento de Jair Bolsonaro pela prática de quatro crimes. O ex-presidente foi acusado de chefiar um complô contra a democracia. Derrotado nas urnas, tentou rasgar a Constituição e virar a mesa para se perpetuar no poder.

O texto da senadora Eliziane Gama lembra que o capitão atacou as instituições desde o primeiro dia de governo. Seu projeto sempre foi autoritário. Não tolerava a existência de Judiciário livre, oposição ativa ou imprensa independente.

Em busca do poder absoluto, Bolsonaro fomentou o ódio e a radicalização política. A aposta culminou na intentona de 8 de janeiro, que empurrou o país até a beira do precipício.

O relatório mostra que os atos golpistas não foram espontâneos nem desorganizados, como sustentava o ex-presidente. “Foi uma mobilização idealizada, planejada e preparada com antecedência”, anotou Eliziane. A senadora enumerou provas de que houve método nos ataques. Os extremistas se deslocaram em caravanas, receberam apoio logístico, sabiam o que estavam fazendo.

Luiz Carlos Azedo - A derrota dos “cavaleiros húngaros” na CPMI do 8/1

Correio Braziliense

O grupo de generais em vias de serem indiciados estava fadado ao fracasso porque o mundo mudou e a democracia brasileira tem instituições mais fortes do que imaginavam

A CPMI se reúne hoje, novamente, para apreciar o relatório da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que pediu o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de mais 60 pessoas por tentativa de golpe de estado, em 8 de janeiro deste ano, quando foram invadidos e vandalizados os palácios do Executivo, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Oito generais e um almirante, entre 22 militares de diversas patentes, e mais oficiais do alto escalão da Polícia Militar do Distrito Federal, policiais federais e rodoviários, empresários, um influenciador e a deputada Carla Zambelli (PL-SP) poderão ser indiciados.

Os deputados e senadores de oposição apresentaram um relatório alternativo, no qual culpam o governo Lula pelos acontecimentos e pedem o indiciamento do ministro da Justiça, Flávio Dino; do general Gonçalves Dias, então o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura Cunha; e do ex-subcomandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), coronel Klepter Rosa Barbosa. O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) também pretende apresentar um relatório paralelo, que acusa o governo Lula de omissão diante das falhas no sistema de segurança encarregado de guarnecer externamente os Três Poderes.

Vera Rosa - Alcolumbre arma cama de gato para Lula

O Estado de S. Paulo

Pressão no Senado envolve disputa com Lira e atinge até vagas no Cade e em agências reguladoras

Com o fim da CPI do 8 de Janeiro, palco de discussões que deixaram evidente a tentativa de golpe no País, a cúpula do Senado retomará a ofensiva para limitar os poderes do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas a pressão não para aí: o plano é segurar até o limite as indicações feitas pelo presidente Lula e criar dificuldades em votações de interesse do Palácio do Planalto.

Por trás da estratégia levada a cabo pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), está o comandante da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Davi Alcolumbre (União Brasil), expoente do Centrão.

Em campanha antecipada para a presidência do Senado e desconfiado de que o Planalto quer rifá-lo, Alcolumbre age nos bastidores. Tenta emplacar no STF o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, e o subprocurador Paulo Gonet na Procuradoria-Geral da República. Além disso, quer controlar mais emendas e nomear aliados em agências reguladoras.

Elio Gaspari - O golpe do juiz plantonista

O Globo

O magistrado soltou o Dadá do 'Bonde do Maluco' e foi afastado

Com um voto cirúrgico do corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, por unanimidade, o CNJ afastou de suas funções o desembargador baiano Luiz Fernando Lima. No dia 30 de setembro passado, ele determinou a transferência do bandido Dadá para um regime de prisão domiciliar.

Dadá não era um bandido qualquer, e o afastamento do desembargador baiano torna-se um exemplo de rapidez e rigor. O CNJ feriu o velho golpe do recurso ao juiz plantonista, praticado há décadas em todas as instâncias do Judiciário. Ele funciona assim: espera-se o fim de semana (ou o recesso), leva-se o pedido ao sensível magistrado que assumiu o plantão e, bingo, resolve-se o problema.

Zeina Latif - Aproximar para integrar

O Globo

Haveria possivelmente menor diferença nas taxas de desemprego caso houvesse maior fluxo migratório interno, com os indivíduos conseguindo mudar e se integrar facilmente à região da nova moradia

Confrontos sociais explícitos não são a marca de nossa sociedade. No entanto, pecamos no quesito coesão social. Pouco sabemos sobre a cultura e os costumes das diferentes partes do país. E o desconhecimento alimenta o preconceito. Já o abismo social é um capítulo à parte.

Vale recordar a História. O Brasil só conseguiu se firmar como nação — no sentido de contar com um grau de identidade nacional que permitisse a existência e a estabilidade do poder estatal — na década de 1930, e sob mão forte de uma ditadura. No Império e na Primeira República, houve vários movimentos regionais separatistas e de contestação do poder central, reprimidos com violência. Nesta jovem nação, a coesão social ainda está em construção.

Fernando Exman - Um maior cuidado com as fronteiras brasileiras

Valor Econômico

Governo Lula quer ampliar “faixa de fronteira” dos atuais 150 quilômetros para 25 quilômetros

Antes, muito antes da guerra desencadeada pelos ataques terroristas do Hamas contra Israel, o governo Lula já queria acelerar a edição de uma medida para aumentar a presença do Estado na chamada “faixa de fronteira”. Sobre a mesa, está a ideia de alargá-la dos atuais 150 para 250 quilômetros.

Considera-se, no governo, uma iniciativa estratégica para a defesa da soberania nacional. Perfeito. Contudo, ela precisa ser bem debatida com os setores econômicos que atuam nessas localidades: o agronegócio é um interessado direto.

Cristovam Buarque* - Dear Mr. Biden

Correio Braziliense

Estarrecido, porque sua biografia e sua eleição permitiam esperança de uma política mais humanista em relação à população que busca sobrevivência no desespero para sair da pobreza

O mundo assistiu estarrecido, sem surpresa e com espanto, sua decisão de concluir a construção do muro que seu antecessor começou na fronteira entre os Estados Unidos e os demais países americanos.

Estarrecido, porque sua biografia e sua eleição permitiam esperança de uma política mais humanista em relação à população que busca sobrevivência no desespero para sair da pobreza.

Sem surpresa, porque mesmo que faça sentido a hipótese de que a riqueza no chamado Norte Global decorre do escravismo, do colonialismo e do imperialismo, sabe-se que na Europa e na América do Norte não cabem todos os pobres do mundo. Também que essa riqueza vem de prioridade à educação de base, respeito às liberdades, promoção do desenvolvimento científico e tecnológico, da responsabilidade fiscal. Ainda mais, que a pobreza no Sul Global decorre sobretudo da exploração interna dos ricos sobre os pobres, da negação de educação, da irresponsabilidade fiscal, da corrupção e da insensibilidade dos que aceitam viver na riqueza ao lado da pobreza. No Brasil, construímos nossos mediterrâneos e muros cercando as casas, escolas, hospitais e supermercados para que os pobres não tomem o espaço social que os ricos consideram direito.

Guilherme Casarões* - Urgência de uma solução global

O Globo

Só ação concertada da comunidade internacional poderá sustar as agressões e criar condições para uma Palestina soberana

Na última quarta-feira (11), em meio a cenas de absoluto horror em Israel e Gaza, o presidente brasileiro publicou uma nota pessoal sobre o conflito no Oriente Médio. Nela, Lula faz um apelo em defesa das crianças palestinas e israelenses, pede o cessar-fogo na região e destaca a urgência de uma “intervenção humanitária internacional” diante da escalada de violência.

O Brasil ocupa lugar privilegiado nessa discussão. Tem histórico de boas relações com Israel e Palestina, faz comércio com ambos e sempre trabalhou pela superação do conflito no âmbito da ONU. Neste momento, ocupa a presidência do Conselho de Segurança e tem o poder de pautar a agenda do órgão.

As próximas reuniões darão o tom da resposta internacional à guerra em andamento. Mas o consenso é difícil, até mesmo para criar um corredor humanitário que possa assegurar a saída dos palestinos pela fronteira egípcia. No momento, 1 milhão de palestinos ruma ao sul fugindo dos bombardeios israelenses — e o número de mortos em Gaza só aumenta.

Biden visita Israel um dia após explosão em hospital de Gaza

Por Associated Press — Tel Aviv / Valor Econômico

Presidente americano estava programado para visitar a Jordânia após Israel, mas suas reuniões com líderes árabes foram canceladas após a explosão

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, iniciou a sua visita a Israel nesta quarta-feira com a promessa de mostrar ao mundo que os Estados Unidos são solidários com o povo judeu, um dia após a explosão em um hospital na Faixa de Gaza, que deixou centenas de mortos. Segundo o dirigente americano, a ocorrência parece ser obra “da outra equipe” e não do exército israelense.

“Com base no que vi, parece que foi trabalho da outra equipe, não de vocês”, disse Biden ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, durante uma reunião, em referência a militantes israelenses. No entanto, Biden disse que havia “muita gente” que não estava certa de quem causou a explosão.

Bruno Boghossian - CPI apontou para o alto, mas ficou sem apetite para ir mais fundo

Folha de S. Paulo

Acordo restringiu produção de fatos novos, e relatório se contentou com dados da PF e provas produzidas à luz do dia

CPI do 8 de janeiro deu nome aos bois que conseguiu encontrar. O relatório da senadora Eliziane Gama destaca a liderança de Jair Bolsonaro na disseminação do golpismo e recomenda o indiciamento de mais 60 pessoas entre militares, políticos e personagens da máquina do governo. A comissão poderia ter ido mais fundo, mas escolheu pisar em ovos.

O documento elenca os pontos que sustentam uma acusação direta contra Bolsonaro, auxiliares e integrantes das Forças Armadas. O relato mostra como o ex-presidente subsidiou os golpistas, toca em pontos como a politização das polícias e expõe a simpatia de oficiais graduados por uma intervenção militar.

Wilson Gomes* - Por que o debate sobre Israel-Palestina está tão inflamado no Brasil

Folha de S. Paulo

Neste conflito, os depósitos de racismo antissemita e islamofóbico são um reservatório imenso de símbolos e afetos

Quem estuda o debate público brasileiro não tem paz. A transformação digital do ativismo e da deliberação pública no início da década de 2010, juntamente com o repentino aumento do interesse dos brasileiros na política e na politização de qualquer assunto, principalmente após as mobilizações de 2013, causaram uma mudança significativa na forma como os tópicos de interesse público são discutidos.

Os teóricos da democracia deliberativa louvariam o aumento dos envolvidos na "troca pública de razões" depois de décadas de apatia, desinteresse e cinismo da população com relação a temas políticos.

Contudo, a expressão popular "treta" talvez expresse melhor o que fazemos em público, cara a cara ou em ambientes digitais. Tretamos não para servir ao princípio do melhor argumento, em um processo de esclarecimento recíproco, como sonharia Kant, mas para defender posições já assumidas pelo lado com que nos identificamos e para atacar aquilo que já não gostamos.

Vinicius Torres Freire - Fuga para o Egito pode evitar mais morte em Gaza, mas não é solução

Folha de S. Paulo

EUA e Europa querem que egípcios aceitem o êxodo; assunto será discutido no sábado

O governo do Egito anunciou que vai sediar no sábado (21) uma reunião a fim de pedir um cessar-fogo em Gaza e de dar um jeito de enviar ajuda humanitária aos palestinos. Chamou os poderes da região e os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Americanos e europeus querem que os egípcios abram a fronteira com Gaza, em primeiro lugar para receber cidadãos de seus países e estrangeiros em geral. Querem também que o Egito receba os palestinos que fogem de bombas e da escassez de víveres.

Não há informação a respeito de como o êxodo para o Egito seria possível, de estimativa de quantas pessoas passariam pela fronteira e sobre quem pagaria a conta inicial da instalação dos refugiados no Sinai (a região egípcia que faz fronteira com Gaza e Israel). Menos ainda há notícia de que há ideia de como lidar com as consequências dessa nova expulsão em massa de palestinos de suas terras.

Hélio Schwartsman - Desumanização recíproca

Folha de S. Paulo

Israelenses e palestinos põem uns aos outros numa posição quase 40% inferior em escala de humanidade

Dizer que israelenses e palestinos não se dão bem é um eufemismo. Seria mais correto afirmar que um lado considera o outro menos do que humano —perto de 40% menos, para os que gostam de precisão.
Sabe-se pelo menos desde a 2ª Guerra que a desumanização é um importante ingrediente psicológico de perseguições, conflitos e genocídios, mas foi só a partir da virada do milênio que cientistas começaram a investigar o fenômeno de forma mais sistemática. Um pesquisador prolífico na área é Nour Kteily, da Northwestern University (EUA).

Kteily e o neurocientista Emile Bruneau, morto precocemente em 2020, se debruçaram sobre as desavenças entre israelenses e palestinos.

Anna Virginia Balloussier - Hamas ampliou influência em uma Palestina que se sente abandonada por Ocidente

Folha de S. Paulo

Ressentimentos acumulados por décadas de guerras e privação de itens básicos catapultaram apoio de civis a grupo terrorista

Hamas nunca escondeu sua meta de aniquilar Israel. Em 1988, o grupo que estuprou, feriu, aterrorizou, sequestrou e matou centenas de pessoas nos ataques em solo israelense de 7 de outubro divulgou uma carta abertamente antissemita e avessa a acordos de paz.

Diz um de seus 36 artigos que "o Dia do Juízo não acontecerá até que os muçulmanos lutem contra os judeus (matando os judeus)". Outro rechaça "as chamadas soluções pacíficas" como "perda de tempo", pois "não há solução para a questão palestina exceto pela Jihad". O preâmbulo preconiza: "Israel existirá e continuará a existir até que o Islã o destrua, da mesma forma como destruiu outros antes dele".

Esse mesmo Hamas domina o dia a dia dos palestinos. Isso quer dizer que a maioria no território sempre pactuou com os propósitos terroristas do grupo? Não é por aí.

A certeza de que boa parte do mundo ocidental não dá a mínima para seu sofrimento, somada a ressentimentos acumulados pelo cerco imposto a Gaza, catapultou alguma simpatia pelo Hamas, acrônimo árabe para Movimento de Resistência Islâmica.

Dizem palestinos: quase ninguém liga, fora do mundo muçulmano, se as pessoas morrem por doenças banais numa Gaza sitiada, enquanto a poucos quilômetros israelenses recebem o melhor da tecnologia médica. Ou se elas têm acesso limitado a eletricidade e comida.

Isso sem falar no que veem como crimes de guerra que horrorizariam nações ocidentais se cometidos contra os seus. O novo conflito seria um celeiro deles.

Igor Gielow - Ataque a hospital de Gaza coloca pressão sobre Biden e Israel

Folha de S. Paulo

Ação pode ser ponto de inflexão narrativo na retaliação do Estado judeu contra o terror do Hamas

Em 11 de abril de 1996, o governo trabalhista de Israel iniciou a Operação Vinhas da Ira, que visava desarmar o Hizbullah no sul do Líbano. Houve os usuais bombardeios, e a comunidade internacional acompanhava o desenrolar dos fatos apreensiva, mas sem grande mobilização.

Sete dias depois, a artilharia israelense acertou em cheio uma base da Unifil, a missão da ONU que faz figuração no sul do Líbano desde 1978, matando 106 refugiados da vila de Qana que buscavam abrigo ali. O roteiro da guerra mudou.

A partir dali, correspondentes internacionais correram para o Líbano, e governos do Ocidente passaram a se movimentar para evitar a escalada do morticínio. Após mais nove dias, a pressão sobre Israel levou a mais um precário cessar-fogo na região.

Poesia | Sentir é estar distraído - Fernando Pessoa

 

Música | "El Manisero" El Son Pregón mas famoso que se haya compuesto hasta ahora en Cuba.