O Globo
Quem vence a eleição e toma posse precisa
dizer ao país a que veio, qual o projeto, o rumo, a agenda. Até aqui não se viu
isso
Lula decidiu enveredar por um caminho
perigoso, passado o momento de união de esforços dos Poderes e das demais
instituições em reação ao 8 de Janeiro. Em vez de investir em distensionar o
ambiente político e isolar o extremismo, achou por bem reforçar, a cada
declaração, a polarização, mantendo o fantasma de Jair Bolsonaro vivo, por
entender que ele lhe é favorável na comparação, e trazendo Sergio Moro para a
ribalta enquanto o ex-juiz andava bastante apagado, tentando ainda se ambientar
ao Senado.
O contraste com Bolsonaro funcionou por um
tempo, porque começaram a sair do armário esqueletos ainda mais bizarros que os
conhecidos nos últimos quatro anos. Mas não é um supertrunfo que se possa usar
a cada rodada ao longo do tempo de um mandato presidencial.
A segunda decisão — evocar Moro e o período em que ficou preso — já começou torta, se mostrou um erro de timing quando, no dia seguinte, foi deflagrada uma operação da Polícia Federal para prender acusados de tramar a morte do senador e, por fim, descambou para o desastre ontem com a declaração leviana do presidente de que o adversário haveria tramado a história toda.