segunda-feira, 20 de novembro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Feminicídios em alta desafiam o poder público

O Globo

Primeiro semestre deste ano registrou maior incidência do crime desde o início da série histórica

São perturbadoras as estatísticas de feminicídio compiladas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O levantamento, com base nos dados das secretarias estaduais, registra 722 feminicídios no Brasil no primeiro semestre de 2023, maior número desde o início da série histórica, em 2019. Apesar das boas intenções de governos, ONGs e movimentos sociais, o país ainda não sabe como lidar com o flagelo.

O número representa um aumento de 2,6% na comparação com os 704 feminicídios no primeiro semestre do ano passado. Pode não parecer muito, mas o percentual esconde disparidades que demandam ação. No Sudeste, única região a apresentar crescimento nos casos, a alta foi de 16,2%, de 235 para 273. Das 27 unidades da Federação, 14 registraram mais feminicídios, 12 menos e uma manteve estabilidade. Na comparação, a maior alta percentual ocorreu no Distrito Federal (250%).

Míriam Leitão - Causas da vitória e próximos desafios

O Globo

Governabilidade, combate à inflação e negociação com o FMI estarão na agenda do novo presidente

Uma hora antes que se conhecesse quem era o escolhido pelo eleitor argentino, o governo brasileiro sabia que Javier Milei seria o próximo presidente do país e que sua vitória era por uma grande margem. Uma fonte me disse que os movimentos para a aproximação entre o Brasil e o presidente eleito já haviam começado. “Seremos os adultos da relação”, me informou essa fonte, se referindo ao fato de que o político de extrema direita durante a campanha havia falado até em romper com o Brasil.

Mas o que houve que a vitória de Javier Milei foi por uma diferença tão grande? Houve nos últimos dias uma onda em favor de Milei e que não foi acompanhada pela imprensa porque há um silêncio longo das pesquisas. Mas quem acompanhava o sentimento das ruas constatou isso.

Curioso é que os partidários de Sergio Massa ficaram otimistas depois do último debate. Ele foi muito bem de fato. Mas foi tão bem que isso se virou contra ele, me contou uma fonte:

– O que parecia uma vitória de Massa, a clareza das ideias, a estrutura de exposição, a coerência, a solidez acabaram dando mais votos para seu adversário. Ele parecia muito ensaiado. E nisso lembrava um político tradicional. Javier Milei que parecia tão fora de ordem, desordenado ficou parecido com o papel que ele desempenhou nessa eleição, um candidato antissistema.

Guga Chacra - Será mais difícil para Milei

O Globo

Um libertário sem experiência administrativa e de um pequeno partido venceu as eleições na Argentina em um dos maiores acontecimentos políticos da história deste país conhecido pelas sequências de crises econômicas e decadência crônica. Javier Milei, visto por muitos como um lunático extremista e por outros como uma solução para décadas de fracassos, sentará no sillon de Rivadavia, como é conhecida a Presidência da Argentina, em menos de um mês. Tentará implementar suas políticas para transformar o país.

O governo Lula precisará lidar com um líder que o critica abertamente. As relações entre os dois países correm enorme risco de se deteriorarem. Para Joe Biden, a Argentina possui pouca relevância, mas será inevitável a comparação de Milei com Donald Trump a um ano da eleição presidencial nos EUA. Muitos comparam a vitória de Milei à do republicano em 2016, e a de Jair Bolsonaro, no Brasil, dois anos mais tarde. Como os dois, Milei surpreendeu o establishment e os partidos tradicionais. Também conseguiu enorme conectividade com seus seguidores em um populismo de direita. Ao mesmo tempo, há grandes diferenças no contexto das eleições de cada um dos três.

Bernardo Mello Franco - Milei fala em 'mudanças drásticas' e dá recado a futura oposição: 'Seremos implacáveis'

O Globo

Presidente eleito usa discurso da vitória para mandar recado a sindicatos ligados ao peronismo

No discurso da vitória, Javier Milei deu um duro recado à futura oposição na Argentina.

O presidente eleito anunciou "mudanças drásticas" a partir da posse, em 10 de dezembro, e prometeu ser "implacável" com quem tentar emparedá-lo.

— Sabemos que há gente que vai resistir. A todos, quero dizer: dentro da lei, tudo; fora da lei, nada. Seremos implacáveis com quem tentar usar a força para defender seus privilégios — afirmou.

A fala foi uma clara referência às centrais sindicais argentinas, historicamente ligadas ao peronismo.

Antônio Machado - Milei e Cacareco, as semelhanças que levaram o improvável ao poder

Correio Braziliense

Javier Milei venceu de lavada, com quase 3 milhões de votos a mais que Sergio Massa, com 99% das urnas apuradas

Milei e Cacareco - Javier Milei venceu de lavada, com quase 3 milhões de votos a mais que Sergio Massa, com 99% das urnas apuradas. Ele leva por 55,71%, equivalentes a 14,4 milhões de votos, vs 44,28% de Massa, com 11,4 milhões. Milei tomará posse em 10/12.

No X e na imprensa, mais aqui que lá, muitas notas de surpresa com o resultado, como se surpreendente não fosse a eleição do ministro da economia de um governo que sai com inflação de 143%, maior taxa em 32 anos, com o pé na moratória da dívida pública, com o caixa de divisas na lona e sem nenhuma sustentação política e social.

Vamos ouvir e ler torrentes de artigos e entrevistas discorrendo sobre as promessas de Milei, sobretudo a troca do peso pelo dólar, o fim do BC, o afastamento da China e do Brasil de Lula. Guarde-se o nome de Emilio Ocampo, 60 anos, provável czar da economia de Milei, no Banco Central ou na pasta de Finanças.

César Felício - Milei vence e dúvida é se governo será marcado por ruptura ou tutela

Valor Econômico

O “anarcocapitalista” que aderiu a todas as bandeiras mundiais da extrema direita ganhou no segundo turno a companhia da direita tradicional, em especial do ex-presidente Mauricio Macri

A primeira incógnita que se abre em relação ao presidente eleito da Argentina, Javier Milei, é se será um governo marcado pela ruptura ou pela tutela. Houve um Milei até a realização do primeiro turno da eleição da Argentina e outro na rodada final das eleições.

O “anarcocapitalista” que aderiu a todas as bandeiras mundiais da extrema direita ganhou no segundo turno a companhia da direita tradicional, em especial do ex-presidente Mauricio Macri. Foi uma contradição flagrante a um de seus principais lemas, o da antipolítica. Não se sabe o que Milei pactuou com Macri. Segundo disse o presidente eleito em seu primeiro discurso, nada. Ele agradeceu o ex-presidente por ter dado apoio “desinteressadamente”. Mas o poder de barganha de Macri não é pequeno.

Sylvia Colombo - Milei reforça onda de ultradireita na América Latina; agora é a vez da Argentina

Folha de S. Paulo

Se não entregar resultados rápidos nos primeiros meses, a chance de a insatisfação tomar as ruas é muito grande

Chegou a vez da Argentina. Javier Gerardo Milei, economista de 53 anos, alcança a Presidência de seu país como a versão platense de uma tendência de governos de ultradireita que vêm atravessando outros países da região.

Suas particularidades são muitas em relação àqueles com quem costuma ser comparado: não tem apreço pelo conservadorismo moral ou pelos militares como tinha Jair Bolsonaro; não evoca ditadores do passado, como o chileno José Antonio Kast; não defende a construção de prisões gigantes nem um Estado hiperpaternalista como o salvadorenho Nayib Bukele; tampouco aprova que o Executivo seja enorme e abocanhe os demais Poderes, como o guatemalteco Alejandro Giammattei.

Mas, sim, Milei se parece com todos eles ao pregar um rompimento com o que considera política tradicional, ao abraçar o politicamente incorreto, ao desconsiderar as políticas de gênero e avançar contra os direitos de minorias e imigrantes, ao estar a favor da liberação do comércio de armas e ao elogiar e exaltar a meritocracia em um país em que isso deveria ser considerado obsceno devido a suas grandes desigualdades.

Vinicius Torres Freire - Eleição de Milei ainda não define futuro econômico ou político da Argentina

Folha de S. Paulo

Com ou sem ajuste nas finanças, haverá dor social; para governar, o libertário ultradireitista terá de ceder muito poder

Não há dúvida que a maioria da Argentina resolveu mudar, por maioria relativamente folgada. O sentido da mudança é uma incógnita que vai muito além da definição do programa econômico do vitorioso Javier Milei, por mais essencial que seja o plano de estabilização e reformas.

Sem acordo político muito amplo, o libertário ultradireitista não governa. Não tem votos parlamentares, não tem quadros técnicos ou políticos experimentados nem apoio de boa parte da elite econômica. O que sobrará do plano extremado de Milei depois de um arranjo com a centro-direita e a direita convencional?

Milei por ora não tem votos no Congresso nem ao menos para evitar um processo político, mesmo que vier ou viesse a contar com o apoio integral do partido do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), o PRO. A fim de obter 129 dos 257 votos da Câmara de Deputados, teria de somar também todos os votos da coalizão Juntos pela Mudança, da qual faz parte o PRO, de Macri e de sua candidata derrotada, Patricia Bullrich.

Fernando Gabeira - Consciência do mundo num hospital em Gaza

O Globo

Al-Shifa está cheio de feridos de guerra e doentes. Sem remédios ou eletricidade. Os recém-nascidos estavam do lado de fora

Numa segunda-feira, falar de temas tão distantes como um hospital em Gaza, levantar questões como uma ainda inexistente ordem mundial, talvez não seja o melhor caminho.

“Alguma coisa está fora da nova ordem mundial” — diz a canção. Mas Henry Kissinger, em seu livro sobre o tema, diz que nunca houve uma verdadeira ordem mundial. A Paz de Vestfália no fim da Guerra dos 30 Anos (1618-1648) foi um evento europeu.

No momento em que as tropas de Israel entraram no Hospital Al-Shifa, em Gaza, nada pude fazer, exceto me informar. Mas a ONU também nada pode fazer, exceto dizer que hospitais não são campos de batalha. Estamos, portanto, no mesmo barco, eu a ONU.

As imagens do dia anterior foram terríveis. Bebês recém-nascidos fora das incubadoras, por falta de energia. Israel afirma que, com dados da Inteligência, sabe que o Hamas usa o hospital como base. O Hamas nega. Um palestino entrevistado pela Al Jazeera parece confirmar a tese de Israel: o Hamas deveria sair daqui e ir para o inferno. O Hamas usa as pessoas como escudo humano. Sua tese, pós-atentado, é que trouxe Israel para a guerra, e era isso que pretendia para manter acesa a causa palestina.

Denis Lerrer Rosenfield* - Terror, democracia e crime

O Estado de S. Paulo

Em certo sentido, não deveria surpreender que Lula equipare o terror do Hamas, massacrando crianças, mulheres e idosos, à defesa de Israel contra uma agressão bárbara

A esquerda revolucionária, ao contrário da social-democrata, sempre teve uma irresistível atração pela violência, considerando-a, mesmo, como ato inaugural de instauração da nova sociedade. E não só inaugural, pois a esquerda, chegando ao poder, caracterizouse pelo uso implacável da repressão, eliminando qualquer crítica e oposição. Eram os inimigos de classe, que surgem agora nas várias vertentes do pensamento dito decolonial, por exemplo, voltado contra os colonizadores, sendo os EUA o Grande Satã na vertente islâmica. Esboça-se toda uma aliança entre a esquerda da luta de classes e identitária com a dominação islâmica em nome do combate contra o Ocidente e seus valores.

Paradoxalmente, os regimes voltados para a execução dos homossexuais, para a subordinação incondicional das mulheres, para regras estritas de conduta sexual e vestimentária, cuja desobediência leva à tortura e à morte, são ícones desta nova vertente da violência sob a forma do terror. Hamas e Irã seriam exemplos.

Lygia Maria - O fantasma do antissemitismo

Folha de S. Paulo

Ataque terrorista do Hamas desperta preconceito adormecido contra judeus entranhado na história europeia

No dia 30 de dezembro de 1066, uma turba de muçulmanos invadiu o Palácio Real de Granada, na Espanha, e crucificou um vizir judeu. Em apenas um dia, milhares de judeus foram assassinados. Daí ao Holocausto nos anos 1940, foram vários os massacres e perseguições sofridos por esse grupo étnico-religioso.

O regime de Hitler foi a manifestação mais grotesca de um fantasma que assombra a Europa há séculos: o fantasma do antissemitismo.

Após as câmaras de gás, que chocaram o mundo, supunha-se que esse fantasma havia sido exorcizado, mas o ataque do Hamas a Israel mostrou que ele estava apenas adormecido.

Ana Cristina Rosa - Um Salve à Serra da Barriga!

Folha de S. Paulo

Local abriga o único parque temático voltado à cultura negra do Brasil

Em 20 de novembro de 1695, o líder do maior e mais longevo quilombo das Américas (abrigou mais de 20 mil pessoas, incluindo indígenas e brancos) era encurralado, morto e decapitado na Serra da Barriga (AL). A resistência de Palmares e a liderança de Zumbi e Dandara, símbolos de luta e resiliência contra a escravização, eram ameaças à Coroa portuguesa.

Em 20 de novembro de 2023, a luta pelo direito dos negros à liberdade, dignidade, respeito e equidade permanece uma causa tão atual e urgente quanto há 328 anos. E os negros (em geral) seguem tratados como ameaça.

Inúmeras situações absurdas e perversas para um Estado Democrático de Direito exemplificam isso dando em nada de concreto além da morte, do sofrimento e do trauma psicológico de pessoas negras.

Ricardo Henriques -Antirracismo e política educacional

O Globo

A desigualdade racial testemunhou comportamentos opostos na educação básica e na superior nos últimos 15 anos. Enquanto no terciário houve redução das diferenças de acesso e permanência a favor dos negros, graças sobretudo à Lei de Cotas, na básica o rendimento escolar dos brancos melhorou mais que o dos negros, alargando um fosso que já era grande. Decisões governamentais recentes buscam consolidar os acertos e corrigir os erros nas políticas educacionais, mas será preciso fazer ainda mais para superar séculos de racismo.

Na semana passada, o presidente Lula sancionou a lei 14.723, que consolida, expande a aperfeiçoa a Lei de Cotas de 2012. Foram incluídos quilombolas, reduzido o teto de elegibilidade de 1,5 para 1,0 salário mínimo e realizados ajustes para evitar a reprovação injusta de cotistas com notas superiores às de aprovados na ampla concorrência.

Poesia | Os três mal amados (Trecho) - João Cabral de Melo Neto com narração de Mundo dos Poemas

 

Música | Caetano Veloso - Zumbi

 

Música | Martinho da Vila - Zumbi dos Palmares, Zumbi