sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Reflexão do dia – Karl Marx

A questão de saber se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão teórica, mas prática. É na práxis que o homem deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não-realidade de um pensamento que se isola da práxis – é uma questão puramente escolástica.

Karl Marx, in: Teses sobre Feuerbach - II -, A ideologia Alemã, pág. 125 – 3ª edição – Editora Ciências Humanas, São Paulo, 1982.)

Balanço das eleições e a defesa da democracia:: Marco Antonio Coelho*

DEU NA REVISTA POLÍTICA DEMOCRÁTICA, Nº 28

Para as correntes democráticas é indispensável extrair ensinamentos das eleições recentemente realizadas no Brasil. Não fomos vitoriosos no pleito para a Presidência da República e a coligação lulista ampliou seu poder no Congresso Nacional. Por isso tais fatos aumentam as responsabilidades dos engajados na causa democrática.

A oposição não foi esmagada e foi correta nossa atitude de combater as forças aglutinadas pelo governo federal. Mas, por que fomos derrotados? Em primeiro lugar, cabe acentuar que algumas forças democráticas e personalidades progressistas optaram pelo voto em Dilma Rousseff, porque não entenderam que no pleito estava em questão a política de Lula.

Elas adotaram uma posição equivocada, apoiadas no fato de Lula haver sido um dos milhões de nordestinos emigrantes, no pau-de-arara, e depois se tornou um líder sindical na indústria de São Paulo. Não entendem que ele passou a jogar um papel negativo na situação política, pois empenha-se em cercear as instituições políticas, os movimentos populares, sindicais e sociais. Nessa trajetória, ele não utiliza a violência aberta como os ditadores militares, mas utiliza diferentes formas de aliciamento das instituições, inclusive afastando os que não se dobram ante sua prepotência.

Um exame sumário desse quadro é bem significativo: busca reduzir ao silêncio e à cumplicidade o Congresso Nacional; aviltou a atuação da maioria dos partidos políticos com práticas semelhantes ao “mensalão”, ou com a destruição implacável de líderes parlamentares transformados em inimigos de morte (exemplos – Artur Virgílio e Tasso Jereissati); desmoralizou personalidades que poderiam lhe criar problemas, como Ciro Gomes; imobilizou a atuação dos setores progressistas da Igreja Católica; liquidou com a bela tradição das organizações estudantis na base do estipêndio a seus dirigentes, usando para tanto a subserviência do PCdoB.

Nessa atividade recorre com esperteza a violações das normas constitucionais, distribuindo recursos públicos, conforme seja conivente ao êxito de seus planos. Consegue tais resultados porque diariamente ocupa a televisão para ficar no centro dos debates. Proclama barbaridades num dia e poucas horas depois afirma o contrário, como um oráculo que lança juízos inapeláveis e não presta contas a ninguém. Para tanto usa imagens relacionadas com o futebol, já que são entendidas por todos.

Tudo isso é feito porque conquistou o apoio popular, uma vez que atende a limitadas reivindicações das camadas subalternas por meio de uma prática assistencialista, enquanto preserva os interesses das grandes entidades financeiras e de outros setores privilegiados. Nunca no país o sistema bancário e as grandes empresas obtiveram lucros tão elevados, sendo que algumas delas conquistaram posições relevantes no mercado internacional.

Perdemos porque, segundo o Ibope, nas vésperas do pleito, 55% dos eleitores julgavam que a candidata do PT é que daria maior atenção aos problemas das massas populares. Esse quadro não foi montado tão somente no decurso da campanha eleitoral. Resultou de uma atividade, realizada no curso de dois mandatos de Lula na Presidência da República. E porque durante vários anos essa política não foi denunciada, porque a oposição curvou-se ante o prestígio popular de Lula. É interessante assinalar que, durante a campanha eleitoral, a maioria das correntes de oposição limitou-se a atacar a candidatura de Dilma e não centralizou o fogo no que era essencial. Ou seja, não combateu a política de Lula.

Ademais, ao longo de quase oito anos, o governo Lula implantou acordos com as lideranças das organizações trabalhistas e populares, inclusive o movimento estudantil. Manipulação baseada em polpudas subvenções financeiras e no uso de outras vantagens concedidas pelos fundos de pensão. E o governo não mediu esforços para afastar das organizações sociais todos que contestam as iniciativas do Palácio do Planalto.

Na execução de seu plano, Lula vem se empenhando em controlar a imprensa e outros veículos de comunicação, além de estruturar uma poderosa máquina propagandista dos “méritos” governamentais. As razões disso são claras: as denúncias de corrupção no governo surgiram nos órgãos de comunicação, mostrando a realidade em que vivemos no Brasil, com todas suas mazelas e carências. Daí o propósito de silenciar a imprensa, mas até agora o governo não obteve êxito nesse empreendimento, graças aos protestos de inúmeros setores da vida social.

Essa atuação do governo lulista foi facilitada por erros cometidos por personalidades oposicionistas, sendo um exemplo disso o sucedido no governo do Rio Grande do Sul. Lula apoiou-se em falhas como esta para afirmar que a corrupção é generalizada e também prolifera entre oposicionistas.

Alguns dados importantes na campanha eleitoral

Agora vivemos dias de glorificação da vitória de Dilma Rousseff, porém a realidade é assustadora. A política de Lula e do PT conduziu o país a uma situação difícil, porque o Brasil ficou dividido quase ao meio e as divergências serão acirradas em razão do comportamento do PT de não respeitar partidos que não rezam pela sua cartilha. Lula foi muito claro ao afirmar num discurso que “o DEM deveria ser extirpado de Santa Catarina.”

Para os observadores estrangeiros, o panorama eleitoral de nosso país é surpreendente. A coligação de partidos, sob a liderança do PT, conseguiu indiscutível vitória na disputa da Presidência da República. No entanto, em estados importantes o mesmo não ocorreu. Vários fatores causaram essa diversidade, demonstrando a fragilidade dos partidos e porque lideranças locais jogam um papel significativo, assim como o bom ou o mau desempenho de seus militantes nos governos estaduais e nas prefeituras. E tornou-se prática rotineira a opção eleitoral ser um arranjo de candidatos de partidos diferentes. Um exemplo – em Minas Gerais foi importante a chamada Dilmasia, o movimento unindo as candidaturas de Dilma (PT) e de Anastasia (PSDB).

No primeiro turno, a grande novidade foi a extraordinária votação obtida pelo Partido Verde, que teve cerca de vinte milhões de votos. Assim, pela primeira vez ficou demonstrado que uma parcela ponderável de nossa população é sensível à luta em defesa do meio ambiente. Portanto, a causa ambientalista deixou de ser uma reivindicação de uns poucos para ser uma força na política brasileira.

No processo eleitoral houve dados negativos, como o fato de os principais partidos (tanto de participantes da frente governamental como entre os oposicionistas) terem feito concessões exageradas a entidades religiosas, chegando ao ponto de violar o princípio republicano de que o Estado brasileiro é laico e garante a liberdade de crença.

Durante a campanha eleitoral comprovou-se como é nociva a política do PT de colocar seus militantes em cargos de direção nas empresas estatais e à frente de instituições governamentais, em detrimento dos servidores de carreira. Conduta que propiciou o avanço da corrupção e o desvio de recursos públicos para o financiamento da estrutura do PT, causando sérios prejuízos ao poder público.

Também a vitória do PT no pleito presidencial deveu-se em grande medida à normalidade da situação econômica e financeira do país. Fato que, em grande parte, decorre da herança recebida do governo de FHC, notadamente o controle da inflação e a estabilização da moeda. Em segundo lugar, porque Lula se beneficiou de um panorama não abalado por sérias crises internacionais.

Lições para a luta democrática

No curso dos debates eleitorais, tornou-se insofismável que Lula deseja assegurar o controle total e absoluto do Estado brasileiro, passando por cima das instituições. Nesse empenho, ele tenta esmagar todos os que contrariam sua política, segundo o exemplo de Mussolini na Itália.

Esse propósito fica transparente inclusive no seu relacionamento com o PT, pois em diversos casos Lula foi impondo a esse partido seus objetivos meramente pessoais. O exemplo mais nítido desse comportamento ocorreu no estado de Minas, o que redundou numa fragorosa derrota do PT.

Dilma Rousseff foi indicada como candidata do governo porque Lula pretende voltar à Presidência da República em 2014. Embora na cúpula governista estivessem personalidades de renome e com longa experiência política (como Tarso Genro, Patrus Ananias, Ciro Gomes etc), Lula escolheu Dilma porque ela não tinha voo político próprio, sendo inteiramente dependente de seu patrocinador.

Apesar de nossa derrota no pleito presidencial, existem hoje no país forças que podem impedir o avanço do autoritarismo de Lula e do PT. Porém, de forma alguma seguiremos o comportamento dos petistas, que durante anos pregaram a derrubada do governo de Fernando Henrique Cardoso. As correntes democráticas respeitarão com zelo a vontade dos eleitores, expressa nas urnas. Mas será difícil ao novo governo cumprir as promessas apresentadas por Lula e Dilma Rousseff na campanha eleitoral. Em sendo assim, logo surgirão divergências na coligação dos vitoriosos nesse pleito. Não será uma surpresa que, a médio prazo e diante da realidade concreta, setores que apoiaram Lula se desprenderão do Palácio do Planalto. Por isso, devemos aproveitar tais ocorrências para superar as divergências na oposição.

Daqui para frente estaremos diante de uma realidade nova, pois haverá uma dualidade de poderes na Presidência da República. Então, devemos concentrar nossas forças no combate à política de Lula, pois ela é o principal instrumento do regime político dominante.

De uma forma concreta, devemos fortalecer a resistência democrática, defendendo com intransigência as instituições, a fim de bloquear medidas antidemocráticas do governo federal. Uma batalha prioritária é a defesa da liberdade da imprensa e de todos meios de comunicação.

No panorama internacional, nuvens negras prenunciam dificuldades que atormentam os países. Terminou o período de relativa bonança econômica no mundo. Alguns especialistas afirmam que estamos diante de uma crise global, semelhante àquela vivida oitenta anos atrás. A gravidade dessa crise é medida pelo fato de atingir os Estados Unidos. O desafio aos povos começa com as mudanças no clima e com catástrofes naturais ou decorrentes do uso suicida de riquezas da natureza.

O quadro está evoluindo rapidamente e isso forçará alterações em nossa política, acarretando novas responsabilidades para o Brasil. A guerra cambial em curso demanda um acordo em escala internacional, uma vez que serão insuficientes providências adotadas isoladamente em um país.

A oposição não poderá endossar algumas posições de Lula, entre as quais o respaldo a governos ditatoriais, que violam sem qualquer escrúpulo os direitos humanos. Devemos fazer uma crítica à xenofobia que se alastra pelo mundo e combateremos as restrições à emigração de contingentes populacionais de países mais pobres.

Mais do que nunca, tendo em vista o papel destacado do Brasil, devemos ter uma política externa que sobretudo tenha como objetivo central a causa da paz e o apoio aos povos que buscam trilhar o caminho do progresso e da justiça social.

Marco Antonio Coelho é advogado, jornalista, ex-dirigente nacional do PCB, ex-editor executivo da revista Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, autor dos livros Herança de um sonho – memórias de um comunista (Editora Record) e Rio das Velhas – memória e desafios, (Editora Paz e Terra) e atual editor da revista Política Democrática.

O mito Lula:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A despedida do presidente Lula transmitida ontem em cadeia nacional de rádio e televisão tem pontos comuns com dois outros documentos que já fazem parte da história política recente do país, a carta-renúncia de Jânio Quadros de 25 de agosto de 1961 e, principalmente, a carta-testamento de Getulio Vargas, de 23 de agosto de 1954. Os momentos políticos são diferentes, evidentemente, mas os três textos são narrativas de corte populista e espelham a vontade de permanecer com papel ativo na política brasileira.

O deputado federal Chico Alencar, do PSOL do Rio, reassumiu momentaneamente seu lado de professor de história para identificar algumas dessas semelhanças.

O famoso "saio da vida para entrar na História" de Getulio tem como similar um "saio do governo para viver a vida das ruas".

A presença quase mística, sempre que o "povo sofrido" estiver humilhado, como Vargas destacou, tem o sucedâneo no "onde houver um brasileiro sofrendo quero estar espiritualmente ao seu lado", e "que minha lembrança lhes traga um pouco de conforto".

O tom épico, com alguma pitada dramática, também esteve presente na carta-renúncia de Jânio, naquele agosto de 1961.

De fato, existem essas e muitas outras semelhanças, sobretudo de tom populista, embora o texto da carta-testamento seja superior em termos de estilo e ênfase.

Getulio Vargas, sabendo que, com o suicídio, transformava uma derrota em vitória política, escreveu: "E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém". E com a certeza de que saía "da vida para entrar na História".

Jânio Quadros, "vencido pela reação", deixou o governo "com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil", encerrando "esta página da minha vida e da vida nacional", mas, ao que tudo indica, esperava que a renúncia não fosse aceita para voltar ao governo com plenos poderes.

Todos os três colocam-se como defensores do povo. Jânio afirma na carta-renúncia: (...) "baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo".

Lula diz que se algum mérito teve foi "haver semeado sonho e esperança". "Meu sonho e minha esperança vêm das profundezas da alma popular - do berço pobre que tive e da certeza que, com muita luta, coragem e trabalho, a gente supera qualquer dificuldade. E quando uma pessoa do povo consegue vencer as dificuldades gigantescas que a vida lhe impõe, nada mais consegue aniquilar o seu sonho, nem sua capacidade de superar desafios".

Já Getulio, na sua carta-testamento, afirma: "Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo".

Tanto Lula quanto Getulio atacam "as elites". Escreveu Getulio: "À campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário-mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente".

Lula também usou a Petrobras na despedida: "Também estamos fazendo os maiores investimentos mundiais no setor de petróleo, principalmente a partir da descoberta do pré-sal, que é o nosso passaporte para o futuro".

E atacou os que governaram o país, segundo ele, com visão elitista: "Se governamos bem, foi principalmente porque conseguimos nos livrar da maldição elitista que fazia com que os dirigentes políticos deste grande país governassem apenas para 1/3 da população. E se esquecessem da maioria do seu povo, que parecia condenada à miséria e ao abandono eternos".

Getulio Vargas deixou em sua carta-testamento um registro emocionado da ligação com o povo. "Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta".

Lula foi pelo mesmo caminho: "Minha felicidade estará sempre ligada à felicidade do meu povo. Onde houver um brasileiro sofrendo, quero estar espiritualmente ao seu lado. Onde houver uma mãe e um pai com desesperança, quero que minha lembrança lhes traga um pouco de conforto. Onde houver um jovem que queira sonhar grande, peço-lhe que olhe a minha história e veja que na vida nada é impossível. Vivi no coração do povo e nele quero continuar vivendo até o último dos meus dias".

O Lula da fase de líder sindicalista defendia o fim da Era Vargas, dizia que a CLT é o "AI-5 dos trabalhadores" e ironizava Vargas como sendo o "pai dos pobres e mãe dos ricos".

Hoje, a CLT e a unicidade sindical (apenas um sindicato por categoria em cada município), marcos da Era Vargas, persistem e foram aprofundados com o reconhecimento das Centrais Sindicais e o aparelhamento do Estado, atualizando o peleguismo e o corporativismo.

E Lula tenta virar um "Vargas vivo", o que mais temia Fernando Henrique Cardoso na crise do mensalão, referindo-se à possibilidade de um impeachment transformar Lula em vítima, assim como o suicídio transformou o sentimento do povo em relação a Getulio Vargas.

A coluna volta a ser publicada no dia 4 de janeiro. Feliz Natal a todos.

O boquirroto:: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Todas as atenções estão voltadas para a chegada de Dilma e a saída de Lula (não necessariamente nesta ordem). Mas é preciso ficar de olho nos governadores, que vêm com força. É principalmente neles que está o futuro.

Um é impossível não notar: Sérgio Cabral, do Rio, que se reelegeu em primeiro turno, fez campanha apaixonada por Dilma, acertou com Jobim botar os militares na rua e não para de... falar besteira.

Primeiro, Cabral matou a possibilidade de nomear o ministro da Saúde ao anunciar publicamente o nome do seu secretário da área, irritando o seu partido, o PMDB, e atropelando a própria Dilma. O PMDB gritou, Dilma teve de recuar. Adeus Ministério da Saúde!

Depois, Cabral saiu anunciando que o Exército ficaria no Rio sete meses, dez meses, uma eternidade, enquanto a lei prevê limites para evitar que o excepcional vire corriqueiro. Lá se foi Nelson Jobim dar tratos à bola até chegar a um meio termo: nem desautorizar a lei nem o governador. Daí porque a segunda "diretriz" da Defesa sobre o Rio simplesmente não fala em prazos.

Não satisfeito, Cabral foi defender a liberalização do aborto, e a emenda saiu pior que o soneto. "Quem aqui não teve uma namoradinha que teve de abortar?", perguntou num encontro sobre oportunidades de investimentos e negócios. Frase errada na hora errada.

A última do Cabral foi defender o jogo livre no Brasil: "Chega de demagogia e hipocrisia.

Para ter o jogo é só estabelecer regras rígidas de controle". E justificou: "Essa verba arrecadada poderia beneficiar muita gente e gerar empregos".

Antes, o Rio tinha o jogo do bicho e deu no que deu. Quando a juíza Denise Frossard botou todo mundo na cadeia, veio o narcotráfico. Agora, recuperam-se as favelas e vem a legalização do jogo.

Assim o Exército não vai sair nunca do Rio. Até afundar junto com ele na baía da Guanabara.

PS - Ótimo Natal!

Chanchada na largada:: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - O futuro ministro do Turismo de Dilma Rousseff patrocinou com dinheiro público uma noitada a amigos no Motel Caribe, na periferia de São Luís. Até ontem uma figura obscura e irrelevante da política nacional, o deputado Pedro Novais, do PMDB maranhense, usou R$ 2.156 da sua "verba indenizatória" (R$ 32 mil mensais, além do salário) para pagar essa farra privada. Aconteceu em junho.

Uma porção de rabanadas natalinas a quem adivinhar: quem é, quem é o padrinho da indicação do animado deputado ao ministério? Sim, o próprio. José Sarney, em parceria com Henrique Eduardo Alves (RN), o líder do PMDB na Câmara.

Flagrado agora pelo jornal "O Estado de S. Paulo", Novais "corrigiu o erro", como ele disse, e devolveu o dinheiro. Deveria fazê-lo fantasiado de Papai Noel, o bom velhinho.

Ontem, quem alegou "erro administrativo" foi a futura ministra da Pesca, Ideli Salvatti, do PT-SC. A Folha revelou que a senadora gastou mais de R$ 4 mil de verba indenizatória para pagar diárias de um hotel em Brasília, ao mesmo tempo em que recebia o auxílio-moradia.

Ideli, Novais, Pesca, Turismo... Não é o caso de perguntar o que essa gente fazia no hotel ou no motel -e sim o que vai fazer no governo.

O Ministério da Pesca é uma piada em si. E o Turismo se transformou nos últimos anos num entreposto de emendas fajutas, uma espécie de Casa das Fraudes a serviço de conchavos parlamentares.

Dilma deveria levar mais a sério o pouco que falou depois de eleita. Na sua primeira entrevista coletiva, ela disse o que buscava nos seus ministros: "Vou exigir competência técnica, desempenho, um histórico de pessoas que não tenham problemas de nenhuma ordem".

Ao tolerar que a periferia do primeiro escalão do governo seja loteada na base da chanchada, a presidente desautoriza a si mesma e destrava portas que não deveria. Não é a melhor maneira de subir a rampa. Sobretudo para quem bancou Erenice Guerra na Casa Civil.

As políticas macroeconômicas de Lula :: Rogério Furquim Werneck

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Não há como rememorar a sinuosa política econômica dos últimos oito anos sem começar pela metamorfose por que passou o PT na campanha eleitoral de 2002. Cerca de um ano e meio antes, nas eleições municipais do final de 2000, o partido havia patrocinado um despropositado plebiscito, que indagava se o governo deveria de fato pagar suas dívidas interna e externa. Não se tratava de desatino que pudesse ser atribuído a alas radicais ou ao baixo clero do partido. Muito pelo contrário. A consulta popular contava com o apoio explícito e determinado da elite dirigente do PT e de seus economistas mais proeminentes.

Não foi surpreendente, portanto, que a perspectiva de vitória do PT em 2002 desencadeasse avassaladora onda de desestabilização da economia. Foi o temor de que tal surto de incerteza pudesse botar a perder a vitória de Lula que levou à guinada no seu discurso econômico, a partir de junho de 2002, com a publicação da "Carta ao Povo Brasileiro". O que se seguiu é bem conhecido: a eleição de Lula, a nomeação de Antonio Palocci e Henrique Meirelles e a crise aplacada por uma política econômica que, em meio ao assombro do país e o ranger de dentes de boa parte do PT, apenas seguia e aprimorava o que vinha sendo feito no governo anterior.

Quis a História, com alguma ironia, que coubesse a Lula colher os frutos de 15 anos de penosa mobilização do país com a estabilização macroeconômica. A expansão da economia mundial e o boom de preços de commodities, advindo do rápido crescimento da Ásia, criaram ambiente propício para que a política econômica do novo governo logo redundasse em aceleração do crescimento a partir de 2004.

Ao contrário do que resmunga parte da oposição, foi uma sorte para o país que a política econômica de Lula tivesse logrado resultados tão positivos já em 2004. Não se sabe o que poderia ter ocorrido, se as convicções de Lula e do PT sobre o acerto da política econômica tivessem de ter passado, àquela altura, pelo teste de uma espera mais prolongada pela retomada do crescimento.

Em 2005 a equipe econômica chegou até a propor a adoção de medidas de ajuste fiscal para conter a expansão de gastos do governo. Mas, com a brusca mudança do quadro político que se seguiu à eclosão do escândalo do "mensalão", o cálculo político do Planalto passou a ser dominado pelo imediatismo, especialmente depois da queda de Palocci, em março de 2006.

Na esteira do descabeçamento do PT e da fragilização política do presidente, o governo entendeu que não tinha como se dar ao luxo de conter gastos. O senso de urgência apontava na direção oposta. A prioridade passou a ser fazer o melhor uso possível do círculo virtuoso por que passava a economia para assegurar a reeleição do presidente.

O segundo mandato afigurava-se, de início, bastante promissor: quatro anos de crescimento rápido, em meio a um ambiente externo favorável. O bom desempenho da economia em 2007 reforçou ainda mais esse otimismo. E o governo chegou até a considerar a possibilidade de substituir Henrique Meirelles por um nome mais alinhado ao "desenvolvimentismo". Mas a rápida deterioração do ambiente externo, na esteira da crise financeira de 2008, impôs novo choque de realidade ao Planalto.

A perspectiva de uma crise mundial prolongada foi o ensejo que faltava para que o governo decidisse abrir as comportas do gasto público, com a criação de um orçamento paralelo no BNDES com ligação direta ao Tesouro. A verdade, contudo, é que o impacto da crise no Brasil acabou sendo muito menor do que se temia. Após breve recessão em 2009, a economia voltou à trilha do crescimento rápido. O que não impediu que, ao longo de 2010, o governo insistisse na política fiscal expansionista, fixado no objetivo de garantir a vitória de sua candidata na eleição presidencial.

O decantado compromisso com a coerência da política macroeconômica que Lula exibiu de início não durou muito. Esvaiu-se aos poucos, a partir de 2005, ao sabor das circunstâncias políticas, e acabou no vale-tudo fiscal deste ano.

Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio.

Cabral do Rio:: Mírian Leitão

DEU EM O GLOBO

O governador Sérgio Cabral disse que as forças de paz instaladas ontem não têm data para sair do Rio. Cabral negou que tirou o secretário de Assistência Social para atender ao PT, que queria o cargo. O governador defendeu a descriminalização do aborto e a legalização do jogo. Disse que o Rio vai ganhar a briga no STF contra a União, no caso do petróleo cedido à Petrobras.

Entrevistei Cabral no Espaço Aberto, da Globonews. Ele teve um dia cheio, que começou com a instalação das forças de pacificação no Complexo do Alemão:

- Me emocionei; foi a vez que cantei o Hino Nacional com mais emoção. A cerimônia foi num local que era o clube dos traficantes. Ali era o centro de comando, dos bailes funk, onde eles levavam as meninas.

As Forças Armadas não têm tempo determinado para sair, segundo o governador:

- O importante dessa parceria é que ela permitiu que nós não comprometêssemos nosso calendário de UPPs. A retomada do território demanda um tempo das forças mais ostensivas. Aconteceu assim na Cidade de Deus, no Chapéu Mangueira, Babilônia. Na Cidade de Deus, ficamos quatro meses até que as UPPs pudessem entrar. Esse processo ia acontecer no Alemão entre 17 a 18 meses. A Inteligência mostrava que era ali o olho do furacão. Existem outros furacões, mas ali era o maior. Para enfrentá-lo, precisávamos de armamentos que a própria legislação nos impede. Para comprar um helicóptero blindado foi uma loucura.

Quando, do ponto de vista militar e de segurança, o projeto parece vitorioso, o governador exonera o secretário de Assistência Social, Ricardo Henriques, que é considerado um dos melhores quadros na área de políticas públicas. Ele é um dos formuladores do Bolsa Família.

Cabral alega que não cedeu à barganha política:

- Está entrando um secretário muito qualificado, Rodrigo Neves. Não foi pressão política. Não tenho nada contra Ricardo Henriques, mas acho que a ideia de uma UPP Social é cada vez mais municipal: é recolhimento de lixo, esporte e lazer, creches. São dois bons quadros, mas eu não estou perdendo não.

O governador criticou a mudança feita pelo presidente Lula no regime de exploração de petróleo e admite que o veto do presidente à emenda Simon não resolve inteiramente o problema. Ele defendeu o regime anterior, o de concessões, do governo Fernando Henrique, dizendo que funcionou bem. Em relação à briga no Supremo pelos royalties do petróleo, que foi objeto de cessão onerosa para a Petrobras, o governador disse que ela vai continuar e está confiante de que vai ganhar:

- A cessão onerosa foi feita quando o regime ainda era de concessão e portanto o estado tinha direito à participação especial. Foi um desrespeito à lei. Por isso, entramos na Justiça e não tenho dúvidas de que vamos ganhar. Quanto à mudança para o regime de partilha, eu era contra e disse isso. O Brasil cresceu, se desenvolveu, operou parcerias no regime criado por FHC.

Na visão de Cabral, com o veto e a nova proposta de redivisão de royalties, o Rio deixará de ganhar o que ele ganharia no futuro. Ele disse que não teme que no Congresso se forme novamente a coalizão de 24 estados contra dois - Rio e Espírito Santo - e seja derrubado o veto ou mudado o projeto de lei para retirar mais receitas do Rio:

- Não acredito, porque passou o ano eleitoral. A presidente Dilma já reafirmou o acordo comigo.

Ele disse que o Rio é o segundo maior contribuinte do Fundo de Participação dos Estados, e é o penúltimo em receitas que recebe do FPE por habitante. E disse que há estados que recebem do Fundo quase igual ao que o Rio recebe hoje de royalties do petróleo:

- É assim que se faz uma federação, respeitando os direitos dos estados. Quando se desrespeita um direito consagrado na Constituição, se está desrespeitando o princípio federativo. Fiquei chocado com a violência no Congresso produzido por aquele clima pré-eleitoral.

Falei com o governador sobre a forma como ele se referiu recentemente à questão do aborto - "quem aqui nunca teve uma namoradinha que tivesse que abortar?" Perguntei a ele que frase é esta. Se ele não estaria "banalizando" a questão, depois de na campanha os candidatos, inclusive a presidente eleita, terem tratado de forma moralista esse problema:

- Eu não banalizei. Coloquei a questão diante de senhores executivos para ressaltar que eles podem ter tido que enfrentar essa questão difícil, uma namorada ou uma companheira, ou caso fortuito. Sou a favor da descriminalização do aborto, a discutir o tema de forma transparente e que haja política pública para se oferecer à população carente. Por que não se faz um plebiscito?

Eu sempre coloquei assim, nunca tive temor de discutir esse tema nem qualquer outro. Fui autor da lei que permite a pensão para parceiros do mesmo sexo e, no Senado, fui autor da PEC permitindo união estável de casais do mesmo sexo. São temas polêmicos. No jogo, o Brasil está na companhia do Afeganistão e Cuba, como únicos países que proíbem. Argentina, Chile, China, França, Inglaterra, Estados Unidos, todos permitem o jogo.

O governador Sérgio Cabral defendeu a siderúrgica CSA, do grupo Thyssen, apesar de seu funcionamento ter provocado a emissão de uma fuligem que cobriu toda a região de Santa Cruz. Ele alega que não errou quando deu a licença e garante que a fuligem e a fumaça não causaram dano ambiental. Já a CSN, ele diz que é nociva ao meio ambiente.

Controvérsias à parte, o que a coluna deseja a todos é um feliz Natal, sem dúvida.

Sem ministério no Natal:: Marcos Sá Corrêa

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Os políticos trabalharam tanto ultimamente para compor o ministério do governo Dilma Rousseff, embananar mais uma conferência do clima e resolver outros problemas cruciais da humanidade que às vezes a gente se esquece de quem trata de assuntos concretos cá embaixo.

Séculos inteiros podem passar sobre o cotidiano antes que um historiador como Fernand Braudel resolva cavucá-lo em busca da História silenciosa, a que parece imóvel mas, calada, move o mundo. E nada impede que, um dia, 2010 seja lembrado como o ano em que a GM começou a fazer nos Estados Unidos um carro elétrico, o Volt, com a escória do plástico que serviu para enxugar o óleo derramado pela BP no Golfo do México.

Isso não faz necessariamente da GM um modelo para o futuro. Suas vendas de carros estão em queda. As de picapes e outros mastodontes de lata em alta. O Volt fecha o ano com 10 mil carros vendidos. Deve emplacar uns 45 mil em 2011. Por enquanto, só está aí para provar que existe. Mas é o quanto basta para lançar a sombra da obsolescência e do anacronismo sobre os carros que fabricamos, importamos e compramos como nunca no Brasil. Se até a GM já faz carro elétrico, está na hora de adiar a visita às concessionárias que não acertarem o passo com as matrizes estrangeiras.

Não adianta argumentar que, sim, nossos carros novos estão na fila de velharia, mas em compensação o i-Pad e todos os "i-s" da Apple já desembarcaram em massa no Brasil. Vestidos de alumínio, são todos tão elegantes que esta semana, no Wall Street Journal, o jornalista Brett Arends, guru de bolsa, admitiu que as ações da Apple furaram estrepitosamente o teto de cotação que ele considerava prudente, ou mesmo possível. É que não se trata mais de uma empresa de tecnologia, mas de uma grife. "A Apple", ele alegou, "é uma marca de luxo, como a Hermés ou Tiffany".

E é exatamente por estar tão em voga que não pode dar ao freguês a sensação de que, ao adquirir um objeto bonito, comete em público um ato feio. Para remediar o embaraço, a última palavra em acessório para MacBook pode ser um atestado de bom comportamento, expedido em Nova York pela Belgrave Trust. A Belgrave calculou quanto cada MacBook de alumínio custará ao planeta, da fábrica ao fim da vida útil. São 630 quilos de dióxido de carbono, que o feliz proprietário pode zerar, de saída, pela bagatela de US$ 10, investidos em reflorestamento. Se colar, a indulgência da Belgrave arrecadará uns US$ 100 milhões. É árvore que não acaba mais.

E, para não parecer que só o presente aponta para o futuro, ponha-se no pacote do Natal o Homem de Denisovan. Ou seja, o osso da mão de uma prima do Homem de Neandertal descoberta na Sibéria. É uma velha obsessão do biólogo Bernd Heinrich o sumiço repentino dessas criaturas, que tinham cérebros tão grandes quanto os nossos, usavam fogo, despachavam seus mortos com flores e zanzaram pela Ásia e a Europa por mais de 250 mil anos.

Ele acredita que o Homem de Neandertal sobreviveu pacificamente a três eras glaciais por ter o corpo coberto de pelos. Desapareceu porque o clima esquentou, abrindo alas para o glabro Homo sapiens e sua incurável propensão a exterminar tudo o que considera diferente. O homem peludo sofreu a primeira campanha de limpeza étnica de nossa história. E Heinrich insiste que ele até hoje tem algo a nos dizer sobre as vantagens para o planeta da coexistência pacífica. A época não poderia ser mais propícia para o dedo de Denisovan indicar o caminho.


É jornalista

Casa, carros e plástico-bolha:: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Apesar de certa histeria com alta do crédito para imóveis e veículos, parece muito remota a hipótese de bolha

O crédito no Brasil cresce à taxa de 20% ao ano. Quase nada cresce a 20% ao ano -com exceção de cogumelos depois da chuva e das cidades-fantasmas da especulação imobiliária chinesa. O estoque de crédito no Brasil, além do mais, cresce ao quíntuplo do ritmo médio da economia nos últimos oito anos, quando o PIB avançou, em média, 4% ao ano. Apenas nos últimos 12 meses, o crédito para habitação subiu 54%; o para veículos, 48% (afora operações de leasing, que vêm murchando desde julho de 2009).

Essas disparidades suscitam conversas sobre bolha, em particular nos mercados imobiliário e de veículos. As definições de bolha são um tanto controversas ou imprecisas. Mas nem todo excesso financeiro é bem uma bolha, que tem consequências mais graves do que ondas de inadimplência derivadas de uma demasia de empréstimos.

Mas quão importantes em relação ao PIB são ou ficaram os financiamentos para imóveis e veículos?

O estoque de crédito para habitação, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, relativos a novembro, equivale a 3,7% do PIB, mais ou menos um terço do registrado em países como Chile e México -um nada, pois. Os executivos do setor imobiliário de bancos privados, da Caixa Econômica Federal e de associações do setor vêm dizendo que o crédito para imóveis pode ir, sem problemas e rapidamente, para 10% do PIB em quatro anos.

Além de pequeno, o crédito imobiliário no Brasil é conservador. Aqui, as entradas do financiamento imobiliário são grandes, muito acima da média de países comparáveis, assim como a inadimplência é bem inferior (até devido ao fato de o comprador do imóvel já ter comprometido muita renda na entrada do financiamento). A participação de instrumentos financeiros mais complexos no financiamento ou no refinanciamento imobiliário é minúscula.

Nosso mercado, nesse aspecto, ainda é tão primitivo que limita o aparecimento de bolhas.

No caso da compra de veículos, a situação é mesmo algo mais enrolada, pelos motivos sabidos. Há financiamentos longuíssimos para um bem que perde um terço do valor em um ano, que dirá em quatro ou cinco. Logo, em caso de inadimplência o credor recupera parte muito pequena da dívida se retomar e vender o "colateral", a garantia, o próprio bem. Enfim, o BC acaba de dar um jeito de evitar eventuais excessos perigosos, com medidas que induzem a limitação de prazos de financiamento e/ou o encarecem.

Isso não significa desprezar o fato de que, por exemplo, o crédito para pessoas físicas crescia ainda rápido demais em novembro. Porém, isso tem mais cara de problema macroeconômico do que de bolha.

Evidentemente, uma parada súbita e catastrófica da economia pode encardir o balanço dos bancos. Porém, a economia e os bancos passaram bem nesse teste, na crise de 2009. O grande problema financeiro daquele ano foram os derivativos cambiais, uma farra incompetente promovida por grandes empresas em conluio com bancos estrangeiros, em operações não reguladas.

No que há de mais visível, o crédito bancário, as coisas parecem bem administradas. Mas aparentemente ainda resiste no país um medo do crescimento econômico, temor que se manifesta em especial quando pessoas comuns vão às compras.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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FELIZ NATAL


Presidente compara mensalão a caso Escola Base

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Breno Costa

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou o escândalo do mensalão, responsável pela maior crise de seus oito anos de governo, ao caso Escola Base, quando, na década de 90, donos de uma escola paulista foram acusados injustamente de abuso sexual contra crianças.

Em entrevista ao site do produtor Celso Athayde, Lula sugeriu inocência dos acusados. O Supremo Tribunal Federal aceitou denúncia contra 40 réus acusados de envolvimento no escândalo.

"Comparo também com o caso da Escola Base, em que os donos foram acusados de molestar sexualmente as crianças. Eram absolutamente inocentes, mas começaram a ser bombardeados e a ser conhecidos como "os monstros da Escola Base"."

O presidente questionou o fato de que o processo contra os acusados continuou mesmo sem apresentação de provas pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ).

"O que mais me intriga é que o deputado que fez a acusação [do mensalão] foi cassado porque não apresentou prova. Mesmo assim, o processo contra os acusados continuou", disse.

Na noite de quarta, no último jantar com seus ministros e ex-ministros, Lula pediu que os aliados não "subestimem" a oposição.

Ao afirmar que o senador eleito Aécio Neves já se apresenta como candidato à Presidência pelo PSDB em 2014, disse que a oposição deve ser "respeitada e vigiada".

O recado foi dado pelo presidente no Palácio da Alvorada, em rápido discurso durante o jantar.

Depois de Lula, a presidente eleita Dilma Rousseff pegou o microfone para falar em nome dos ex-ministros.

Ela usou um tom informal para agradecer ao presidente por ter dado a chance de os ministros de mostrarem trabalho no governo. Dilma chorou ao abraçar Lula e Marisa Letícia.

Em despedida na TV, Lula inflou dados do governo, como o percentual de aumento do mínimo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em despedida, Lula infla dados do governo na TV

Presidente diz que mínimo subiu 67%, quando na verdade alta foi de 53,5%

Em fala de 11 minutos em rede nacional, petista diz que criou 14 universidades federais, mas apenas 5 são novas

Angela Pinho e Gustavo Patu

BRASÍLIA - No seu último e mais longo pronunciamento em rede nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se despediu dos brasileiros elencando uma série de dados inflados sobre a sua gestão.

O discurso, de 11 minutos, foi ao ar ontem às 20h. Nele, o petista afirma que o salário mínimo no seu governo teve ganho real de 67%, cifra mais modesta do que os 74% citados pela presidente eleita Dilma Rousseff durante a campanha para o Planalto, mas também enganosa.

De 2003 a 2010, o mínimo teve oito reajustes, que ao todo chegaram a 53,5% acima da inflação acumulada.

Na campanha de 2002, Lula havia prometido duplicar o poder de compra do mínimo em quatro anos.

Ao falar sobre educação, o presidente também citou dados distorcidos sobre o Orçamento, afirmando que o gasto na área triplicou. Para chegar a esse resultado, o presidente ignorou a inflação acumulada no período.

O presidente também repetiu discurso propalado pelo Ministério da Educação segundo o qual foram criadas 14 universidades federais em seu governo. Dessas, apenas cinco são de fato novas. As demais são resultado de ampliação, fusão ou desmembramento de instituições de ensino que já existiam.

Ao falar sobre pobreza, o presidente disse ter promovido "a maior ascensão social de todos os tempos".

Não há estatísticas que compreendam períodos mais remotos, mas estudo de Sonia Rocha publicado em 2000 pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) calculou que a proporção de pobres na década de 1970 caiu praticamente à metade, de 68,3% para 35,3%.

Com outra metodologia, o pesquisador Marcelo Néri, da FGV, estimou a queda da participação das classes D e E na população de 55% em 2003 para 39% em 2009.

"ONDA DE FRACASSO"

Além de elencar feitos do governo, Lula afirmou que os brasileiros conseguiram afugentar "a onda de fracasso que pairava sobre o país".

"Se governamos bem foi, principalmente, porque conseguimos nos livrar da maldição elitista que fazia com que os dirigentes políticos deste grande país governassem apenas para um terço da população", afirmou, criticando seus antecessores.

Lula também pediu que os brasileiros apoiem Dilma como o apoiaram e que não perguntem sobre o futuro dele. Em tom emocional, diz que vai viver "a vida das ruas".

O pronunciamento foi gravado na segunda-feira na biblioteca do Palácio da Alvorada. A fala foi escrita pelo publicitário João Santana, que fez a campanha de Dilma, e revisada pelo ministro Franklin Martins (Comunicação) e pelo próprio Lula, que também deram sugestões.

Franklin: imprensa age por interesses políticos

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Franklin Martins ataca imprensa e defende regulação de conteúdo

Marco regulatório da comunicação eletrônica contemplará "pluralismo" e "respeito à privacidade", afirmou ministro

Rosa Costa / BRASÍLIA

Ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, o jornalista Franklin Martins acusou a imprensa de agir movida por "interesses políticos", de atuar em dobradinha com a oposição, de ter perdido em determinado período "a noção do que é certo e do que é errado" e de ter feito um "jornalismo da pior qualidade". As declarações foram dadas em entrevista ao site Congresso em Foco.

A poucos dias de deixar o cargo, Franklin criticou ainda o comportamento da imprensa, sobretudo do que ele chama de "jornalões", com relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O secretário chamou de "ataques da imprensa" as denúncias de corrupção noticiadas nos oito anos de mandato do presidente Lula. Segundo ele, o noticiário foi movido "pela má vontade com governo, desproporcional aos erros do governo".

Na análise que fez da imprensa, situando-se, como disse, "do lado de lá do balcão", ele acusou os jornais de boicotar números sobre a aprovação do governo Lula. "O governo terminou com aprovação de 80%. Lula, 87%. E os jornais estão vendendo menos do que vendiam antes", afirmou.

Projeto. O ministro negou a intenção de censurar a imprensa por meio do marco regulatório para a comunicação eletrônica, mas defendeu a existência de normas sobre o que deve ou não ser divulgado. "Há certas normas, há certas obrigações que devem ser contempladas. Isso se faz no mundo inteiro e ninguém nunca achou que é censura."

Franklin adiantou que, no anteprojeto de lei que encaminhará à presidente eleita Dilma Rousseff estarão contemplados, entre outros pontos, "pluralismo, equilíbrio e respeito à privacidade das pessoas".

"O problema no Brasil é que existem os fantasmas. Então se tira o fantasma do sótão e se bota para ver se, com isso, se impede ou se dificulta ou, digamos assim, se baliza a discussão sobre marco regulatório. Esse é o problemas que vivemos hoje em dia", concluiu.

Trecho incompleto de ferrovia é inaugurado

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Leonêncio Nossa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva "inaugurou" o trecho de Anápolis (GO) a Palmas (TO) da Ferrovia Norte-Sul, que ainda está incompleto. Antes da chegada do presidente à festa, assessores do consórcio responsável pela obra já admitiam que era faltavam alguns "pedacinhos", que totalizam 259 quilômetros de trilhos, para a conclusão do percurso de 1.100 quilômetros. A princípio, as locomotivas só vão percorrer o trecho no final de abril do próximo ano.

Diante de uma plateia de 400 pessoas, a maioria políticos e assessores do governo, Lula culpou o Tribunal de Contas da União (TCU) pelo atraso nas obras. O presidente disse que pretendia entregar toda a Ferrovia Norte-Sul, mas, no trecho norte, o TCU mandou a empresa que fazia a obra interromper os trabalhos.

Lula volta a atacar DEM em entrevista

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Presidente afirma que exagerou ao pedir que legenda fosse "extirpada da política brasileira", mas ironiza as trocas de nome da legenda

Em uma das suas ultimas entrevistas antes de entregar 0 mandato a sua sucessora, Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a dizer que pretende "estudar" o mensalão para "entender o que realmente aconteceu" e comparou o escândalo ao caso da Escola Base, ocorrido na década de 90, quando donos de uma escola foram injustamente" acusados de molestar sexualmente crianças.

Concedida por e-mail ao site "Porradão de 20", do fundador da Central Única de Favelas (Lufa), Celso de Athayde, a entrevista serviu para Lula criticar uma vez o Democratas. A Athayde, o presidente afirmou que o partido tem "a ditadura no seu DNA" e, em 2005 - ano do mensalão – tentou ganhar a eleição no "tapetão".

"É sempre assim: partido que não tem apoio do eleitorado, apela. Um de seus dirigentes chegou a dizer que iria se ver livre dessa "raça do PT" por pelo menos 30 anos", afirmou o presidente.

Ao ser perguntado se ainda acreditava que o DEM precisava ser "extirpado da política brasileira", como dissera em setembro, durante um comício em Santa Catarina, o presidente fez uma mea-culpa e reconheceu que foi um momenta de "arroubo, de exaltação" que não deveria ter acontecido, apesar de garantir que se referia "às urnas, dentro do jogo democrático". "O partido deve continuar concorrendo, desde que se limite a disputa dentro das regras da democracia, esquecendo o seu passado ditatorial, se é que seus dirigentes vão conseguir", afirmou.

Lula ainda ironizou as trocas de nome já feitas pelo DEM, que começou como Arena, já foi PDS e PFL, antes de adotar o nome atual. "Seus dirigentes já devem estar pensando em novo nome, porque o DEM também já não engana mais ninguém", disse. Arena e PDS sustentaram o regime militar, mas abrigaram um aliado atual de primeira hora de Lula, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Athayde perguntou a Lula sobre o mensalão, citando justamente o esquema de compra de deputados organizado no Distrito Federal pelo ex-governador José Roberto Arruda, que ficou conhecido como "mensalão do DEM". Se um existiu", disse o produtor cultural, isso não é uma prática comum a todos os partidos políticos?”

Na sua resposta, a presidente Lula garantiu que "vai estudar o caso até entender o que realmente aconteceu", dizendo que "essa é mais uma história mal explicada".

Lula chegou a comparar a repercussão do mensalão, que ele alega não ter sido provado, com o caso da Escola Base, de São Paulo, em que as donos foram atacados até ficar provado que nada havia acontecido. "O que mais me intriga é que o deputado que fez a acusação (Roberto Jefferson, do PTB) foi cassada porque não apresentou nenhuma prova. O texto da cassação dele, na Câmara dos Deputados, diz que ele foi cassado por falta de decoro parlamentar por não ter provado as acusações que fez. Mesmo assim, o processo contra os acusados continuou. Esse caso me lembra o linchamento de inocentes. Muita gente entra na onda, fica cega e surda para qualquer argumento contrário, e passa, vamos dizer, a jogar bosta na Geni", disse.

Lula afirmou, ainda, que conseguiu parar uma tentativa de se chegar a um processo de impeachment porque mandou um recado a vários senadores: iriam ter que enfrenta-lo nas ruas. "Eu tenho plena consciência de que houve também o aproveitamento de um suposto crime eleitoral para tentar desgastar e sangrar o governo durante um ano, para que nos perdêssemos as eleições de 2006", disse. "Eu me reuni com os movimentos sociais e obtive todo o apoio. Foram criados panfletos e adesivos com inscrições como "Mexeu com o Lula, mexeu comigo" e "Deixa o homem trabalhar". Só aí é que eles recuaram”.

Lula e Sarney

DEU EM O GLOBO / Ancelmo Gois

Ponto Final

Lula, na entrevista ao site Porradão de 20, de Celso Athayde, disse, com razão, que o DEM (ex-Arena, ex-PDS e ex-PFL) tem a ditadura no seu DNA.

Faltou só dizer que tanto a Arena como o PDS foram presididos por José Sarney, seu novo amigo de infância.

Com todo o respeito.

Pensando em 2014, Lula critica Aécio

DEU EM O GLOBO

Luiza Damé , Catarina Alencastro e Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. A eleição presidencial de 2014 já é uma ideia fixa na cabeça do presidente Lula. A uma semana de deixar o cargo, o presidente voltou ao tema e até antecipou como acha que será a disputa daqui a quatro anos. Para Lula, a oposição já escolheu o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) como seu candidato.

- Aécio se comporta como se já tivesse sido eleito em 2014. Mas, se Dilma fizer um bom governo, como nós esperamos, ela terá todo o direito de ser reeleita - disse o presidente, segundo relato de um dos participantes, anteontem à noite, do jantar de despedida com os ministros de seu governo, no Palácio da Alvorada.

Lula também fez um reconhecimento público de que o trabalho dos ministros ajudou a eleger Dilma Rousseff. Disse que estava feliz por sair do governo com boa aprovação, e agradeceu pelo resultado do trabalho de todos.

- O presidente Lula pediu aos presentes que, independentemente da posição na qual estejam, ajudem a continuar essa trilha - relatou o chanceler Celso Amorim.

Convidada especial, Dilma Rousseff fez um rápido discurso, agradecendo à primeira-dama, dona Marisa, que organizou o encontro. E aproveitou para, em nome de todos os ministros, agradecer a Lula por ter participado de seu governo. Elegante, Dilma vestia uma calça preta e um terninho cobre.

Entre as cerca de cem pessoas presentes estavam presentes quase todos os ministros do primeiro e do segundo mandato de Lula, entre eles o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, pivô do escândalo do mensalão. A ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, que esteve no centro do maior escândalo político da campanha eleitoral, não apareceu.

Em comunicado oficial, o presidente americano Barack Obama confirmou que a Secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton, vai liderar a delegação presidencial que o representará na cerimônia de posse de Dilma Rousseff. Além de Hillary, integram a delegação o mbaixador dos EUA no Brasil, Thomas A. Shannon, o assessor especial de Barack Obama Daniel A. Restrepo, diretor sênior para Assuntos do Hemisfério Ocidental.

Há 32 anos:Exilados voltam e passam o Natal explicando por que voltaram sem passaportes



JORNAL DO BRASIL - terça-feira, 26/12/78

Legenda: Graziela e Gilvan Cavalcanti de Melo foram liberados na Polícia Marítima às 11 horas

Exilados voltam e passam o Natal explicando por que voltaram sem passaportes

Fora do país há seis anos, absolvido em setembro ultimo da acusação de pertencer ao PCB, o ex-funcionário do INPS Gilvan Cavalcanti Melo, chegou do Panamá com a mulher e os dois filhos, no domingo e foi preso. A Embaixada do Brasil informara que poderiam desembarcar só com a carteira de identidade, mas a polícia deteve o casal por 12 horas durante a noite de Natal, para saber porque estavam sem passaportes.

O Sr Gilvan e D. Graziela Cavalcanti Melo passaram a noite num sofá da Delegacia de Polícia Marítima, onde foram interrogados ontem de manhã e liberados depois de preencherem um questionário mimeografado. Os filhos, Gilvan de 16 anos, paralítico, e Ana Amélia , de 12, foram dispensados pela polícia ainda no aeroporto e ficaram com parentes.

GARANTIA

Hoje, com 43 anos, o Sr Gilvan de Cavalcanti Melo, nascido em Pernambuco, foi demitido do INPS por decreto baseado no AI-5, em 1972, sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro. Logo após foi com a família para Buenos Aires, Porto Alegre e finalmente Santiago onde trabalhou na Corporação de Fomento.

Com a derrubada do Governo Allende, asilaram-se na Embaixada do Panamá, país onde o Sr. Gilvan conseguiu trabalho numa empresa de administração. Morou durante algum tempo em Cuba que lhe forneceu documento de identidade.

Ao saber de sua absolvição em processo na 2ª Auditoria da Marinha em 19 de setembro, o Sr Gilvan consultou a Embaixada do Brasil no Panamá e recebeu a garantia de que poderia voltar normalmente apenas com a carteira de identidade brasileira emitida em 1972 se viajasse por uma empresa aérea brasileira.

A família embarcou num vôo da Varig às 8,43 de domingo e chegou ao Aeroporto Internacional do Rio às 19,50. Levados para a Polícia Marítima e Aérea, o casal e os dois filhos foram informados de que teriam que prestar depoimentos, por não estarem com passaportes.

Após entendimento com os policiais, o Sr Gilvan conseguiu que os filhos fossem liberados, enquanto ele e a mulher eram levados à sede da Polícia Marítima, na Av. Rodrigues Alves. Ali passaram a noite do Natal, recostados num sofá. O advogado Humberto Jansen chegou à delegacia às 7hs, mas só conseguiu liberar o casal, às 11h, depois que os dois prestaram depoimentos de uma hora cada um. No questionário tiveram que informar as condições de saída do país, como viviam e onde trabalhavam no exterior e porque voltaram. “Agora o que quero fazer mesmo é assistir um jogo do meu Vasco”, disse o Sr Gilvan.

Cajuína - Caetano Veloso

Homenagem a Picasso:: João Cabral de Melo Neto

O esquadro disfarça o eclipse
que os homens não querem ver.
Não há música aparentemente
nos violinos fechados.
Apenas os recortes dos jornais diários
acenam para mim como o juízo final.


(Pedra do Sono, 1940/1941)