terça-feira, 29 de junho de 2021

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna*

"Enquanto não se armar uma frente amplíssima, que garanta uma transição sem susto, o regime se mantém por falta de alternativas críveis. O que se apresenta como alternativa é a candidatura do Lula. A candidatura do Lula – com todos os méritos que possa ter e tem –, não tem a capacidade de organizar, reaglutinar e apaixonar a população em torno de uma ação comum. A última manifestação teve um caráter amplo, não foi partidária, mostra por onde se pode ir e por onde se deve avançar. Esse caminho já foi percebido por nós no passado, na luta contra o regime militar: o caminho da amplíssima coalizão que resultou na reabertura com um nome como Tancredo [Neves], que não era um nome marcado ideologicamente; era um democrata liberal, convicto, um homem da negociação. E agora? Não temos nada. A candidatura Lula não ajuda. A grande contribuição que Lula poderia dar – e acho difícil ele fazer isso – é ele mesmo se tornar o peão ou um dos peões da articulação dessa frente amplíssima, na busca por um nome que pudesse representar todos os descontentes, todos os dissidentes, todos os que não se conformam com a grosseria e a estupidez do governo que aí está.

Os militares têm que ser considerados. Um pouco do que falei se aplica a eles: quanto mais a frente for ampla e irrestritamente ampla, mais se torna difícil a intervenção militar. Não há como ter uma intervenção contra o conjunto da sociedade mobilizada em torno de uma ideia. O caminho da intervenção militar é o da polarização. Redescoberta a possibilidade democrática para o país, as forças futuras são imensas, de revigoramento dos movimentos sociais, dos partidos democráticos, de um novo parlamento, porque este que está aí é desprezível, é um parlamento que perdeu o léxico da sociedade. O parlamento não é representativo da sociedade brasileira de forma alguma; é um parlamento bolsonarista. As possibilidades no horizonte são muito generosas se soubermos agora articular uma política de frente amplíssima que desloque esse regime. Deslocado, aí o mundo é outro."

*Luiz Werneck Vianna, sociólogo, PUC-Rio. Entrevista, IHU On-Line, 26 de junho 2021

Merval Pereira - Lula ajuda Bolsonaro

O Globo

A base da estratégia político-eleitoral do presidente Jair Bolsonaro é colocar-se como único capaz de derrotar Lula e o PT nas urnas, para o bem do país, que, caso contrário, cairá nas mãos dos “comunistas”. Parte dos eleitores foi para Bolsonaro em 2018 devido a esse temor, e as Forças Armadas acreditam que o comunismo é uma ameaça real, não um fantasma alimentado por Bolsonaro.

O desastre do governo já fez com que, segundo recente pesquisa do Ipec, mais de 50% dos seus eleitores tenham desistido de mantê-lo no poder, muitos dispostos a votar no PT desta vez. Sabemos que a China hoje é mais capitalista do que comunista, por isso é um erro estratégico fatal tratarmos a segunda maior economia do mundo como uma inimiga, deixando de lado a oportunidade de compartilhar os avanços tecnológicos e de nos beneficiarmos dos avanços da economia do nosso maior parceiro comercial.

Mas apostar que a China quer se integrar efetivamente ao sistema econômico ocidental, aceitando as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) ou submetendo-se, embora relutantemente, às normas da Organização Mundial da Saúde (OMS) durante esta pandemia da Covid-19, não significa esquecer que a China é uma ditadura que precisa ser pressionada para que os princípios da democracia avancem, impedindo, ou tornando mais constrangedor, o cerceamento da liberdade de expressão, como fizeram agora com o Apple Daily em Hong Kong.

Ou levando-a a participar dos esforços internacionais de preservação do meio ambiente, como vem fazendo, com projetos de redução da emissão de carbono na atmosfera. Contrapondo-se à posição esdrúxula do governo brasileiro em relação à China, o ex-presidente Lula deu uma entrevista ao jornal chinês Guancha, em que afirma que aquele país “estabeleceu um modelo de desenvolvimento para o mundo inteiro” e disse esperar que os países aprendam com o exemplo chinês.

Carlos Andreazza - Mutualismo

O Globo

Tape o nariz e atenção ao que importa no Covaxingate. A fedentina emana do privilégio a empresas atravessadoras e extrapola os limites da acusação feita pelos irmãos Miranda, restrita a um só contrato. Não foi ocorrência única. Porque não foi só um o atravessador a pactuar com o governo. Este advento — o sorriso do intermediário — é o que distingue o olhar simpático e expedito do governo Bolsonaro para algumas vacinas em detrimento de outras, como as de Pfizer e Janssen, desde há muito presentes no Brasil com representação direta, e como a CoronaVac, mediada pelo Butantan.

Este advento — o sorriso do intermediário —é o que distingue o olhar apaixonado do governo para algumas vacinas; para alguns contratos. Mire-se no rastro dos atravessadores — e se chegará aos que lhes terão cantado as bolas. Não será somente um o padrinho; e não haverá padrinhos (ou anjos) capazes de entregar sem um exército de operadores com os pés no chão e as mãos na máquina.

Fato: o Ministério da Saúde foi célere em contratar imunizantes de laboratórios que tivessem intermediários no Brasil. Para ser exato: foi empenhado em contratar imunizantes de laboratórios sem representação tradicional no país, mas de súbito procurados por intermediários dispostos a representá-los. Intermediários com ótimo trânsito em Brasília, especialmente — pode ser coincidência — com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. Especialmente; mas não somente com ele.

Temos um padrão. Padrão bem brasileiro, e de que parece não escapar o governo do presidente que acabaria com a mamata, mas que agora já opera na frequência “não tenho como saber o que acontece nos ministérios”. O padrão: a presença do atravessador influente — não raro com desfalques, ainda frescos, aplicados no lombo do Estado — como agente acelerador de processos. Presença que explica por que o Ministério da Saúde se conveniou tão expressamente para obter os duvidosos imunizantes Covaxin e Sputnik V e por que assinou carta de intenções pela compra da vacina Convidecia. (Registre-se que, informado sobre as irregularidades de seu intermediário no Brasil, a farmacêutica chinesa CanSino, produtora da Convidecia, revogou a representação.)

Oswaldo E. do Amaral* - Quem mudou de ideia sobre o presidente

O Globo

Católicos, menos escolarizados, mulheres e mais pobres tiveram as maiores variações de opinião sobre Bolsonaro

Na última semana, as notícias foram ruins para o presidente Jair Bolsonaro. Pesquisa nacional do Ipec mostrou que, se a eleição fosse hoje, Lula teria 49% das intenções de voto e o atual presidente, 23%. Além disso, 62% dos entrevistados afirmaram que não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro, enquanto 36% disseram o mesmo sobre Lula.

A pesquisa perguntou o voto dos entrevistados no segundo turno de 2018. Quando observamos dados relativos a Bolsonaro, vemos que 34% dos seus eleitores afirmaram que não votariam nele de novo de jeito nenhum.

Quem seriam esses eleitores arrependidos? É possível identificar grupos que se arrependeram em maior proporção? A junção das perguntas sobre o voto em 2018 e sobre a possibilidade de votar em Bolsonaro ajuda a responder.

Míriam Leitão - Bolsonaro tem explicação a dar

O Globo

O jogo mudou. Com a notícia-crime protocolada por três senadores, o presidente terá que dar as respostas que tem se negado a apresentar desde que o assunto veio à tona. A resposta “eu não tenho como saber o que acontece nos ministérios” não melhora a vida de Bolsonaro. Ele foi informado por um deputado da base sobre o que estava acontecendo. O presidente já começou a ser abandonado e é assim que acontece nesses casos. Ele vai usar toda a sua agressividade e capacidade de gerar crises, mas não será suficiente se ele não tiver boas respostas para as questões levantadas na CPI da Covid.

Tudo isso acontece num momento ruim na economia. O aumento da bandeira vermelha 2 pode superar 70%, o que vai impactar novamente a conta de luz e a inflação. Os preços já estão altos e isso piora a qualidade da vida. O fanatismo alimentado com as exibições de motos pelas cidades do Brasil não é o suficiente. O país tem quase 15 milhões de desempregados, a inflação está alta, a energia sobe e há risco de racionamento. E a resposta do governo é baixar uma MP dando mais poderes ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Todas as linhas de investigação da CPI vão direto ao presidente. A estratégia da imunidade de rebanho que elevou o número de mortes, os atrasos e descasos na compra de vacinas, a disseminação dos remédios ineficazes. E agora, a corrupção. Esta também vai direto para o colo do presidente, porque ele soube pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) e pelo servidor Luis Ricardo Miranda de cada uma das suspeitas, e nada fez.

Eliane Cantanhêde - Bolsonaro, o distraído

O Estado de S. Paulo

Ou os irmãos Miranda gravaram o presidente ou estão blefando. Bolsonaro paga para ver?

Quanto mais abre a boca, mais o presidente Jair Bolsonaro se enrola e mais vai aplainando o caminho para a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto. Já não há mais dúvida: Bolsonaro é o maior adversário dele mesmo e o principal cabo eleitoral de Lula em 2022. Quanto mais um cai, mais o outro se consolida.

A campanha de Bolsonaro foi a que captou antes e usou melhor o grande catalisador da eleição de 2018: qualquer coisa, menos o PT. Nada como um dia atrás do outro, ou de uma eleição atrás da outra, e agora foi a campanha de Lula que captou antes e pretende usar melhor o catalisador de 2022: qualquer coisa, menos Bolsonaro.

Ao abrir a boca ontem, o presidente produziu mais uma pérola: “Não tenho como saber o que acontece nos ministérios”. Em meio à pandemia, aos ataques e ao desprezo às vacinas, também admitiu, como quem não quer nada: “Eu nem sabia como é que estava a tratativa...” Ou seja, como estava a pressa e a pressão para comprar a preço de ouro a Covaxin, vacina indiana que não tinha autorização nem na Índia, quanto mais da Anvisa.

Luiz Carlos Azedo - O impeachment à espreita

Correio Braziliense

O depoimento dos Miranda atiçou os articuladores do impeachment de Bolsonaro, que sonham com a adesão do Centrão e dos militares ligados ao vice Mourão

O caso da vacina indiana Covaxin, na CPI do Senado que investiga a atuação no Ministério da Saúde contra a pandemia de covid-19, ameaça romper a blindagem constitucional de Jair Bolsonaro, que só pode ser investigado por crime cometido durante o exercício do mandato, desde que a Câmara dos Deputados autorize. Os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Jorge Kajuru (Podemos-GO) e Fabiano Contarato (Rede- ES), ontem, apresentaram ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime na qual pediram a investigação do presidente da República por suposto crime de prevaricação. A relatora do caso será a ministra Rosa Weber.

Bolsonaro alega que não tem como saber o que passa nos ministérios, mas foi acusado de ter tomado conhecimento do superfaturamento da Covaxin pelos irmãos Luis Miranda (DEM-DF), deputado federal, e Luis Ricardo Miranda, técnico do Ministério da Saúde que se recusou a comprar a vacina, durante depoimento de ambos na CPI da Covid, na sexta-feira passada. Agora, caberá ao Supremo decidir se pede à Procuradoria-Geral da República (PGR) para abrir uma investigação formal sobre o caso. No Código Penal, prevaricar é “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.

Andrea Jubé – Darandina

Valor Econômico

Estratégia é concentrar esforços nas mobilizações

Parafraseando Guimarães Rosa (1908-1967), que teria completado 113 anos no domingo, podemos afirmar que os portentosos fatos explodiram a semana passada na política nacional de “chinfrim, afã e lufa-lufa”. Ou em português claro, foi uma semana de muita confusão, corre-corre e aflição no governo e na base governista.

Na quinta-feira, em cena de filme de ação, ou de comédia, o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) tentou pular o muro de sua casa para escapar da Polícia Federal, mas recuou ao se deparar com um agente que estava à espreita.

Também na quinta-feira, em uma imagem dantesca, o presidente Jair Bolsonaro arrancou a máscara de uma criança que levou ao colo, em mais um dos diversos atos com aglomeração que vem promovendo.

O gesto causou indignação, com o agravante de que o Brasil aparece em segundo lugar no ranking de crianças vítimas da covid-19, atrás apenas do Peru, segundo um levantamento divulgado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” no começo do mês. Até meados de maio, 948 crianças de zero a nove anos morreram de covid-19 no país, segundo dados do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (Sivep-Gripe).

Hélio Schwartsman - Bolsonaro nas cordas

Folha de S. Paulo

Abrir um processo de impeachment contra o atual presidente é um imperativo moral

O escândalo da Covaxin é a peça que faltava para deflagrar o impeachment de Bolsonaro? É cedo para dizer, mas acho seguro afirmar que a situação do presidente é hoje muito mais precária do que era duas semanas atrás, e o risco de destituição tornou-se palpável.

Como venho dizendo aqui com certa insistência desde maio do ano passado, abrir um processo de impeachment contra Bolsonaro é um imperativo moral. Mesmo que a deposição não se concretize, é uma satisfação devida aos pósteros, a sinalização de que ao menos parte da sociedade tentou dar uma resposta institucional ao festival de horrores que é o atual governo.

Cristina Serra - Barros e a morte como negócio

Folha de S. Paulo

Em 2017, o líder do governo Bolsonaro defendeu a compra de remédio, sem eficácia, para tratar tipo de câncer muito agressivo que ataca crianças

Era um segredo de Polichinelo a identidade do parlamentar mencionado na conversa entre Bolsonaro e o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) sobre “rolos” na compra da vacina Covaxin. O anonimato se mantinha havia horas na CPI quando o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) furou o tumor: “Está lhe faltando coragem para falar o nome do deputado federal Ricardo Barros”.

A pressão, com técnica de interrogatório, funcionou. Na inquirição seguinte, Miranda, já desestabilizado emocionalmente, capitulou diante da senadora Simone Tebet (MDB-MS). Esta é a revelação mais explosiva obtida pela CPI até agora. Indica uma quadrilha incrustada no Ministério da Saúde e aponta indícios de crimes cometidos por Bolsonaro e Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara e expoente do centrão.

Alvaro Costa e Silva - Todos os homens de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

As pegadas da grana até os porões do 'vacinagate'

Uma expressão em inglês, significando o melhor caminho que se deve tomar para chegar à verdade, passou a ser citada em 11 entre 10 comentários políticos. “Follow the money” (siga o dinheiro) ganhou popularidade no filme “Todos os Homens do Presidente”, que reconstitui a investigação jornalística do caso Watergate até a renúncia de Richard Nixon. O conselho sugere que, num esquema de corrupção, a grana deixa pegadas que conduzem aos porões do poder, seja em Washington ou em Brasília.

A frase está na ordem do dia da CPI da Covid —que encontrou um trilho de sujeira levando à compra da Covaxin— e pode explicar as ações do governo e de quem gravita em torno dele só para se dar bem. Quem são os homens de Bolsonaro?

Siga o cascalho e você encontrará um empresário vestido de verde e amarelo cujas lojas têm o custo maior que o faturamento. Um milagre econômico que dispensa sócios e investidores e, segundo a Abin, possui uma “fonte oculta de recursos”. Siga a gaita e você baterá na porta da Precisa, que fez um acordo para faturar R$ 1,6 bilhão com o rolo da vacina.

Antonio Claudio Mariz de Oliveira* - Desordem social e institucional

Folha de S. Paulo

Todos estamos estupefatos, desejando agir, mas sem saber bem o que fazer

Anomia e distopia são dois fenômenos que nos assombram atualmente. Ambos conduzem à desordem social e à desordem institucional.

Elas são os reflexos de uma pauta negativista e predatória, imposta pelo governo e lastreada pela intolerância raivosa; pela apologia do uso de armas; pela insensibilidade em relação ao meio ambiente e à própria vida humana; pelo estímulo às aglomerações, dentre outros fatores.

A agenda e o discurso oficiais não apresentam nenhum viés construtivo. Representam a antítese da utopia e da organização social; portanto, mostram um risco real de distopia e anomia.

A distopia como sinônimo de um mau lugar para se viver. Em nosso país, ela tem como origem o autoritarismo de um governo despótico que tenta impor um modelo de comportamento carente de liberdade de pensar e de agir e de um padrão moral retrógrado e estático.

Já a anomia se caracteriza pela ausência ou pelo descumprimento das normas. Assiste-se hoje a uma rebeldia institucional, com o Executivo em permanente confronto com os outros Poderes, com a legislação ordinária e com a própria Constituição Federal. Tivemos, recentemente, uma violação até então inconcebível do rígido ordenamento militar. Não se puniu quem deveria tê-lo sido. Dupla desobediência. A individual, de um general que participou de ato político, e a da instituição, que não o puniu.

Joel Pinheiro da Fonseca - A ditadura dos outros

Folha de S. Paulo

Não há nada na direita que a esquerda não seja capaz de superar, e vice-versa

A acusação indignada de que um presidente é genocida perde muita força se você, ao mesmo tempo, celebra genocidas notórios. É o que fez a deputada Jandira Feghali, celebrando uma possível (e incerta) queda de Bolsonaro com uma menção laudatória e espirituosa a Stálin. De quem, bem sabemos, o PC do B nunca se libertou.

O stalinismo não é um risco muito presente no Brasil. Sobrevive, é verdade, na forma de fósseis partidários e, surpreendentemente, é um nicho crescente dos influenciadores políticos nas redes; mais um sintoma da polarização e radicalismo bizarros a que estamos sujeitos. Ainda assim, esses delírios comunistas não estão próximos de ditar os rumos do país.

O risco não é que se ressuscite Stálin e o sonho de uma República Soviética Brasileira. E sim que velhas roupagens indiquem ímpetos autoritários renovados. A ruptura democrática, o autoritarismo com desígnios de poder total, se voltar, não será com as mesmas cores e bandeiras do passado. Será com métodos e bandeiras adequados ao nosso tempo, como ocorre em toda tirania.

Bela Megale - Arthur Lira tem compromisso de pautar PEC do voto impresso, mas resiste em angariar votos

O Globo

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), garantiu ao presidente Jair Bolsonaro que colocará em votação a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do voto impresso. A colaboração de Lira com o projeto, porém, não irá muito além disso. Interlocutores do deputado federal afirmam que o compromisso assumiu com Bolsonaro se limita a pautar o tema e que Lira não vai trabalhar para trazer votos que ajudem na aprovação da proposta. Essa parte caberá ao Palácio do Planalto.

O partido de Lira faz parte do grupo de 11 legendas que se posicionou contra o voto impresso. O presidente do PP, o senador Ciro Nogueira, com quem Lira está totalmente alinhado, participou da reunião entre representantes dessas siglas no sábado passado. Nos bastidores, o senador, que é próximo de Bolsonaro, também vem se posicionando pela manutenção do sistema atual.

Segundo aliados de Ciro Nogueira, ele repete que não vê necessidade de implantar o voto impresso e diz que não acredita que haja tempo hábil para aprovar a PEC para 2022. Os 11 partidos que se reuniram sábado somam juntos mais de dois terços dos deputados da Câmara e prometem atuar para que a medida não seja aprovada. Os bolsonaristas, no entanto, vão insistir na medida.

Vera Magalhães - Homem mais poderoso da República, Lira controla Câmara, Orçamento e destino de Bolsonaro

O Globo

Seria Arthur Lira o homem mais poderoso da República hoje? Dada a forma como operou para garantir, além da presidência da Câmara, o controle direto de R$ 11 bilhões em recursos do Orçamento da União e o destino de Jair Bolsonaro, sim.

Entender as motivações e a forma como esse personagem opera hoje é fulcral para calcular a fidelidade que os demais agrupamentos sobre os quais ele tem ascendência --- seu partido, o PP, e o Centrão, que hoje é a base do governo na Câmara -- vão se comportar.

Este texto é uma segunda parte da análise que publiquei mais cedo aqui no blog sobre como o caso Covaxin aumentou exponencialmente o custo Bolsonaro para o Centrão e para o PP, que você pode ler abaixo.

A pergunta ali é chave para entender o personagem Arthur Lira: quando o custo passa a ser maior que o ganho de apoiar o governo e segurar Bolsonaro? No caso do presidente da Câmara, ainda há muita lenha a queimar antes de ele pensar em jogar Bolsonaro ao mar.

Fernando Luiz Abrucio* - Três razões aumentam o risco de impeachment

- O Estado de S. Paulo

Combinação de CPI, protestos e mudança de postura do centro podem colocar projeto bolsonarista em risco

A mistura de um populismo voltado à manutenção de um público fiel de pelo menos 15% do eleitorado com a distribuição de cargos, verbas e poder clientelista ao Centrão foi a fórmula adotada por Bolsonaro para manter seu posto. Até o momento, esse objetivo foi plenamente alcançado. Porém, três fenômenos colocam em risco o projeto político bolsonarista. Em primeiro lugar, a CPI da Covid tornou-se mais perigosa com a denúncia de prevaricação do presidente da República no caso da vacina Covaxin

Qualquer caso de suposta corrupção sempre é grave, mas duas coisas tornam esse fato ainda mais inflamável: o bolsonarismo mantinha sua aura de incorruptível até agora, mesmo com as rachadinhas de Flávio Bolsonaro ou as negociatas do então ministro Ricardo Salles com madeireiros, e isso, provavelmente, não se sustentará mais, pois o que está em jogo agora é que se planejou roubar dinheiro público na compra de algo que faltou aos brasileiros: a vacina. 

José Nêumanne* - Os 20 mil Fiats Elba de Barros & Bolsonaro

O Estado de S. Paulo

Sobrepreço de 1.000% na vacina indiana em que o governo empenhou R$ 1,6 bilhão é só um detalhe em caso de corrupção de proporções mirabolantes do ‘ilibado’ capitão terrorista e seu anspeçada

Desde a última terça-feira 22 de junho, os despertadores do Palácio da Alvorada e do condomínio Vivendas da Barra foram desligados e o estoque de ansiolíticos nas farmácias das proximidades dos esconderijos da famiglia Bolsonaro, reforçado. Em reportagem que deu manchete de primeira página (Governo comprou vacina indiana por preço 1.000% mais cara), Júlia Affonso relatou: “Telegrama sigiloso da embaixada brasileira em Nova Délhi de agosto do ano passado, ao qual o Estadão teve acesso, informava que o imunizante produzido pela Bharat Biotech tinha o preço estimado em 100 rúpias (US$ 1,34 a dose). Em dezembro, outro comunicado diplomático dizia que o produto fabricado na Índia ‘custaria menos do que uma garrafa de água’. Em fevereiro deste ano, o Ministério da Saúde pagou US$ 15 por unidade (R$ 80,70, na cotação da época) – a mais cara das seis vacinas compradas até agora”.

Tudo leva a denúncia espetacular de uma compra escatológica e estapafúrdia. O sobrepreço da vacina indiana, que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) teve enorme dificuldade em aprovar, e com restrições, apesar das pressões sofridas pelo servidor encarregado de importações de insumos e vacinas no Ministério da Saúde, é o fio da meada de um escândalo gravíssimo. O governo Bolsonaro, que tinha levado quase um ano para comprar imunizantes testados no mundo inteiro e oferecidos pela Pfizer, comprou a Covaxin em um quarto desse tempo, graças à interferência pessoal do presidente da República, Jair Bolsonaro, em telefonema ao primeiro-ministro da Índia, Narenda Modri. Para isso empenhou R$ 1,6 bilhão, o equivalente aproximado ao custo de 20 mil Fiats Elba, cuja compra serviu de prova para fundamentar o impeachment de Fernando Collor, em 1992.

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

EDITORIAIS

O novelo da Covaxin

Folha de S. Paulo

Dar consistência jurídica às suspeitas em torno do negócio será desafio da CPI

As suspeitas na negociação da compra da Covaxin levaram à CPI da Covid um novelo com uma variedade de pontas soltas. A comissão precisará de técnica investigativa para desatar esse emaranhado.
O vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse haver indícios fortes de corrupção. Não basta. Há que encontrar elementos para sustentar ou refutar a tese de que havia interesse em desviar dinheiro e beneficiar agentes públicos e privados na importação da vacina indiana.

O ponto de partida é a acusação de que integrantes do Ministério da Saúde agiram para facilitar o negócio de R$ 1,6 bilhão. O foco imediato recai sobre Alex Lial Marinho, tenente-coronel acusado pelo servidor Luis Ricardo Miranda de ter feito “pressão atípica” para liberar um pagamento adiantado.

O oficial do Exército era coordenador de Logística de Insumos Estratégicos da pasta, vinculado à secretaria do coronel Elcio Franco —que, por sua vez, era homem de confiança do então ministro Eduardo Pazuello. A CPI deve tentar descobrir se havia interesse específico do trio nessa compra.

Também está no centro da investigação o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara. A comissão quer saber se o parlamentar foi responsável pela indicação política de servidores que tentaram facilitar a importação.

Sabe-se que Barros apresentou emenda que abriu caminho para a compra, mas ele alega que oito congressistas fizeram o mesmo.

Os aspectos financeiros do negócio estão na mira da comissão. Depoimentos e movimentações bancárias da Precisa Medicamentos, empresa que serviu de intermediária para o negócio, darão as primeiras pistas nessa direção.

Poesia | Ascenso Ferreira - Sucessão de São Pedro

— Seu vigário!

     Está aqui esta galinha gorda

     que eu trouxe pro mártir São Sebastião!

     — Está falando com ele!

     — Está falando com ele!

Música | Leila Pinheiro e Thiago Amud - Quem vem pra beira do mar (Dorival Caymmi)