sexta-feira, 18 de março de 2022

Opinião do dia: William Shakespeare (1564-1616) - Hamlet

“O mundo está fora dos eixos.

Ó que grande maldição.

Eu ter nascido para trazê-lo à razão.”

Fernando Gabeira: O novo dilema de Bolsonaro

O Estado de S. Paulo.

Ou o presidente aceita seus limites de ação e sofre o desgaste inevitável ou aprova subsídios para a gasolina, o que pode lhe custar a reeleição

Bolsonaro vive o segundo grande dilema de seu mandato. O primeiro foi a pandemia. Saiu-se mal. Sabia, desde o início, que o vírus enfraqueceria a economia e tinha medo de sofrer um desgaste que ameaçasse sua reeleição. Bolsonaro optou por negar a pandemia, recusar o isolamento social e combater a vacina, a única saída racional.

Passado esse período, o enorme desgaste já eliminou o favoritismo nas pesquisas.

O momento, agora, é da guerra na Ucrânia e suas consequências no País. Antes do conflito, o preço do barril de petróleo rondava os US$ 90. Com a eclosão da guerra, o preço do barril disparou.

Os analistas costumam afirmar que aumentos no preço do combustível atingem os governos. Nem é preciso de sua expertise para confirmar essa realidade. Não só Bolsonaro, como seus adversários, sabem que o aumento se expande por toda a economia e faz crescer a insatisfação popular.

Eliane Cantanhêde: Governo faz do limão uma limonada

O Estado de S. Paulo.

Expertise de Bolsonaro: desviar de culpas e responsabilidades e sempre se sair bem

O presidente Jair Bolsonaro é isso que sempre foi, os erros em série são absurdos e a imagem do Brasil no mundo vai ladeira abaixo, mas ele chegou à Presidência da República porque é bom de campanha, não tem limites, viajou a todos os cantos do País e sabe surfar na onda certa.

Jogou o discurso de 2018 fora, mas viaja pelo País, tem tropa, estratégia, instrumentos de poder e zero prurido em usá-los a seu favor. E mais: sabe manipular a internet e a realidade, fazendo de limões limonadas.

Famílias choram os 670 mil mortos pela covid, mas o pior da pandemia, aparentemente, passou e o discurso bolsonarista está prontinho: se ele trabalhou contra isolamento, vacinas e máscaras, isso é o de menos, o fundamental é que a vacinação é um sucesso. Ah! E não fez mais por “culpa do STF”.

Na guerra da Ucrânia, Bolsonaro falou em “solidariedade” à Rússia, “neutralidade” e “parceria” com Vladimir Putin. Lavou as mãos, como fez diante da covid e das chuvas na Bahia, mas o discurso também está pronto: o Itamaraty votou na ONU contra a Rússia e o governo libera verbas para Estados afetados pelas enchentes.

Bernardo Mello Franco: Governo em desmanche

O Globo

O governo de Jair Bolsonaro entrou na fase do desmanche. Até o início de abril, dez ministros devem deixar a Esplanada. Serão substituídos por burocratas ou indicados do Centrão.

A debandada obedece ao calendário eleitoral. Quem deseja ser candidato precisa devolver a caneta e o carro oficial. As baixas se repetem a cada quatro anos. A novidade é que agora o presidente está em maus lençóis.

Bolsonaro será o quarto inquilino do Planalto a disputar a reeleição. Fernando Henrique, Lula e Dilma começaram o ano eleitoral como favoritos. O capitão é o primeiro a largar atrás nas pesquisas, o que deve dificultar a vida dos ministros-candidatos. Na dúvida, a turma aproveita para inaugurar obras, distribuir favores e arrancar as últimas vantagens do poder.

O titular da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, resolveu focar nas benesses. Voou na semana passada para os Estados Unidos, onde vive sua mulher. O astronauta inventou uma agenda no Texas para festejar o aniversário em família. Ele será candidato a deputado federal por São Paulo.

Vera Magalhães: Petrobras, PF e o 'aqui mando eu'

O Globo

Diz o ditado popular que água mole em pedra dura tanto bate até que fura. A erosão de praticamente todas as instituições do país no governo Bolsonaro segue a lógica de gotejar persistentemente líquidos tão corrosivos quanto intervencionismo, falta de respeito a ritos e processos e a sobreposição de interesses privados (familiares) sobre os públicos até abrir buracos que depois serão difíceis de fechar.

No momento, a Polícia Federal e a Petrobras, a maior companhia do país, são os alvos desse ataque insidioso que já atingiu, em diferentes momentos, as Forças Armadas, o Ministério Público Federal, a Abin e tantas outras corporações.

Em nenhuma dessas tentativas para minar a independência e a autonomia de braços importantes do tecido republicano, Jair Bolsonaro fez questão de esconder que a lógica que lhe serve é exigir alinhamento bovino dos indicados e ter o direito de opinar, quando não de intervir abertamente.

A Petrobras não é uma instituição do Estado, e sim uma empresa de economia mista e capital aberto, mas, ainda assim, é vista pelo presidente da República como um puxadinho de seu gabinete, que deve agir conforme seus desígnios eleitorais.

Luiz Carlos Azedo: Mercado perde confiança na política monetária

Correio Braziliense

Pressões inflacionárias atrapalham os planos de reeleição de Bolsonaro, que imaginava entrar no processo eleitoral de vento em popa, com a economia em recuperação, gerando novos empregos

Para o mercado financeiro, a principal âncora da economia, a política de juros, virou uma biruta de aeroporto na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), que aumentou a taxa básica de juros de 10,75% ao ano para 11,75% ao ano, mas sinalizou que a Selic vai a 12,75% em maio. A expectativa gerada é de que o arrocho monetário não vai parar por aí e a economia pode mergulhar numa nova “grande depressão”.

Essas preocupações decorrem do papel cada vez mais subalterno do ministro da Economia, Paulo Guedes, nas decisões econômicas do governo, o que se reflete, inclusive, na demora para aprovação de dois diretores do Banco Central (BC) pelo Senado. O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa, senador Otto Alencar (PSD-BA), engavetou as duas indicações para os cargos de diretor de política econômica e diretor do sistema financeiro, com o argumento de que o governo está sem líder no Senado, desde a saída do senador Fernando Bezerra (MDB-PE) do cargo.

César Felício: TSE pode mudar plano dos grandes partidos

Valor Econômico

Parlamentares temem que teto de gastos com campanha por deputado varie só de acordo com inflação acumulada desde 2018

A polêmica sobre a quantidade de dinheiro público que será gasta pelos candidatos nas eleições deste ano ainda não terminou.

Cresce nos corredores do Congresso a sensação de que uma surpresa poderá vir do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até o fim de maio. O rumor é de que a resolução a ser baixada pela Justiça determinando o teto de gastos para as candidaturas proporcionais não terá crescimento similar à quase triplicação que foi feita do fundo eleitoral, de R$ 1,7 bilhão para R$ 4,9 bilhões, em meio a uma enorme resistência da sociedade, dado o despropósito evidente de um aumento dessa magnitude.

O diabo mora nos detalhes e a providência divina também. Coube ao Legislativo determinar o valor do fundo eleitoral deste ano. A verba para a eleição portanto cresceu e muito. Mas cabe ao Judiciário, desde 2018, determinar o teto de gastos por cargo. Ou seja, não há garantia de que a despesa permitida seguirá a mesma proporção.

A informação com que parlamentares trabalham é que o cálculo de gastos será feito apenas com a correção pela inflação da inflação acumulada desde 2018. Isto significa que cada candidato a deputado teria direito a gastar R$ 3,2 milhões, em valores de hoje, uma vez que foi de 24,8% a inflação acumulada pelo IPCA desde junho de 2018, data da última resolução do TSE fixando os gastos por campanha, Como a inflação está em alta, este valor deve subir um pouco mais nos próximos meses, mas não escapará muito disso.

José de Souza Martins*: A duração das cotas raciais

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Estamos no beco sem saída de estruturas sociais do passado. O regime de cotas não nos liberta desse passado, embora faça justiça tópica a uma parte dos desvalidos

Neste 2022, cumpre-se o prazo de dez anos para a revisão da lei que estabeleceu o regime de favorecimento de algumas categorias raciais e sociais no acesso às universidades públicas e às escolas técnicas federais. O que abriu uma disputa política tanto em relação à própria continuidade desse direito excepcional quanto em relação à sua eventual reformulação.

A adoção do regime de cotas para ingresso nas universidades públicas brasileiras começou com uma brincadeira política em 20 de novembro de 1993, dia da Consciência Negra. Estudantes, já universitários, da PUC e da USP, deram a chamada “pendura” no restaurante de um dos melhores hotéis de São Paulo. Comeram, beberam e não pagaram a conta como ato de reivindicação de reparação em nome dos negros que, durante vários séculos, foram escravos das fazendas brasileiras.

A manifestação revelou grande força simbólica e se desdobrou em movimentos sociais em favor da adoção do regime de cotas para ingresso nas universidades públicas. A manifestação deu sentido à relevância das ações afirmativas nas reformas sociais necessárias num país politicamente bloqueado à superação de suas estruturas sociais arcaicas.

Maria Cristina Fernandes: Pragmatismo americano sacode a Venezuela

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Em meio à guerra na Ucrânia, Caracas recebe primeira delegação americana desde o fim das relações diplomáticas há três anos

A guerra na Ucrânia tinha explodido havia dez dias quando Juan Sebastian González desembarcou em Caracas para encontrar o presidente Nicolás Maduro. Colombiano de Cartagena, filho de um executivo de empresa petrolífera, González deixou seu país aos 6 anos. Cresceu em Nova York, graduou-se na Universidade de Georgetown, em Washington, fez carreira na diplomacia e tornou-se assessor do então vice-presidente Joe Biden.

Desde o ano passado, é o diretor para as Américas do Conselho de Segurança Nacional e principal assessor de Biden para a América Latina. Ao tomar posse, aos 44 anos, González disse que sua política para a Venezuela teria dois pilares, direitos humanos e combate à corrupção: “Vamos atrás de cada dólar que tenha sido roubado do povo venezuelano”.

Passados 14 meses de sua posse, González encabeçou a primeira missão oficial americana à Venezuela desde o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países, em 2019. Naquele ano, Washington negou reconhecimento à reeleição de Maduro, proclamou o líder da oposição, Juan Gaidó, como o presidente legítimo e impôs sanções ao petróleo venezuelano.

Claudia Safatle: Dados preocupantes que vêm da Coreia

Valor Econômico

País asiático era, até então, modelo de controle da covid-19

Não vem da China, mas da Coreia do Sul, os dados mais preocupantes sobre a pandemia da covid-19. O repique nos últimos dias da doença na Coreia do Sul está intrigando os pesquisadores e médicos sanitaristas brasileiros. Os gráficos publicados abaixo dão a dimensão da mudança de sinal do país asiático, até então considerado como modelo de controle da doença. A taxa de vacinação da população é 87,55% dos que tomaram a primeira dose e de 86,63% dos que cumpriram todas as etapas da imunização.

Para ter uma ideia da progressão das estatísticas relativas à doença na Coreia, no dia 14 de março eram 309.769 novos casos de covid-19 e 200 mortes. Ontem, segundo informações atualizadas, já era mais do que o dobro de novos casos, que chegaram a 621.328, e as mortes haviam, também, mais do que duplicado para 429 pessoas.

Reinaldo Azevedo: Terceira via é uma quimera da negação

Folha de S. Paulo

Na ordem democrática, Lula e Bolsonaro são mesmo equivalentes?

A direita democrática ainda não conseguiu encontrar o seu lugar na eleição presidencial deste ano. Sei que muitos, à esquerda, acabaram de dar um risinho de canto de boca: "Direita democrática? Isso é como cabeça de bacalhau. Dizem que existe, mas ninguém vê".

Pois é. Cá nas minhas considerações, não se trata de uma fantasia. Mas ela não pode ser refém dos próprios equívocos. Se a prosa não mudar de rumo —e tenho dúvidas sinceras se haverá tempo—, o segundo turno entre Lula e Bolsonaro está contratado. Hoje, Lula é franco favorito e poderia vencer no primeiro turno. Mas a eleição não é hoje.

Há vários fatores concorrendo para tal quadro, que não chamo "polarização" —outra bobagem. Uma das causas determinantes está na tentativa de se criar uma quimera da negação: a "terceira via". Tratar-se-ia de um ser híbrido que, a um só tempo, carregasse virtudes de Bolsonaro (havendo alguma...) e de Lula, mas destinada a não ser nem uma coisa nem outra.

Bruno Boghossian: Medo não enche barriga

Folha de S. Paulo

Presidente depende de plataforma dupla, com socorro econômico e discurso político

Quem ouviu o último discurso de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto não teve nem sinal de que o governo havia acabado de lançar um torpedo de R$ 150 bilhões para ajudar sua reeleição. Em 30 minutos, o presidente atacou governadores, repetiu suspeitas sobre as urnas eletrônicas e disse estar diante de uma disputa do "bem contra o mal".

Não partiu de Bolsonaro nenhuma palavra sobre um pacote considerado crucial pelos políticos que tocam a campanha do presidente. O governo liberou até R$ 1.000 do FGTS para 40 milhões de pessoas e antecipou o 13º de 30 milhões de aposentados e pensionistas. Além disso, ampliou a margem de empréstimos consignados, que miram até as famílias de baixa renda do Auxílio Brasil.

Hélio Schwartsman: Pobre Brasil

Folha de S. Paulo

Num país decente, tentativa de censura derrubaria ministro

A única coisa que a Constituição de 1988 proíbe duas vezes é a censura, banida de nosso ordenamento jurídico tanto no artigo 5º, IX como no artigo 220. Com muito boa vontade, dá para discutir se um representante do Poder Judiciário, isto é, um magistrado, pode, em nome da preservação de outros direitos fundamentais, proscrever uma obra artística. Eu entendo que não, mas reconheço que esse é um ponto em que o debate é legítimo.

Ruy Castro: Uma ou duas Rússias

Folha de S. Paulo

O que comunas históricos achariam dessa Rússia que disputa os últimos hambúrgueres do McDonald's?

As imagens chocaram o mundo: multidões tomando as lojas do McDonald's em toda a Rússia, disputando os últimos hambúrgueres e sacos de batata frita antes do fechamento decretado pela rede em protesto contra a invasão da Ucrânia por Vladimir Putin. Os que conseguiam chegar aos balcões pediam dez ou 20 sanduíches para viagem. Um cidadão algemou-se à porta de uma unidade em Moscou, tendo de ser libertado à força pela polícia e levado pedalando o ar.

O choque se deve a que, por boa parte do século 20, a Rússia simbolizou a resistência aos prazeres fúteis do capitalismo. Não era bem a Rússia, como sabemos, mas a União Soviética, embora, para milhões, uma e outra fossem a mesma coisa. Dizia-se que os jovens russos podiam não ter a Coca-Cola, o cachorro quente e a sacanagem no banco de trás do carro emprestado pelo pai, mas não sentiam falta porque tinham escola, comida, emprego na fábrica e liberdade para idolatrar o camarada Stálin.

Vinicius Torres Freire: Pacote eleitoral de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Medidas misturam laranjas com jaca velha, crédito com dinheiro novo e mera antecipação de recursos

"Em ano eleitoral, pacote do governo injeta R$ 150 bilhões na economia", a gente lia e ouvia na tarde desta quinta-feira (17). Era o noticiário do anúncio do "Programa Renda e Oportunidade", de Jair Bolsonaro.

É cascata.

É propaganda do governo, que soma um rolo de dinheiros diversos. Pode até aliviar a vida muito dura de muita gente, por pouco tempo, talvez o bastante para render uns pontos de pesquisa ou votos. Isso se o trem de crise que vem na contramão não atropelar ainda mais a vida dessas pessoas.

Quem está fazendo a conta de "inflação suga tantos bilhões da economia"? O salário médio real deve cair de novo neste ano, tanto mais quanto piores foram os efeitos da crise mundial causada pela guerra e pelo arrocho dos juros.

O "pacote de R$ 150 bilhões" mistura laranjas com jaca velha, crédito com dinheiro novo e mera antecipação de recursos.

Flávia Oliveira: Inflação, a vida pela hora da morte

O Globo

A tempestade perfeita no ambiente global — alta nas cotações de petróleo e gás, valorização recorde das commodities agrícolas, aumento de preço e risco de escassez de fertilizantes químicos — já fez o Ministério da Economia revisar de 4,7% (dentro da meta) para 6,55% (bem acima do teto, de 5%) a estimativa do IPCA para o Brasil em 2022. O Banco Central, para conter a escalada dos preços, elevou a taxa básica de juros para o maior nível em meia década (11,75% ao ano) e prometeu adicionar mais um ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em maio. Se o petróleo chegar a dezembro em US$ 100 por barril — ontem voltou ao patamar de US$ 106 —, o IPCA terminará o ano em 6,3%. É o governo Jair Bolsonaro reconhecendo oficialmente o que toda família brasileira já sabe: a vida está pela hora da morte.

Rogério Furquim Werneck; Triunfo do populismo

O Globo / O Estado de S. Paulo

A disputa presidencial polarizada nas eleições deste ano está longe de ser um embate entre direita e esquerda

É preciso ter clareza sobre a real natureza do risco político a que estará submetida a condução da política econômica nas eleições de outubro.

Quando se trata de outras dimensões de política pública — relacionadas, por exemplo, a educação, saúde, segurança pública, costumes, cultura e meio ambiente — faz algum sentido perceber a disputa presidencial polarizada, entre Bolsonaro e Lula, como um embate entre direita e esquerda.

No que tange à condução da política econômica, essa percepção de um embate entre direita e esquerda até chegou a fazer sentido na eleição de 2018, pelo menos para quem se deixou cair no conto de que Bolsonaro passara a ser um discípulo convicto e disciplinado de Paulo Guedes.

Pedro Doria: Na Ucrânia, mas sem celular

O Globo / O Estado de S. Paulo

Durante a primeira semana após a invasão russa da Ucrânia, a vida de Bobuubi e sua família só não foi pesadelo maior porque sua comunidade, no Twitch, o salvou. Ele é um streamer. Seu trabalho, sua profissão, é jogar videogames ao vivo. Seu rosto aparece pequenino num canto da tela, o jogo preenche o resto. Bobuubi é polonês, mas vivia na Ucrânia, próximo à fronteira russa. Streamers costumam ter games preferenciais — no caso dele, é “Escape from Tarkov”, um detalhado simulador de guerra baseado no conflito entre Rússia e Chechênia. O público de Bobuubi estava assistindo ao vivo quando as primeiras bombas reais começaram a cair perto de onde ele estava. Ele se despediu emocionado. Precisava encontrar a família e fugir.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Não há justificativa plausível para o orçamento secreto

O Globo

É difícil encontrar adjetivos para descrever as manobras do Congresso que tentam deixar nas sombras o dispositivo conhecido por “emenda do relator”, ou pela sigla RP 9, usado para destinar bilhões do Orçamento a interesses paroquiais dos parlamentares, sem a menor transparência nem fiscalização. Uma nova tentativa de manter opaco o passado do orçamento secreto aconteceu na quarta-feira. O Senado encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de prorrogação por 90 dias do prazo para divulgar os nomes dos parlamentares beneficiados por essas emendas em 2020 e 2021.

Uma semana antes, o alvo foi o futuro. Em desafio ao bom senso e à decisão do próprio STF, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) determinou que não seria obrigatório revelar todos os deputados e senadores agraciados pelas emendas de relator. Caberá aos parlamentares decidir se querem ser identificados como autores da destinação da verba. É um escárnio.

As iniciativas do Congresso são um problema por pelo menos três motivos. Primeiro, e acima de tudo, porque são contrárias à Constituição, que exige transparência na alocação dos recursos públicos. Segundo, porque dificultam o combate à corrupção. As emendas do relator, usadas pelo governo como moeda de troca para garantir apoio, somam valores gigantescos. Em 2020, totalizaram R$ 19,7 bilhões. No ano passado, R$ 16,7 bilhões. Estão orçadas em R$ 16,5 bilhões neste ano eleitoral. Já foram identificados vários casos de sobrepreço em obras financiadas com esse dinheiro, mas continua em segredo o nome dos parlamentares que destinaram as verbas. A terceira razão é a falta de critério nos gastos, distribuídos sem base em estudos técnicos reconhecidos.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade: Os velhos

 

Música | Coral Edgard Moraes - A vida é um carnaval