domingo, 20 de julho de 2014

Opinião do dia: Aécio Neve

É uma pena que o resultado das pesquisas eleitorais afete tanto o equilíbrio da candidata que hoje tem a responsabilidade de dirigir o país. Não há nada que desqualifique tanto o debate político e desonre tanto a democracia quanto o uso da mentira e de artifícios como o de colocar na boca do adversário palavras que ele não disse. Práticas que se tornam ainda mais graves quando partem da presidente da República. Hoje, a candidata mentiu ao dizer que eu sou contra o Mais Médicos. Para que não haja duvidas: não vou acabar com o Mais Médicos, vou aprimorá-lo. Não vou acabar com o Bolsa Família vou aprimorá-lo. O povo brasileiro merece um debate eleitoral que respeite a verdade.

Aécio Neves, senador (MG) e candidato a presidente da República. Dilma acusa Aécio e tucano nega. O Globo, 19 de julho de 2014.

Reforma urbana toma lugar de reforma agrária

• Manifestações de junho consolidam inversão de prioridades das diretrizes de programa de governo dos candidatos à Presidência

Roldão Arruda - O Estado de S. Paulo

Uma das principais novidades nos programas dos candidatos à Presidência da República neste ano é o crescimento e a consolidação do espaço dedicado aos problemas urbanos. A mudança pode ser detectada com facilidade nos textos enviados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelos três postulantes que aparecem com mais destaque nas pesquisas de intenção de voto.

A explicação mais provável para a mudança é o impacto que tiveram sobre políticos e marqueteiros as grandes manifestações de junho do ano passado, iniciadas como um protesto contra o preço das tarifas do transporte público e culminando em um clamor popular por uma reforma urbana.

Esse anseio sinaliza as transformações da sociedade brasileira. Se na década de 1960, quando a bandeira da reforma agrária empolgava os partidos de esquerda no País e o governo de João Goulart, 55% dos brasileiros viviam em zonas rurais, hoje essa população está em torno de 16%. E a tendência, de acordo com o IBGE, é que ela fique mais reduzida nos próximos 30 anos.

Em suas propostas enviadas ao TSE, a presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta a reeleição, fala de maneira enfática na necessidade de uma "reforma urbana". O candidato do PSDB, Aécio Neves, vai na mesma linha. Entre as cinco "reformas fundamentais" que promete iniciar tão logo assuma o Planalto, as duas primeiras referem-se a questões urbanas - envolvendo transporte e segurança pública.

No programa de Eduardo Campos (PSB), um dos cinco eixos de mudanças que promete por em andamento é denominado Novo Urbanismo e o Pacto pela Vida. Para o ex-governador pernambucano, trata-se de "um dos problemas mais expressivos que se propõe ao Brasil e, consequentemente, àqueles que o governarão".

As grandes questões urbanas já estavam presentes em programas de eleições anteriores. A diferença é que agora aparecem com mais destaque. Em 2010, Dilma apresentou análises e propostas de mudanças para melhorar a vida nas cidades, mas não situou a questão entre as grandes reformas que o Brasil precisava. O primeiro esboço de programa que seu partido aprovou, durante encontro nacional realizado em maio, sequer dedicou um capítulo especial à questão, embora já reconhecesse que as cidades estão crescendo desordenadamente e que "muitas estão à beira do colapso".

A candidata do PSOL, Luciana Genro, está convencida de que a mudança está ligada às manifestações de junho. Ela fala sobre isso na página de apresentação de seu programa. "As manifestações que tiveram como ponto de partida a luta contra o aumento das tarifas expressaram um descontentamento mais amplo do povo contra as péssimas condições de vida nos grandes centros brasileiros e insatisfação com a subordinação do interesse público aos negócios privados", disse a ex-deputada gaúcha.

Campos também justifica suas escolhas na apresentação do programa lembrando os protestos: "É preciso ouvir o grito das ruas e ser consequente com os anseios da imensa borda de desfavorecidos que almejam inclusão verdadeira e cidadania plena".

Choque. A primeira impressão da leitura dos textos é a de um choque de realidade. Ao lembrarem, aqui e ali nos textos enviados ao TSE, que quase 85% dos brasileiros já vivem nas cidades, que o déficit habitacional gira em torno de 6 milhões de unidades, que a precariedade dos serviços de segurança pública está entre as principais preocupações da população, que a falta de mobilidade urbana foi o estopim das mobilizações que paralisaram o País, que o saneamento é o pior setor da infraestrutura nacional e que as ocupações irregulares se alastram por todas as metrópoles, os políticos parecem se dar conta da maior transformação social que ocorreu no Brasil nos últimos 50 anos: a sua veloz urbanização.

Essa transformação, conforme observações contidas no programa de Campos, ocorreu "com a completa ausência de planejamento urbano". Para Aécio, a redução da mobilidade urbana já traz "imensos prejuízos à qualidade de vida", com consequências para a saúde pública.

O desafio agora é definir políticas capazes de reverter os problemas. O candidato tucano promete priorizar o transporte público, tornando-o "uma alternativa viável e concreta em relação ao transporte individual". À esquerda dele e do PT, o PSOL promete implantar a tarifa zero no transporte dos principais centros urbanos. Já PSTU, PCB e PCO defendem a estatização de todo o sistema de transporte público. Na outra ponta, o Pastor Everaldo (PSC) acredita que o melhor é deixar tudo por conta da iniciativa privada.

Para o ex-deputado Eduardo Jorge, candidato do PV à Presidência, a preocupação é com a má representatividade dos cidadãos no atual sistema político. Ele defende o fechamento do Senado, a redução em 25% do número de deputados federais e a revalorização das câmaras municipais, que seriam assessoradas por conselhos de cidadãos eleitos pelos moradores.

Campos vai atrás do público jovem

• Candidato decidiu concentrar ações no Sudeste até o início da propaganda eleitoral e tentará se aproximar da juventude

João Domingos - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Desde fevereiro patinando em torno de 10% na preferência do eleitorado na disputa para Presidência, Eduardo Campos (PSB) decidiu concentrar ações no Sudeste até o início da propaganda eleitoral, em 19 de agosto. Ao lado da candidata a vice, a ex-ministra Marina Silva, Campos tentará cada vez mais se aproximar da juventude e das pessoas que participaram dos protestos de junho de 2013.

Tanto é que ele tem insistido na defesa do passe livre para estudantes, bandeira original das manifestações. A preocupação, segundo a coordenação da campanha de Campos, é crescer no Sudeste, região que concentra 43,4% do eleitorado, com 62 milhões de votantes, e que é fundamental para uma campanha realmente competitiva.

Para se tornar mais conhecido na região, na segunda-feira Campos e Marina inauguram o comitê central da campanha, num prédio de três andares na zona sul de São Paulo. Na terça-feira será a vez de o candidato inaugurar comitês de campanha no interior de São Paulo: Araçatuba, Limeira e Marília. Os três comitês servirão também ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), a quem o PSB se aliou na disputa local. O vice da chapa do tucano é o deputado Márcio França (PSB).

Campos acredita que, com a dobradinha com Alckmin, poderá dividir votos com outro candidato da oposição, o senador tucano Aécio Neves. Daí a criação dos comitês que servirão ao candidato ao Planalto e ao governador, líder nas pesquisas de intenção de voto.

Em data ainda a ser definida na semana que vem, o candidato do PSB pretende pedir votos em Minas Gerais, terra de Aécio Neves, e segundo maior colégio eleitoral do País. Depois será a vez do Rio de Janeiro.

Nordeste. Para poder dar mais atenção ao Sudeste, Campos usou as duas primeiras semanas de campanha oficial, iniciada em 6 de julho, para rodar o Nordeste, região em que espera avançar sobre o eleitorado que vem apoiando os governos do PT. Além de Pernambuco, seu Estado natal, o candidato foi ao Maranhão, ao Rio Grande do Norte, ao Ceará e a Alagoas. Ontem, em Maceió, Campos voltou a dizer que a presidente Dilma Rousseff não concluiu as obras na região iniciadas pelo governo. / Colaborou Carol Sanches

Aécio e Campos têm mais chance de crescer

• Datafolha mostra que 46% do eleitorado dificilmente votaria em Dilma; no caso do tucano, esse índice é de 27%

• Além dos que já se decidiram, eleitores que podem votar em Dilma somam 15%; são 36% no caso de Aécio

Fernando Canzian – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (17) mostra a possibilidade de uma reedição, em 2014, da polarização entre PT e PSDB que marcou as últimas eleições presidenciais no Brasil.

No cenário do primeiro turno, Dilma Rousseff (PT) tem 36%; Aécio Neves (PSDB), 20%; e Eduardo Campos (PSB), 8%. Mas Aécio e Campos são os que têm hoje maiores chances de crescer.

As três últimas eleições para presidente foram vencidas pelo PT, contra o PSDB, no segundo turno. Entre 2002 e 2010, os tucanos avançaram regionalmente a cada pleito.

Caso a polarização se consolide (com Campos não conseguindo desfrutar do seu potencial), Aécio tem mais chances de ganhar eleitores do que Dilma.

Pelo último Datafolha, em um segundo turno entre os dois melhores colocados hoje (Dilma e Aécio), eles estariam empatados na margem de erro de dois pontos do levantamento, com 44% e 40%, respectivamente.

Mas um recorte aprofundado da pesquisa mostra que 46% do eleitorado dificilmente votaria em Dilma. Esses eleitores, batizados de "causa perdida", dizem conhecer a petista, mas que não votariam nela de jeito nenhum.

Aécio tem um percentual mais baixo de eleitores "causa perdida" (27%); e Campos, ainda menor (19%). Ou seja, ambos têm, por enquanto, mais chances de atrair eleitores do que Dilma.

Somados, os eleitores que têm "alto potencial" ou "médio potencial" de votar em Dilma (além dos que já pretendem fazer isso) são apenas 15% do total. Eles chegam a 36% no caso de Aécio e a 44% no de Campos.

São qualificados como "potenciais eleitores" os que conhecem o candidato, cogitam votar nele e não o rejeitam necessariamente.

Esse tipo de recorte em pesquisas eleitorais é bastante usado nos EUA, onde os chamados "swing states" (Estados pêndulo) costumam decidir as eleições por margens muito apertadas.

Os candidatos se utilizam desse tipo de recorte justamente para focar recursos e presença onde têm mais potencial de crescimento.

No caso dos três líderes na atual corrida, o maior potencial de crescimento de Dilma está no Nordeste (18%); de Aécio, no Sul e Centro-Oeste (41%); e o de Campos, no Centro-Oeste (56%).

No geral, a não repetição do padrão das últimas eleições (de um embate direto entre PT e PSDB no segundo turno) dependerá, basicamente, do comportamento de Campos, que tem uma "avenida" para crescer.

"Campos tem grande potencial, mas precisará de uma comunicação eficiente para transformar isso em voto, e não deixar que se repita o padrão petistas contra tucanos das últimas eleições", diz Alessandro Janoni, diretor de Pesquisas do Datafolha.

Segundo as regras do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no primeiro turno Dilma terá cerca de 11min48s de tempo no horário eleitoral; Aécio, 4min31s; e Campos, 1min49s.

Caso a disputa acabe indo para o segundo turno, os dois primeiros colocados dividirão igualmente o tempo de 20 minutos na TV.

Tucano vai à periferia de SP com Serra e Alckmin

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), escolheu um bairro que foi reurbanizado por José Serra quando prefeito, com o apoio do governador Geraldo Alckmin, para fazer a primeira caminhada de sua campanha na capital paulista.

Os três tucanos chegaram juntos ao Jardim Ângela, periferia da zona sul de São Paulo, ladeados pelo vereador Milton Leite (DEM-SP) que domina esse reduto eleitoral.

Neste ano, Serra tentará o Senado e Alckmin, a reeleição ao governo do Estado.

São Paulo é o Estado onde a presidente Dilma Rousseff (PT) enfrenta o maior índice de rejeição entre o eleitorado (49%), segundo pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (17). Em um cenário de segundo turno, a petista tem 44% das intenções de voto e o tucano, 40% --um empate técnico, considerando a margem de erro.

A Folha viu ao menos cinco ônibus usados pela "família Milton Leite" para transportar eleitores que acompanharam a caminhada.

Ao fim do trajeto, Aécio disse ter escolhido o Jardim Ângela porque o lugar simboliza a importância das "parcerias". Afirmou ainda que ele e Alckmin "representam um projeto só, para São Paulo e para o país".

Numa crítica a Dilma, insinuou que as melhorias ali foram feitas sem o apoio do governo federal e que o "sobrepreço" se tornou uma "marca" da gestão petista.

Alckmin tem como vice em sua chapa um deputado que apoia Eduardo Campos (PSB), também presidenciável.

Apesar de a divisão do palanque no principal colégio eleitoral do país preocupar a cúpula de sua campanha, Aécio disse ser natural que deputados do PSB peçam votos para Campos.

Na contramão de rivais, Dilma evita campanha de rua

• Para poupar a petista de constrangimentos, como vaias, assessores apostam as fichas na propaganda de rádio e TV

• Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) têm percorrido o país para tentarem se tornar mais conhecidos

Andréia Sadi, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Enquanto os principais candidatos de oposição, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), investem pesado em viagens pelo país para se tornarem conhecidos, a presidente Dilma Rousseff tem evitado a campanha de rua e aposta suas fichas na propaganda eleitoral na TV, que começa em 19 de agosto.

Para assessores palacianos, houve um "vácuo de comunicação" nos primeiros anos do governo que será suprido pelos programas produzidos pelo marqueteiro João Santana e pela ampla vantagem que Dilma terá na divisão da propaganda eleitoral --ela ficará com quase 50% do tempo total.

A ideia do comando petista é mostrar ao telespectador as realizações da gestão, como a organização da Copa do Mundo no Brasil. Dilma também deve dar mais entrevistas a jornalistas.

A avaliação é que uma campanha mais "eletrônica" poupa a presidente de fatos negativos e constrangimentos que um evento de rua poderia trazer, como vaias.

"O que queremos é uma campanha sem barulho', em um ambiente com controle", explica um interlocutor.

Auxiliares palacianos citam como modelo a campanha de Fernando Henrique Cardoso à reeleição, em 1998, quando houve exposição intensa na televisão associada a uma campanha "do medo".

Na época, o tucano investiu na ameaça da volta da inflação caso não fosse reeleito. Agora, o discurso do PT é que, se os tucanos ganharem a eleição, programas sociais implantados pelos governos Lula e Dilma serão extintos.

Menos escalas
Integrantes do comitê presidencial preveem menos viagens, quase metade comparado a 2010, e vão explorar ao máximo compromissos da "Dilma presidente", como na semana que passou, em que ela recepcionou vários chefes de Estado.

Sem poder inaugurar obras, a campanha petista costura uma agenda presidencial' na semana que vem para mantê-la em evidência.

Ainda na carona da Copa do Mundo, está previsto um encontro com o Bom Senso Futebol Clube, movimento que reúne atletas em busca de melhorias no futebol brasileiro, e uma possível viagem ao Rio para visita a obras da futura Vila Olímpica, que funcionará nas Olimpíadas de 2016.

Oposição
Aécio e Campos têm percorrido o país com dois objetivos principais. O primeiro é tornar-se conhecido do eleitorado local por meio de entrevistas a rádios, TVs e jornais. O segundo é reunir boas imagens para a produção dos respectivos programas de TV.

A quinta e sexta da semana passada foram um exemplo: em visita a São Luís (MA) e Natal (RN), Campos deu entrevista a quatro TVs locais e uma rádio, além de ter reunido a imprensa das duas cidades em duas coletivas.

Aécio também tem percorrido o país com o objetivo de se mostrar mais do que um "ex-governador de Minas".

As três campanhas avaliam que mudanças relevantes nas pesquisas de intenção de voto só serão possíveis após o início do horário eleitoral e da cobertura diária dos presidenciáveis pelos telejornais da TV Globo, emissora líder em audiência, prevista para começar no dia 4.

Lula comanda campanha de Dilma em São Paulo, prioridade até início da TV

• Ex-presidente vai para as ruas no maior colégio eleitoral do País para melhorar imagem de Haddad e garantir 'escudo de respostas'

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O comitê da reeleição teme que o desgaste do PT em São Paulo contamine a campanha da presidente Dilma Rousseff, mas a forma de enfrentar a crise provoca novas divergências na equipe. Cansado de aguardar um sinal do comitê de Dilma sobre seu papel na campanha de rua, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu agir por conta própria antes da propaganda política, que começa em 19 de agosto.

Lula já dá prioridade ao maior colégio eleitoral do País para melhorar a imagem do prefeito Fernando Haddad, tirar do limbo o candidato petista ao governo estadual, Alexandre Padilha, e transferir votos para Dilma.

A tática teve início na prática na sexta-feira, em ato pró-Padilha no centro paulistano. O ex-presidente também escalou um cinturão de prefeitos do PT na Grande São Paulo e em cidades do interior para proteger os dois candidatos desta eleição na temporada pós-Copa, quando os olhos do eleitor se voltam para o que ele chama de "vida real".

Sob o comando do prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, coordenador da campanha de Dilma no Estado, o time será o grupo de defesa do PT, recorrendo ao expediente da "pronta resposta" para impedir o bombardeio adversário.

A estratégia foi definida no dia 11, em almoço na casa de Marinho do qual participaram os prefeitos petistas, incluindo Haddad, além de Lula e Padilha.

"Não vamos admitir ofensas pessoais nem baixarias", disse o presidente do PT, Rui Falcão.
Com a economia estagnada e perigo de recessão, Dilma iniciará a campanha numa plenária da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em São Paulo, no dia 31. A escolha é simbólica. Diante dos sindicalistas, no berço do PT, ela vai dizer que, apesar da crise financeira mundial, o governo tem lado e protegeu o emprego e a renda.

Polarização. Será mais um capítulo da estratégia de polarização com o PSDB de Aécio Neves. Antes, na terça-feira, Lula defenderá o legado dos 12 anos do PT no Planalto ao abrir o Congresso da Federação dos Químicos de São Paulo, filiada à Força Sindical, que apoia Aécio.

"Agora estou mais solto e tenho liberdade para falar as coisas que penso e influir na campanha", disse Lula dias atrás a dissidentes da Força que apoiarão Dilma. "Não sou candidato, mas sou militante. Desencarnei."

A "dosagem" de Lula nos palanques, no entanto, divide o comitê da reeleição. Tudo está sendo planejado para não ofuscar Dilma, mas a demora na programação de eventos irrita auxiliares do ex-presidente, que esperam ordens de Brasília. Além disso, não se sabe como será a participação na campanha da ministra da Cultura, Marta Suplicy, que tirou férias no governo. A ex-prefeita enfureceu Dilma ao promover três jantares de apoio ao movimento "Volta, Lula".

A ideia da coordenação da campanha é potencializar a simbiose da dupla, para que Dilma possa fazer comício em Belo Horizonte, por exemplo, enquanto Lula estiver em São Paulo. "Nós dizemos que os dois estão marmorizados", afirmou Padilha.

As dificuldades do PT em São Paulo preocupam o partido, que enfrenta a disputa mais difícil desde 2002, ano em que Lula chegou ao Planalto. Em 2006, quando o então presidente concorria ao segundo mandato, seu índice de intenção de votos, nessa mesma época, era de 44% - o de Dilma está em 36%, de acordo com pesquisa Datafolha.

Em julho de 2010, o então candidato do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, hoje ministro da Casa Civil, tinha 14%, segundo o Ibope.

Com avaliação ruim, Haddad não ajuda Padilha, que patina na faixa de 4%. A fervura desse caldeirão respinga em Dilma, enquanto o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que lidera a corrida ao Palácio dos Bandeirantes, já começa a alavancar a candidatura de Aécio no Estado.

Apesar dos problemas, a presidente segue em primeiro lugar, mas já há empate técnico na simulação de 2.º turno com Aécio. O candidato do PSB, Eduardo Campos, ainda não se consolidou como "terceira via", mas sua distância para Dilma diminuiu, em duas semanas, de 13 para 7 pontos em um eventual 2.º turno.

Para Campos, Dilma precisa "sair de trás do marqueteiro" e ir para as ruas mostrar o que fez. "A gente procura no Brasil real e não encontra esse governo de quatro anos", atacou o candidato, poupando Lula. A exemplo de Aécio, Campos montou seu comitê central em São Paulo, onde PSDB e PSB estão juntos na corrida estadual e podem atacar os candidatos do PT.

"É natural que Eduardo queira usar quem está em primeiro lugar nas pesquisas como escadinha", ironizou o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini. "O espantoso é ele ter levado dez anos para mudar sua avaliação sobre as realizações do governo, do qual fez parte."

A memória do partido inacabado de Ulysses

• Peemedebista tentou criar em 1992, ano de sua morte, legenda parlamentarista

Pedro Venceslau e Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo

Eram 16 horas do dia 8 de outubro de 1992, uma quinta-feira, quando o jurista Miguel Reale Júnior foi avisado por sua secretária que o deputado Ulysses Guimarães estava na linha. Atendeu de pronto pensando que se tratava de uma conversa de rotina, mas foi surpreendido com o que ouviu. "Reale, vou lhe contar uma coisa absolutamente sigilosa. Guarde o mais absoluto sigilo até terça-feira por volta do meio-dia. Estou indo para Angra dos Reis na casa do (ex-ministro) Renato Archer. Mas na próxima terça-feira, às nove da manhã, tenho encontro com o (presidente) Itamar (Franco). Vou lá dizer que estou saindo do PMDB."

A notícia veio seguida de uma recomendação. "Espero levar comigo 60 deputados. Comunique isso para o Fernando (Henrique Cardoso) e (Mário) Covas. Diga que pretendo constituir um grande partido parlamentarista, que não seja o PMDB nem o PSDB."

Antes que o amigo e aliado assimilasse o que acabara de ouvir, o deputado fez uma última observação. "O Itamar é muito sensível. Se ele souber que algum dos outros souberam antes, ele vai criar problema. Mas quero que os outros saibam logo. Então, lá pelo meio-dia, já terei conversado com o presidente e você poderá falar com eles."

Por 22 anos, Reale Júnior tratou esse diálogo com discrição e só o revelou a poucos amigos em conversas reservadas. A morte trágica de Ulysses em 12 de outubro daquele mesmo ano, num acidente de helicóptero quando voltava de Angra, relegou o movimento para o escaninho da história.

A determinação de Ulysses tinha potencial para alterar significativamente o quadro partidário brasileiro daquele momento, avalia o jurista. "A tragédia foi de tal grandeza que esse fato se perdeu. Compreenda a excitação dele (Ulysses) de querer voltar de Angra mesmo contrariando o piloto, que não queria voar por causa do tempo. Ele tinha uma reunião no dia seguinte às 9h em Brasília e precisava pegar o avião às 7h."

O deputado decidira deixar o partido do qual era um dos maiores símbolos em um momento de ebulição política. Naqueles dias de outubro, ele e Reale Júnior estavam imersos na formatação jurídica da frente que defenderia o regime parlamentarista no plebiscito que seria realizado no ano seguinte. Nos meses anteriores, Reale Júnior fora o principal responsável por redigir a petição do impeachment de Fernando Collor de Mello. Ulysses foi um dos primeiros a ler o texto.

Isolamento. Apesar de ter sido um dos maiores símbolos da campanha por eleições diretas e ter presidido a Assembleia Constituinte, Ulysses vivia um momento delicado de sua carreira política. Derrotado na eleição presidencial de 1989, perdera também o comando do PMDB para Orestes Quércia. Isso depois de ver seus antigos aliados deixarem a legenda em 1988 para formar uma nova sigla, o PSDB.

"O potencial do novo partido pensado por Ulysses era imenso. Além do fortalecimento extraordinário da Frente Parlamentarista, haveria uma grande surpresa nacional. Só o fato dele sair (do PMDB) seria um fato estrondoso", diz Reale Júnior.

O jurista, que naquela altura já havia deixado o PMDB para entrar no PSDB, conta que a ideia era que da união do grupo de Ulysses com os tucanos surgisse uma nova legenda. "Não sabemos qual seria a reação do Fernando (Henrique Cardoso), do Mário (Covas) e do (José) Serra a essa proposta. Mas eles provavelmente iriam aceitar. Havia identidade entre eles, além de uma simpatia pessoal muito grande."

Questionado pelo Estado, o ex-governador José Serra confirmou a tese de Reale Júnior. "Eu estava muito aberto a isso. O PSDB nasceu como um partido parlamentarista. O Ulysses tinha um tamanho tal, que podia se justificar a criação de um nova força que unisse a gente", disse o tucano, atual candidato ao Senado. A proposta, de fato, tinha grande potencial. Ulysses levaria com ele dirigentes peemedebistas de sua área de influência no Rio Grande do Sul e em Estados do Norte e Nordeste, o que enfraqueceria o partido comandado por Quércia na época.

Reale evita falar sobre a virtual lista de peemedebistas que estariam na contabilidade de Ulysses. Mas se arrisca a citar alguns nomes: Genebaldo Correia, da Bahia, Ibsen Pinheiro e Pedro Simon, do Rio Grande do Sul, e Cid Carvalho, do Maranhão. O senador Pedro Simon disse ao Estado que nunca soube do movimento de Ulysses. A ideia, segundo Reale, era justamente essa: evitar que a história se espalhasse por Brasília e contaminasse o projeto. Mas a confiança da debandada era total.

Questionado se aceitaria o convite, Simon sinaliza que sim. "Eu aceitaria o parlamentarismo de corpo e alma. O PMDB do Rio Grande do Sul estava fechado com o Ulysses", diz o senador de 84 anos, crítico dos rumos de sua legenda e que, recentemente, anunciou que não vai disputar novo mandato.

Com a morte de Ulysses, o comando da Frente Parlamentarista passou para o paranaense José Richa, que não tinha o mesmo carisma do "Senhor Diretas". Apoiado por Luiz Inácio Lula da Silva, Paulo Maluf e Leonel Brizola, todos pré-candidatos ao Palácio do Planalto, a frente presidencialista bateu na tecla de que só aquele regime permitiria que o povo realizasse o sonho de votar para presidente.

Venceram o plebiscito com ampla margem. Enquanto PT e PSDB se revezaram no poder, o PMDB beneficiou-se de sua capilaridade e tornou-se a maior e mais influente sigla brasileira. Quase sempre dando apoio aos governos.

Celso Lafer: 'Cinquenta Anos Esta Noite', de José Serra

- O Estado de S. Paulo

Os eventos vivenciados ao serem lembrados são pensados, pois é inerente à articulação de uma narrativa a busca de um significado que ao mesmo tempo particularize e generalize o seu alcance. Daí a importância de qualificadas narrativas, lastreadas na reflexão sobre a experiência, que permitem alargar o entendimento das múltiplas facetas do humano. É o que acontece com Cinquenta Anos Esta Noite, recém-publicado livro de José Serra.

Trata-se de relato que discute um recorte da sua vida e da sua formação na perspectiva organizadora das suas atividades de militante estudantil em 1964, das suas subsequentes experiências de exilado político, e que termina com seu regresso ao Brasil em 1977. García Márquez, na epígrafe do livro, afirma: "La vida no es lo que uno vivió, sino la que uno recuerda, y cómo la recuerda para contarla". O que e o como Serra recorda, para nos contar, num texto claro e bem escrito, é extremamente interessante à luz de diversos pontos de vista e permeado pela atmosfera intelectual da sua geração - que é a minha.

Toda geração, sublinha Ortega y Gasset, na sua diversidade tem uma sensibilidade vital compartilhada e própria, que passa pela escolha dos seus escritores e poetas, dos seus músicos, filmes e teatro, dos seus ideais e costumes. O relato dessa sensibilidade confere densidade cultural a uma narrativa esclarecedora dos contextos da vida brasileira que Serra compartilhou com tantos de sua geração, como a política estudantil e o exílio. Este, como registra, "não é a ausência do país, estar longe de casa. É falta de documentos e impossibilidade de voltar". É depender, em situações difíceis, da boa vontade de estranhos, como diz evocando Vivian Leigh/Blanche Dubois em Um Bonde Chamado Desejo.

O exílio foi um aprendizado existencial, mas também intelectual para Serra. Deu-lhe uma visão do mundo e da América Latina. Confirmou, à luz do que vivera em 1964, a importância de compreender o que afeta as pessoas e a mecânica econômica da sociedade, estudando os fundamentos teóricos da economia e da sua aplicação e a indispensabilidade do "sistemático e abrangente confronto da realidade com a razão - ambos inseparáveis do desenvolvimento histórico", tendo sempre desses assuntos uma leitura multidisciplinar e não dogmática, como aprendeu com Albert Hirschman em Princeton.

Consolidou sua ambição de, quando fosse possível retornar ao Brasil, "retomar a ação política com vontade e maior qualificação". O livro é muito esclarecedor de como se forjaram as características da personalidade política de Serra - sua determinação, sua competência, seu apreço pelos pormenores - que vieram a assinalar sua marcante e substantiva trajetória de homem público, deslanchada com a sua participação no governo Montoro, em São Paulo.

Muitas facetas desse livro merecem análise. Vou circunscrever-me ao relato que faz da sua primeira e marcante experiência de ação em 1964, como presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), que acompanhei como aluno da Faculdade de Direito da USP. A UNE tinha grande centralidade em função do papel do movimento estudantil na mobilização política dos ideais da esquerda na moldura da guerra fria e, no horizonte, das expectativas geradas pela Revolução Cubana.

A narrativa de Serra tem algo da natureza de um diagnóstico-identificação, forma literário-econômica criada por Aníbal Pinto, por ele mencionada. Tem a vivacidade de quem teve acesso ao que se estava passando no centro do poder em nosso país. Relata encontros de que participou com Goulart, Arraes, Brizola e conversas com San Tiago Dantas, JK e Celso Furtado.

Nesse contexto, no plano pessoal, confidencia no livro que "sentia mais angústia sobre o tamanho da crise do que certezas a respeito do que fazer". A confidência provém de sua avaliação da fragilidade do governo, das indeterminações do seu sentido de direção, da precariedade do seu "dispositivo militar", do desdobramento do medo suscitado nas classes médias pela radicalização das medidas governamentais e da crescente desorganização da economia, da percepção pouco realista da esquerda sobre a correlação de forças e do efetivo processo conduzido pela direita que preparou a "consumação do golpe - cuja data correta é 1.º de abril, e não 31 de março". Também aponta e documenta contra a corrente da opinião da época e de estudos posteriores que, "em matéria de medidas que pudessem ser consideradas nacionalistas e populares, o Parlamento não era ao fim e ao cabo um reduto de intransigência".

Trata-se de "diagnóstico-identificação" de grande acuidade sobre como teve início a longa noite autoritária em nosso país, elaborada por quem pensou o assunto e o elaborou nesse livro a partir de uma experiência "de dentro", e não "de fora" do processo político, que é o que diferencia positivamente o pensador da política das abstrações e dos mecanicismos do filósofo da política, na lição de Hannah Arendt. Por isso o livro tem, à maneira de Bobbio, a medida do julgamento e o senso da complexidade das coisas na avaliação dos múltiplos fatores que, em conjunto, levaram ao desfecho de 1964.

O filme de Louis Malle Trinta Anos Esta Noite (Le Feu Follet) trata dos desequilíbrios de um personagem que o levam ao suicídio nessa idade. Serra é um cinéfilo. Interpreto, assim, que o título Cinquenta Anos Esta Noite é uma metáfora que aponta para aquilo que culminou, em 1964, no suicídio político da democracia no Brasil.

Algo de semelhante ele reviveu no Chile com a derrocada de Allende e a instauração da ditadura de Pinochet. Daí a conclusão com que encerra o seu livro: "Os países se tornam estáveis quando mudam com prudência e conservam com coragem. A saudável tensão entre esses dois impulsos livra as nações dos desastres do reacionarismo e do populismo, duas forças que têm um longo passado no Brasil, mas que não oferecem futuro".

Professor emérito do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo

Merval Pereira: O tal mercado

• O comportamento de regozijo do mercado financeiro toda vez que uma pesquisa mostra a chance de derrota de Dilma tem gerado críticas dos petistas.

• O mercado é instrumento da democracia, como transmissor de informações e da opinião pública.

• “Quanto mais distantes do mercado as relações entre público e privado, quanto menor a transparência, maior a corrupção”, diz Gustavo Franco.

- O Globo

O comportamento de regozijo do mercado financeiro, toda vez que uma pesquisa de opinião mostra a chance de derrota de Dilma na eleição presidencial, tem gerado críticas por parte dos petistas, inclusive do mais graduado deles, o ex-presidente Lula, que chegou a ironizar recentemente esse comportamento: “Pelo que eu sei, esse tal de mercado internacional nunca votou em você (Dilma) e nunca votou em mim. Quem vota na gente é o povo, cujo único mercado que conhece é onde compra feijão”.

Mas desde sempre a situação da economia não apenas influencia o resultado das eleições, como também a situação política interfere na economia, especialmente em anos eleitorais como o que vivemos. “É a economia, estúpido”, já advertiu o marqueteiro James Carville na campanha que elegeu Bill Clinton presidente dos Estados Unidos.

Lula sabe o que é isso. Já tivemos no mercado internacional o lulômetro, que o banco de investimentos americano Goldman Sachs criou na eleição de 2002 para medir a influência na cotação do dólar do risco de Lula vir a ser eleito presidente da República. O modelo matemático previa que o dólar chegaria a R$ 3 em outubro, e ele chegou a R$ 4, diante da realidade de Lula subindo a rampa do Palácio do Planalto.

E, diante da desconfiança do tal mercado, Lula teve que lançar a “Carta aos Brasileiros” para garantir que não mudaria a política econômica. Anos depois, Lula se confessaria arrependido de ter feito tal carta, o que só reforça a desconfiança atual dos mercados com o governo Dilma.

Depois de duas eleições em que reeleger Lula ou eleger Dilma não parecia perigoso para a economia do país, chegamos este ano a uma eleição diferente. O expresidente do Banco Central Armínio Fraga, que deve ser o principal nome da economia em um eventual governo do tucano Aécio Neves, já previra que a possibilidade de Dilma se reeleger no primeiro turno, como indicavam as pesquisas até pouco tempo, poderia ter o mesmo efeito que a vitória de Lula em 2002.

Em consequência, a possibilidade de haver segundo turno, com boa chance de derrota do PT, poderia fazer a Bolsa de Valores retomar o crescimento, depois de ter caído quase 40% nos anos Dilma.

Na semana passada, diante da pesquisa Datafolha que mostra um empate técnico entre Dilma e Aécio num segundo turno, o Ibovespa subiu, empurrado especialmente pelas ações das estatais. O que quer dizer que os investidores acreditam que num novo governo as estatais não serão mais usadas como instrumentos de política econômica, mas como empresas competitivas num mercado internacional cada vez mais difícil.

Isso porque o mercado, dizem os especialistas, é essencialmente um instrumento da democracia, como transmissor de informações e expressão da opinião pública.

Lembrei-me de um debate, anos atrás, em que fiz a mediação entre dois dos pais do Real, os economistas Gustavo Franco e André Lara Resende, hoje atuando como assessor de Marina Silva, sobre o qual já escrevi na coluna.

Quando o assunto foi o mercado, os dois concordaram em que a sua impessoalidade sai sempre mais barata para o contribuinte. “Goste-se ou não, o mercado é a forma mais eficiente e influente de expressão da opinião pública, e transparência é tudo quando se trata do funcionamento do mercado”, disse Gustavo Franco.

Para ele, uma coisa é certa: “quanto mais distantes do mercado estiverem as relações entre o público e o privado, quanto mais discricionárias as decisões, e quanto menor a transparência, maior será a corrupção”. André Lara Resende destacou que a contribuição mais relevante do economista austríaco liberal Friedrich Hayek “é o seu papel de defensor dos mercados, como insuperável transmissor de informação e estimulador da criatividade, onde se pode encontrar a mais coerente e fundamentada análise dos riscos econômicos e sociais do aumento do papel do Estado”.

Para Franco, “quem vai terminar com a sociedade do privilégio é a economia de mercado, e não é outro o motivo pelo qual a estabilização, a abertura, a desregulamentação, e a privatização geraram tantas tensões”. A economia de mercado, na definição de Franco, “é subversiva numa sociedade do privilégio, pois propugna a competição, a impessoalidade e a meritocracia, e dispensa, tanto quanto possível, a interveniência de um Estado cheio de vícios.”

Dora Kramer: Com bola e tudo

- O Estado de S. Paulo

A última pesquisa Datafolha, primeira depois da Copa do Mundo, trouxe um alerta ao governo que serve também aos demais candidatos: definitivamente o eleitorado não é um ajuntamento de seres imaturos permeáveis a manipulações de natureza barata.

Situação e oposição tentaram cada qual ao seu modo tirar proveito do Mundial. A presidente Dilma Rousseff tripudiando sobre as previsões dos "pessimistas" quis se beneficiar do sucesso fora do campo.

Seus principais adversários, Aécio Neves e Eduardo Campos, ensaiaram capitalizar o repúdio da plateia à governante nos estádios. Movimentos inúteis, conforme mostrou a pesquisa.
Com toda a euforia da Copa e o êxito da organização, Dilma viu suas intenções de votos oscilarem para baixo (de 38% para 36%), a rejeição subir de 32% para 35% e a avaliação negativa do governo aumentar de 26% para 29%.

A conclusão é óbvia e simplesinha: a eleição não depende de truques e o eleitorado não está disposto a transitar pelo terreno das realidades paralelas.

Há um dado objetivo que é o cenário do segundo turno, este sim muito preocupante para o governo. Em 15 dias a diferença entre a presidente Dilma e o candidato do PSDB se reduziu em sete pontos porcentuais. Período em tese bom para a presidente, pois estava todo mundo vivendo o encantamento dos turistas com o Brasil meio de fantasia.

No início de julho Dilma tinha 46% contra 39% de Aécio. Duas semanas depois, o quadro era de 44% contra 40%, praticamente um empate indicando possibilidade de ultrapassagem pelo candidato da oposição.

Uma questão de lógica, porque a candidata à reeleição não para de cair e seu oponente mais próximo sustenta a posição. Note-se ainda o seguinte: do primeiro para o segundo turno ela vai de 36% para 44%; acrescenta oito pontos ao seu capital enquanto ele dobra o patrimônio, subindo de 20% para 40%.

O terceiro colocado, com 8%, vai para 38% no segundo turno. De onde Eduardo Campos arrumou 30 pontos porcentuais? Da rejeição à presidente, claro. Um sentimento que aumenta e se consolida a cada pesquisa. A campanha do PT tem dois desafios, de imediato: estancar e inverter a tendência.
Não há uma fórmula mágica à vista e por enquanto a aposta é tradicional, a exposição no horário da propaganda de rádio e televisão, cujo tempo reservado à presidente é quase o triplo do segundo colocado. Não deixa de ser uma vantagem, mas a eficácia pode ser relativa.

Dilma já conta com exposição total nos veículos de comunicação e fica difícil perceber como a aplicação de novas e altas doses do mesmo remédio poderia resolver o problema. Ou seja, liquidar a eleição no primeiro turno.

Já para os oponentes, muito menos conhecidos, qualquer acréscimo de ocupação de espaço é vantajoso, porque têm margem para crescer, o que não ocorre com a presidente conhecida por 99% e rejeitada por 35% do eleitorado.

A disputa no segundo turno ocorre na base do mano a mano: há obrigação de comparecer aos debates, os tempos de televisão são divididos de forma igualitária entre um e outro e é na etapa final que a rejeição tem um peso fatal. Daí a urgência de vencer no primeiro turno, o que não parece uma hipótese à disposição de Dilma Rousseff.

Corda bamba. A entrada de Lula na campanha de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo é um teste para a popularidade do ex-presidente. Deu certo com Fernando Haddad, que em 2012 tinha índices sofríveis de intenções de votos e deslanchou com a ajuda de Lula.

Embora improvável, não é impossível de se repetir a cena nessa tentativa de tirar Padilha dos 4% rumo a uma situação de competitividade com o governador Geraldo Alckmin e seus 54% de intenções de votos na pesquisa do Datafolha.

Caso não surta o efeito esperado, porém, o ex-presidente terá explicitado que seu prestígio junto ao eleitorado já não é o mesmo de outrora.

Eliane Cantanhêde: Gastando cartuchos

- Folha de S. Paulo

Sabe o dado mais importante do Datafolha? Eduardo Campos, que só tem 8% de intenções de voto, dá um salto espetacular para 38% num eventual segundo turno entre ele e a presidente Dilma Rousseff. Como assim?

A única explicação é que as pessoas não votariam a favor dele, mas contra Dilma e o PT. A rejeição dela bate em 35%, o dobro da de Aécio (17%) e mais que o dobro da de Campos (12%); e a avaliação ruim/péssimo do governo bate em 29%.

Vai ficando cada vez mais evidente que a grande chance de Dilma ser reeleita é arrancar a vitória no primeiro turno. O que, pelo andar da carruagem, parece bastante improvável. Ela vai mal em São Paulo e caiu no Nordeste, entre as mulheres e nas maiores cidades, que são irradiadoras de votos.

Dilma ainda é favorita (36%), mas, se a eleição for para o segundo turno, a coisa pode ficar feia. A diferença entre ela e Campos é de apenas sete pontos (45% a 38%). Entre ela e Aécio, que já foi de 27 pontos em fevereiro, caiu para irrisórios 4 pontos (44% a 40%) em cinco meses. Considerando a margem de erro de dois pontos, há empate técnico entre Dilma e Aécio, que tem muito menos exposição.

A situação da candidatura Dilma acirra os ânimos do PT e do seu grande líder, Lula, que vive hoje um triplo pesadelo: Geraldo Alckmin com mais de 50% para o governo e José Serra na dianteira para o Senado em São Paulo e Dilma gastando todos os seus cartuchos sem acertar o alvo para a reeleição.

Se Dilma está assim com Copa, Brics, presidentes da Rússia, da China e da América do Sul e uma série de entrevistas, como poderá evoluir bem daqui em diante?

Ela tem mais que o dobro do tempo de TV de Aécio e Campos na campanha, mas TV e marketing não fazem milagre. Talvez a economia fizesse, mas os ventos internacionais não induzem ao otimismo. Nem o desempenho do governo Dilma até aqui.

João Bosco Rabello: Sem anestesia

- O Estado de S. Paulo

Primeira após a Copa do Mundo, a pesquisa Datafolha confirmou a previsão de que o torneio não afetou o discernimento do eleitor que, embora satisfeito com o evento, não concede ao governo o mérito pelo seu êxito, como tinha esperança o PT.

Essa constatação agrava a situação da presidente, por ser um ponto a seu favor que se mostrou insuficiente para impedir nova queda na intenção de voto e aprovação de governo.
Mais que isso, o índice de rejeição da presidente, em viés de alta agora também na região Nordeste, reduto histórico de vitórias do PT, causa vertigem na coordenação da campanha. De fato, a pesquisa é muito ruim para Dilma quando se sublinha certos aspectos.

Em queda desde que a economia entrou em baixa e perdeu seu efeito anestésico, o governo viu também que a Copa não funcionou como sedativo capaz de ajudar a empurrar o senso crítico do eleitor para depois de outubro.

Conhecida por 100% do eleitorado, ao contrário de seus oponentes, Dilma tem apoio apenas de 36% dos consultados, dois pontos a menos que na última aferição, reduzindo o poder de sua maior visibilidade.

Nesse contexto, a equação é perversa para a presidente: enquanto seus adversários ganham na medida em que ampliam sua visibilidade, ela cai na proporção inversa. Tal constatação indica que a exposição na propaganda de televisão favorecerá a oposição em proporção bem maior que a candidata governista.

Outro fator negativo é o índice de rejeição da presidente. Em São Paulo, é de 47%, e no cômputo geral, de 35%, porcentuais muito próximos.

Os índices de avaliação de governo também caíram e a candidata hoje tem seu governo reprovado por 29% - o pior resultado desde 2011, segundo o instituto Datafolha.

Os números de pesquisas são fotografias de momentos, o que recomenda sempre cautela na sua associação com previsões de derrota ou vitória.

Mas o alerta da pesquisa está na consistência da queda da presidente, que se mostra refratária ao esforço empreendido pelo seu governo na reversão do quadro.

A situação da candidata do PT, partido a que deve seguramente o maior porcentual de sua rejeição, nos Estados é outro complicador. A dissidência na base aliada subtraem viço à campanha nacional, sobretudo porque foi habilmente explorada por Aécio Neves, como prova o cenário do Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral.

Em política não se despreza o imponderável. Mas o registro presente mostra a candidatura oficial com dificuldade persistente e parca em recursos para virar o jogo, que lhe é desfavorável.

Roberto Romano: Novidade faisandée

• Renovação do carcomido une tanto a ‘nova’ candidatura oficial quanto os ‘novos’ oposicionistas

- O Estado de S. Paulo - Aliás

Em sabatina realizada essa semana um candidato à Presidência da República, que se apresenta como arauto do novo na política, justificou suas alianças com políticos regionais retrógrados. Ele afirmou, sem titubear, ser preciso atingir o domínio do poder central que alimenta os mesmos coronéis para… acabar com os oligarcas! O enunciado doura a velha pílula distribuída a mancheias em eleições majoritárias do Brasil. Nada foi dito pelo candidato sobre o preço a ser pago aos velhos políticos pelo apoio recebido. A fuga, na campanha, de temas polêmicos em termos éticos, como no caso do aborto, é um verdadeiro lip service aos vetustos donos de votos. Modo geral, todos os itens dos debates que exigem firmeza e competência são afastados pelos candidatos, para não perder nas urnas. Temos aí o nó górdio do presidencialismo brasileiro.

A vagueza dos programas de governo, requentados e postos ao dispor da Justiça Eleitoral, vem da ausência de ideologia, doutrina, política consistente, o que gera acertos esdrúxulos como os defendidos pelo candidato sob a capa do “realismo”. O exemplo torna evidente a crise de legitimidade que corrói o Estado brasileiro. A hipertrofia do Executivo federal é paga com trocas de cargos, atraso, controle dos eleitores, venalidade parlamentar, olhos cegos da Justiça.

Nossa desordem institucional segue a ampla crise do Estado no âmbito planetário. A máquina de governar, firmada nos séculos 16 e 17 na Europa, mostra claros sinais de exaustão. Tomemos os famosos monopólios do Estado expostos por Max Weber. Durante séculos os engenheiros do poder civil tentaram impor aqueles monopólios usando a mentira (a raison d’État), a dissimulação, o segredo, a força desabrida contra os direitos da cidadania. Hoje, mesmo para Estados poderosos, é difícil a imposição legítima da força física (na polícia e na guerra). Finanças predatórias impedem arrecadar o suficiente para manter políticas públicas (saúde, educação, lazer, ciência e tecnologia).

Quadrilhas ligadas ao comércio de drogas, tráfico de escravos, prostituição lavam dinheiro e desafiam sistemas penais. Até o Vaticano precisou suspender a nada santa lavanderia nele instalada, como muitos governos laicos. Os monopólios da força física, da norma jurídica e da captação dos impostos são ineficientes para atender às necessidades de uma população planetária que migrou para as grandes cidades.

Políticas públicas exigem grandes recursos humanos e financeiros. Impossível garantir o controle urbano e dos elementos (solo, água, ar, por exemplo) sem gastos estratosféricos em formação de pessoas especializadas, laboratórios, máquinas. A ciência e a técnica precisam mover recursos em escala macrológica para atingir em parte os objetivos de fornecer água, energia elétrica, comunicação social, saúde pública, esgotos, vias públicas, empregos. A previdência social resume todos esses aspectos, pois deve garantir o futuro do idoso em ambiente urbano, inseguro, ameaçado por epidemias.

Apenas um exemplo: a Darpa (Defense Advanced Research Projects Agency) dos EUA recebia há tempos cerca de US$ 3 bilhões para aplicar em pesquisa universitária sobre pontos vitais, como serviços e investigações médicas. Hoje, seu orçamento cresceu. Mas o incentivo monetário, naquele país, é bem maior no campo da defesa: em 1990, apenas em fundos “secretos” (que garantem a espionagem e outros itens da segurança nacional), o estimado pelos especialistas era de US$ 30 bilhões. Para manter o caixa em situação precária, naquele país ocorre uma guerra perene entre Executivo e Legislativo, guerra que se amplia ao plano da saúde pública, educacional, etc. Mesmo com eficaz política de taxação, a crise de 2008 abalou a economia e a ordem nacional. Municípios antes prósperos, como Detroit, encontram-se à beira da falência. Algo similar ocorre na Europa: a França, a Inglaterra e a Alemanha enfrentam de maneiras diferentes os desafios de manter políticas públicas estáveis. Outras nações, como a Espanha, a Itália e a Grécia, sofrem uma tempestade no plano fiscal e cortam direitos sociais antes garantidos.

Se voltarmos os olhos ao Brasil, percebemos a fenda aberta diante da sociedade e dos poderes públicos. Quase atingindo a cifra de 200 milhões de habitantes, não possuímos meios para lhes garantir as condições básicas de existência moderna. O gasto nacional em ciência e tecnologia é de 1,74% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto nos EUA, China e Japão é de 3% a 4%. O sr. Luiz Inácio da Silva afirmou que, ao final do seu primeiro mandato, a aplicação em ciência e tecnologia seria de 4% do PIB. A desmesura da promessa mostra que os problemas mais prementes são tratados com superficialidade pelos partidos e líderes políticos.

Sem ciência e técnica proporcionais ao tamanho de nossa população urbana, impossível propor ações que garantam direitos estáveis à cidadania. Num país em que cerca de 60% das coletividades não têm água e esgoto dignos do nome, é clara a camuflagem dos problemas operada pelos programas de governo, não só dos que habitam hoje os palácios como das oposições.

Daí a retórica oca que fala em “mais novidade” e do “novo na política” e silencia sobre os meios e recursos a serem movidos para se estabelecer ou ampliar a infraestrutura necessária à técnica, à mobilidade urbana, etc. O palavrório da propaganda, em todos os partidos de grande porte, cala os projetos sérios nas políticas públicas.

No que diz respeito à garrulice sobre o “novo”, Joe Klein, abalizado analista da propaganda e dos fatos eleitorais nos EUA, mostra que o truque de alardear a superioridade de uma candidatura surgiu com o gasto e conservador Richard Nixon em 1968. Como fazer votar numa pessoa que, diziam seus adversários democratas, não era fiável sequer para garantir a qualidade de um carro usado? Fácil: os marqueteiros idealizaram um “new Nixon” ao gosto do mercado. O truque deu certo, o que levou Daniel Boorstin a escrever (no livro The Image) que líderes inventados pelo marketing são “uma nova categoria do vazio”. A mágica de renovar o carcomido, no Brasil de hoje, é usada servilmente e causou a coincidência entre a “nova” candidatura oficial e as “novas” candidaturas oposicionistas, que se ocupam em preservar “o que está bom” sem ousar dizer o quê. Outros exemplos de cópia canhestra do marketing político norte-americano pela propaganda brasileira podem ser rastreados no livro de Joe Klein Politics Lost - From RFK to W: How Politicians Have Become Less Courageous and more Interested in Keeping Power than in Doing what’s Right for America.

Nossa história escancara o controle férreo das províncias, depois Estados, pelo poder central. É como se as regiões, sobretudo as que se levantaram em armas (Rio Grande do Sul, Pernambuco, Pará, Bahia, São Paulo, para recordar apenas algumas), fossem submetidas ao butim permanente dos que dirigem o todo nacional. Resulta que a nossa “federação” concede pouquíssima autonomia aos Estados e municípios, em todas as políticas públicas. A partir de Brasília, regras uniformes determinam até os detalhes da ordem nacional. Do Oiapoque ao Chuí há uma uniformização gigantesca que obriga os poderes regionais a se pautar pelo tempo longo da enorme burocracia federativa, perdendo tempo precioso para o experimento e modificações das políticas públicas em plano local.

Em outras federações, como a norte-americana, vigoram leis diversas nos setores penais, educacionais, tecnológicos. No Brasil, a mão de ferro da Presidência controla, dirige, pune e premia os Estados, segundo sustentem os interesses dos ocupantes temporários do Planalto. Nesse controle, os vetustos oligarcas regionais surgem como operadores de face dupla: servem para trazer os planos do poder central aos Estados e para levar ao mesmo poder as aspirações de Estados e municípios. O lugar onde ocorrem as negociações entre os dois níveis (central e estadual) normalmente é o Congresso. Ali, Presidência e ministérios buscam apoio a seus alvos, inclusive e sobretudo na proposição de leis. É impossível conseguir recursos orçamentários sem as “negociações”. Assim, os planos de inclusão social e democratização societária patinam na enorme lama do “grande Brasil”, enquanto as unidades federadas aguardam as “providências” de uma burocracia lenta, incapaz de entender os vários ritmos e formas de vida e pensamento regionais.

No âmbito fiscal, a concentração de poderes deixa Estados e municípios à míngua. Verbas provenientes de impostos ou a eles ligadas, como no caso das exportações, não são repassadas às unidades menores ou não são repassadas em tempo certo, permanecendo nos ministérios econômicos. Governadores e prefeitos são reduzidos à mendicância junto ao poder central. É praticamente impossível democratizar a sociedade sem a efetiva federalização do Brasil.

Testemunhamos, todos os anos, a caminhada de prefeitos do país inteiro rumo ao Congresso para reclamar recursos, autonomia, modificações em leis eleitorais e de estruturas burocráticas. Enquanto tal situação permanecer, a fábrica de manobras corruptas (nas duas pontas, nos municípios e na capital da República) estará em pleno funcionamento. Uma Presidência limitada no tempo tenta pressionar o Legislativo para que ele emita leis favoráveis às pretensões do Executivo. De modo idêntico, vêm as pressões sobre o Judiciário para que reconheça a legitimidade das mesmas leis.

Os compromissos com a república dos coronéis diminuem o ímpeto do planejamento sóbrio, da chamada às competências técnicas, do diálogo efetivo com os eleitores. As linhas frouxas dos programas partidários tocam superficialmente nas reformas (outro mantra que se repete há pelo menos 50 anos) necessárias. Fala-se em reforma política sem tocar na atual estrutura dos partidos: oligarquizada, nada receptiva para com os eleitores da base, pois consultas aos votantes do partidos deixaram de existir e jamais tivemos eleições primárias entre nós. O caixa do fundo partidário e os programas televisivos são propriedade dos dirigentes, ninguém é candidato sem o baciamano e a bênção dos donos de partido, que permanecem nas direções ad eternum. Tais posseiros da política mandam nos partidos, mesmo quando presos por sentença do STF. 

Falar em reforma sem democratizar as agremiações é puro escárnio. Para atender os financiadores de campanha, nenhum problema grave da economia, do urbanismo, dos transportes é tratado nos programas com rigor e profundidade. Para agradar à massa, nenhum tema controverso é discutido. A ladainha entoada por todas as candidaturas importantes vem de Poliana: tudo será róseo, se formos eleitos. Lembram o Fura-Fila, que ajudou um prefeito complicado a vencer eleições para a Prefeitura de São Paulo?
Agora, o canto das sereias é ainda mais onírico, mais mentiroso, mais lesivo aos interesses do País.

É preciso apurar as noções de democracia, de união federal, sociedade livre, etc., se quisermos pensar o Brasil. Aqui, o modo de unir os Estados tem pouco de “federalismo”. Segundo a jurista Anna Gamper, “o federalismo combina o princípio da unidade e da diversidade. As partes constituintes devem ter poderes próprios e devem ser admitidas a participar do nível federal”. Mas Brasília controla os Estados, para que sustentem os interesses de quem ocupa a Presidência. As oligarquias regionais trazem os planos do Executivo nacional aos Estados e levam ao mesmo poder as pautas das regiões.

Voltemos às alianças defendidas pelo “novo”candidato à Presidência (ele não é único a advogar tais acertos com velhos oligarcas): é no mercado entre candidaturas e coronéis que se evidencia o atraso do Estado brasileiro. Defender estratégias fundamentadas em acordos com políticos ultrapassados é propor ao eleitor um oxímoro conhecido, o de uma “novidade faisandée”, que cheira mal. Assim, os “programas de governo” exalam populismo sem descer aos problemas concretos do mundo e da nossa terra. Os candidatos e partidos sabem que a urna, por enquanto, é apenas a licença concedida para o arbítrio. Os príncipes absolutistas não precisam prestar contas a ninguém. Pior para a saúde, a educação, a segurança, os bolsos da cidadania.

*Roberto Romando é filósofo e professor de Ética na Unicamp

Ferreira Gullar: Agora é cair na real

• A derrota fragorosa diante da Alemanha apagou qualquer dúvida: já não somos os melhores

- Folha de S. Paulo - Ilustrada

Maldita a hora em que alguém inventou de trazer essa Copa de 2014 para o Brasil, dirão agora os fanáticos por nosso futebol. Quem teve essa ideia, não se sabe ao certo.

Mas quem tudo fez para trazê-la para cá foi o ex-presidente Lula, que chegou a ir à reunião da Fifa para conseguir trazê-la. E isso foi saudado como vitória por todo mundo, inclusive por mim. Uma Copa dos campeões do mundo no Brasil, quem não queria?

Todos os brasileiros queriam e, por isso mesmo, Lula fez tudo o que pôde para que esse sonho se realizasse, mesmo porque só faria crescer seu prestígio e sua popularidade.

Mega, como ele é, logo imaginou que seria um acontecimento extraordinário, de projeção internacional e, ainda por cima, o resgate do nosso insuperado trauma da Copa de 1950. Tal feito o elevaria definitivamente à condição de herói nacional.

Isso era possivelmente o que ele pensava, mas nós, que não somos políticos, também víamos a realização dessa Copa aqui como a afirmação de nosso prestígio no universo futebolístico. Só não pensamos que, para que tudo saísse às mil maravilhas, era necessário termos uma seleção capaz de peitar e vencer as dos outros países. E não tínhamos.

Creio que o ponto principal para entendermos o desastre que foi a nossa atuação nesta Copa está em nos darmos conta de que não apenas Lula é mega: nós, o Brasil também o é. E como quem é mega não se dá conta de que o é, nós, brasileiros, ao sabermos que a Copa de 2014 seria aqui, começamos imediatamente a sonhar com o título de hexacampeão e com o banho que daríamos em nossos adversários.

"A Copa já está em nossas mãos", disse Felipão, disse Parreira, disse a torcida inteira. Eu não disse, como alguns outros poucos. O que escrevi aqui sobre o assunto, nas últimas semanas, deixou claro que eu temia o desastre.

Porque somos mega, a derrota de 1950 tornou-se um trauma insuperável. É que o mega não pode perder e, se perder, não se conforma, como não nos conformamos com a derrota para o Uruguai.

Pois bem, lógico seria, após as vitórias posteriores, que nos tornaram pentacampeões, aceitarmos aquela derrota como natural, mesmo porque a seleção uruguaia, que nos venceu, era uma boa seleção e, portanto, poderia ganhar de nós, como ganhou.

Mas quem é mega não pensa assim. Aceitar a derrota é admitir que não jogamos o melhor futebol do mundo e, portanto, para sermos derrotados, deve ter havido algo inexplicável, fora da lógica natural das coisas: um apagão, certamente.

Não é assim que Felipão explica os 7 a 1 que sofremos na semifinal com a Alemanha? Sim, porque, se perdemos por termos jogado mal, não somos os melhores do mundo.

Daí por que a derrota não tem explicação. Claro, o melhor do mundo, aquele se tornou o país do futebol, que tem o rei do futebol e cinco títulos mundiais, não pode perder de ninguém, muito menos perder de lavada. Se isso nos acontecer, entramos em crise, ou seja, estamos em crise.

E então você entenderá por que muita gente agora maldiz a ideia de trazer para o Brasil a Copa dos campeões este ano. No primeiro momento, todos nós só pensamos na alegria de termos em nosso país a disputa entre as melhores seleções do mundo e, claro, a oportunidade de superarmos o trauma surgido com a derrota de 1950.

Só nos esquecemos de considerar que, tendo perdido a última Copa realizada aqui, estaríamos obrigados a vencer esta, do contrário passaríamos por um vexame ainda maior. Ou seja, em vez de nos livrarmos do trauma de 50, acrescentaríamos a ele um novo trauma, o de 2014.

Para os brasileiros mais modestos, o modo como a nossa seleção chegou à semifinal, já os deixou de pé atrás, e a derrota fragorosa diante da Alemanha apagou qualquer dúvida: já não somos os melhores do mundo.

Essa foi uma derrota tão inesperada e avassaladora que nem a nossa megalomania resistiu a ela. O novo temor era o jogo com a Holanda e o pior se confirmou: nova derrota, de 3 a 0.
É hora de encarar a realidade. Não só no futebol como no resto. Para melhorar o nosso futebol e o nosso país, encarar a realidade é melhor que nos iludirmos.

Brasília-DF -Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

Exércitos eleitorais
Pelo menos três segmentos do eleitorado preocupam o PT no sentido de buscar propagadores de campanha pelo país afora. Os médicos, os juízes e os jovens. Uma parcela expressiva dos médicos ficou contra o programa de importação de profissionais de outros países, especialmente de Cuba, para atendimento de população de baixa renda. Os juízes, por sua vez, ficaram irados com a ordem do governo para barrar a votação da emenda constitucional sobre o plano de carreira dos magistrados. E, sabe como é, juiz e médico são aquelas duas pessoas incluídas entre as mais importantes das pequenas cidades. Quanto aos jovens, foi-se o tempo em que a maioria carregava as bandeiras do PT.
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Para completar, os petistas perceberam a oposição investindo pesado nesses grupos. Ao longo da última semana, os profissionais de saúde foram tema de Aécio Neves (PSDB), ao mencionar a revisão do programa Mais Médicos. Eduardo Campos, por sua vez, além de prometer um plano de carreira federal para os médicos, mirou nos jovens ao defender o passe livre para estudantes. O PT agora tenta encontrar alguma forma de recuperar terreno nesse eleitorado, em especial, os jovens consdierados fundamentais para repicar a campanha pelo país. Até agora, ninguém falou nos juízes.

Guerra a prazo
Os governistas se preparam para, ao longo da campanha eleitoral, segurar as pontas na CPMI da Petrobras. É que, depois da quebra de sigilos bancários e telefônicos do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, ninguém ficou totalmente tranquilo em relação ao que pode surgir e vazar, nem que seja apenas para criar uma cortina de fumaça no auge da eleição.

Terá desdobramentos
Esquentou o clima entre o líder do PMDB, Eduardo Cunha, e o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wellington Moreira Franco. Tudo porque o deputado quer ver Moreira "mais participativo" na eleição de deputados peemedebistas e Moreira pretende se mexer apenas em relação aqueles que apoiam a reeleição da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer. Essa briga vai esquentar, como tudo o que, em política, envolve poder e dinheiro. Não necessariamente nessa ordem.

O bordão de Mercadante...
Nos discursos e entrevistas, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, se mostra decidido a se referir apenas ao governo Dilma. Ressalta os feitos dos últimos quatro anos e não dos 12 anos de PT. No papel de principal nome do primeiro escalão dilmista, sua função será bater bumbo sobre as realização de Dilma e não do PT como um todo.

...Pode naufragar
Só tem um probleminha: Dilma era a gerente do governo Lula. Portanto, há quem diga que separar os dois para colocar Dilma com pouco tempo de gestão pode não colar. Afinal,
o eleitor de bobo não tem nada.

Descanso interrompido/ Diante do boato de que estava demissionário, o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Rubens Rodrigues, voltou correndo das férias, com os deputados servindo de padrinhos para mantê-lo no cargo. Afinal, a bancada do PTB na Câmara promete fazer campanha para a presidente Dilma Rousseff e ela precisará dos votos do partido. A esperança dos parlamentares é a de que Dilma dê esse voto de confiança aos deputados.

Por falar em campanha.../ Raramente, candidatos a presidente pisam no Acre ao longo da corrida eleitoral. Eduardo Campos, que tem a acreana Marina Silva como vice, já tem agenda marcada lá para a próxima quinta-feira. Tudo pela transferência de votos.

Tripla jornada/ O ministro de Comunicações, Paulo Bernardo, vai ficar mais tempo em Brasília durante esse período eleitoral. O motivo é a escola dos filhos. Com a mulher, a senadora Gleisi Hoffmann, dedicada à campanha para o governo do Paraná, o ministro virou "pãe", responsável por acompanhar as crianças no colégio.

Desagravo/ As notícias de que petistas cogitavam pedir o impedimento da ministra do Tribunal de Contas da União Ana Arraes (foto), por ser mãe de candidato a presidente da República, Eduardo Campos, irritou o colegiado. Ela recebeu a solidariedade dos colegas. Ficou a impressão de que, se alguém forçar qualquer movimento contra a ministra, será pior para o governo.

Painel - Bernardo Mello Franco (interino)

- Folha de S. Paulo

A bondade da vez
Depois de prometer o passe livre estudantil e o fim do fator previdenciário, a campanha de Eduardo Campos (PSB) vai propor um plano de recuperação gradativa dos salários de policiais militares em todo o país. O candidato dirá que não é possível reformular a segurança sem enfrentar o problema da baixa remuneração dos PMs. A ideia é sugerir uma solução próxima da PEC 300, a proposta de emenda constitucional que equipara os salários de todos os Estados aos do Distrito Federal.

Venda casada Um dia depois de Campos prometer o passe livre, a Prefeitura do Recife, comandada pelo PSB, passou a alardear nas TVs locais que implantará o benefício até o fim do ano.

Coincidência O município nega relação entre os comerciais e a promessa do candidato. A campanha começou na quarta-feira (16) e ficará no ar por uma semana.

E a conta? Aliados de Campos insistem que ele não está fazendo populismo com as promessas em série. Dizem que o candidato provará a viabilidade financeira de tudo.

Assim pode O Tribunal Superior Eleitoral autorizou o governo a veicular propagandas de utilidade pública durante a campanha. Foram liberados comerciais do Ministério da Saúde sobre vacinação contra a gripe e o HPV.

Assim, não A Justiça determinou, a pedido do PSDB, que o Banco do Brasil retire da internet anúncios com a marca do governo federal.

Sou você amanhã A rejeição de 42% a Dilma Rousseff nas grandes cidades já ultrapassa em quatro pontos a que José Serra (PSDB) ostentava em julho de 2010.

Santo remédio A presidente, que andou mancando durante a semana após bater o joelho enquanto brincava com o neto, disse ter melhorado nos últimos dias. "Passei arnica", contou. "Arde um pouco, mas é uma beleza!"

Corre A campanha de Aécio Neves (PSDB) correu à Prefeitura de Belo Horizonte nos últimos dias para mudar o registro de uma sala comercial. Os boletos de IPTU estavam em nome do candidato, mas o imóvel não aparece em sua declaração de bens à Justiça Eleitoral.

Muda A operação foi deflagrada depois que um blog petista acusou o tucano de esconder parte de seu patrimônio. Os boletos agora estão em nome da NC Participações e Administração, empresa da qual Aécio é acionista. NC são as iniciais de Neves da Cunha, sobrenome dele.

Explica Os tucanos apresentam escritura afirmando que o imóvel foi comprado pela firma de Aécio. "As cotas do senador na empresa constam de seu Imposto de Renda e da declaração de bens".

Calcula O candidato declarou R$ 9.819 em ações da NC, registrada na Receita como consultoria e administradora de "caixas escolares". O imóvel em nome da firma tem valor venal de R$ 160 mil. Outras salas do prédio são anunciadas por até R$ 350 mil.

Alento Geraldo Alckmin (PSDB) atinge 46% das intenções de voto entre paulistas que têm o PT como partido de preferência. O petista Alexandre Padilha, ainda pouco conhecido, espera atrair parte desses eleitores.

The book is... O Ministério Público Federal pediu ajuda aos EUA para abrir os arquivos de um HD da construtora Delta. O material foi apreendido em outubro na Operação Saqueador da PF.

... on the table A Justiça Federal alegou não ter "profissionais habilitados" para traduzir o pedido aos americanos. A Procuradoria terá que resolver o problema.

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Tiroteio
O definhamento de Dilma aponta o fim da era em que o país foi dirigido por um partido que não honrou a confiança que o povo lhe deu.
DE ALBERTO GOLDMAN (PSDB), ex-governador de São Paulo e aliado de Aécio Neves, sobre o desempenho da petista nas últimas pesquisas eleitorais.
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Contraponto
Filha, papai te ama!

No início da semana, com a Câmara esvaziada, o deputado Manato (SDD-ES) desabafou no plenário por não estar presente na festa de formatura da filha:

-Estou muito triste. Desculpa o seu pai, Bruna!

Em tom de protesto, o capixaba prosseguiu:

-Peço a Deus que na sua formatura não haja um ato tão irresponsável como esse que me tirou daí para ficar sem fazer nada aqui... Papai te ama!

Na presidência, Benedita da Silva (PT-RJ) se comoveu:

-Vossa Excelência tem o apoio da Casa inteira para que pegue um avião e vá para Vitória!