quinta-feira, 26 de maio de 2011

Opinião – Cacoete: O Globo

A reentrada do ex-presidente Lula no palco da política em Brasília trouxe de volta alguns cacoetes do governo dele, como, na tentativa de defender Palocci, acusar a imprensa de agir como "oposição".

Ora, como se viu nos últimos oito anos, culpar o mensageiro pelas más notícias não resolve o problema essencial: afastar suspeições sobre mais um petista ilustre.

Opinião. Cacoete. O Globo, 26/5/2011

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO


Na primeira crise do governo Dilma... Lula toma rédeas, comanda líderes e dá pito em ministros
Denúncia liga caso Palocci a campanha
O recuo do dia
Combustível já está 18,9% mais barato
Obama: Brasil e emergentes não ameaçam

FOLHA DE S. PAULO

Após derrota, Dilma cede a aliados no Congresso
PSDB diz que Palocci pode ter ajudado WTorre junto à Receita
Para Peluso, caso Pimenta indica que lei tem de mudar

O ESTADO DE S. PAULO

Lula adverte Palocci que aliados estão insatisfeitos
Kit anti-homofobia é suspenso para evitar CPI
Santander contratou consultoria
Punição a produtor rural deve ser adiada

VALOR ECONÔMICO

Bancos já preveem falta de recursos para imóveis
OCDE alerta para risco de a China desaquecer
Brasil depende mais da China
Petrobras corta o gás para Bertin
Lula assume o papel de articulador do governo
Brasil fará nova proposta à Argentina
Adams critica MPF em Belo Monte

ESTADO DE MINAS

Ficha-suja trabalha como assessor do governador
Lula assume articulação do governo
Troca de pensão por cargo na mira
Itamar se interna para tratar leucemia

CORREIO BRAZILIENSE

Dilma dá zero para kit gay nas escolas
Leucemia: Itamar é internado
Código Florestal: Esperança no Senado
Imposto menor para os games
Classe C freia compras

ZERO HORA (RS)

Lula assume operação para abafar Caso Palocci
Dilma barra kit escolar e repreende ministros
O destino do código florestal

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Dilma ainda tenta alterar o Código
Brasil terá mais motos que carros em dez anos
Ex-presidente Itamar internado com leucemia

Na primeira crise do governo Dilma... Lula toma rédeas, comanda líderes e dá pito em ministros

Menos de seis meses após deixar o Palácio do Planalto, o ex-presidente Lula atua em Brasília, há dois dias, como se ainda ocupasse o cargo. Ontem, comandou reunião com líderes e presidentes dos partidos aliados, na casa do presidente do Senado, José Sarney, numa espécie de intervenção branca no governo Dilma. Na presença do vice-presidente, Michel Temer, Lula pediu que todos apresentassem as queixas contra o governo, prometendo encaminhá-las e convencer Planalto e ministros a receber parlamentares. Até já repreendeu o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, de quem cobrou mais atenção à base, justamente num momento em que o governo Dilma enfrenta sua pior crise, com as suspeitas que pesam sobre o aumento do patrimônio do ministro. Lula exigiu dos aliados ajuda a Palocci, mas ouviu muitas reclamações contra o governo. A intervenção de Lula surtiu efeito imediato: hoje, Dilma almoça com a bancada do PT no Senado e, semana que vem, com líderes dos demais partidos aliados. Palocci também procurou parlamentares para marcar jantares.

Lula lá

AUMENTO PATRIMONIAL

Ex-presidente comanda reunião com partidos, ouve queixas contra Dilma e até repreende ministros

Maria Lima

Numa espécie de intervenção branca no governo Dilma Rousseff para conter a base aliada e a crise envolvendo o ministro Antonio Palocci (Casa Civil), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chefiou uma reunião de três horas e meia com líderes e presidentes de partidos aliados ontem, na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). No encontro, Lula prometeu resolver reclamações de falta de interlocução com o governo, pediu apoio para Palocci e alertou para o risco de uma crise institucional de consequências imprevisíveis. Sua próxima missão é se reunir com ministros para cobrar deles mais atenção aos aliados. O que já fez com Palocci, no jantar de anteontem com Dilma no Palácio da Alvorada.

Segundo relatos dos participantes do café da manhã na casa de Sarney, ao pedir solidariedade e apoio para segurar o chefe da Casa Civil, Lula disse que Palocci estava "muito estressado", mas não podia ser desamparado porque dá uma contribuição enorme ao governo Dilma e ao Brasil. E contou, segundo um líder presente, como foi o puxão de orelhas no ministro:

- No jantar com o Palocci ontem à noite eu disse a ele: tome cuidado, porque sua situação no Congresso é péssima. Há uma imensa insatisfação com sua conduta. Você tem que se aproximar mais, atender as bancadas, marcar jantares políticos.

Na véspera, Lula se reuniu com senadores do PT, que desfiaram um rosário de queixas contra a falta de interlocução com o Planalto, inclusive com Palocci, que nunca atende ninguém. Nem nos momentos de crise.

A atuação de Lula nos dois últimos dias, elogiada pelos aliados, já produziu os primeiros efeitos: hoje Dilma almoçará com a bancada do PT no Senado e, semana que vem, com os líderes dos demais partidos aliados que se reuniram ontem na casa de Sarney.

E, ontem mesmo, Dilma e Palocci já botavam em prática as orientações de Lula: o ministro telefonou para marcar jantares e para antecipar a aliados a decisão da presidente de recolher o kit contra a homofobia, que tanto incomodava a bancada evangélica. A própria Dilma telefonou para o líder do PRB, senador Marcelo Crivella (RJ).

Na conversa na casa de Sarney, que contou também com a presença do vice-presidente Michel Temer, o ex-presidente pediu que todos os presentes colocassem suas pendências, que ele as levaria para Dilma e para os ministros da área. E fez uma avaliação da crise provocada pela revelação de que o patrimônio de Palocci aumentou substancialmente no período em que ele atuou como consultor, entre 2007 e 2010, quando era deputado.

- O presidente Lula tem uma sensibilidade política mais aguçada e deu sinais claros de que a crise do Palocci é muito grave, não sai da mídia, e que pode caminhar para uma crise institucional de dimensões preocupantes e futuro imprevisível - contou um dos senadores presentes.

Enquanto ocorria a reunião de Lula com aliados, Palocci telefonou para o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), para confirmar o almoço de hoje. Ligou também para o líder do PTB, Magno Malta (ES), um dos mais revoltados com a falta de atendimento no Planalto. Magno teria se recusado a falar com Palocci naquele momento.

- Lula disse que ia conversar com os ministros, que se recusam até a devolver telefonema, para que eles acordem. Eu disse sobre o caso do Palocci: a arrogância precede a ruína! Não estou aqui para ser desrespeitado por ninguém. Lidero cinco senadores. E quando o pau quebra descobrem que existe base? - disse Magno Malta, após a reunião com Lula.

Segundo ele, Lula concordou com as reclamações e disse que os ministros deveriam receber os parlamentares.

- O café foi bom. O presidente Lula é jeitoso. Não tem a síndrome de Mercadante - completou Malta, referindo-se ao ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.

Nesses encontros, Lula vem fazendo uma defesa intransigente de Dilma, repetindo muito que ela teve um período difícil com a pneumonia, passou os primeiros meses cuidando da gestão e que só agora está fazendo o ajuste fino da articulação política.

O presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), sugeriu a Lula que aconselhasse Dilma a aparecer mais, para ocupar o espaço político e evitar vazios que são ocupados com notícias negativas.

- Se a crise tem um lado positivo, foi ter trazido Lula para o protagonismo político. E ele se apresentou, não foi chamado. Foi aplaudido! Fala como irmão. Senti nele uma saudade, uma melancolia, uma vontade de abraçar os companheiros! - disse Crivella.

Segundo relatos, ao ouvir as críticas sobre ministros e propostas do governo, Lula, no seu estilo bem humorado, disparou:

- Desse jeito vamos ter que criar o MVDM, o Ministério do Vai Dar Merda.

FONTE: O GLOBO

Lula adverte Palocci que aliados estão insatisfeitos

Ex-presidente cobra mudança na articulação política para satisfazer governistas e impedir que apoiem CPI

Preocupado com as ameaças da base governista, o ex-presidente Lula avisou ao ministro Antonio Palocci (Casa Civil) que ele tem de atender os parlamentares, do contrário até aliados poderiam endossar uma CPI no Senado para investigar a evolução de seu patrimônio. Lula relatou o diálogo que teve com Palocci durante café da manhã com líderes de partidos aliados do governo, ontem, na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O ex-presidente ouviu queixas e pediu um voto de confiança em Palocci, que telefonou para senadores pedindo apoio. Por outro lado, Lula cobrou da presidente Dilma Rousseff e do ministro mudanças urgentes na articulação política, dizendo que é preciso satisfazer os aliados na montagem do segundo escalão.

Lula relata a Palocci insatisfação de aliados

Para ele, ou ministro atende parlamentares ou até base pode apoiar CPI no Senado

Vera Rosa e Christiane Samarco

Brasília -  Preocupado com as insatisfações e ameaças da base governista no Congresso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem a senha da operação destinada a abafar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o patrimônio do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. Em conversa reservada com Palocci, na terça-feira, Lula foi taxativo: avisou que ou o ministro atendia os parlamentares ou até aliados poderiam endossar uma CPI no Senado, encurralando o Planalto.

O ex-presidente relatou o diálogo que teve com Palocci durante café da manhã com dez líderes de partidos aliados do governo, ontem, na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). "Você tome cuidado porque sua situação no Congresso não é boa. Todo mundo está insatisfeito com sua conduta", disse Lula a Palocci, de acordo com relatos de senadores.

Na tentativa de evitar a CPI, Palocci passou a telefonar para os senadores e pedir apoio. Disse estar sendo vítima de uma "campanha de difamação" e se prontificou a marcar conversas privadas com os parlamentares, para esclarecer as denúncias que pesam contra ele.

Lula jantou com a presidente Dilma Rousseff, Palocci, Gilberto Carvalho (ministro da Secretaria-Geral da Presidência), Miriam Belchior (Planejamento) e com seu assessor Luiz Dulci, na terça-feira, no Palácio da Alvorada. Cobrou de Dilma e Palocci mudanças urgentes na articulação política do governo, disse que era preciso atender os aliados na montagem do segundo escalão e acenou com um cenário nada animador. Para Lula, se o governo não agir rápido para conter os dissidentes da base aliada e estancar a crise, a CPI no Senado pode sair.

Queixas. Na manhã de ontem, um dia depois de almoçar com senadores do PT, o ex-presidente ouviu mais queixas dos líderes da base aliada - do PMDB ao PTB, passando pelo PR e PP- e assumiu as rédeas da coordenação política do governo. Em tom de apelo, Lula pediu um "voto de confiança" em Palocci e, mais uma vez, tentou contornar a crise política, sob o argumento de que o alvo da oposição é o governo Dilma.

"Palocci é o homem que prestou muitos serviços ao nosso governo e não podemos desampará-lo", disse o ex-presidente. Enquanto o café era servido, com pastel de queijo e bolo de aipim, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) "monitorava" o andamento das comissões no Senado, pelo celular, na tentativa de barrar qualquer pedido de convocação de Palocci.

Seguindo os conselhos de Lula, o ministro da Casa Civil também passou a telefonar para os senadores. Acusado de aumentar seu patrimônio em 20 vezes nos últimos quatro anos e de fazer tráfico de influência por meio da empresa de consultoria Projeto, Palocci intensificou a ofensiva para impedir a CPI.

O senador Magno Malta (PR-ES) foi um dos procurados, mas não atendeu o telefonema de Palocci. "Quando a crise pega, esse pessoal do governo fica humildezinho, mas comigo não. Palocci precisa aprender com esse episódio. A arrogância precede a ruína", disse Malta.

Sinal amarelo. Palocci também ligou para o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), em busca de apoio para conter a ala descontente do PMDB. Quem avisou o Palácio do Planalto de que o sinal amarelo já estava aceso no PMDB foi o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). O petista advertiu que Sarney e o líder peemedebista Renan Calheiros (AL) não têm o controle da bancada por conta de um movimento de descontentes que, nas contas do PT, soma 9 dos 18 senadores do partido.

"Lula tem razão: se esse grupo não for bem articulado, a CPI pode sair no Senado", aconselhou Lindberg. Palocci agiu rápido. Começou por um dos mais influentes senadores do chamado "PMDB contrariado", aproveitando-se da boa relação construída nos tempos em que Braga era governador do Amazonas.

O discurso de Palocci está centrado no prazo de 15 dias que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, concedeu a ele para dar as informações necessárias ao esclarecimento do caso.

Irritado com a falta de interlocução com o governo, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) lembrou que há dois meses vem pedindo uma audiência com o chefe da Casa Civil, sem nunca ter obtido nenhuma resposta.

"Temos sido ignorados. Estamos no limite da insignificância", queixou-se ontem o capixaba, que engrossa a lista dos insatisfeitos.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Após derrota, Dilma cede a aliados no Congresso

Derrotada pela primeira vez em uma votação no Congresso, com seu principal ministro enfraquecido e em meio a um ambiente de crescente rebelião entre aliados, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a fazer concessões ao Legislativo. Na votação do Código Florestal, em que o governo perdeu, católicos e evangélicos ameaçaram convocar Antonio Palocci (Casa Civil) para explicar seu patrimônio.

Sob pressão, Dilma faz concessões ao Congresso

Presidente atende à bancada religiosa e cancela kit anti-homofobia do MEC

Com derrotas, ameaças e enfraquecimento de Palocci, ex-presidente Lula é chamado para ocupar "vazio político"

Valdo Cruz, Ranier Bragon e Ana Flor

BRASÍLIA - Em meio à sua primeira derrota no Congresso, com seu principal ministro enfraquecido e um clima de crescente rebelião na base aliada, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a fazer concessões ao Legislativo.

Cedeu à bancada religiosa do Congresso e anunciou ontem a suspensão do kit anti-homofobia depois de deputados evangélicos e católicos protestarem contra o material didático que seria distribuído nas escolas pelo Ministério da Educação.

Os evangélicos ameaçavam obstruir a pauta e votar a favor da convocação do ministro Antonio Palocci (Casa Civil) para explicar a multiplicação de seu patrimônio, revelada pela Folha.

Além disso, Dilma foi convencida a agendar três reuniões com congressistas aliados. A primeira será hoje, quando almoçará com a bancada dos senadores petistas.

Na próxima semana, se reunirá com líderes dos partidos governistas. Depois, com senadores aliados.

A primeira derrota do governo ocorreu ontem de madrugada, na votação da reforma do Código Florestal. Uma emenda que anistia desmates feitos até 2008 foi aprovada e colocou PT e PMDB em lados opostos.

LULA INTERVÉM

Com derrotas, ameaças e o enfraquecimento de Palocci, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi chamado para ocupar o que está sendo chamado de "vazio político".

Depois de ouvir reclamações de aliados, recomendou anteontem à presidente, durante jantar no Palácio da Alvorada, "abrir mais seu governo" para os partidos de sua base de apoio.

A Palocci, Lula disse que reagisse à crise que enfrenta.

Desde terça-feira em Brasília, Lula se reuniu ontem com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e líderes das bancadas governistas. O café da manhã foi marcado por fortes críticas dos senadores em relação à articulação política do governo e à atuação de Palocci.

Segundo eles, o ministro concentra a articulação política. O responsável oficial, Luiz Sérgio (Relações Institucionais), teria pouco poder, mas é refratário a conversar.

Na saída do evento, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), afirmou: "Os líderes cobraram mais acesso, sintonia fina, mais entendimento, o que é normal".

A Folha apurou que a presidente foi receptiva às sugestões e prometeu abrir mais sua agenda.

Segundo relatos, Lula disse que, para medidas polêmicas como o kit anti-homofobia, o Planalto deveria criar um "ministério de vai dar merda" -um filtro político.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Santander contratou consultoria

Antonio Palocci prestou serviços para o Santander quando era deputado e consultor. O banco diz que o contratou para palestras.

Palocci atendeu banco parceiro da União

Santander contratou a Projeto Consultoria, do ministro da Casa Civil, quando ele era deputado, para fazer "palestras a grupos de executivos"

Leandro Cólon

BRASÍLIA - O ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, prestou serviços para o Banco Santander no período em que era deputado federal. O contrato foi feito por meio da sua empresa Projeto Consultoria Econômica e Financeira para "análises econômicas e financeiras" a executivos do banco. A informação foi confirmada nesta quarta-feira, 25, ao Estado pelo próprio Santander. É a primeira instituição bancária a revelar publicamente a contratação de Palocci, que foi ministro da Fazenda no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em nota enviada à reportagem, a assessoria do Santander informa que contratou Palocci para dar palestras sobre economia aos seus executivos. "O Santander Brasil informa que contrata eventualmente palestrantes para apresentar análises econômicas e financeiras, nacionais e internacionais, aos seus funcionários. Dentro deste contexto, o sr. Antonio Palocci, por meio da empresa Projeto, fez palestras para grupos de executivos da organização."

O banco argumenta ainda que não pode revelar mais detalhes - como datas e valores dos contratos - por questões de cláusula de confidencialidade.

O Grupo Santander é o quarto maior banco do mundo em lucros e o oitavo em capitalização de mercado. Em junho de 2010, o banco no Brasil registrou ativos totais de R$ 347 bilhões. A instituição é o terceiro maior banco privado do País.

Parceria. O Santander é parceiro do governo federal. Em agosto de 2010, o banco comprou seis jatos da Embraer via o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), vinculado ao governo, para alugar à empresa aérea Azul numa operação inédita de financiamento. O negócio, avaliado em US$ 250 milhões, é conhecido como "spanish leasing", no qual o Santander comprou as aeronaves com 80% de financiamento do BNDES. O banco ainda é um dos parceiros da Petrobrás num programa para facilitar a oferta de crédito aos fornecedores.

Fontes do mercado confirmaram ao Estado que a Projeto Consultoria Econômica e Financeira prestou serviços ao banco entre 2008 e 2010. O ano de 2008 ficou marcado por uma grave crise econômica mundial, quando o governo Lula adotou medidas para contê-la no Brasil.

Em janeiro de 2009, Lula recebeu no Palácio do Planalto o presidente mundial do Grupo Santander, Emilio Botín. Naquele encontro, os dois discutiram os efeitos da crise e o banco anunciou investimentos de R$ 2,5 bilhões no País. Hoje, o Santander tem cerca de 23 milhões de clientes no Brasil.

Outros clientes. Além do Santander, outras duas empresas já admitiram publicamente terem sido clientes do ministro da Casa Civil no período em que Palocci foi deputado federal: a construtora WTorre, que tem negócios com o governo, e a operadora de plano de saúde Amil.

Na sexta-feira, o Estado revelou que Palocci prestou serviços para pelo menos 20 empresas, incluindo bancos, indústrias e montadoras.

Desde a revelação de que seu patrimônio cresceu pelo menos 20 vezes em quatro anos, Palocci tem se negado a revelar a relação de clientes. Diz que cláusulas de confidencialidade o impedem de contar para quem trabalhou. A empresa de Palocci teve faturamento recorde entre os meses de novembro e dezembro de 2010, ano eleitoral. O ministro foi coordenador da campanha de Dilma Rousseff. No ano passado, o Santander doou R$ 1 milhão para a campanha de Dilma, R$ 1 milhão para o rival da petista, José Serra (PSDB), e R$ 800 mil para o PMDB.

A empresa Projeto foi aberta em 2006 e, até dezembro de 2010, funcionou como uma empresa de consultoria. Foi quando Palocci alterou a razão social para Projeto Administração de Imóveis, cujo objetivo seria cuidar do apartamento de R$ 6,6 milhões e o escritório de R$ 882 mil comprados entre 2009 e 2010.

Procurado pelo Estado, o ministro, por intermédio de sua assessoria de imprensa, disse que não comentaria sobre os serviços prestados ao Santander.

No período em que Palocci foi deputado, o então presidente do Santander, Fábio Barbosa, presidiu a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Amizade antiga. O relacionamento entre Palocci e o banco Santander é antigo.

Em 2001, pouco depois da compra do Banespa, o banco espanhol enfrentou uma rebelião de prefeitos petistas, a maioria da região de Ribeirão Preto.

Contrários à privatização, os prefeitos queriam tirar as folhas de pagamento dos municípios do Banespa e transferi-las para outras instituições financeiras.

A pedido do Santander, Palocci interveio e convenceu os colegas a mudar de ideia. Depois disso, Antonio Palocci transformou-se num interlocutor frequente do Santander.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Charge - Tráfego de influência

Miguel / Jornal do Commercio (PE)

Dilma, cadê você? :: Clóvis Rossi

A presidente sumiu. Não fala, raras vezes é vista em público, não negocia politicamente. Ou, se negocia, o faz tão mal que perde talvez a mais importante votação no Congresso, apesar de ter, em tese, uma maioria folgada.

Não foi uma derrotazinha. Foi vergonhosa, na avaliação que fez, antes do vexame, o líder do governo, Cândido Vaccarezza.

Para fechar o quadro, reaparece em Brasília seu antecessor e padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva, com o velho truque de atribuir um escândalo (no caso, o da fortuna do ministro Antonio Palocci) a uma tentativa de desestabilização do governo. Bobagem.

Contraria, de resto, a história do governo Lula. Com o mesmo personagem no centro, o escândalo do caseiro desestabilizou, sim, o próprio Palocci, mas o governo Lula só fez se dar bem daí para a frente, assim como o país. O Brasil cresceu mais, Lula reelegeu-se e virou um homem de R$ 200 mil por palestra.

Não dá para dizer que foi porque Palocci caiu, como é óbvio. Mas é igualmente óbvio que a queda não desestabilizou nada, talvez porque o ministro era menos essencial e menos poderoso do que dizíamos os jornalistas (vide coluna de ontem de Vinicius Torres Freire).

Se, em 2006, quando ainda havia fumaça nas cinzas do mensalão, a queda de Palocci foi facilmente absorvida, agora então é tudo mais tranquilo, até porque o céu econômico é quase de brigadeiro.

O que atrapalha é o desaparecimento da presidente Dilma, fato agravado pela desenvoltura de seu antecessor. Ficamos assim: surge um escândalo com Palocci, Lula demite Palocci. Surge outro escândalo com Palocci, mas Dilma nem demite Palocci nem exige que ele se explique nem sai publicamente em sua defesa.

Vai acabar dando a sensação de que Dilma está apenas esquentando a cadeira para a volta de quem nunca se foi.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Lula sobe, Dilma desce:: Eliane Cantanhêde

Tá valendo tudo, até recolher o kit anti-homofobia do MEC, para tentar conter a base aliada e evitar uma CPI e a convocação do primeiro-ministro, ops!, do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, para explicar o crescimento estonteante do seu patrimônio.

Sem explicações e consumindo gordura e energia para fechar qualquer canal de investigação (Polícia Federal, Receita e Conselho de Ética, além de CPIs e de comissões ordinárias do Congresso), Dilma fica refém, sucessivamente, de Lula, de Palocci (que, depois dessa, está liberado para tudo...) e dos aliados vorazes e acostumados ao jogo bruto, especialmente no PMDB.

Vêm daí a derrota na votação do Código Florestal na Câmara, a trombada entre PT e PMDB, a sem-cerimônia das bancadas evangélica e católica, o recuo nas cartilhas educativas anti-homofobia.

Tudo isso é potencializado pelo semi-imobilismo de Palocci, que é o negociador político do governo e, convenhamos, tem mais o que fazer enquanto não explica qual o projeto da "Projeto".

A descoordenação começa nele e avança pelos demais líderes de Dilma no Congresso. Na Câmara, o do governo, Cândido Vaccarezza, e o do PT, Paulo Teixeira, batem de frente. No Senado, o do governo, Romero Jucá, também tem lá suas explicações a dar, e não é de hoje. E o do PT, Humberto Costa, ainda tem que comer muito feijão.

Nesse quadro, Lula aumenta e Dilma diminui já no seu quinto mês de governo. Ele ganha desenvoltura e assume o tom, a articulação, a estratégia. E ela se tranca nos palácios. Pode apostar: Lula deve estar sendo muito mais procurado -e acionado- do que a presidente da República. Por todos os motivos, isso não é nada bom nem para Dilma nem para seu governo.

PS - Com leucemia, Itamar Franco fica de molho por 30 dias. Um desfalque e tanto numa oposição aturdida e sem voz em que ele vem tendo natural destaque.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Fratura exposta:: Dora Kramer

São vários os fatores que expõem a fragilidade política de Dilma Rousseff como presidente da República, sendo o mais recente e mais evidente a entrada de Luiz Inácio da Silva em cena.

Há outros, como a necessidade de esconder que a pneumonia contraída na volta da viagem à China não era "leve" como inicialmente anunciado, a recusa de tratar em público de suspeitas envolvendo seu principal auxiliar ou a demora em reagir a questões importantes como as sucessivas demonstrações de que há algo de muito errado no Ministério da Educação.

O recuo na distribuição do chamado "kit anti-homofobia" aconteceu não por causa de uma avaliação rigorosa sobre a adequação ou inadequação de uma campanha daquela natureza junto aos alunos do ensino fundamental, mas em função do temor de que católicos e evangélicos do Congresso não sustentem apoio a Antonio Palocci na crise.

Lula desembarcou em Brasília nesta semana não só para comandar a defesa do ministro Palocci, mas também para tentar conter a crescente insatisfação no PT e no PMDB com o estilo distante e animoso da presidente.

Para o público externo, galvaniza as atenções inventando uma versão qualquer para jogar suspeições sobre o PSDB a fim de desviar o foco das desconfianças sobre o enriquecimento anômalo do ministro e da evidência de que, se conspiração contra Palocci há, ela está dentro do PT e não na oposição.

Para o público interno, funciona como dique para conter a contrariedade das bancadas e suprir as carências do Planalto no momento em Palocci está fora de combate e que o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, se confirma na condição de nulidade.

A situação não é nova, vem se desgastando nos últimos dois meses, mas acabou se agravando com a crise que imobilizou Palocci conjugada à necessidade de uma articulação competente diante de uma questão importante como a votação do Código Florestal.

Um exemplo da carência de atributos de Dilma para lidar com o Congresso aconteceu na tarde de terça-feira, quando o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, foi ao palácio comunicar os termos para a votação do Código Florestal naquela noite.

O líder comunicou a Palocci o apoio do PMDB à emenda que permite a manutenção das produções agrícolas existentes em áreas de preservação permanente antes de 2008. Palocci levou a informação à presidente, que, então, mandou comunicar ao vice-presidente Michel Temer que se o partido insistisse no apoio à emenda demitiria todos os ministros do PMDB.

Uma impossibilidade evidente. Temer e Palocci precisaram contornar a situação fazendo ver a Dilma que aquele não seria o melhor momento para deflagrar uma guerra dessa envergadura.

O PMDB manteve a posição e à presidente foi transmitida a avaliação de que a emenda seria derrubada no Senado.

Se não for, ela terá de arcar com o desgaste do veto junto ao setor agrícola e até se expor ao risco de ver o veto derrubado.

Uma complicação à qual um governante não faz frente se não tiver experiência, vocação e tino políticos. Como Dilma Rousseff não tem, acaba de transferir essa tarefa a Lula.

Tal transferência pode até resolver o problema de imediato.

Mas abre enorme flanco com a cessão da autoridade presidencial a outrem. E não a um outrem qualquer: a Lula que sabe como ninguém potencializar poder político.

Decorre daí uma anomalia: o encolhimento da figura da presidente de direito e a expansão do papel de um ex-presidente numa informalidade institucional jamais vista em qualquer País do mundo civilizado.

Passivo. Quando o Supremo Tribunal Federal rejeitou a denúncia contra o ministro no caso da quebra do sigilo bancário de Francenildo Costa, o fez por falta de provas. Talvez fosse outra a decisão se os detentores de informações importantes tivessem se manifestado no tempo adequado.

Como a Caixa Econômica Federal, que tardou, e falhou, ao só agora informar à Justiça que a responsabilidade foi do gabinete do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A Terra se move:: Míriam Leitão

Terça foi um dia devastador. Foi desmoralizante a derrota dos ambientalistas e de todos os que defendem uma modernização das práticas agrícolas no Brasil na votação do Código Florestal na Câmara dos Deputados. Os ruralistas conseguiram tudo o que queriam. Dois defensores da floresta foram assassinados no Pará e, mesmo depois de mortos, vaiados no Congresso.

Foi também o dia da morte de um lutador contra o racismo. Era uma delícia conversar com Abdias Nascimento, ouvir suas histórias, e ver que, tendo nascido em 1914, em 2011 ele ainda combatia as lutas que atravessaram sua vida. Sua convicção era que o racismo brasileiro divide a sociedade de uma forma dolorosa para quem vive o preconceito; mas continua invisível e negada por uma parte do país. Abdias foi um agitador cultural e produtor de ideias. Começou a defender teses de ação afirmativa antes que o conceito existisse, nos anos 1940. Nas várias trincheiras em que atuou - teatro, cinema, jornalismo, artes plásticas, política - era o mesmo Abdias: o que sustentava que sim o racismo existe entre nós, disfarçado às vezes, explícito outras, e que com todas as suas artimanhas ele apequena o Brasil.

As notícias dos acontecimentos no Congresso me lembraram os clubes da lavoura dos tempos do Império. Naquela ordem escravagista, o abolicionismo era tratado como ideia que destruiria a capacidade produtiva do país. Montados como centrais de lobby para a defesa da escravidão, os clubes da lavoura sustentavam que o país se consumiria sem a escravidão. De vez em quando o Brasil segue a ordem de evitar o progresso. Contudo, a Terra se move. Por seis anos os abolicionistas, monarquistas ou republicanos, lutaram, com o apoio do Imperador, até que conseguiram aprovar a Lei do Ventre Livre.

Fazendo apenas o cálculo econômico: foi uma insensatez a escolha que o Brasil começou a fazer na noite da terça-feira. O Brasil é grande e competitivo produtor de alimentos. Continuaria a ser, com mais segurança, se tivesse escolhido o caminho da conciliação com o meio ambiente. Mas ele escolheu, até agora, aceitar o desmatamento, anular as multas a grileiros e desmatadores, deixar aos estados decisões sobre áreas de preservação, reduzir a proteção das florestas e remanescentes de matas que ainda temos em outros biomas. Os cientistas alertaram que este caminho é perigoso. A Agência de Águas avisou dos riscos. Ex-ministros que serviram a partidos, governos e regimes diferentes se uniram. Mas o recado da Câmara foi eloquente: venceu o clube de lavoura.

Há produtores com visão moderna, mas para eles o silêncio foi conveniente. Apareceram para falar uns poucos, como o bravo Marcos Palmeira, que refaz seu pedaço de Mata Atlântica e supre supermercados do Rio com alimento orgânico enquanto espalha informações sobre novas práticas. Mas os grandes produtores que entendem a necessidade do equilíbrio entre produção e proteção, preferiam soltar a tropa de choque do pior ruralismo. A oposição não se opôs; o partido do governo se partiu.

Símbolo de um dia em que o passado engoliu o futuro foi o momento em que os ruralistas, em plenário, e sua claque, nas galerias, vaiaram vítimas de um assassinato. José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo foram mortos em emboscada no Pará. Um detalhe macrabro: os assassinos arrancaram a orelha de José Cláudio. Os dois eram líderes de projetos extrativistas. Lutavam, entre outras causas, para proteger a Castanheira, árvore que por lei não pode ser derrubada. Tinham 20 hectares em Nova Ipixuna com 80% da área preservada. Juntos com outros 500 pequenos produtores extraíam óleos vegetais, cupuaçu e açaí. Estavam ameaçados e foram mortos por denunciar desmatamento para a produção de carvão e formação de pasto.

O carvão está na cadeia produtiva da siderurgia, entre outras. Os pastos estão na produção da proteína animal. No mundo inteiro a tendência da hora é limpar a cadeia produtiva. Grandes empresas sabem que perdem mercado e consumidores se não fiscalizarem a sua lista de fornecedores. A hora da verdade chegou. No mundo inteiro há consumidores se perguntando como são feitos os produtos que consomem e que tipo de prática eles legalizam nas suas compras. Foi a pressão de consumidores que levou à moratória da soja. Foi a coalizão entre supermercados, consumidores, Ministério Público e ONGs que levou ao pacto da carne legal; uma ideia ainda não realizada. O maior produtor de carne do Brasil, o JBS-Friboi, me disse que não tem como controlar sua cadeia produtiva. O BNDES, gestor do Fundo Amazônia, é hoje o maior acionista do JBS. Tudo isso vai alimentar as barreiras contra o comércio externo brasileiro.

A derrubada de todas as barreiras, camufladas ou não, à ascensão dos negros tornará a economia mais forte. A inclusão da preocupação ambiental na produção agrícola vai aumentar a capacidade do Brasil de competir por mercados mundo afora, dará ao consumidor o conforto de um produto limpo, e protegerá a vocação agrícola do país das mudanças climáticas. Os clubes da lavoura estavam errados no século XIX. Os ruralistas vitoriosos de terça-feira estão errados. Contudo, a Terra se move.

FONTE: O GLOBO

Palocci e a hidra de duas cabeças :: Demétrio Magnoli

Antônio Palocci não estará alheio à coincidência de que os lucros fabulosos de sua firma de consultoria tenham vindo à tona precisamente quando o governo Dilma Rousseff enfrenta uma encruzilhada crucial. De novo, mas numa conjuntura internacional diferente, eclode no núcleo do poder a disputa sobre o lugar do Estado na economia brasileira. Atrás do "fogo amigo" contra o chefe da Casa Civil está o projeto de radicalização do pacto lulista esboçado após a queda de Palocci, em 2006.

No primeiro mandato de Lula, a dupla Palocci-Henrique Meirelles funcionou como âncora da ortodoxia herdada, expressa nos três mandamentos oriundos do Plano Real: metas de inflação, câmbio flutuante e equilíbrio fiscal. O escândalo do caseiro abriu a oportunidade para o avanço dos "desenvolvimentistas" e, no segundo mandato, sob o comando ambivalente de Guido Mantega e Meirelles, surgiram os traços de um desenho alternativo, que tendia a suprimir o equilíbrio fiscal do tripé de política econômica. A quebra do Lehman Brothers, em 2008, rompeu o dique de contenção do Banco Central, propiciando a articulação do pacto lulista destinado a eleger Dilma Rousseff. Os vagalhões do tsunami seriam reduzidos a uma "marolinha" pela ressurreição do "Estado provedor".

No princípio, era necessidade. À estiagem global de liquidez o governo Lula contrapôs uma torrente de crédito e investimento que, em menos de um ano, reativou o crescimento interno. Depois, a necessidade foi retraduzida como virtude: o frenesi de gastos públicos aqueceu a caldeira da demanda interna, produzindo a fogueira de 2010. No ano eleitoral, a economia entrou em desabalada carreira, à custa de contratação de dívida pública, apreciação cambial e deterioração das contas externas.

Economia é política concentrada. O pacto lulista aliou o governo à fração principal do grande empresariado por intermédio do BNDES, das estatais e dos fundos de pensão. A inflexão de política econômica alicerçou-se sobre a convergência de duas motivações. Lula, que não se importa com ideias, consolidava uma aliança de poder que tornaria viável a transição para um governo destituído de seu carisma. Os arautos do capitalismo de Estado, representantes de uma doutrina, visualizavam a oportunidade para destruir alguns pilares da ortodoxia vigente. Fruto da convergência, surgiu a hidra de duas cabeças: uma política econômica que almeja conciliar voluntarismo desenvolvimentista e controle da inflação na moldura restritiva do câmbio flutuante.

Dilma montou seu governo à luz de um desejo continuísta, revigorando o poder de Mantega na equipe econômica, mas, simultaneamente, traçando um limite para as aventuras desenvolvimentistas pela nomeação de Palocci para o cargo fantasmagórico de primeiro-ministro. A hidra bifronte deveria seguir sua marcha, espalhando inconsistências ao longo de uma vereda providencialmente aberta pelos elevados fluxos externos de investimentos no Brasil. O repique inflacionário atual, num cenário de apreciação da moeda rodeado por incertezas externas, assinala a encruzilhada: cedo ou tarde, será preciso cortar uma das cabeças da hidra.

Decepar a cabeça desenvolvimentista exige a recuperação do equilíbrio fiscal por meio da redução dos gastos públicos, que possibilitaria mais à frente uma queda sustentada da taxa de juros. No curto prazo, porém, a inflação precisaria ser contida por aumentos inclementes dos juros. Em vários cenários externos malignos, a combinação de apertos fiscais e monetários provocaria uma recessão doméstica. A hipótese é politicamente dolorosa, talvez intragável, pois uma presidente sem carisma estaria declarando nulo o pacto lulista que a conduziu ao Planalto.

A alternativa, acalentada por figuras influentes, dentro e fora do governo, é decepar a cabeça ortodoxa, renunciando ao câmbio flutuante e ao sistema de metas de inflação. Num ambiente de aumento de preços internos, o governo usaria sua artilharia pesada para promover um vasto programa de obras e financiar o grande empresariado associado ao Estado. O real seria desvalorizado e o câmbio, posto sob cabresto. Sob a égide de um protecionismo restaurado, o mercado interno se converteria no eixo de expansão econômica. A hipótese equivale a um passeio às cegas num campo minado pelo retorno da inflação e pela queda dos salários reais.

A presidente pode adiar o desenlace, decidindo nada decidir, numa aposta equilibrada sobre as vultosas reservas internacionais do País e as esperanças numa evolução benigna do cenário mundial. O Ministério da Fazenda atribui as ameaças inflacionárias à especulação internacional nos mercados de commodities, silenciando acerca da orgia fiscal promovida no ano eleitoral. Hoje, num seminário conjunto do governo brasileiro e do FMI, Mantega repetirá sua peça acusatória contra as políticas monetárias dos EUA e da China, a fim de atribuir a fatores externos o impasse brasileiro. Ele tem alguma razão, como costumam ter uma pitada de razão todos os que invocam o espectro do "inimigo estrangeiro" para ocultar insolúveis dilemas internos.

"Não importam os nomes, a responsabilidade pela economia é minha", assegurou Dilma ainda antes da posse. Na política real, feita por pessoas de carne e osso, não por abstrações sociológicas, os nomes importam, sim - como sabem as fontes últimas das suspeitas que cercam o primeiro-ministro. Tais fontes evidenciaram apenas a película pública da história da firma de consultoria (ou de lobby, como sugere Michel Temer?), pois não pretendiam derrubar seu proprietário, mas tomá-lo como refém, provocando uma incapacitação política. O serviço, que contou com o auxílio involuntário do próprio Palocci, já está feito. O dilema econômico subsiste, mas o campo de batalha foi modificado.

Sociólogo e Doutor em Geografia Humana pela USP.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O que pensa a mídia

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Kassab defende secretário e nega quebra de sigilo fiscal

Prefeito diz que a gestão fez apuração interna em Finanças e viu que acesso a dados de ISS da Projeto foram ‘todos’ autorizados

Felipe Frazão

O prefeito Gilberto Kassab (sem partido) negou nesta quarta-feira, 25, que dados de movimentações financeiras da Projeto Consultoria Financeira Ltda - empresa aberta pelo ministro da Casa Civil, Antonio Palocci - tenham sido vazados da base de informações tributárias da Prefeitura de São Paulo.

Na terça-feira, 24, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, havia dito que valores sobre o faturamento da consultoria haviam sido descobertos através da administração paulistana, via arrecadação do ISS pago pela Projeto.

"Não houve esse vazamento. Ficaríamos muito indignados se tivesse acontecido em qualquer órgão da Prefeitura. E seriam acionadas as medidas passíveis de punição", afirmou Kassab.

O prefeito afirmou que a Secretaria Municipal de Finanças já fez uma apuração interna e que recebeu uma ligação do titular da pasta, Mauro Ricardo Costa, ainda na noite de anteontem sobre o resultado dessa medida. Segundo Kassab, foi constatado que todos os acessos aos dados da Projeto na Prefeitura, nos últimos meses,foram autorizados ou a pedido da própria empresa.

"Foi feita uma cuidadosa análise das intervenções no cadastro da empresa (Projeto) e podemos afirmar, tranquilamente, que todas as intervenções nos últimos meses, todas elas, foram a pedido da própria empresa", afirmou Kassab.

O prefeito considerou "legítima e correta" a preocupação de Gilberto Carvalho em relação à quebra de sigilo fiscal da empresa de Palocci. "A preocupação do ministro é igual a nossa", frisou.

Contra-ataque. A afirmação de Carvalho foi feita a partir de informações levantadas pela bancada de vereadores do PT. Foram os parlamentares paulistanos que disseram ao Planalto que o sigilo fiscal da Projeto na Secretaria de Finanças teria sido violado - o titular da pasta é aliado do tucano José Serra. Assim que os petistas acusaram a pasta de Mauro Ricardo, vereadores do PSDB disseram que o PT queria encobrir o "fogo amigo" que, segundo eles, teria sido a origem das denúncias contra Palocci.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Lula, versão "bombeiro"

Ex-presidente é convocado por Dilma Rousseff para intervir na coordenação política do atual governo e estreitar as relações do Palácio do Planalto com o Parlamento. Em café da manhã, petista ouve ponderações de senadores

Denise Rothenburg

Chamado a Brasília pela presidente Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva fez uma intervenção branca na coordenação política do governo. Nas 24 horas que permaneceu na cidade, ele cuidou de “lubrificar” as engrenagens políticas dos senadores do PT. Na terça-feira, jantou com Dilma e o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci — a quem defendeu e elogiou em todas as conversas que manteve e, num encontro privado entre os dois, aconselhou a cuidar mais da política e menos da gestão dos programas governamentais. O périplo do ex-presidente terminou com um café da manhã para os senadores líderes de partidos aliados ao governo Dilma, ontem, na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Espera-se agora que venha um período de maior proximidade do Planalto com os políticos.

As andanças de Lula tiveram uma resposta imediata. Hoje, a presidente almoça com os senadores petistas, abrindo a temporada de encontros políticos no Alvorada. O próximo será um jantar com os senadores líderes de partidos aliados e um encontro com a bancada religiosa, em datas a serem marcadas posteriormente. Depois, virão conversas por bancada de partido. Ontem pela manhã, Dilma telefonou ao senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para dizer que havia determinado ao Ministério da Educação a suspensão do kit anti-homofobia que seria distribuído em escolas públicas (leia detalhes na página 10). O próprio Palocci também ligou para vários senadores, entre eles o líder do PR, Magno Malta (ES), que não quis atendê-lo.

A conversa de Lula com Palocci foi de “amigo para amigo”, conforme o ex-presidente relatou aos senadores ontem. Ele aconselhou o ministro a dar mais atenção aos políticos. “Há uma insatisfação com você. Tome cuidado, porque sua situação no Congresso não é boa”, disse o ex-presidente a Palocci, segundo o que o próprio Lula contou aos líderes. E ele, Lula, foi se reunir com os senadores justamente para fazer essa ponte entre o Planalto e o Congresso, a fim de fortalecer as posições dos articuladores — além da própria Dilma e de Palocci, a do ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio.

Do café com Lula e Sarney, participaram o vice-presidente da República, Michel Temer, os senadores e líderes Romero Jucá (PMDB-RR), Renan Calheiros (PMDB-AL), Humberto Costa (PT-PE), Francisco Dornelles (PP-RJ), Gim Argello (PTB-DF), Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), Marcelo Crivella (PRB-RJ), Acir Gurgacz (PDT-RO) e Magno Malta (PP-ES). O ministro Luiz Sérgio não foi convidado.

No encontro, que durou mais de três horas, Lula ouviu as ponderações dos líderes sobre o que falta para aproximar o governo do Congresso. Muitos falaram da necessidade de dar mais autonomia a Luiz Sérgio. Magno Malta (PP-ES) reclamou que Palocci não recebia ninguém e Renan Calheiros (PMDB-AL) falou em necessidade de acertar a “sintonia fina”.

Todos saíram do evento com a certeza de que Lula voltou ao cenário político com o pé direito. “Essa crise política teve um lado positivo: ter trazido o protagonismo de Lula. Ele não se apresentou. Foi chamado e aplaudido. Foi bom tê-lo de volta”, comentou o senador Crivella.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Lula assume o comando – Editorial/ O Estado de S. Paulo

Passados 144 dias de sua descida da rampa do Palácio do Planalto, Lula assumiu - se não o controle da administração de sua afilhada Dilma Rousseff - a condução política do governo. A volta foi ostensiva, deliberadamente ostensiva. Não é que até então ele tivesse deixado de influir em decisões da sucessora, a começar da formação da sua equipe, enquanto dizia ora que ex-presidentes não devem dar palpites sobre o que fazem os novos, ora que não lhe estava sendo fácil "desencarnar" da Presidência. Mas a sua atuação se dava nos bastidores, mediante telefonemas e reuniões discretas. À parte isso, a sua agenda política se concentrava em levar o PT a lançar um nome novo - presumivelmente, o ministro da Educação, Fernando Haddad - para disputar a Prefeitura paulistana no ano que vem.

Anteontem tudo mudou. Diante do desastroso manejo do escândalo que se abateu sobre o titular da Casa Civil, Antonio Palocci, tanto por parte do governo do qual, segundo Lula, ele é "o Pelé", quanto por parte do partido onde o ex-ministro da Fazenda não é propriamente uma unanimidade, o primeiro-companheiro decidiu entrar em campo para comandar o time político. Almoçou e posou para fotos com ar de comandante-chefe com 12 dos 14 membros da bancada do PT no Senado, os quais exortou a sair em defesa de Palocci de uma vez por todas. Revelado o fenomenal enriquecimento do ministro entre 2006 e 2010, quando acumulou o mandato de deputado com a atividade dita de consultoria, apenas 3 senadores petistas foram à tribuna se solidarizar com ele.

Lula não ficou nisso. Calejado no ramo do despiste desde a descoberta, em 2004, de que a Casa Civil do seu governo tinha um assessor parlamentar já flagrado cobrando propina, Lula deu duas ordens. Aos senadores e a tutti quanti, mandou bater na tecla de que o ônus da prova cabe a quem acusa - a imprensa e a oposição -, de que não há prova alguma de que o dublê de consultor e líder informal do governo na Câmara tenha feito fortuna ilicitamente e que, portanto, ele não deve explicações além das que deu à Comissão de Ética da Presidência. Ao mais íntimo homem de confiança no Planalto, o seu ex-chefe de Gabinete e atual secretário de Dilma, Gilberto Carvalho, Lula mandou desviar o foco do problema, culpando o secretário municipal de Finanças de São Paulo, Mauro Martins Costa, principal aliado do ex-governador tucano José Serra na gestão do prefeito Gilberto Kassab, pela revelação dos ganhos auferidos pela Projeto, a firma de Palocci.

A Secretaria teria como estimar o faturamento da empresa a partir dos valores do Imposto sobre Serviços (ISS) que nele incidiam, à razão de 5%. Desde a primeira hora, atribuía-se o vazamento ao "fogo amigo" de petistas furiosos com os vastos poderes de Palocci no governo Dilma e em posição de bisbilhotar os dados fiscais da Projeto, em posse da Receita Federal. A questão, no entanto, é secundária perto das implicações dos presumíveis ilícitos que Palocci teria cometido. De mais a mais, a muitos não escapou a ironia da corda em casa de enforcado: falar em quebra do sigilo fiscal do ministro lembra a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, ao qual ele ficou indelevelmente associado. De todo modo, o fato central na reaparição de Lula é o atestado da omissão política da presidente. O seu mentor precisou preencher a lacuna de sua ausência na crise que atingiu o cerne do governo.

A omissão poderia ser debitada ao desnorteamento de Dilma diante de um escândalo que ela não tinha preparo para enfrentar. Mas isso não é tudo. O que Lula ouviu dos companheiros senadores foram queixas sobre o alheamento político da presidente. Por soberba, inapetência, ou uma mistura das duas coisas, ela vem mantendo até os parlamentares de seu partido a uma distância incompatível com as suas necessidades. Dilma delegou o diálogo ao seu superministro. Com ele nas cordas, o vazio ficou escancarado. Agora, será uma surpresa se Lula se limitar a reger o governo no caso Palocci. Se, falando do ministro, disse que "não dá para pôr o Pelé no banco", que pensará ele de sua própria condição de titular a que os fatos o reconduziram?

A indústria faz a diferença :: José Serra

Vira e mexe, defrontamo-nos com a tese de que "o Brasil está se desindustrializando" ou corre grandes riscos nesse sentido.

É bom esclarecer que o termo "desindustrialização" não significa declínio absoluto da produção do setor. Nem mesmo os casos notórios de perda de vitalidade industrial, como os Estados Unidos nos últimos 25 anos, acusam queda absoluta do produto manufatureiro. Em geral, desindustrialização tem que ver com a perda do poder da indústria de transformação para comandar o crescimento da economia.

A queda da fatia da indústria no produto é tradicional nas economias ricas. A partir de um certo estágio do desenvolvimento, a indústria vai mesmo cedendo participação ao setor de serviços. É diferente, porém, quando o recuo relativo da indústria manufatureira ocorre antes de a economia alcançar esse estágio. Nesse caso, seu menor dinamismo não é compensado pela expansão do setor de serviços, ainda influenciado por atividades de menor qualidade.

Isso define, como ocorre no Brasil, uma desindustrialização prematura. Note-se que nas economias em desenvolvimento mais dinâmicas (Índia, China e outras asiáticas), onde o PIB cresce rapidamente, o setor industrial tem estado sempre à frente. Já no grupo de países em desenvolvimento de menor crescimento, que o Brasil integra, a indústria vai ficando para trás. Diferentemente do que aconteceu entre 1930 e1980, houve queda da participação do setor no PIB de 13 pontos porcentuais entre 1985 e 2008 (dados da CNI). Desde 2004 até 2010, a fatia da indústria de transformação no produto caiu de 19,4% para 15,8%. No mesmo período, a taxa de crescimento industrial atingiu metade do ritmo do PIB.

Para compreender como isso começou é preciso levar em conta os estragos da superinflação que assolou a economia brasileira durante 15 anos, desde 1980, além dos efeitos a curto prazo da estabilização alcançada pelo Plano Real, em 1994, e solidificada nos anos seguintes, inclusive pela sobrevalorização do real, até 1998.

Desde a década passada a conjuntura externa mudou de sinal, tornando-se muito favorável ao comércio e às finanças do País. Mas isso não foi devidamente aproveitado como alavanca de desenvolvimento. Ao contrário, foram sendo criadas, ou consolidadas, condições negativas para a indústria: a maior taxa de juros reais do mundo, taxa de câmbio megavalorizada, a maior carga tributária entre os países emergentes, engessamento fiscal e acachapante taxa de investimento governamental.

Essa taxa reduzida explica o colapso da infraestrutura que deveria dar suporte à atividade produtiva em expansão. Além disso, o capital privado não é atraído a investir nessa área por causa da incapacidade da esfera federal para promover parcerias e da taxa de juros sideral. Trocando em miúdos: eleva-se fortemente o custo Brasil.

Com respeito à taxa de câmbio, isto é, à relação de troca entre o real e moedas estrangeiras, nunca antes neste país se atingiu um nível de apreciação tão escandaloso, não obstante ser considerado pelo atual governo como o último bombom da caixa de terapias anti-inflacionárias. O fato é que a política econômica lulista deixou avançar demais, de forma desnecessária, a apreciação do real. Agora, paga-se o preço.

Às questões anteriores adiciona-se o problema da tributação, que não favorece a agregação de valor e pune os investimentos e a exportação.

A indústria brasileira acabou se tornando, assim, refém de uma tesoura. De um lado, a lâmina da concorrência internacional, deteriorando a capacidade competitiva de nossas exportações de manufaturados. Do outro, a lâmina da concorrência dos importados, cada vez mais baratos. Como a China mantém seu câmbio fortemente desvalorizado e o Brasil faz o contrário, os produtos chineses podem apresentar preços internacionais em torno de 50% menores que os nossos.

Um dos principais efeitos da tesoura é o crescente déficit comercial de manufaturados: em 2005 o saldo comercial era positivo, de U$ 31 bilhões; em 2010 o déficit foi de U$ 35 bilhões!

A cada vez que importamos, por exemplo, uma válvula industrial, antes produzida no Brasil, estamos destruindo a capacidade empresarial e exportando bons empregos para o Sudeste Asiático. Aliás, a ocupação no segmento que produz essas válvulas caiu de 13 mil para 7 mil pessoas entre 2008 e 2011. No segmento de ferramentas de primeira linha, as importações triplicaram em três anos, com o desemprego de 17 mil pessoas. Porque somos ineficientes? Não. É o câmbio, estúpido!

A insensatez é tamanha que o Brasil, hoje, exporta celulose para a China e começa a importar papel de lá. Plantas de indústria do alumínio estão indo para o exterior processar a matéria-prima daqui extraída. A combinação do câmbio com a tributação está tornando inviável a indústria brasileira de metais.

Nossa renda per capita é quatro ou cinco vezes menor que a dos países ricos, temos índices imensos de pobreza e uma grande massa de pessoas desempregadas ou subempregadas. Enfrentar esse desafio implicaria dobrar a renda média dos brasileiros em 15 anos, com um crescimento superior a 5% ao ano.

Tal resultado depende de uma indústria dinâmica. Do contrário, não haverá aumento suficiente de bons empregos. Desperdiçaremos capacidade empresarial e dispensaremos os efeitos multiplicadores e aceleradores que o setor exerce sobre os outros segmentos da economia. A indústria é a via principal de penetração e difusão do progresso técnico na economia. É um setor em que a produtividade depende do seu próprio crescimento, num círculo virtuoso.

Intuitivamente, o Brasil percebeu essas coisas durante uns 50 anos do século passado. Agora precisamos reaprendê-las, num mundo mais desafiador, num país bem mais complexo. Mas vale a pena: a indústria pode fazer, sim, a diferença.

Ex-Prefeito e ex-Governador de São Paulo

FONTE:: O ESTADO DE S. PAULO

Crise Palocci. Para o governo os danos à frente podem ser mais graves que os imediatos

Jarbas de Holanda

Os efeitos imediatos da repercussão das denúncias e suspeitas que envolvem o ministro Antonio Palocci estão tendo sensíveis implicações negativas para o Palácio do Planalto, mas poderão ser bem mais graves para a sequência do mandato da presidente Dilma Rousseff as consequências de uma erosão do papel dele na chefia da Casa Civil ou de seu afastamento do governo. Por causa da dupla relevância desse papel – na condução das ações político-administrativas e como fator de moderação das fortes tendências estatizantes dela própria e de sua equipe econômica, ou até como alternativa ao comando de tal equipe num cenário, possível, de deterioração dos fundamentos da estabilidade pós-Plano Real a partir da negligência e das contradições nas respostas à pressão inflacionária.

A fragilização do chefe da Casa Civil – após eclodirem as denúncias de um rápido salto patrimonial associado à prática de tráfico de influência – refletiu-se de pronto na perda do controle que lhe cabia das relações entre o Executivo e as lideranças dos partidos e os parlamentares da heterogênea base governista. Na divisão de cargos da máquina governamental e nas negociações de temas delicados, como o projeto do Novo Código Florestal, em cuja fase decisiva de deliberação na Câmara o governo surpreendeu-se privado de maioria, tentando bloquear a decisão do plenário e lançando ameaças de veto presidencial. Essa perda se manifesta também – na conjuntura de grande desgaste de Palocci – na redução de sua influência junto à presidente e em articulações e decisões do Planalto nas quais vinha tendo peso crescente.

Bem mais significativos, porém, serão os efeitos da permanência na Casa Civil ou em outro ministério de um Palocci muito fragilizado – se não conseguir superar e reverter o enorme desgaste que está sofrendo ou se tiver que ser demitido. Não apenas para a presidente Dilma, como avaliou a revista Veja, em artigo editorializado desta semana: “Na versão solução, ele (Palocci) é um bálsamo para o governo e para o país. Na versão encrenca, ele deixa muita gente assustada”. Avaliação semelhante do Palocci “solução” foi feita pelo ex-ministro das Comunicações do governo FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros, numa entrevista à Folha de S. Paulo, de domingo último, em reportagem intitulada “Política econômica põe governo Dilma à esquerda de Lula”. Trecho do lead da matéria: “Para Mendonça, as finanças vão ficar menos confiantes no governo se o ministro Antonio Palocci cair”. Mais adiante, entre as declarações do entrevistado: “O governo Dilma – e daí a importância da questão Palocci – tem uma irracionalidade. Tem um lado que aparentemente é dominante e que tem uma leitura diferente da de Lula (de continuidade do equilíbrio macroeconômico recebido de FHC). E o Palocci é (tem sido) um sinal de que a racionalidade anterior não está abandonada”.

Mas o papel que Palocci desempenhou na Casa Civil até há pouco, ademais de decisivo para um bom relacionamento do governo com o empresariado – reduzindo preocupações deste diante dos sinais de negligência com o controle inflacionário e de manifestações e atos de caráter estatizante, bem como conseguindo manter a confiança das lideranças da iniciativa privada na prevalência das regras básicas da economia de mercado -, ademais disso tem sido importante para duas dimensões da imagem da presidente Dilma e de sua gestão. A de eficiência administrativa e a de um estilo sóbrio (distinto do palanquismo agressivo e partidarizado de Lula). Ambas com boa acolhida nos segmentos melhor informados da sociedade. Mas que dificilmente serão mantidas com um novo escândalo de corrupção de grande impacto e com outra provável consequência da fragilização ou do afastamento de Palocci: o crescimento da influência na operação e nas decisões do governo Dilma de uma direção nacional do PT reestruturada (sob a hegemonia do grupo de José Dirceu) tendo em vista sobretudo ampliar essa influência.

Jarbas de Holanda é jornalista

Trio que chora - ao vivo Marília - SP

Consolo na praia::Carlos Drumonnd de Andrade

Vamos, não chores.

A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.


O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.


Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.


Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?


A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.


Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.