Por Cristiane Agostine – Valor Econômico
SÃO PAULO - No mesmo dia em que um novo pedido de impeachment da presidente foi protocolado na Câmara, o líder do MST, João Pedro Stédile, afirmou ontem que Dilma Rousseff poderá perder sua base social se mantiver a política econômica. Para Stédile, o ajuste fiscal implementado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, agravou as crises política e econômica e dificulta o apoio dos trabalhadores à gestão.
O líder do MST reforçou a pressão feita por movimentos sociais, por petistas e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por mudanças nos rumos da economia. "O governo, sob o comando do Levy, erra no diagnóstico ao reduzir o tema da crise econômica a um problema no Orçamento da União. O Orçamento é só uma consequência da crise. Todas as medidas que o governo tomou para equilibrar Orçamento não resolveram a crise. Ao contrário: agravaram", afirmou Stédile aoValor, depois de participar de um debate sobre desigualdade promovido pela Fundação Perseu Abramo, na PUC-SP.
Stédile afirmou que pretende cobrar pessoalmente a presidente durante uma feira promovida pelo MST em São Paulo. Dilma estuda ir amanhã ao evento dos sem-terra. Se Dilma confirmar a visita à feira, será o terceiro encontro com movimentos sociais em São Paulo em uma semana. A presidente busca o apoio das entidades populares para tentar barrar a articulação do impeachment.
Depois de criticar cortes em áreas como educação, saúde e habitação, Stédile disse que essas medidas afetam diretamente a vida dos trabalhadores. "Se a Dilma continuar com essa política burra do ajuste fiscal e com essa interpretação da crise como um problema de Orçamento, vai perder cada vez mais a base social que a elegeu. É problema para a estabilidade do governo", afirmou. "O governo só faz gol contra e ninguém torce para time que faz gol contra. Não pode pedir para que apoie essas burrices".
O dirigente do MST afirmou que é preciso pressionar por mudanças, mas disse que os movimentos populares lutarão para impedir tentativas de impeachment. "Quem tem razão é o povo e o povo precisa criticar, dizer que o governo está errado. Mas o povo é sábio, não quer impeachment. Quer melhoria de vida", disse. "De que adianta mudar o governo? Não é solução para crise. Precisamos de medidas concretas, que ajudem a tirar a economia da crise".
O MST, afirmou Stédile, defenderá a presidente apesar das críticas à política econômica. "Nós fazemos a defesa do governo Dilma por uma questão democrática. Ela foi eleita por 54 milhões de brasileiros, pela maioria, e tem o direito e legitimidade de cumprir seu mandato constitucional", disse.
Na mesma linha crítica ao ajuste fiscal, o líder do MTST, Guilherme Boulos, comparou a política econômica do governo Dilma com o neoliberalismo dos anos 90, que "joga conta da crise no colo dos trabalhadores". Em vídeo divulgado ontem, o representante dos sem-teto afirmou ainda que o governo adotou a mesma política econômica que desde 2008 "está levando a Europa para o abismo", com desemprego e índices altos de exclusão social. Boulos defendeu que a população vá às ruas para criar uma nova forma de fazer política, fora do Parlamento e do governo.(Colaborou Andrea Jubé, de Brasília)
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