quarta-feira, 4 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Alta do PIB traz apenas satisfação fugaz

O Globo

Apesar do desempenho acima da expectativa, resultado reflete limites do modelo petista de crescimento

O resultado do PIB do segundo trimestre ficou acima da expectativa dos economistas. Nos 12 meses encerrados no segundo trimestre, a economia cresceu 2,5%. Embora melhor que o esperado, o desempenho não merece muitos festejos. Apesar da melhora na estimativa para 2024, a previsão de crescimento segue uma cadência medíocre. Continuará abaixo das médias do mundo e dos países emergentes.

Tal situação deveria fazer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reavaliar seu modelo de desenvolvimento preferido, baseado em consumo incentivado por crédito e programas sociais, além de intervenção estatal e endividamento. Por essa rota, o país continuará a crescer em ritmo lento, com taxa de investimento insuficiente para impulsionar qualquer expansão de fôlego. Quebrar esse padrão exige uma agenda voltada para estimular a competição e a produtividade na economia brasileira.

Vera Magalhães - São Paulo ao pé do Pico dos Marins

O Globo

Parcela significativa do eleitorado da maior capital do País parece disposta a apostar na versão particular da Teologia da Prosperidade do ex-coach

Um dos episódios ruidosos da carreira de Pablo Marçal ocorreu em janeiro de 2022, quando, para promover um de seus combos lucrativos de curso/livro/ciclo de palestras, denominado “O pior ano da sua vida”, o dublê de coach e influenciador digital reuniu um grupo de 32 pessoas para subir o Pico dos Marins, na divisa dos estados de Minas Gerais e São Paulo.

A ideia vendida na narrativa de nome que acabou se tornando tragicamente sugestivo para quem se aventurou a seguir Marçal montanha acima é que você precisará se submeter a provações, “viverá de forma intencional como uma verdadeira guerra, para destravar uma década de prosperidade”.

Guias experientes no percurso alertaram o grupo sobre os riscos. Luis Müller da Costa, tenente do Corpo de Bombeiros chamado para atender o que depois virou um resgate, disse em seu depoimento à polícia nunca ter visto na sua “atividade no Corpo de Bombeiros tamanha imprudência”.

Bernardo Mello Franco - A eleição do idiota

O Globo

Em entrevista a um podcast, Pablo Marçal afirmou: “No processo eleitoral, me perdoe, você tem que ser um idiota. Infelizmente, a nossa mentalidade gosta disso. E, por ser um povo que gosta disso, eu preciso produzir isso. Preciso ter um comportamento que chame a atenção”.

À primeira vista, a fala pode parecer um pedido de desculpas. Na verdade, é só cinismo e gabolice. Ao se vangloriar do desempenho nas pesquisas, Marçal expôs sua visão da política. Para o coach, idiotas são os outros: os eleitores que se encantam com tipos como ele.

O candidato a prefeito de São Paulo gravou o podcast na quarta-feira passada. Em seguida, voltou a fazer as idiotices que o notabilizaram. No domingo, tumultuou um debate de TV e irritou os adversários com insultos e apelidos infantis. Na segunda, interrompeu uma entrevista ao vivo para cantar um rap dos Racionais.

Elio Gaspari - Musk é um golpista, mas...

O Globo

O bilionário Elon Musk definiu-se em 2020, depois que foi acusado de ter colaborado com um golpe na Bolívia e respondeu, por escrito:

— Nós daremos golpes contra quem quisermos. Lidem com isso!

O dono do X desobedece à ordem da Justiça brasileira, debocha do Supremo Tribunal Federal e insulta o ministro Alexandre de Moraes. Faz tudo cobrindo-se na pele de cordeiro de defensor da liberdade de expressão. Não é. É um golpista ao estilo dos americanos que derrubavam governos na América Central no início do século XX.

A liberdade de expressão defendida por Musk é a manutenção da rede de mentiras e difamações. O juiz americano Oliver Wendell Holmes já ensinou que ela não protege quem, falsamente, grita “fogo” num teatro cheio.

Luiz Carlos Azedo - Musk assusta investidor e valor do X desaba

Correio Braziliense

"O ativismo político extremado do magnata nas redes sociais -— embora o X represente apenas uma pequena fração de toda a sua fortuna —, pode contaminar outros negócios"

O comportamento do magnata sul-africano radicado nos Estados Unidos Elon Musk, que desde a aquisição do antigo Twitter se tornou um ator político ligado aos líderes de extrema direita no mundo — entre os quais os ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro —, começa a preocupar os investidores e provoca a queda no valor de suas empresas. O fato preocupa seus parceiros comerciais, inclusive na Starlink e na SpaceX, hoje a maior empresa aeroespacial do planeta.

No sábado passado, o jornalista Brian Boyle, do The Daily Upside, revelou que o grupo de investimentos Fidelity voltou a reduzir o valor da posição do fundo Child Brow Chink no X. O relatório da empresa aponta uma queda de 73% na avaliação da plataforma desde a aquisição do Twitter, por US$ 44 bilhões, em outubro de 2022. Fontes do mercado financeiro também revelaram à Bloomberg que um grupo bancário liderado pelo Morgan Stanley realizou conversa com Musk sobre o refinanciamento de uma dívida do X de aproximadamente U$ 12,5 bilhões.

Wilson Gomes - Debatendo no esgoto

Folha de S. Paulo

Tarde demais. Marçalizaram o debate eleitoral

Durante os anos em que os cidadãos recorriam majoritariamente à televisão para obter informações políticas essenciais às suas decisões eleitorais, três formatos principais foram desenvolvidos e explorados para que os candidatos pudessem se apresentar diretamente ao público: debates televisivos, horário de propaganda eleitoral gratuita e entrevistas diretas, sem edição.

Esses três formatos representam diferentes maneiras de lidar com a tensão entre jornalismo e campanhas eleitorais. Na entrevista direta, o jornalismo tem o controle, propondo as perguntas, estabelecendo o tom da conversa e regulando o tempo das respostas. Na propaganda eleitoral, o controle é totalmente das campanhas, exceto pelos limites legais. Já os debates eleitorais são espaços de negociação entre os interesses em disputa, onde o equilíbrio de forças entre jornalismo e campanha varia consideravelmente de acordo com o país, a época e a emissora.

Quando o jornalismo se impõe —com maior controle sobre os temas, regras rígidas de comportamento e sistemas de checagem em tempo real— as campanhas reclamam que os debates são "engessados". Por outro lado, quando as campanhas conseguem impor maior liberdade e flexibilidade, é a vez de os jornalistas e a opinião pública reclamarem que os candidatos desvirtuaram os debates, usaram deliberadamente o espaço para performances e mentiras, "baixaram o nível" e não informaram o eleitor.

Bruno Boghossian – A fatura de Netanyahu fica mais alta

Folha de S. Paulo

Premiê prolonga conflito para adiar acerto de contas, mas frustração interna cobrará um preço alto

De tempos em tempos, o fantasma do pós-guerra dá um susto em Binyamin Netanyahu. Quando vê a assombração, o premiê fala grosso para reforçar a imagem de um líder irredutível. Dobra a aposta no massacre, enfrenta os rivais de Israel e adia o encontro final com a aparição.

A multidão que tomou as ruas de Tel Aviv e outras cidades do país nos últimos dias levou a um roteiro parecido. Pressionado a aceitar um cessar-fogo que permita a libertação de reféns, Netanyahu até pediu desculpas, mas disse que só vai parar a guerra quando o Hamas for eliminado.

Fernando Exman - O experimento do PT para atrair o voto evangélico

Valor Econômico

Resultado da estratégia será crucial para 2026

Muito se fala sobre a realização de campanhas eleitorais por igrejas evangélicas, mas pouco se sabe sobre a metodologia aplicada por pastores para alavancar candidaturas de aliados.

É tema delicado. A legislação proíbe propaganda “em bens de uso comum”, ou seja, locais aos quais a população em geral tem acesso, e a interpretação da lei não costuma ser consensual em relação ao que é vedado ou permitido. Mas um influente parlamentar da bancada evangélica assegura que é possível saber com relativa precisão quantos votos a igreja dá para candidatos a deputado federal, deputado estadual e vereador.

Vera Rosa - Lula convida Moraes para 7 de Setembro

O Estado de S. Paulo

Presidente quer prestigiar STF horas antes de Bolsonaro pedir cabeça de ‘Xandão’ na Paulista

No 7 de Setembro, horas antes de ser alvo de um ruidoso protesto na Paulista, no qual aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro pedirão o seu impeachment, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes deverá estar a 1.037 quilômetros dali. É que Moraes foi convidado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assistir com ele ao desfile do Dia da Independência, na Esplanada dos Ministérios.

O porta-voz do convite foi o ministro da Defesa, José Múcio. “Eu convidei o ministro Alexandre, em nome do presidente, e ele respondeu prontamente que vai ao nosso desfile de 7 de Setembro. Estou chamando todos os ministros do STF”, disse Múcio à coluna.

Martin Wolf - Lições da grande inflação

Financial Times / Valor Econômico

O regime de metas de inflação sobreviveu a dois grandes testes, mas mais choques grandes podem vir, alguns deles até muito em breve

O discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, no Simpósio Econômico de Jackson Hole no mês passado, foi o mais próximo de um hino da vitória que um banqueiro central sensato poderia proferir. “A inflação caiu significativamente”, observou ele. “O mercado de trabalho não está mais superaquecido e as condições agora são menos apertadas do que aquelas que prevaleciam antes da pandemia. As restrições de oferta se normalizaram”. Ele acrescentou que “com uma redução apropriada da contenção política, há bons motivos para pensar que a economia retornará a uma inflação de 2%, mantendo ao mesmo tempo um mercado de trabalho forte”. Tempos felizes, portanto!

Vinicius Torres Freire – Motivos do PIB melhor, na visão do governo

Folha de S. Paulo

Subestima-se efeito de certo gasto público, por exemplo, diz secretário da Fazenda

Desde fins de 2020, as previsões de crescimento da economia têm subestimado a variação que viria a ocorrer de fato no PIB. A previsão era de alta de 0,36% do PIB em 2022; o crescimento foi de 3% (consideradas as previsões de economistas do setor privado, feitas na última semana do ano anterior e compiladas no Boletim Focus, do Banco Central). Para 2023, previsão de 0,8%, alta de 2,9%. Para este 2024, previsão de 1,5% —o PIB deve crescer mais de 2,5%.

Muito importante é saber se, ou em quanto, o erro de previsão está relacionado a erros de diagnóstico sobre o funcionamento da economia e do efeito de políticas econômicas ou sobre problemas e potencial produtivo do país. Por que o erro tem sido notável? Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, tem o que ele mesmo chama, por ora, de "hipóteses".

Zeina Latif - Celebração incompleta

O Globo

Desempenho da economia vem surpreendendo positivamente, mas expansão de gastos públicos traz preocupação

desempenho da economia vem surpreendendo positivamente desde 2021, depois de muitos anos de decepção. É o que mostram as discrepâncias entre as projeções dos analistas para o PIB a cada início de ano e os resultados efetivos.

Com o crescimento de 1,9% no primeiro semestre deste ano em relação ao semestre anterior, descontada a sazonalidade, a história se repete agora. Mantido o atual patamar do PIB no segundo semestre (variando apenas conforme o padrão sazonal), a alta de 2,5% em 2024 já estará garantida, ante projeção de 1,5% ao final de 2023.

Outra boa notícia é o crescimento mais disseminado entre setores e regiões do país nos últimos anos, além da queda do desemprego. Os vários vagões da locomotiva estão em movimento.

Sergio Lamucci - PIB acelera, com crescimento forte de investimento e consumo das famílias e do governo

Valor Econômico

Expansão de 3% no ano ganha força, ao mesmo tempo que eleva chance de alta dos juros

O ritmo de crescimento da economia brasileira acelerou no segundo trimestre de 2024, com expansão de 1,4% sobre o trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. É uma taxa mais alta que o 1% registrado de janeiro a março, equivalendo a quase 6% em termos anualizados, a maior desde os 3,7% do quarto trimestre de 2020.

Pelo lado da demanda, os destaques foram o investimento, o consumo das famílias e também o consumo do governo. Pelo lado da oferta, a indústria e os serviços puxaram o avanço do PIB.

A atividade avança num cenário marcado por um mercado de trabalho forte, com grande impulso fiscal, especialmente por meio de transferências de renda, e pela retomada do crédito. Os efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul, em maio, não tiraram o dinamismo da economia no período.

José Ronaldo de C. Souza Jr. - Crescimento acima do potencial, riscos e perspectivas

Valor Econômico

Apesar do crescimento recente, investimento ainda está apenas retornando aos valores observados no final de 2022, com taxas que permanecem abaixo de 17% do PIB

Nos últimos anos, o desempenho do PIB brasileiro tem surpreendido positivamente. Em 2023, o crescimento foi impulsionado não apenas pelo setor agropecuário, que se recuperou de uma safra perdida no ano anterior, mas também por uma combinação de fatores que estimularam a demanda. Ainda assim, esse crescimento acima do esperado não garante que continuaremos a ter surpresas positivas em relação às projeções de crescimento nos próximos anos.

Em contraste, o cenário para os investimentos tem sido mais desafiador. Após uma queda de 3% em 2023, o primeiro semestre de 2024 trouxe sinais de recuperação. No entanto, apesar dessa recente alta, o nível de investimento ainda está apenas retornando aos valores observados no final de 2022 e a taxa de investimento permanece abaixo de 17% do PIB. O crescimento recente é um alento, mas o caminho para alcançar níveis de investimento que possam impulsionar de forma consistente o crescimento da capacidade produtiva ainda é longo.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - Eleição traz para o cenário cidadãos tidos como residuais

A cada eleição, categorias sociais ignoradas   emergem da invisibilidade, assumindo seu lugar na sociedade brasileira reconhecidamente multiétnico e pluricultural. Mulheres, negros, deficientes, índios e representantes das novas gerações tecnologizadas e conectadas, promovem um    "rapa" pantagruélico nas pretensões políticas, inconfessas, das elites nacionais, hegemônicas. Só mesmo um Antonio Gramsci para explicar o fenômeno.

 A Resolução 23.724-23, do Tribunal Superior Eleitoral, instituiu um regime de quotas para concursos públicos, que se estende, vagarosamente, para os   direitos de representação política de cidadãos tratados   como resíduos identitários. Eles começam a sair da obscuridade reprimida para dar voz e cidadania a seus povos. 

Livro de Antonio Segatto


Poesia | Minha Terra, de Ascenso Ferreira por Chico Anysio

 

Música | Velho Ateu (Regina Benedetti e Eduardo Gudin)