terça-feira, 17 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Governo petista tenta novamente maquiar contas

O Globo

Proliferam tentativas de tirar gastos da regra fiscal ou de implementar políticas por fora do Orçamento

No domingo, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o governo federal a emitir créditos extraordinários, fora da meta fiscal, para o combate a incêndios. Ao analisar a decisão, não se pode deixar a fumaça interferir no raciocínio. O fogo tem se espalhado nesta temporada especialmente seca em razão da atuação de criminosos e da resposta tímida do Estado (não apenas do governo federal, mas também dos governos estaduais). Mas a inação resulta de má gestão, não da falta de dinheiro.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez escolhas erradas ao priorizar outras despesas. Diante da emergência atual, o governo ainda tinha margem de manobra para remanejar gastos e reforçar o combate ao fogo. Voluntarista, a decisão do STF terá, mais uma vez, o efeito deletério de permitir o drible nas regras fiscais. Não será a primeira vez que isso ocorre. Nem o governo Lula é o único a manifestar certa aversão por encarar as restrições orçamentárias.

Merval Pereira - A política como não deveria ser

O Globo

A triste realidade que estamos vivendo virou meme de gozação. É sinal de que a nossa democracia está muito malcuidada, mal protegida

O mundo virtual invadiu o mundo real e transformou em memes cenas como as do debate de domingo à noite na TV Cultura, em que a força física e o assédio moral tentaram superar os argumentos que faltaram, ou os projetos que não existiam. A cadeirada que o apresentador de programas policiais José Luiz Datena deu no influencer acusado de picareta Pablo Marçal nos transportou para a realidade pateticamente risível da política brasileira, enquanto eles tentavam levar os eleitores para a realidade virtual que manipulam.

O programa que Datena comandava fez com que ele mesmo acreditasse que era um super-homem combatendo o crime organizado. Por trás das câmeras, fingia que atacava os bandidos, defendia a população e sonhava com a política como concretização de suas fantasias sobre si mesmo. Alguma coisa o avisava de que a realidade era diferente, e ele refugou várias vezes, até que teve de deparar no espelho com o reflexo de si mesmo, não como pedra de atiradeira.

Maria Cristina Fernandes - A violência convoca a Justiça Eleitoral

Valor Econômico

Cadeirada mostra que campanha em SP está contaminada pela estratégia de inocular a violência no debate para minar a política e abrir espaço ao judiciário

A campanha paulistana está irremediavelmente contaminada pela estratégia de inocular a violência no debate para minar a política. O sinal mais claro disso, depois da cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB), foi a pergunta de Ricardo Nunes (MDB) a Guilherme Boulos (Psol) na retomada do debate do domingo na TV Cultura. “Você cheirou?”, disse Nunes ao responder à indagação de Boulos sobre uma investigação da Polícia Federal, a chamada “máfia das creches”, na Prefeitura de São Paulo.

A aposta num pacto de civilidade parece fadada ao fracasso nos cinco debates que faltam até o fim da campanha. Marçal pautou a violência, impulsionou suas redes e segue disputando a hegemonia da extrema direita. Datena deu ânimo à sua combalida campanha ao partir pra cima do “ironman”. Tabata Amaral (PSB) exagera no discurso mulher-é-diferente mas, assim como Marçal, ainda que por razões opostas, só tem a ganhar nesta campanha. E, finalmente, Nunes e Boulos anteciparam o tom do embate que esperam ter no 2º turno de uma campanha que já parece interminável.

Míriam Leitão – Os incêndios são propositais

O Globo

O Brasil não está pegando sozinho. Criminosos incendeiam o país na certeza da impunidade e de penas brandas

O fogo se espalhava por toda a beira da rodovia, na BR-010, numa propriedade em Conceição do Tocantins, perto da Chapada dos Veadeiros, quando uma equipe do Ibama, com uma viatura descaracterizada, parou e flagrou o dono da fazenda. Era ele mesmo incendiando. Admitiu que havia iniciado o incêndio: “Eu não vou mentir”. Alegou que era um “fogo controlado” para fazer um aceiro. Aceiros são uma faixa sem vegetação feita exatamente para proteger do fogo, e isso não se faz ateando fogo desta forma. O flagrante aconteceu na noite de domingo, quando a equipe do Ibama voltava de uma operação.

Daniela Chiaretti - Alerta de desastres: 20 anos do tsunami e o pavor do cientista

Valor Econômico

O que a Indonésia aprendeu com o tsunami que matou mais de 227 mil e o alerta assustador de Carlos Nobre

O resort em Bali não surpreende apenas pelo acesso à praia pavimentado por flores de frangipani -que conhecemos por jasmin-manga- e leve cheiro de incenso. No quarto, sobre a mesa de cabeceira há uma lanterna no lugar do abajur. Não só: a placa da saída de emergência, com a tradicional figura do homenzinho correndo, é bem mais eloquente na Indonésia. Mostra uma onda enorme e diz “Tsunami Evacuation Route”. Se soar o alarme é pegar a lanterna e correr o mais rápido possível em direção a lugares altos.

Foi num domingo de manhã há 20 anos que a terra tremeu violentamente debaixo do oceano Índico. Era 26 de dezembro de 2004. O terremoto atingiu 9,1 graus na escala Richter, um sismo dos maiores já registrados, que durou quase dez minutos e, soube-se depois, fez o planeta inteiro vibrar. O fenômeno movimentou água do mar em volumes impressionantes. Calcula-se que tenha liberado energia equivalente a 1.500 bombas atômicas como a que os Estados Unidos jogaram sobre Hiroshima em 1945. O tsunami que surgiu causou destruição em 14 países e matou 227.898 pessoas. Foi a pior tragédia natural já registrada. Os desabrigados superaram 1,7 milhão.

Carlos Andreazza - A goela criativa

O Estado de S. Paulo

O grande plano arrecadador para 2024 falhou

O governo Lula tem contabilidade própria e, pois, rombo fiscal menor. Menor e gigantesco. Fantasioso e gigantesco. Cada um com seu resultado primário – votou o Parlamento. O Tesouro tem o dele. O Banco Central, o dele. E então os dinheiros privados esquecidos em bancos viram receita e passam a servir à conta da meta fiscal. O Tesouro decidiu.

Nenhuma surpresa: Fazenda desesperada por grana opera com goela criativa.

O grande plano arrecadador para 2024 falhou. E nem entraremos na discussão conceitual sobre haver objetivo arrecadatório via condenação administrativa...

Sergio Fausto - Por que votar em Tabata Amaral

O Estado de S. Paulo

O sucesso dela em São Paulo fortalece a articulação de um centro democrático apoiado num programa social-democrata contemporâneo e em princípios republicanos

O título não é uma pergunta, mas uma afirmação. As razões são as que seguem. A tendência à perda de qualidade dos quadros políticos no Brasil é visível. Existem exceções em todo o espectro político, fora dos extremos. Entre as exceções, uma das mais destacadas é Tabata Amaral.

Com apenas 30 anos e uma precoce maturidade pessoal e política, ela já passou pelo batismo de fogo de reeleger-se deputada federal por São Paulo. Em 2022, obteve 340 mil votos, 75 mil a mais do que em 2018. Demonstrou não ser uma “novidade passageira”, tanto assim que foi escolhida pelo PSB para ser a candidata do partido à prefeitura da maior cidade do País.

Eliane Cantanhêde - Machões e estúpidos

O Estado de S. Paulo

Briga de galo em São Paulo mostra bem para que servem os ‘outsiders’ na política

A eleição na principal capital do País se transformou numa briga de galo, numa troca de acusações levianas entre machões totalmente despreparados para a vida pública e a Prefeitura de São Paulo. E assim chegamos ao ponto de um apresentador de programas de crimes e violência dando uma cadeirada ao vivo num “ex-coach” que foi condenado na juventude, ficou milionário muito cedo e decidiu brincar de política.

Um circo e um círculo de horrores: os políticos erram, vem o descrédito da política, surgem “outsiders” e o descrédito só se aprofunda. Quando políticos consagrados ou promissores tentam resistir, são muito elogiados, mas os elogios não se convertem em votos suficientes para elegê-los, ou elegê-las. Exemplos eloquentes: Tabata Amaral na eleição municipal de São Paulo e Simone Tebet na presidencial de 2022.

Luiz Carlos Azedo - Cadeirada mostra que violência política migrou para São Paulo

Correio Braziliense

Bem ao seu estilo, Marçal compara a cadeirada que levou à facada recebida por Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 e ao tiro que Donald Trump levou de raspão, na orelha, num comício

O jornalista, cineasta e escritor Jorge Oliveira acaba de lançar mais um livro-reportagem, Arena de Sangue, disponível na Amazon. Trata da influência dos políticos de Alagoas na vida nacional. Segundo ele, desde o início da Primeira República, o estado "não desgruda do poder como carrapato". Alagoas produziu os dois primeiros presidentes da República, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

Também esteve à frente do complô para matar Prudente de Morais, o primeiro presidente civil da República; influenciou o Estado Novo com o general Góes Monteiro; marcou presença na redemocratização do país com Fernando Collor de Mello, eleito presidente pelo voto direto em 1989; e com o senador Renan Calheiros (MDB), que presidiu o Senado, e os deputados Aldo Rebelo e Arthur Lira (PP), à frente da presidência da Câmara dos Deputados.

Ricardo Viveiros - A 'democracia bolsonariana'

Folha de S. Paulo

Com a crescente agressividade do debate político, surgiu uma perigosa tendência em relativizar absurdos; fingir estar bem com todos os lados é oportunismo

A mesma Grécia —que deu origem à democracia— criou e permitiu a tirania. Nem todos os democratas foram defensores da paz e da liberdade, como nem todos os tiranos foram violentos e injustos. Ao longo do tempo, a política aconteceu no embate de ideias; a esquerda e a direita surgiram na França (1789) polarizando, confrontando eleitores muito além de imaginários, como hoje acontece.

Pode haver quem pense em não se comprometer, ficar no centro e evitar confrontos. Acreditar em um suposto equilíbrio é um equívoco. O centro caracteriza falta de coragem, de opinião, de comprometimento com os legítimos interesses coletivos. Na falsa imparcialidade, esconde-se o fisiologismo, a prática do ditado popular: "Farinha pouca, meu pirão primeiro!". Fingir estar bem com todos os lados é oportunismo.

Rosane Borges - Até a civilidade entrou em combustão

Folha de S. Paulo

Agressões verbais e físicas tornaram-se uma cifra importante para disputar atenção e votos

Não são apenas as queimadas que vêm deixando a nossa atmosfera irrespirável. Como já disse, a suspensão da civilidade, a inabilidade para o diálogo, as discussões que movem-se aos ventos das escaramuças em fluxo contínuo também alastram-se tal como os incêndios florestais.

Disso dá testemunho o debate eleitoral à Prefeitura de São Paulo. A cada ringue (sic), via-se/ouvia-se a dicção dos candidatos subir progressivamente os decibéis até que a voz mal dita alcançou a estratosfera.

Joel Pinheiro da Fonseca – A virtude da autenticidade

Folha de S. Paulo

O candidato do PSDB fez aquilo que seu coração mandou, sem autocensura

Datena mostrou-se desequilibrado e violento na lamentável cadeirada que desferiu em Pablo Marçal. Há, contudo, um adjetivo positivo que não lhe podemos negar: ele foi autêntico. Fez aquilo que seu coração mandou, sem autocensura.

E não é isso que mais valorizamos em nossos representantes hoje em dia? Só de falar como eu gostaria de falar —sem papas na língua, falando o que sente, sem medo de ofender; ou melhor, querendo ofender— já se torna um herói popular. Se acusar a todos de crimes hediondos sem provas, como faz Marçal, é bonito, por que não também a agressão? Refrear o ato das mãos e forçar-se a verbalizar nossos impulsos é já uma forma de matar nossa reação vital.

Levada à sua conclusão lógica, a autenticidade pura termina justamente na agressão física. Já que nenhum de nós quer que a política dê lugar à guerra (estamos de acordo nisso, não?), precisamos nos indagar sobre os limites da autenticidade. Quais outros valores importam?

Dora Kramer - Vacilou, dançou

Folha de S. Paulo

O líder que oscila, como faz Bolsonaro, arrisca-se a perder seu lugar na fila

Um dos motivos entre os vários que puseram o PSDB na rota do infortúnio foi a ausência de posicionamento nítido desde que deixou o Planalto. E até antes disso, quando na eleição de 2002 os tucanos se dedicaram ao exercício do equilibrismo.

Posto em desassossego na corda bamba, o tucanato saiu derrotado. Em seguida fez oposição tímida aos governos petistas e, depois do impeachment de Dilma Rousseff (PT), apostou na lei do menor esforço, acreditando que na eleição de 2018 seria beneficiário do recall da quase vitória de Aécio Neves em 2014.

Alvaro Costa e Silva - O circo das cadeiradas

Folha de S. Paulo

O antissistema na política é um programa de auditório com baixarias

O chamado antissistema é o próprio sistema em ação. É a maneira de fazer política que conquista eleitores pelo menos de uns 30 anos para cá, oficializando governos liderados por comediantes que se valem da sedução da cultura de massa. Com o avanço das redes sociais, o esquema se fortaleceu: personalidades inventadas, mitos forjados, eventos falsos, mentira passando por informação verdadeira. Circo sem pão.

Ao chamar Datena de "arregão" no debate, Marçal ganhou a cadeirada ao vivo. Cena típica dos mais apelativos programas de auditório. Não por acaso, o apresentador Ratinho convidou os dois para brigarem diante de suas câmeras: "Pode meter o braço".

Marcus Cremonese - Um cacique entre censura e varredura

"Elon Musk tem mais posições sobre liberdade de expressão do que o Kama Sutra [sobre sexo]. Quando o assunto tem a ver com seus interesses comerciais ele é o campeão da liberdade de expressão; e quando ele não gosta da coisa ele tenta jogar tudo para baixo". Esta foi uma declaração feita pelo ministro Bill Shorten ao Canal 9, estação de TV australiana, durante uma entrevista no programa matinal desta sexta-feira, 13 de setembro.

Isso se deveu ao fato de que no dia anterior, o atual governo federal do país (Labor) submeteu ao parlamento um projeto de lei que poderá aplicar às plataformas de internet multas de até 5% do valor total de suas operações globais se elas não agirem e criarem mecanismos para evitar a divulgação de misinformation e disinformation.

Poesia | Caminhante não há caminho, de Antonio Machado Ruiz

 

Música | Eduardo Gudin e Paulinho da Viola - Ainda mais