quarta-feira, 26 de junho de 2024

Erika Solomon - O homem que prepara o terreno para uma Alemanha extremista

The New York Times / O Estado de S. Paulo

Björn Höcke tem feito mais que levar a extrema direita para o mainstream; ele está fazendo o mainstream pender para a extrema direita

Em cima de um pequeno palco de um bar numa cidade de arquitetura enxaimel do leste alemão, o ideólogo de direita Björn Höcke contava para um grupo de seguidores, no ano passado, uma história sobre seu iminente julgamento. Ele tinha sido indiciado por dizer, “Tudo pela Alemanha” em um comício político — infringindo leis alemãs que proíbem a propagação de slogans nazistas.

Apesar da iminência daquele julgamento, ele olhou para os fãs e lhes abriu um sorriso maroto. “Tudo pela?”, perguntou ele.

“ALEMANHA!”, gritaram todos.

Depois de uma década colocando em teste os limites do discurso político na Alemanha, Höcke, um dos líderes do partido Alternativa para a Alemanha, ou AfD, não precisa mais passar dos limites sozinho. A multidão faz isso por ele.

Aquele momento amalgama o motivo pelo qual, segundo seus críticos, Höcke, além de representar um desafio para a ordem política, ameaça também a própria democracia alemã.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* e Alexandre Quintas Filgueiras Quintão** - PAC da Saúde: 181 mil agentes para atender os municípios

Sua tese de  doutorado, "Um Sertão Chamado Brasil', conquistou o maior prêmio  em Sociologia, no Instituto de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj), e sua publicação ganhou uma  2ª edição. Tem um currículo acadêmico e uma obra, como gestora,  de fazer inveja à qualquer intelectual e governante.  Foi diretora da Casa de  Oswaldo Cruz (1998-2005), unidade da Fiocruz, voltada para pesquisa e memória em ciências sociais, história e saúde. 

Esta é a nossa ministra da Saúde, Nísia Trindade, a quem está prometido R$30,9 bilhões, em 2024, para o chamado PAC da Saúde  - recurso sobre o qual tem sido  cogitado, entretanto,  cortes orçamentários significativos  -  para atender 3.500 unidades de saúde em todo território nacional. Contudo,  um dos programas considerados mais importantes do Ministério  é a colocação em campo, via SUS - Sistema Único de Saúde: Governos Federal, estaduais e e municipais -  de 181mil agentes populares de saúde para  atender diretamente a 87 por cento dos municípios brasileiros. 

Poesia | Quando encontrar alguém, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Paulinho da Viola e Brasil Jazz Sinfônica - Para um amor no Recife

 

terça-feira, 25 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Legalizar cassinos e jogos de azar é a melhor solução

O Globo

Não faltam exemplos no mundo para inspirar legisladores a mitigar os riscos associados à atividade

Desde 1946, quando cassinos e jogos de azar foram proibidos no Brasil, nada impediu que a jogatina se expandisse na clandestinidade — basta lembrar a popularidade do jogo do bicho. O Estado se tornou o único banqueiro autorizado com as loterias, mas o poder público deixou de exercer sua função de regulador. Com a internet, o brasileiro passou a apostar em sites no exterior, sem ter a quem reclamar caso enganado. Só com a recente regulamentação das apostas esportivas a situação começou a mudar. Um novo passo é o Projeto de Lei que legaliza cassinos, bingos e o jogo do bicho, aprovado na Câmara e na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Passados 78 anos da proibição, está claro que a melhor alternativa é legalizar o jogo. É preciso, é verdade, tomar cuidados para mitigar riscos como lavagem de dinheiro ou dependência dos apostadores. Mas há formas de punir responsáveis por manipulações criminosas. E sobram exemplos no mundo para inspirar a regulação de cassinos e outras modalidades de apostas. “Os indicadores econômicos e sociais dos países melhoraram, não houve aumento da violência nem da evasão fiscal”, diz o senador Irajá (PSD-TO), relator do projeto na CCJ do Senado.

Merval Pereira - Sinais para o futuro

O Globo

Lula parece ter compreendido que precisa dos órfãos do PSDB, de centro-esquerda, para combater a direita

O presidente Lula — que passou os últimos anos tentando jogar o PSDB e o ex-presidente Fernando Henrique para a direita como parte de uma estratégia política que visava a isolar seu principal rival partidário — foi ontem visitá-lo em São Paulo, no mesmo roteiro que o levou a Noam Chomsky e ao escritor Raduan Nassar, dois próceres da esquerda. Pelo menos no momento em que se comemoram os 30 anos do Plano Real, que na origem o PT chamou de “estelionato eleitoral”, Lula parece ter compreendido que precisa dos órfãos do PSDB, de centro-esquerda, para combater a direita.

A direita, a reboque de seus extremistas, absorveu quase integralmente os eleitores tucanos num primeiro movimento de rejeição ao petismo, que desaguou na eleição de Bolsonaro em 2018. Depois do desastre que foi seu governo, parte desses tucanos votou no PT, uns pela primeira vez na vida cívica, para tentar recuperar a força da social-democracia. O terceiro governo de Lula, no entanto, não tem dado a esses eleitores, e não apenas a eles, a expectativa de um futuro melhor, mesmo que o clima político tenha amenizado.

Míriam Leitão - As causas do fogo no Pantanal

O Globo

O incêndio no bioma tem diversas razões, todas ligadas ao desmatamento e à conversão de áreas para a agricultura e pecuária

"O Pantanal está secando. Literalmente secando”, diz o engenheiro florestal e ambientalista Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. São várias as razões, todas ligadas ao desmatamento e à conversão de áreas para a agricultura e pecuária. Estamos longe do período em que geralmente há incêndio, o normal é que seja lá para agosto ou setembro. Por que está batendo recorde de focos de calor antes da época? Porque este ano não teve cheia. O regime de águas no bioma das águas está mudando. Isso está conectado com o que acontece em outros biomas.

Luiz Carlos Azedo - A caixa d’água do Brasil está pegando fogo

Correio Braziliense

A greve dos agentes ambientais, cujo papel na defesa dos biomas é fundamental, em meio às queimadas, chantageia um governo que mudou o tratamento dado à questão ambiental

O governo foi pego de surpresa em relação às queimadas, mas não foi por falta de advertência das instituições responsáveis pelo monitoramento do clima nem da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Depois das enchentes no Rio Grande Sul, que se enquadram na categoria dos eventos extremos, os incêndios no Pantanal e no Cerrado estão só começando — e já são avassaladores.

Ontem, no Palácio do Planalto, Marina se reuniu com o gabinete de crise formado também pelos ministros Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Valdez Góes (Integração), além da secretária-executiva da Casa Civil Miriam Belchior, que substitui o ministro Rui Costa, em férias. A situação é ainda mais crítica porque os servidores dos órgãos ambientais anunciaram, também ontem, uma greve por tempo indeterminado. Ou seja, o governo federal está com as mãos atadas.

Hélio Schwartsman - Superprodução de elites

Folha de S. Paulo

Jovens bem formados e sem emprego fortalecem a direita radical?

Mesmo que o presidente Emmanuel Macron consiga evitar que o Rassemblement National (RN) saia com um primeiro-ministro das eleições legislativas que começam no próximo domingo (30), é líquido e certo que o grupo da ultradireita avançará várias casas. E, a crer nas pesquisas, os jovens são em grande medida responsáveis pelo crescimento do partido comandado por Marine Le Pen.

Boa parte da imprensa se pergunta como jovens, cujos avós deflagraram a revolução sexual e cujos pais asseguravam boas votações a partidos de esquerda, puderam ir tão para a direita. Sabe-se que a orientação política tem forte componente hereditário.

Dora Kramer - Arthur Lira derrapa na rampa

Folha de S. Paulo

Deputado caminhava bem, até decidir render homenagem à obsolescência legislativa

O poder é bicho traiçoeiro. Tanto confere altitude ao dono como lhe retira de sob os pés a escada quando a esperteza despreza os conselhos do bom senso. É nessa zona de perigo que entrou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PL), ao abrir o baú de anacronismos para atrair a ala reacionária do eleitorado interno ao plano de fazer o sucessor.

O deputado pode, e tudo indica que conseguirá, eleger o substituto em fevereiro de 2025. Mas se arrisca a sair do posto menor do que entrou e a descer a rampa do Congresso Nacional sob a égide de inimigo da opinião pública representada pela instituição que preside.

Joel Pinheiro da Fonseca - Responsabilidade e vontade política

Folha de S. Paulo

Qualquer alta da receita é neutralizada por aumento de gastos obrigatório

Nenhuma regra, por si só, garante seu próprio cumprimento: se governo e Congresso quiserem, ela será violada. Vimos isso com as sucessivas violações do teto de gastos e agora com o novo arcabouço. Quando o tema é gasto público (ou isenção tributária, o que dá no mesmo), Lula e a maioria dos deputados e senadores estão juntos: querem sempre mais. Sem vontade política, as regras são só palavras mortas num papel.

No momento, quem pressiona por algum tipo de responsabilidade fiscal são o ministro da Fazenda, a ministra do Planejamento e os sinais preocupantes que vêm do mercado. Lembrando que responsabilidade fiscal não significa nenhum tipo de austericídio caricato, mas simplesmente que o aumento de despesas se dê de forma controlada, sem que a relação dívida/PIB cresça de maneira explosiva.

Andrea Jubé - O Lula de 2002 ajuda a decifrar o de 2024

Valor Econômico

Passado bate à porta provocando reflexão sobre o presente e o futuro

Na era da velocidade, do instantâneo Instagram, do conciso X (o ex-Twitter), quando tudo soa efêmero, o passado bate à porta provocando uma reflexão sobre o presente e o futuro. Por isso, a estreia há poucos dias do documentário “Entreatos”, de João Moreira Salles, na grade da Netflix nos desafia a apertar a tecla “stop” e olhar para trás, para o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva na iminência de vencer a eleição para a Presidência da República em 2002. Para compreender o Lula de 2024 é importante não esquecer o Lula de 22 anos atrás.

Pedro Cafardo - Um olhar não ortodoxo para juros astronômicos

Valor Econômico

A despeito de ajudar a controlar a inflação, taxas elevadas deixam sequelas devastadoras para a sociedade, como baixo crescimento, aumento da dívida pública e ampliação da desigualdade de renda e riqueza 

Muitos jovens que trabalham na Faria Lima, em São Paulo, nem haviam nascido quando o Brasil viveu seus terríveis anos de hiperinflação, nas décadas de 1980 e 1990. Mas é possível que eles carreguem nas costas, além dos característicos coletes almofadados, algum resquício do trauma daquele período, transmitido pelas gerações então castigadas.

Semanas atrás, o mercado se assustou quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ser a meta de inflação brasileira “exigentíssima” e “inimaginável”. O alvoroço se deu porque, para o mercado, ajustar para cima a meta de 3% ao ano seria um estímulo à volta da inflação e, talvez, aos anos terríveis.

Debelada a hiperinflação, em 1995, o país viveu quase sempre sob as taxas de juros reais mais altas do mundo. Um cálculo do professor Carlos Alberto de Augustini (FGV), publicado pela “Folha de S.Paulo”, mostra que as aplicações em renda fixa (CDI) deram retorno de 7.927% nos 30 anos do real, período em que a inflação (IPCA) acumulou alta de 704%. Ou seja, os ganhos foram mais de 11 vezes superiores à inflação.

Eliane Cantanhêde - Veredicto: o sistema não tem culpa

O Estado de S. Paulo

Por que a democracia brasileira sobreviveu? Uma resposta corajosa e racional

Quando Lula e Fernando Henrique se encontram amigável e até carinhosamente, é hora de esquecer as guerras e encrencas de outros tempos e pensar em como pode haver civilidade, parceria e convivência democrática entre adversários políticos, no caso, dois dos grandes líderes contra a ditadura e os maiores presidentes pós-redemocratização. É nesse clima, menos negativo, menos carregado, que escrevo sobre Por que a democracia brasileira não morreu?, dos cientistas políticos e professores Marcus André Melo e Carlos Pereira.

Corajoso, desmistificador e otimista são os três adjetivos que definem o livro, que joga luzes sobre dez anos da política, desde o impeachment de Dilma Rousseff até a derrota de Jair Bolsonaro. Na contramão da onda de desqualificação, irritação, desânimo, desistência, os autores nos fazem refletir sobre esses tempos turbulentos e tirar uma conclusão reconfortante: apesar de todos os pesares, o sistema político brasileiro não é tão imprestável assim.

Carlos Andreazza - Política de Estado

O Estado de S. Paulo

O orçamento secreto é camaleônico, e sua dinâmica se adapta a qualquer superfície

Arthur Lira e Ciro Nogueira são presenças confirmadas no Fórum de Lisboa. O Parlamento em semaninha de folgança, a três semanas do recesso, para que o País seja discutido na Europa; o restante do Congresso pulando as fogueiras de São João. E há um compromisso por votar as regulamentações da reforma tributária até 18 de julho.

Ninguém reclamará das comissões atropeladas e dos regimes de urgência impostos, afinal aprovado texto desconhecido enquanto se lhe metem ainda mais contrabandos. Lira quer uma marca para sua gestão. Gostaria que fosse a reforma tributária. Será a instituição do orçamento secreto.

Rubens Barbosa - ‘O Brasil é um deserto de homens e ideias’

O Estado de S. Paulo

As reuniões do G-20, da COP-30 e do Brics talvez sejam as últimas oportunidades de o País firmar sua voz na defesa de seus interesses concretos

O comentário sobre o Brasil de Oswaldo Aranha, feito há cem anos, continua atual. A falta de liderança no governo, no Congresso, no meio empresarial e na sociedade civil em geral torna difícil pensar um Brasil acima de interesses partidários, particulares e setoriais. A divisão política interna e a polarização de opiniões impedem que se discuta e, muito menos, que se forme consenso sobre um projeto nacional ou sobre a relevância do Brasil no mundo, suas prioridades e vulnerabilidades, com uma visão estratégica de médio e longo prazo.

A tarefa ainda é mais complicada não só pelas dificuldades internas, mas sobretudo porque o mundo passa por rápidas transformações com a emergência de uma nova ordem internacional. Na economia global, as regras são colocadas de lado e prevalecem o poder e interesses dos países individualmente considerados, com ênfase no protecionismo e em medidas restritivas unilaterais que desrespeitam as regras vigentes e chegam a ser utilizadas como armas na competição entre Estados.

Poesia | Os três mal amados (Trecho), de João Cabral de Melo Neto

 

Música | Geraldo Azevedo - Óia eu aqui de novo (Antônio de Barros)

 

segunda-feira, 24 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Violência desigual exige ação do governo federal

O Globo

Homicídios caíram no Sul e Sudeste, mas índices pioraram nas demais regiões, revela estudo

O Brasil é desigual até nos índices de criminalidade. De acordo com o Atlas da Violência divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), enquanto Sul e Sudeste apresentavam em 2022 taxas de homicídio declinantes, Norte, Nordeste e Centro-Oeste registravam números ascendentes.

São Paulo mais uma vez ostenta a menor taxa de homicídios da Federação (6,8 por 100 mil habitantes). Em seguida, aparecem Santa Catarina (9,1), Distrito Federal (11,4), Minas Gerais (12,5), Rio Grande do Sul (17,1), Mato Grosso do Sul (19,7), Rio de Janeiro (21,4), Paraná (22,3), Goiás (23,1) e Piauí (24,1), todas abaixo ou pouco acima da média nacional (21,7).

No outro extremo figura a Bahia, estado que nos últimos anos tem enfrentado grave crise na segurança. Com 45,1 homicídios por 100 mil habitantes, concentra seis das dez cidades mais letais do país: Jequié — a mais violenta (88,8) —, Santo Antônio de Jesus, Simões Filho, Camaçari, Feira de Santana e Juazeiro. Completam a lista fatídica Cabo de Santo Agostinho (PE), Sorriso (MT), Altamira (PA) e Macapá (AP), todas com taxas acima de 68 por 100 mil, mais que o triplo da média nacional.

Fernando Gabeira - Limites da paciência popular

O Globo

O papel da sociedade poderia ser estendido a discussões mais áridas, como a qualidade dos gastos do governo

A reação social a dois projetos, sobre aborto e praias, abre caminho para alguns ensinamentos. O primeiro deles, e mais óbvio, revela que as pessoas não querem retrocesso, sobretudo os que podem nos fazer voltar à Idade Média, sem algumas qualidades daquela fase histórica.

Isso acende um sinal amarelo para as forças conservadoras, sobretudo as que investem contra o Estado laico e querem substituir a Constituição pela Bíblia.

Creio que o campo oposto, o governista, também tem material para refletir sobre o que se passou nas últimas semanas. Talvez tenha de rever a ideia de que o foco único de seu esforço seja a economia. Alguns especialistas em eleições repetem a frase: “É a economia, estúpido”. E muitos acreditaram que tudo realmente se resume à economia, ou que as pessoas são apenas fisiológicas, como alguns políticos que as representam.

Preto Zezé - Combate à crise exige união

O Globo

Entes federados e Poderes da República necessitam colaborar entre si para enfrentar os desafios

Boa parte da crise institucional brasileira advém da descrença na política e no Estado e da baixa qualidade de suas ações — mas também de como são elaboradas as políticas, sem participação social qualificada. A isso somam-se a desorganização e a desmobilização dos setores populares, diante da distância dos mecanismos de decisão. São fóruns e horas de debate com pouca eficácia e lentidão da burocracia estatal ante as agonias do povo. A distância se torna maior devido ao calendário de eleições bianual, gerando uma terrível distorção entre as necessidades reais e a retórica eleitoral.

Estive com gestores de diversas posições ideológicas, da direita à esquerda, em razão das tarefas institucionais que me conduzem a uma posição pragmática pelos interesses das favelas e à disposição de diálogo com todos. Encontrei governadores como Ronaldo Caiado, Elmano de Freitas, Tarcísio de FreitasFátima BezerraHelder BarbalhoCláudio Castro, com os ministros Renan Filho e Ricardo Lewandowski, para citar alguns. Há consenso de que os entes federados e os Poderes da República necessitam de colaboração entre si para enfrentar os grandes desafios nacionais, apesar das características locais.

Demétrio Magnoli - O mercado que nos sabota

O Globo

O tabu econômico lulista só admite ajuste pelo lado da receita, condenando qualquer tentativa de cortar despesas

‘O governo do presidente Lula está enfrentando forte campanha especulativa e de ataques ao programa de reconstrução do país com desenvolvimento e justiça social’, afirmou a nota da direção do PT publicada há uma semana. Como? Pela “escancarada sabotagem ao crédito, ao investimento e às contas públicas, movida pela direção bolsonarista do Banco Central com a manutenção da maior taxa de juros do planeta”. O BC seria uma ferramenta de “setores privilegiados” que, “valendo-se da mídia associada a seus interesses financeiros, fabricam uma inexistente crise fiscal”.

A economia de mercado é uma conspiração — eis o conceito de fundo que orienta o texto partidário. Fosse, apenas, expressão da ignorância econômica petista, isso não passaria de uma curiosidade. Só que não é: a nota reflete o pensamento econômico de Lula, raiz do atual impasse fiscal.

Bruno Carazza - Benefício bilionário semicondutor de ineficiência

Valor Econômico

Na mesma semana que Lula critica renúncias fiscais, governo apoia prorrogação de incentivos por mais cinquenta anos

Na quarta (18/06), em entrevista à rádio CBN, o presidente Lula se declarou “perplexo” diante do volume de renúncias fiscais no Brasil, que passaria da casa dos R$ 546 bilhões, e anunciou seu compromisso de rever esses benefícios, para que o ajuste das contas públicas não seja aplicado somente sobre os pobres.

Nem bem a fala de Lula deixou de ecoar, a Câmara dos Deputados aprovou, com o apoio do PT e demais partidos da base do governo, o PL nº 13/2020 que amplia e estende renúncias fiscais para os setores de semicondutores e de tecnologia da informação até o ano de 2073, mesmo prazo de vigência da Zona Franca de Manaus.

Sergio Lamucci - Incertezas internas impulsionam o dólar

Valor Econômico

Fatores globais contribuem para a alta da moeda americana neste ano, mas riscos domésticos explicam a maior parte do movimento

O cenário para o câmbio mudou significativamente de figura ao longo do ano. No primeiro semestre, o real se enfraqueceu em relação à moeda americana, com o aumento dos riscos externos e principalmente dos internos, devido em grande parte às incertezas sobre as contas públicas, mas nos últimos dias também por causa das críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e ao nível dos juros. Em 2024, o dólar já subiu quase 60 centavos, de R$ 4,86 para R$ 5,44, uma alta de 11,9%.

A força das contas externas, com saldo comercial perto de US$ 100 bilhões em 12 meses e reservas internacionais de US$ 355 bilhões, ajuda a amenizar, mas não impede o avanço do dólar, movimento que tende a causar impacto desfavorável sobre a inflação. A pressão sobre o câmbio e a maior volatilidade da moeda podem ainda atrapalhar o planejamento das empresas, encarecendo a importação de bens de capital, por exemplo, o que prejudica o investimento.

Entrevista | Pedro Malan: Brasileiro não aceita mais que hiperinflação volte

Por  Lu Aiko Otta / Valor Econômico

Nos 30 anos do Plano Real, ex-ministro da Fazenda alerta que nova reforma da Previdência Social pode ser necessária ainda nesta década

Prestes a completar 30 anos no próximo dia 1º, a estabilização de preços proporcionada pelo Plano Real foi apenas um primeiro passo de um projeto de transformação da economia brasileira, disse ao Valor o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, que comandou a área econômica do governo nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Após domar a inflação, havia toda uma agenda de reformas econômicas a ser implementada. Muitas delas ainda estão sobre a mesa. É o caso do debate sobre a estrutura das despesas obrigatórias do governo, tema que foi levado na semana passada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento).

Documentos elaborados antes do lançamento do Real continuam atuais nesse debate, ressaltou o ex-ministro, que nesta terça-feira (25) lança em São Paulo, o livro “30 Anos do Real - Crônicas no Calor do Momento”, pela editora Intrínseca.

A publicação reúne artigos publicados por Malan e outros dois “pais” do plano de estabilização, Edmar Bacha e Gustavo Franco (organizador), além de um artigo escrito por Fernando Henrique Cardoso em 2019. O livro é dedicado ao ex-presidente, cuja liderança política é apontada como peça fundamental do sucesso do plano de estabilização.

O propósito do livro não é trazer bastidores sobre a elaboração do plano, e sim discutir a tentativa de consolidação do projeto do Real ao longo dos últimos 30 anos, além de contribuir para o debate atual, explicou o ex-ministro.

Organizado em seis partes - primeiros anos, dez anos, 15 anos, 20 anos, 25 anos e 30 anos -, mostra a batalha da construção do tripé macroeconômico que persiste até hoje e como o projeto resistiu à alternância do poder, com a eleição de Lula em 2002.

O Real completou 20 anos em meio ao experimento da Nova Matriz Macroeconômica e, na definição de Franco à época, o momento “mais cercado de dúvidas sobre a coisa conquistada”.

Também hoje há o debate em torno da adoção de uma política keynesiana, apesar dos resultados da tentativa anterior. Ao mesmo tempo, outros integrantes do governo se esforçam para colocar em debate a estrutura do orçamento - algo que deve ser intensificado, na visão do ex-ministro.

“Acredito que a história é um diálogo infindável entre o passado e o futuro”, afirmou ele, a respeito do livro. “O objetivo é mostrar como essas coisas estão ligadas: o passado estabelece certas restrições, mas também certas oportunidades e possibilidades que o futuro sempre encerra.” 

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Jeffrey Sachs - A Cúpula do Futuro

Valor Econômico

Reunião é um convite a uma intensa troca global de ideias sobre como tornar nosso mundo apto para o desenvolvimento sustentável

O sistema geopolítico mundial não está proporcionando o que queremos ou precisamos. O desenvolvimento sustentável é nosso objetivo declarado, significando prosperidade econômica, justiça social, sustentabilidade ambiental e paz. No entanto, nossa realidade é de continuidade da pobreza em meio à abundância, a desigualdades crescentes, a crises ambientais cada vez mais graves e à guerra. Para voltar aos trilhos, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, sensatamente, convocou uma Cúpula do Futuro (SOTF, na sigla em inglês) para os dias 22 e 23 de setembro, uma convocação que foi endossada pelos 193 Estados-Membros da ONU.

A ideia central da Cúpula do Futuro é que a humanidade se depara com um conjunto de desafios sem precedentes que só podem ser resolvidos por meio da cooperação internacional. A crise das mudanças climáticas induzidas pelo homem (em especial o aquecimento do planeta) não pode ser resolvida por um único país. Nem as crises de guerras (como na Ucrânia e na Faixa de Gaza) ou as tensões geopolíticas (entre Estados Unidos e China) podem ser resolvidas por um ou dois países sozinhos. Cada país, mesmo as grandes potências, como EUA, China, Rússia, Índia e outros, faz parte de uma complexa estrutura global de poder, economia e política que requer soluções genuinamente globais.

Carlos Pereira - Escudo contra populistas

O Estado de S. Paulo

No populismo, seja de direita ou de esquerda, sempre existe a necessidade de confrontar instituições

“Aí resolveram entender que era importante que tivesse um Banco Central independente e com autonomia. Ora, autonomia de quem? Autonomia para servir e atender a quem?” A reposta a essas perguntas proferidas pelo presidente Lula na semana passada seria a seguinte: do senhor mesmo, presidente!!!

Políticos eleitos, em qualquer democracia do mundo, têm muitas dificuldades para lidar com agências e organizações reguladoras autônomas com prerrogativa de decidir políticas públicas e potencial de contrariar as suas preferências de curto prazo.

Ana Cristina Rosa - Caça aos livros

Folha de S. Paulo

A perseguição restringe-se a obras que promovem debate e reflexão antirracista

Está aberta a temporada de caça aos livros no Brasil! Mas atenção. A perseguição restringe-se à indicação pedagógica de certas obras capazes de promover o debate e a reflexão antirracista no país mais negro fora da África.

Este poderia ser o preâmbulo de uma publicação sobre uma distopia, um "lugar ruim" qualquer. Tragicamente é a síntese da reação adversa desencadeada pela adoção curricular de alguns livros que abordam a temática racial —a despeito da obrigação legal (lei 10.639/2003) do ensino da história e da cultura afro-brasileira em nossas escolas.

Camila Rocha - Nunes se submete a Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Prescindindo de qualquer autonomia, Nunes optou por delegar a indicação da vice de sua chapa

Caso Ricardo Nunes ganhe as eleiçõesSão Paulo será governada pelo bolsonarismo. Com Nunes na prefeitura, e Tarcísio de Freitas no governo do estado, os mais de 44 milhões de paulistas ficarão sob a batuta da extrema direita. Da mesma forma que Tarcísio não conseguiu ter qualquer independência em relação a seu padrinho político, agora é a vez de Nunes se curvar de vez a Jair Bolsonaro.

Prescindindo de qualquer autonomia, Nunes optou por delegar a indicação da vice de sua chapa ao governador do estado. Tarcísio, que encontrou seu lugar ao sol na extrema direita posando de paladino contra o crime organizado, achou por bem escolher o coronel da PM Melo Araújo, ex-comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), conhecida por ser a tropa mais letal da Polícia Militar paulista.

Marcus André Melo - O dilema institucional

Folha de S. Paulo

Por que Lula 3 está malogrando?

Os impasses atuais nas relações do presidente Lula com o Congresso evocam —mas como veremos apenas superficialmente— o padrão identificado por Celso Furtado em "Obstáculos Políticos ao Desenvolvimento Econômico" (1965). Nele, Furtado reflete sobre a crise de 64 e sua estrutura mais profunda: um executivo eleito pelo eleitorado urbano que se confrontava com um Congresso que obstaculizava uma agenda de reformas "de base". O resultado era um confronto paralisante cujo desenlace foi a ruptura da ordem constitucional. Já examinei o argumento aqui.

Entrevista | Márcio França: Pós-eleição exigirá rearranjo para ver quais partidos ficarão com Lula

Jennifer Gularte / O Globo

Conhecido por articular palanques, ex-governador de SP avalia que reforma ministerial vai se impor quando siglas da base precisarem escolher de que lado estarão em 2026: do presidente ou do bolsonarismo

O senhor é do PSB, mas há ministros de outros partidos não alinhados ao governo. O modelo de coalizão está funcionando?

É difícil ser engenheiro de obra pronta. Nós chegamos até aqui com 95% de tudo o que mandamos aprovado. Então, não dá para dizer que não foi bem-sucedido. Mas a nossa angústia coletiva, dos políticos e jornalistas, se encerrará no final desse ano. Quando acaba a eleição de prefeito, começa a de governador e presidente. As nuvens vão se adensar para dois campos específicos: um liderado pelo governo de São Paulo (de Tarcísio de Freitas) e talvez a prefeitura de São Paulo (com a possível reeleição de Ricardo Nunes), contra o campo nacional (do governo Lula). Então, vários partidos que têm posições importantíssimas dentro do governo vão ter que tomar uma decisão difícil. Se o parlamentar vai mudar de partido e ficar com o governo federal ou se irá se embarcar na aventura paulista.

São Paulo será o contraponto? Como será esse jogo?

É muito difícil imaginar que alguém tiraria uma eleição do Lula. Depois de preso, todo arrebentado, todo chamuscado, ele ganhou uma eleição... Essa é a sensação, ainda mais em condições plenas, com poder na mão e sem o principal concorrente (Jair Bolsonaro) na disputa. A pessoa escolhida para disputar a eleição contra o Lula, mesmo sabendo que provavelmente vai perder, naturalmente se transformará no próximo candidato a presidente mais forte do país. Acho meio inevitável o Tarcísio ser candidato. Ele será empurrado para essa disputa. Querendo ou não, é o nome mais forte, um moço educado, não tem aquela coisa mais dura, bruta do Bolsonaro.

Poesia | Dos Engenhos de minha Terra, de Ascenso Ferreira

 

Música | Chico César, Mônica Salmaso e Alceu Valença - Prêmio da Música Brasileira

 

domingo, 23 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Produtividade baixa é raiz da pobreza brasileira

O Globo

Crescimento de apenas 0,3% ao ano desde 2010 é insuficiente para aumentar renda da população

Há cinco anos o Brasil está entre as dez piores posições no ranking de competitividade do International Institute for Management Development (IMD), da Suíça. Na última edição, ocupa a 62ª posição num total de 67 países, à frente apenas de economias desajustadas como Nigéria ou Venezuela. Um olhar sobre o histórico recente da produtividade mostra onde estão as deficiências. Em 1980, eram necessários dois brasileiros para produzir tanta riqueza quanto um americano. Hoje é preciso quatro.

Quando se discute a pobreza persistente no Brasil, muito se fala na necessidade de ampliar e aprimorar programas sociais. Eles são necessários no presente, mas insuficientes para o futuro. Pouco se discute o principal indicador que traduz o atraso da nossa economia: a produtividade. Desde 2010, ela cresceu 0,3% ao ano, acima apenas da década perdida nos anos 1980. Nos últimos 13 anos, o investimento na produção aumentou pouco, e a alocação de recursos perdeu eficiência.

Luiz Sérgio Henriques - A bússola que resta

O Estado de S. Paulo

Circunstâncias críticas tornam especialmente claro o lugar que cabe à esquerda na defesa das instituições e na busca das alianças que tal defesa requer

As democracias típicas da “onda” que se espraiou nas décadas finais do século 20 resistem mais do que se supõe. Essa é a boa notícia que estudiosos respeitados, a exemplo de Steven Levitsky, têm buscado ressaltar, ainda que com todas as cautelas que o argumento requer. A hora permanece difícil, mas a ideia básica desses autores é de que a modernização das sociedades implica a constituição de uma ordem política plural e o surgimento de contrapoderes sociais que diminuem as possibilidades de generalização das autocracias, ao contrário do que aconteceu há cerca de cem anos.

O quadro daí decorrente seria, portanto, mais compatível com uma árdua e continuada guerra de posições entre regimes democráticos e autoritários em escala global. Choques duros de absorver, como a posição “central” que adquiriram movimentos antes marginais, como o Reagrupamento Nacional na França e a Alternativa para a Alemanha, são de certo modo compensados com a relativa frustração eleitoral de Narendra Modi, na Índia, ou do partido governante na África do Sul, hoje distante do legado conciliador de Nelson Mandela. Ou então, tomando o caso italiano, a primazia de Giorgia Meloni e seus Fratelli d’Italia, de equívoca raiz neofascista, não deixa de ter como contraponto o Partido Democrático, no qual, com contida nostalgia, é possível recolher fragmentos do mais criativo dos antigos partidos comunistas.

Merval Pereira - A direita mostra sua cara

O Globo

Seria preciso uma vitória econômica vigorosa para que o eleitor acreditasse que o PT, sem Lula, terá vida própria

A careta que a primeira-ministra da Itália Geórgia Meloni fez ao ser cumprimentada pelo presidente francês Macron, e a conversa amistosa que ela teve com o presidente argentino Javier Milei, que por sua vez declarou ter amizade pelos Bolsonaro, mostra como a direita internacional sente-se à vontade no atual confronto com as forças do centro, e da esquerda, no mundo.

O ex-presidente brasileiro não hesitou em impor um candidato de extrema direita ao prefeito paulistano Ricardo Nunes, que tentou até o fim um companheiro de chapa menos bandeiroso, mas teve que ceder à força de Bolsonaro, que parece estar disposto a acelerar a polarização com Lula. Ricardo de Mello Araújo (PL), ex-coronel da Polícia Militar e ex-presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), será seu companheiro de chapa, mesmo que sua escolha tenha irritado parte do MDB, partido do prefeito, e outros partidos da coligação.

Dorrit Harazim - Cara ou coroa

O Globo

Tanto o ocupante da Casa Branca quanto seu antecessor parecem convencidos de que a comparação direta lhes será favorável

Vale acertar os relógios e calcular fusos horários. Na próxima quinta-feira, 9 da noite pelo horário local, Joe Biden e Donald Trump se enfrentarão no Q.G. da CNN em Atlanta, capital da Georgia. Será o primeiro debate eleitoral da História entre dois presidentes dos Estados Unidos — um titular e um ex —, ambos em busca de uma nova eleição. No cara ou coroa para definir o lugar de cada um no pódio, deu “coroa”, e Biden optou por ficar à direta do adversário. Em compensação, Trump ganhou o direito de ter a última palavra. Serão dele as conclusões finais do embate.

Míriam Leitão - A inútil briga com o Banco Central

O Globo

Se Lula propuser o fim da autonomia do BC terá duas derrotas: no Congresso e com aumento de preços da economia real

Banco Central autônomo não é de esquerda, nem de direita. O Partido Trabalhista aprovou a independência do Banco da Inglaterra, no governo Tony Blair, em 1997, e agora os conservadores é que falam em rever a lei. Donald Trump brigou ferozmente com o presidente do FED, Jerome Powell, e chegou a postar nas redes: “minha única dúvida é: quem é o maior inimigo, Powell ou o presidente Xi”. Já o presidente Joe Biden manteve o indicado por Trump. Não é exclusividade do presidente Lula escolher como alvo o Banco Central. Mas o PT tem uma curiosa história com o BC.

Bernardo Mello Franco - O homem que assinou o real

O Globo

Em memórias, ex-ministro da Fazenda relembra a relação com Itamar, o escândalo da parabólica e a tensão antes do lançamento da moeda

Às vésperas do lançamento do real, o presidente Itamar Franco mandou chamar o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero. Tinha uma notícia inesperada: contrariando o combinado, ia decretar um congelamento dos preços.

Surpreso, o embaixador usou a diplomacia para tentar desarmar a bomba. Com cuidado para não melindrar o chefe, lembrou que o tabelamento já havia levado à derrocada de outros planos econômicos, como o Cruzado.

“Minhas razões não bastaram. Ele não se sentia seguro”, lembra Ricupero, 30 anos depois. Ao fim da conversa, o presidente devolveu o problema: “Não estou convencido. A responsabilidade é do senhor”. O ministro manteve a palavra com sua equipe, salvando a nova moeda da morte prematura.

Elio Gaspari - Juízes estimulam ações impróprias das PMs

O Globo

Contam-se às centenas os casos em que magistrados deferem pedidos de busca e apreensão solicitados pelas corporações

Em outubro do ano passado o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, representando a Associação de Delegados do Estado de São Paulo, pediu ao corregedor nacional de Justiça que recomende aos magistrados o respeito ao dispositivo constitucional que delimitou as jurisdições das polícias Civis e Militares.

O artigo 144 da Constituição é claro:

“Às polícias Civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de Polícia Judiciária e a apuração de infrações penais, exceto a militares.”

“Às polícias Militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos Corpos de Bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil”.