sexta-feira, 31 de maio de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Suspensão unilateral de planos de saúde desrespeita usuários

O Globo

Diante da omissão de ANS e Executivo, Lira negocia acordo capaz de satisfazer a cidadãos sem desequilibrar empresas

Daniel Simões, de 9 anos, fazia sessões semanais de fisioterapia e fonoaudiologia, por sofrer de paralisia cerebral. Até que seu plano de saúde foi cortado pela operadora sem motivo. Não se trata de caso isolado. Desde o início do ano, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) recebeu quase 6 mil queixas sobre a rescisão unilateral de contratos. Diante da multiplicação de episódios e da omissão incompreensível da ANS e do Executivo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tomou a iniciativa de negociar um acordo para que os planos revoguem o cancelamento de contratos cujos usuários estejam em tratamento, enquanto esperam uma solução legislativa.

Fernando Abrucio* - Carta a uma jovem sobre o século XXI

Valor Econômico

Muita coisa ruim ou complicada está se espalhando, e a humanidade não está conseguindo sair desse buraco, mas o desfecho não está definido de antemão

Uma ideia não me saiu da cabeça desde que, na semana passada, ouvi uma mãe em situação de rua chamar sua filha. Andava pela avenida Paulista e via o cenário de crescimento da pobreza urbana que ganhou uma enorme magnitude a partir da pandemia - e da forma desastrosa que o Brasil lidou com ela. Não consegui compreender bem qual era o nome da menina, mas sonhei com a cena e no meu devaneio noturno ela se chamava Esperança. Daí em diante senti a necessidade de lhe falar sobre o presente nebuloso que gera um futuro incerto, quase um não futuro. Na minha impotência, o que me sobrou foi escrever uma carta:

Entrevista | Sérgio Abranches: Presidencialismo de coalizão chegou ao ‘pior dos mundos’

Por Fabio Murakawa / Valor Econômico

Para sociólogo, ante a atual fragmentação partidária, nenhum governo conseguirá formar uma maioria “minimamente coesa” para apoiá-lo

Sociólogo, cientista político pós-doutorado pela Universidade Cornell, nos EUA, foi Sérgio Abranches que, em 1988, cunhou o termo “presidencialismo de coalizão” para definir o modelo político que se desenhava na recém-nascida democracia do Brasil.

À época em que escreveu o artigo, o país escrevia a Constituição que vigora até hoje. Abranches percebeu, na composição da Assembleia Constituinte, três características que tornavam o modelo brasileiro diferente do de qualquer outro país do mundo: “Além de combinar a proporcionalidade, o multipartidarismo e o ‘presidencialismo imperial’, organiza o Executivo com base em grandes coalizões”.

“A esse traço peculiar da institucionalidade concreta brasileira chamarei, à falta de melhor nome, ‘presidencialismo de coalizão’”, escreveu à época.

Mais de 35 anos depois, esse modelo está sob questão, sobretudo com o controle cada vez maior do Orçamento público pelo Congresso. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já chegou a defender a criação de um sistema “semipresidencialilsta”, para abandonar o atual modelo.

Nesta entrevista ao Valor, Abranches diz que o presidencialismo de coalizão vive uma crise, à medida que, ante a atual fragmentação partidária, nenhum governo conseguirá formar uma maioria “minimamente coesa” para apoiá-lo.

Eu me arriscaria a dizer que 90% dos deputados brasileiros não sobreviveriam ao parlamentarismo”

Para Abranches, o modelo está no “pior dos mundos”, em que os parlamentares alocam uma parcela substancial do Orçamento”, via emendas, sem o ônus de serem responsabilizados pelos eventuais fracassos das políticas públicas.

A seguir os principais trechos:

Luiz Carlos Azedo - Lula não tem uma agenda pactuada com o Congresso

Correio Braziliense

O governo pode ter uma agenda social liberal exequível, desde que calibrada de acordo com a correlação de forças no Congresso e com apoio dos principais agentes econômicos

As sucessivas derrotas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso, principalmente em relação a vetos como os das desonerações tributárias das folhas de pagamento e das “saidinhas” de presos, têm repercussão no mundo político e desgastam o governo na opinião pública, num momento em que quase todos os indicadores econômicos estão melhorando — entre os quais os do emprego formal e da renda. Há um descolamento da sociedade.

Em parte, essas derrotas refletem um movimento de cerco da oposição e busca de alternativas ao seu governo por parte dos adversários de sempre e de aliados contingenciais. Suas motivações ideológicas e interesses econômicos são hegemônicos no Congresso, mas não controlam o Poder Executivo. Existe, ainda, a falta de sintonia de Lula com a sua base parlamentar ampliada, que não pode ser atribuída exclusivamente aos seus articuladores políticos. Lula se movimenta de forma errática, não tem uma estratégia clara.

Vera Magalhães - Lula precisa resgatar aliança que o elegeu

O Globo

O que de pior pode acontecer a um presidente é virar um pato manco tanto tempo antes do término do governo

As sucessivas derrotas do governo no Congresso em praticamente qualquer agenda que não tenha sido abraçada previamente por Arthur Lira mostra que a governabilidade de Lula hoje é refém de um grupo que não esteve com ele em 2022.

É urgente para o presidente sair das cordas, diminuir essa dependência e resgatar a aliança que o elegeu, mas, para isso, será preciso repactuar a relação com bons nacos desse grupo.

Lira começou sua aproximação com o governo ainda em 2022, na costura e votação da PEC da Transição, movido pelo pragmatismo. Eleitor de Jair Bolsonaro e beneficiário de seu governo, viu que precisava descartá-lo para construir sua reeleição ao comando da Câmara sem sobressaltos.

Bernardo Mello Franco - Nocaute no Congresso

O Globo

Antes de novas derrotas, presidente disse viver situação de "muita tranquilidade"

Em café recente com jornalistas, Lula tentou negar a crise na articulação política do governo. “Sinceramente, não acho que a gente tenha problema no Congresso”, desconversou. “A gente tem as situações que são as coisas normais da política”, prosseguiu.

Parlamentares ameaçavam o Planalto em voz alta, mas o presidente insistiu que tudo estava sob controle. “Nós estamos numa situação, eu diria, de muita tranquilidade com o Congresso”, afiançou.

Nesta terça, a realidade voltou a se impor. Em sessão conjunta, deputados e senadores impuseram novas derrotas ao governo. Derrubaram vetos de Lula e ressuscitaram agrados de Jair Bolsonaro à sua tropa.

César Felício - Leniências saíram barato para as empresas

Valor Econômico

O impasse a respeito da repactuação dos acordos de leniência da Lava-Jato deve ter um desfecho em junho, a se cumprir os prazos estabelecidos pelo ministro André Mendonça para decidir sobre a ação apresentada pelo Psol e PC do B a favor das empreiteiras. Independentemente do que se resolva, há indícios de que os acordos, do ponto de vista de ressarcimento de danos ao erário, passaram longe de ser o retrato do “pau de arara do século 21”, para se usar a imagem criada pelo ministro Dias Toffoli ao invalidar o uso das provas produzidas pelo acordo da ex-Odebrecht em processos judiciais. Foram, em um certo sentido, não injustos, mas inúteis.

José de Souza Martins - Começar de novo

Valor Econômico

À medida que as águas baixam, emerge o principal da realidade. O problema da reconstrução social das comunidades e famílias nas áreas atingidas

A tragédia das inundações e escorregamentos no Rio Grande do Sul fez vítimas invisíveis que até este momento não foram reconhecidas pelos que se preocupam com o ocorrido. Neste caso, como em outros acontecidos no Brasil nos últimos anos, não são indivíduos. Os verdadeiros sujeitos da tragédia são sujeitos sociais, famílias e comunidades, sujeitos historicamente mais relevantes e menos reconhecidos da sociedade brasileira, cada vez mais ideologicamente individualista.

Os governos e a classe média, inquietos com essas ocorrências, pensam nos danos econômicos, nas perdas materiais, no desabrigo, no temor de que possam se tornar danos eleitorais. Desconhecem que os humanos não são coisas. São seres relacionais que se expressam em identidades sociais.

Flávia Oliveira - Jovem negro vivo

O Globo

Após adoção do equipamento em São Paulo, mortes decorrentes de intervenção policial caíram

O Ministério da Justiça (MJ), na Portaria sobre as diretrizes para uso de câmeras corporais por órgãos da segurança pública, listou oito valores a nortear as recomendações que condicionarão repasses federais a estados e municípios. A lista vai do respeito aos direitos fundamentais à promoção da cidadania; do reconhecimento aos agentes da lei aos princípios da legalidade e da transparência. Aos bem-intencionados, bastava uma justificativa: manter vivos os jovens negros favelados, vítimas (tragicamente) habituais da letalidade violenta, das abordagens policiais por perfilamento racial, do encarceramento em massa. É sobre isso a política pública que São Paulo, anos atrás, pôs de pé e ora desmonta.

Laura Karpuska – A juventude e a extrema direita

O Estado de S. Paulo

O contexto social e econômico pode deixar jovens suscetíveis a qualquer populismo

extrema direita está ganhando a mente e o coração dos jovens europeus. “Na França, surpreendentes 36% dos jovens de 18 a 24 anos apoiam o Rally Nacional (RN), de Marine Le Pen, enquanto 31% apoiam o Partido da Liberdade (PVV), de Geert Wilders, nos Países Baixos”, diz uma das reportagens mais lidas no Financial Times desta semana.

É difícil destacar um único motivo para a ascensão da extrema direita. Na história, a ascensão de grupos extremistas está correlacionada a crises econômicas. O mundo viveu uma grande crise em 2008 e, agora, com a pandemia, mais uma crise. Crises econômicas podem fazer com que expectativas sejam frustradas. Uma forma de canalizar a frustração é um descontentamento generalizado contra o “establishment”, abrindo a porta para candidatos extremistas.

Bruno Boghossian – O voto na renda média paulistana

Folha de S. Paulo

Grupo é quase tão numeroso quanto eleitorado mais pobre e, até aqui, tem corrida imprevisível

Um recorte da pesquisa Datafolha segundo a renda do eleitor fornece pistas importantes sobre a disputa pela Prefeitura de São Paulo. Com a vantagem de Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) até aqui, dois segmentos ganham atenção.

O primeiro grupo é a faixa com renda de até dois salários mínimos, 43% do eleitorado. Nunes lidera com 25%, seguido por Boulos (17%) e José Luiz Datena (10%). Nenhum outro candidato passa de 6%. Outros 15% declaram voto em branco ou nulo, e 6% não sabem em que votar.

Vinicius Torres Freire - Lula 3 perde e perderá no Congresso

Folha de S. Paulo

Mesmo que azeite sua política, governo tem pouco a fazer com um Parlamento reacionário

Causou impressão o baile com rasteiras que o governo Lula tomou no Congresso nesta semana. O ano inteiro tem sido assim. A consternação era menor porque as derrotas foram espalhadas.

Não se viam tantos corpos boiando de uma vez só. Mas essa estatística de fracassos políticos não é importante. O essencial é que Lula 3 quase não tem o que fazer para mudar a situação, nem jamais teve.

É possível especular que derrotas e goleadas seriam menos frequentes caso se trocassem articuladores ou se azeitasse o sistema de pagamentos para a cooperativa de feudos e currais político-financeiros que é o Congresso.

Mas tabelas de votações mostram que dinheiros ou cargos não evitam "traições" nem mesmo daquelas parcelas dos partidos que fizeram acordos mais estáveis com o governo.

Marcos Augusto Gonçalves - Direita bate tambores e Lula leva baile político

Folha de S. Paulo

Derrota em votação dos vetos, naufrágio da articulação política e acenos de elites a Tarcísio pressionam governo

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva passa por momento crítico, um inferno astral que já submeteu a grande risco a possibilidade da reeleição do petista, como se comentou aqui na semana passada. O baile na votação pelo Congresso dos vetos presidenciais do mandatário e de seu antecessor, Jair Bolsonaro, veio como sinal alarmante de que a maioria parlamentar não hesitará em desestabilizar a atual gestão para impor seus interesses pecuniários e sua agenda reacionária e irresponsável.

Hélio Schwartsman - Perigos do moralismo

Folha de S. Paulo

Brasil ainda não abraçou integralmente o liberalismo, o que explica atraso no reconhecimento de direitos

Uma das primeiras providências do Taleban depois que retomou o poder no Afeganistão foi recriar o Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício. O nome vistoso não esconde a verdadeira natureza do braço estatal encarregado de impor, pela violência, se necessário, os padrões de comportamento favorecidos pelos governantes.

Ruy Castro - Descontribuição de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Seu estilo de dar os assuntos por encerrados e sem discussão infesta hoje as redes sociais

Uma das descontribuições de Bolsonaro à língua portuguesa, além do já clássico "talkei", era a forma taxativa de encerrar suas ameaças contra a ordem constituída e as instituições democráticas. Despenteado à moda Hitler e com o desvario de um anormal, bradava "Assunto encerrado!" e, com isso, decretava o silêncio da nação sobre o tal assunto. Assunto quase sempre gravíssimo, como no dia em que, aos ouvidos de militares mochos e apalermados, decretou num palanque à porta de um quartel que não acataria mais a palavra do STF.

Luiz Gonzaga Belluzzo e Nathan Caixeta - Financeirização, confusões, história

CartaCapital

No irreconhecível capitalismo de sempre, a forma financeira é onipresente

A palavra “Financeirização” passou a circular com ares de grã-fina elegante nos bailes em que se exibem as celebridades do nosso tempo. A dama Financeirização está sempre acompanhada de seu fiel companheiro, senhor Neoliberalismo, e da comadre inquieta, Dona Globalização.

Estimulados pelos demais convivas, a trinca dança ao som dos acordes e batuques da orquestra “Capitalismo Contemporâneo”. Os críticos se dividem entre simpáticos e detratores, uns e outros exibindo laivos de moralismo que turbam a avaliação do desempenho dos dançarinos.

É mister reconhecer que muitos observadores dos rodopios um tanto abruptos da senhora Financeirização tiveram a ventura de viver ou estudar os passos suaves e elegantes das dançarinas do Bem-Estar que por 30 anos ofereceram seus talentos à fruição de mulheres e homens de seu tempo.

Poesia | Thiago de Mello - Os Estatutos do Homem

 

Música | Acreditar - Teresa Cristina canta Dona Ivone Lara (Sambabook Lives)