quinta-feira, 19 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Copom acertou ao aumentar taxa de juros

O Globo

Além de dar recado claro no combate à inflação, movimento dissipa incertezas sobre próxima gestão do BC

Era esperada a decisão do Banco Central (BC) de subir a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano. Não faltam evidências de pressão sobre os preços: a economia segue aquecida, o desemprego cai, a política fiscal do governo é expansionista, e o dólar continua alto. Diante disso tudo, não causa surpresa que as expectativas de inflação para 2024 estejam longe do centro da meta (3%). Levando tudo em consideração, o Comitê de Política Monetária (Copom) fez a opção correta ao colocar o pé no freio. Tomada por unanimidade, a decisão também transmite um recado nítido de coesão no Copom — e contribui para afastar incertezas a respeito da próxima gestão no BC, que começa em 2025.

O anúncio marca uma mudança de rota na política monetária. Entre agosto de 2023 e maio deste ano, a Selic caiu de 13,75% para 10,5%. De lá para cá, ficou estacionada. Com a subida gradual de agora, o mais provável é um novo ciclo de alta. Que ninguém se engane. A perspectiva de juro alto nunca é boa. Ao tornar o crédito mais caro, inibe o consumo e o investimento. Mas vale lembrar que adotar uma política monetária contracionista na hora certa evita males maiores no futuro, com escalada de preços e erosão no poder de compra.

Maria Hermínia Tavares - Eleições e disputas no campo das direitas

Folha de S. Paulo

Está em disputa a liderança firmada pelo ex-presidente nas eleições de 2018

Há duas eleições para a Prefeitura de São Paulo. A primeira, ostensiva, definirá o novo ocupante do 14º andar do Edifício Matarazzo, no paulistaníssimo Viaduto do Chá. Em paralelo, como apontou o cientista político Antonio Lavareda, trava-se uma espécie de primárias para decidir a liderança das direitas na Pauliceia.

O prefeito Ricardo Nunes e o autointitulado "ex-coach" Pablo Marçal têm em comum folgada vantagem sobre um grupo mais amplo onde figuram desde o destemperado Datena até uma jovem que, embora envolta na bandeira do novo, mais parece a reencarnação das marchadeiras de 1964 contra o "comunismo ateu".

A queda de braço paulistana tem inegáveis características locais: como não ver em Marçal a versão digital —e ainda mais primitiva— do velho populismo de direita que levou Jânio Quadros a se sentar duas vezes na cadeira de prefeito e alavancou a carreira de Paulo Maluf? Como esquecer do Adhemar ("rouba mas faz") de Barros ao ouvir do prefeito Nunes o quanto "fez, faz e fará" pelos mais pobres?

Merval Pereira - A distopia que vivemos

O Globo

Musk parece um daqueles vilões dos filmes de 007, ou, mais atualmente, das séries de ação de Tom Cruise, que se preparam para dominar o mundo com armas tecnológicas avançadíssimas, mas que sucumbem aos heróis que protegem o mundo

Tudo leva a crer que o ex-presidente Bolsonaro sabia da possibilidade de a rede social X, banida do território nacional pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, voltar a funcionar em algum momento ontem. Tanto que tinha pronto um texto longo sobre o tema, com críticas à decisão e uma defesa das empresas de Elon Musk. O escrito tinha características de ter sido oriundo de sua defesa jurídica, não de mensagem escrita em português peculiar pelo vereador Carlos Bolsonaro, que manipula as redes sociais para seu pai.

Foi uma clara provocação do bilionário Musk, que assumiu definitivamente o papel de militante da direita internacional. A compra do Twitter, rebatizado X, não foi um investimento financeiro, mas um lance para aumentar o potencial da atividade política de Musk. Sendo assim, o combate ao ativista internacional torna-se também um combate político, embora a base da punição no Brasil tenha sido técnica, pela falta de pagamento de multas e de representante legal no país.

Ruy Castro - A arte de prosperar, ficar rico e ser feliz

Folha de S. Paulo

Para dar o exemplo, coaches são os primeiros a prosperar, ficar ricos e ser felizes

Neste momento, há 101 influenciadores sendo investigados pela polícia no país. Alguma coisa a ver, talvez, com a biografia deles?

Pablo Marçal, 37 anos, chegado a cadeiradas por motivo justo, integrava em jovem uma quadrilha que desviava dinheiro de bancos. Depois, foi guia turístico em excursões de risco sem as devidas precauções, idealizador do imaginário kit gay e criador de um banco fantasma que aceitava depósitos. Até que se tornou coach digital e autor de livros como "A Arte de Prosperar", doutrinando seus seguidores a serem ricos e felizes. Para dar o exemplo, ele próprio prosperou, ficou rico e feliz. Hoje tem 29 empresas, um patrimônio de R$ 193 milhões e é ex-futuro prefeito de São Paulo.

Malu Gaspar – Hackeando Marçal

O Globo

A principal razão por que Pablo Marçal (PRTB) capturou uma fatia do eleitorado paulistano e se converteu na grande novidade da campanha deste ano foi a transposição, para a política, do método Marçal, que ele mesmo explica ser ancorado na economia da atenção. Nesse método, tudo gira em torno da máxima segundo a qual não importa o que se diz, mas o impacto que se causa. Quanto mais impacto, mais voto.

O que interessa é conseguir que todos falem de você, seja por bancar o palhaço em debates, por inventar propostas mirabolantes ou por abusar da agressividade e de mentiras. O próprio Marçal já disse que precisava se comportar como idiota porque é disso que o eleitor gosta. A pegada antissistema em que ele se enquadrou é um imperativo algorítmico, e não necessariamente consequência de convicções pessoais. De antissistema, afinal, o ex-coach não tem nada.

Maria Cristina Fernandes - Brasil desafia crença de que a catástrofe une

Valor Econômico

O tardio conjunto de propostas do governo em resposta à crise das queimadas na Amazônia e no Pantanal nem chegou ao Congresso mas já desafia a crença de que a catástrofe une

O tardio conjunto de propostas do governo em resposta à crise das queimadas na Amazônia e no Pantanal nem chegou ao Congresso mas já desafia a crença de que a catástrofe une. A começar pelo crédito extraordinário que, autorizado pelo Supremo, será endereçado por medida provisória em curso.

Equivale a 1,2% daquilo que está previsto para compensar o Rio Grande do Sul pelas enchentes. Apesar disso, fez pipocar alardes fiscais desproporcionais ao reduzido volume de gasto face à elevada extensão do dano. Se os R$ 40 bilhões previstos para a tragédia gaúcha são necessários à reconstrução de um Estado agrícola que enterrou 183 vítimas e desabrigou 81 mil pessoas, os R$ 514 milhões de crédito extraordinário também o são para recuperar a Amazônia e o Pantanal.

Suas chamas espalharam fumaça por 60% do território nacional e deixaram localidades onde moram 10 milhões de brasileiros em situação de emergência. Para comer, o país precisa respirar.

Bruno Boghossian - A ciranda da alta burocracia fez fumaça

Folha de S. Paulo

Da sala de situação ao conselho contra desastres, ainda falta tratar a emergência climática como uma emergência

O governo criou em junho uma sala de situação para enfrentar a seca e os incêndios no país. Na primeira reunião, o grupo discutiu formas de facilitar a contratação de brigadistas. No segundo encontro, Marina Silva disse que os órgãos federais operavam "em plenas condições" de ação. "Já sabíamos que este ano seria severo", disse a ministra.

Tudo indica que a turma daquela sala avaliou mal a situação. Nos meses seguintes, o fogo se espalhou e a fumaça tomou boa parte do território nacional. A crise chegou ao Supremo, que determinou o aumento do número de brigadistas em ação. Com quase 700 focos de incêndio registrados no ano, o presidente Lula reuniu autoridades no Planalto e admitiu: "A gente não estava 100% preparado para cuidar dessas coisas".

Eugênio Bucci - Sensações apocalípticas

O Estado de S. Paulo

Os fatos nos põem frente a frente com o exaurimento não dos impérios, não da humanidade, mas do planeta Terra

Na capa do Estado de terça-feira, uma foto mostra Brasília submersa em fumaça densa, quase opaca. Na TV, paredões de fogo se levantam e marcham. A olho nu, a fuligem se derrama sobre a cidade; filamentos de carvão vindos no vento aterrissam como libélulas no capô do automóvel de um milhão de reais. O desastre climático é um desastre social, que castiga antes os de baixo, mas quando se impõe para valer não respeita a segregação entre as classes. Não respeita nada, cobre até os astros no céu. A Lua fica vermelha, como se obedecesse ao Apocalipse (6:12): “Inteira como sangue”.

Sol prata, chuva preta (isso quando chove). Aumentam as internações nos hospitais. Sobem os óbitos por problemas respiratórios. O noticiário dá conta de que um território equivalente ao Estado de Roraima já virou cinza. A realidade se mostra pior do que as previsões da teoria.

William Waack - O preço amargo

O Estado de S. Paulo

O Fed baixando os juros e o Copom subindo a Selic são o retrato de mais uma oportunidade perdida pelo governo Lula 3. A combinação delas promete um alto preço político e econômico num horizonte próximo ao das eleições de 2026. A principal causa das taxas de juros mais altas por aqui, enquanto descem nos EUA, vem de escolhas políticas do atual governo. A principal delas foi apostar no tratamento das contas públicas via aumento da receita, e pouco empenho em cortar gastos.

A oportunidade de fazer algum ajuste nas contas via cortes foi perdida logo no começo do mandato, quando Lula deixou claro que nem queria ouvir falar disso. Apostou na expansão do gasto público como motor do crescimento e impulso do consumo. Produziu um déficit permanente nas contas – e a desconfiança nos agentes econômicos. Reforçada pelos “atalhos fiscais”, “contabilidade criativa” ou como se queira chamar os truques para dizer que despesas não são despesas.

Alex Ribeiro - Copom indica ciclo de aperto maior

Valor Econômico

Qual é a dose necessária para colocar a inflação na meta? Quem dá a pista é a combinação das projeções do comitê com o balanço de riscos

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central não assumiu nenhum compromisso firme sobre os seus passos futuros para os juros, mas ainda assim deu indicações indiretas de que o ciclo de aperto iniciado nesta quarta-feira poderá ser maior do que o previsto pelos economistas do mercado – o que, teoricamente, poderia exigir um rimo mais forte de aperto.

O BC subiu a Selic de 10,5% para 10,75% ao ano. A rigor, não há um guidance, ou uma indicação firme, sobre como e quanto vai continuar subindo. O comunicado diz apenas que “o ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

E qual é a dose necessária para colocar a inflação na meta? Quem dá a pista é a combinação das projeções de inflação do Copom com o balanço de riscos para a inflação.

Vinicius Torres Freire - O plano óbvio para evitar Selic maior

Folha de S. Paulo

Dólar e commodities mais baratos ajudam, mas remendo no arcabouço fiscal é essencial

Um ano depois de começar a baixar a Selic, o Banco Central começou a dar ré, o que era previsível desde as confusões de abril e maio deste ano. A Selic baixara de 13,5% para 10,5% ao ano. Nesta quarta-feira (18), foi a 10,75%. Sendo otimista, chega a 11,5% no início de 2025. Pelo andar atual da carruagem, vai a 12%. No comunicado em que anunciou a Selic maior, mais seco do que de hábito, o BC não disse mais nada de interesse maior. Melhor assim. Menos confusão.

O que pode contribuir para que a Selic volte a cair logo? O preço do dólar baixar, em parte graças ao aumento da diferença de taxas de juros nos EUA e no Brasil (a "Selic" deles caiu meio ponto percentual também nesta quarta). Nesta quarta, o dólar já ficou menos salgado, mas a taxa de câmbio anda volátil e difícil de prever, para variar.

Celso Ming – Copom volta a aumentar os juros

O Estado de S. Paulo

Novos apertos na Selic são inevitáveis

O mercado financeiro já esperava por esse aumento dos juros básicos (Selic), de 0,25 ponto porcentual para, 10,75% ao ano. Mas o governo Lula, grande parte dos políticos do PT, sindicalistas e empresários voltaram a fulminar a decisão, de resto acompanhada de duras advertências.

Não entendem como os membros do Copom podem ser sádicos a ponto de puxar os juros para cima a fim de combater o aumento de preços, dias depois de a inflação ter apresentado em agosto variação negativa de -0,02%. Além disso, tomaram essa decisão justamente no dia em que o Fed, o banco central dos Estados Unidos, derrubou os juros de lá em 0,5 ponto porcentual pela primeira vez em quatro anos.

Miriam Leitão - Dois rumos da política monetária

O Globo

O BC e o Fed não indicaram quais serão seus próximos passos, mas o caminho está óbvio: aqui inicia-se um ciclo de alta de juros e, lá, de queda

Os bancos centrais fizeram o que os mercados esperavam que eles fizessem. O Fed derrubou a taxa de juros em meio ponto percentual, na primeira queda em quatro anos, e o Copom subiu os juros em 0,25 ponto percentual, na primeira alta em dois anos. Brasil e Estados Unidos agora seguirão caminhos opostos, com a política monetária sendo relaxada lá e ficando mais restritiva aqui. Nenhum dos dois órgãos indicou o que fará nas próximas reuniões, mas está claro que o Fed inicia o ciclo de queda, o Copom, um ciclo de alta. A crítica política ronda os dois órgãos, mas aqui, é bom notar, a alta foi por unanimidade, até os indicados pelo presidente Lula concordaram com a elevação dos juros.

Luiz Carlos Azedo - O agronegócio precisa cair na real

Correio Braziliense

Um estudo técnico do Ministério da Agricultura concluiu que 31,8% das exportações brasileiras para a Europa poderão ser afetados por causa do desmatamento

O governo brasileiro estuda recorrer à Organização Mundial de Comércio (OMC) contra as medidas da European Union Deforestation Act (EUDR), a lei antidesmatamento da União Europeia (UE), que considera abusivas e entrarão em vigor a partir de janeiro do próximo ano. O principal objetivo da nova lei é impedir a importação de produtos originários de áreas que foram desmatadas, legalmente ou não, a partir de 2020. Entretanto, com a onda de incêndios florestais no Brasil, o governo terá muitas dificuldades para sustentar o pleito. As circunstâncias políticas na Europa também impedem qualquer possibilidade de abrandamento da nova legislação pela UE.

Na terça-feira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), recebeu a presidente do Conselho Federal da Alemanha, Manuela Schwesig, para tratar do assunto. Afirmou que o Senado continuará esse trabalho junto às delegações que virão ao Brasil para a Cúpula de Líderes do G20. O evento está agendado para 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.

*Rudá Ricci - Nem educação, nem emprego

Correio Braziliense

O atual mercado de trabalho não valoriza pessoas abaixo de 25 anos. Existe uma crença no Brasil de que jovens até essa faixa etária não têm experiência suficiente para tomar decisões no ambiente de trabalho

A situação dos jovens da chamada geração nem-nem no Brasil — aqueles que nem estudam, nem trabalham — é um retrato claro de uma série de fatores negativos que se entrelaçam e criam um ciclo de exclusão e desesperança. Os recentes dados do relatório Education at a Glance da OCDE apontam que 1 em cada 4 jovens brasileiros está nessa condição. Para além da estatística, essa realidade resulta de alguns fatores pautados por um sistema educacional falido e uma sociedade profundamente desigual.

Começamos pela qualidade do ensino médio que é, sem dúvida, um dos mais problemáticos entraves do nosso sistema educacional. Reformas sequenciais e mal planejadas para esta etapa do ensino só fizeram aumentar a insegurança de alunos e famílias, contribuindo para o descrédito de que esses três anos escolares conseguem garantir um futuro promissor.

Graziela Melo – Poema do medo

Dobrei os becos da vida,
busquei a infância perdida,
no fundo do poço
na escuridão...

Fuji do medo
das trevas,

palmilhando
as tortuosas
trilhas do coração...

Lavei a alma
na chuva,
sequei o pranto
no vento,

na branca
areia da praia
aqueci
o coração!

Caminhei
de encontro
ao sol,
espantando
a solidão...

Pois entre o céu
e a terra

existe
um mar
de paixão!!!

Música | Paulinho da Viola - Timoneiro