sábado, 8 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Proposta que anula delações de presos não deve ir adiante

O Globo

Ideia era descabida no tempo em que Lula era alvo da Lava-Jato. Continua descabida agora, a favor de Bolsonaro

Não pode prosperar a manobra que ganha terreno na Câmara para acabar com as delações premiadas feitas por réus presos. Num movimento surpreendente, deputados tiraram do baú um projeto apresentado em 2016 pelo então deputado federal Wadih Damous (PT-RJ), hoje secretário nacional do Consumidor.

Na época, quando as delações premiadas da Operação Lava-Jato causavam estrago nas fileiras petistas, e os acordos com empreiteiros presos ameaçavam o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT demonizava as colaborações e queria invalidá-las. Agora, o objetivo implícito da manobra, promovida por expoentes da oposição e do Centrão, é beneficiar o maior rival petista: o ex-presidente Jair Bolsonaro, exposto pela delação de seu ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid. Quem era a favor antes agora é contra, e quem era contra antes agora é a favor. A iniciativa sempre foi descabida.

Cristovam Buarque - Por que falhamos

Revista Veja

A República não fez da educação uma questão nacional

Quase século e meio depois da Proclamação da República, mais de 11 milhões de brasileiros adultos ainda não reconhecem a bandeira do Brasil, por não saberem ler o lema escrito nela. Metade das crianças ainda não está alfabetizada aos 8 anos de idade, apenas uma a cada cinco delas concluirá a educação de base preparada para participar do mundo contemporâneo. A República falhou porque não fez da educação uma questão nacional com estratégia de longo prazo; cada governo, mesmo quando sucede a seu próprio partido, joga nos anteriores a responsabilidade das deficiências herdadas. A República fracassou por nunca valorizar os professores como os construtores do progresso do país.

Dora Kramer - O foco nas fakes

Folha de S. Paulo

A mentira dita no horário eleitoral é tão nefasta quanto a invencionice digital

A ministra Cármen Lúcia não deixou dúvida ao tomar posse na presidência sobre qual será o foco do Tribunal Superior Eleitoral neste ano: o combate às chamadas fake news. As palavras, embora condizentes com a necessidade do tempo atual, soaram um tanto superlativas se considerada a desigualdade da briga.

De um lado, a ausência de lei que diferencie falsidades deletérias capazes de alterar o rumo de uma eleição de mentiras, às quais se desmente com a verdade. De outro, a força de uma tecnologia cuja potência se intui, mas sobre a qual não se tem ainda completo conhecimento nem instrumentos eficazes de enfrentamento.

Alvaro Costa e Silva - A praia dos ricos

Folha de S. Paulo

Indignação e treta nas redes jogaram areia na proposta

Na década de 1970, auge da especulação imobiliária na zona sul carioca e nas orlas de São Conrado e Barra da Tijuca, os cartunistas exploraram a situação olhando o futuro: praias cercadas e com roletas antes das quais o banhista tinha de pagar para ter direito a se bronzear, relaxar embaixo da barraca, dar um tchibum ou apenas molhar os pés.

Em 2013 a previsão se confirmou. Dentro do Forte de Copacabana, uma faixa de areia com 70 metros de extensão tornou-se território exclusivo, um clube de luxo para 500 felizardos que se dispunham a desembolsar uma fortuna e usufruir de camarotes, salão de beleza, banheiras de hidromassagem, apresentação de DJs, serviço de mordomo, equipe médica e segurança reforçada. "Nem em Paris os garçons entendem tanto de bebida. Posso bebericar uma taça de Veuve Clicquot e fazer escova no cabelo após mergulhar", elogiavam as frequentadoras.

Carlos Andreazza - Com que roupa?

O Estado de S. Paulo

Por que não se discute a taxação das blusinhas na sala 171 da Câmara?

Mais um projeto de incentivo à indústria automotiva foi aprovado. São décadas de protecionismo. O fracasso da competitividade agora embalado com sofisticação verde. Pela descarbonização da frota. O caô da vez. Chama-se Mover. Projeto do governo Lula. Que, sem dúvida, nos move.

Projeto do governo Dilma 3 também é o da taxação de compras internacionais até US$ 50. Assim – leio – se fará “justiça” via tributação no Brasil, pela isonomia concorrencial à indústria e ao varejo locais. Contrabando – o da taxa sobre as blusinhas – embutido no programa de carinho a industrial fabricante de carros nem artificialmente capaz de competir.

Carlos Alberto Sardenberg - A greve é contra os alunos e a sociedade

O Globo

Estudantes das federais não têm como se defender ou se proteger. Simplesmente, perdem aulas, tempo de formação

O economista André Portela formou-se pela Universidade Federal da Bahia, em 1989. Poderia ter se formado um ano antes, não fossem as greves que atrasaram o curso. E adiaram por um ano sua entrada no mercado de trabalho.

Os professores das federais estão em greve de novo. A de agora passando de dois meses. As reivindicações são as mesmas de 35 anos atrás: reajuste de salários, planos de carreira e mais dinheiro público para as universidades.

Algo está muito errado. A greve deveria ser uma exceção, um ato radical dos trabalhadores depois de negociações fracassadas. É como se a greve continuasse a negociação, por outro meio. Por que, no caso das federais, a greve tornou-se tão comum?

Líderes grevistas dizem que a resposta é simples: os docentes são trabalhadores exercendo o livre direito de greve. Mas de que trabalhadores se trata? Certamente não é o caso de falar em “classe operária” no sentido em que o conceito aparece na literatura marxista: o proletariado explorado pelo patrão e lutando contra ele. A greve é um ataque ao capital.

Eduardo Affonso - O dia seguinte

O Globo

Ao contrário das vítimas, podemos nos desconectar ao fim do dia, mudar de canal

Depois da tempestade — e antes mesmo da bonança —, costuma vir o esquecimento. As águas ainda não baixaram por completo, e o Rio Grande do Sul já não rende mais manchetes. Nesta sexta-feira, 7 de junho de 2024, não havia na primeira página da Folha ou do Estadão qualquer menção à tragédia dos gaúchos. No GLOBO, apenas uma pequena chamada.

Em menos de 40 dias, o desastre ambiental que afetou 475 municípios, desalojou mais de meio milhão de pessoas, matou 172 e deixou 42 desaparecidas — além de arrasar comunidades inteiras — já se recolheu às páginas internas dos três maiores jornais do país. Foi substituído pelo imposto das blusinhas e o foguetão do Musk, pela condenação de Trump e o perdão à rachadinha do Janones, pelo crescimento do PIB e a baixa da taxa de desemprego, pela PEC das Praias e o ‘algoritmo do ódio’, pelas eleições no México e na Índia, pelas derrotas de Lula e os ataques a Gaza. Vida que segue.

Pablo Ortellado - Condenação fez bem a Trump?

O Globo

Ao que tudo indica, a sentença produziu muito mais entusiasmo que hesitação e perda de voto

No último dia 30, o ex-presidente americano Donald Trump foi condenado por um tribunal de Nova York por ter fraudado registros fiscais no contexto da campanha de 2016, quando concorreu à Presidência contra Hillary Clinton (e venceu). Trump foi considerado culpado de ter pagado pelo silêncio de uma atriz pornô com quem é acusado de ter mantido relações extraconjugais e de ter fraudado registros fiscais. O pagamento pelo silêncio em si não é ilegal, segundo a lei americana, mas Trump fraudou os registros desses gastos apresentando-os como despesas jurídicas — e isso é considerado um crime. Ele nega as relações com a atriz e alega que o julgamento é fruto de perseguição política.

Havia muita expectativa sobre o impacto eleitoral da condenação de Trump, que, em todos os sentidos, é inédita. Ele será o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a sofrer uma condenação criminal e é o primeiro condenado a concorrer à Presidência por um dos dois grandes partidos.

Aldo Fornazieri - Desgoverno global

CartaCapital

O mundo parece mover-se como um trem sem freios, em alta velocidade e rumo ao abismo

As catástrofes climáticas estão por toda a parte. Chegaram mais cedo do que a humanidade esperava e com fúria inaudita. Enchentes devastadoras e secas desertificantes vêm ocorrendo em todos os cantos do planeta. Pessoas morrem de calor na Índia e no Canadá. Furacões intensos destroçam territórios ­norte-americanos. A Alemanha e o Rio Grande do Sul enfrentam inundações assustadoras. Nenhum continente está isento de destruições.

Os pontos de não retorno em vários biomas avançam e as tendências entrópicas do meio ambiente como um todo se agravam diariamente. O mundo parece mover-se como um trem sem freios, em alta velocidade e rumo ao abismo. O grande risco para a humanidade e todas as espécies são as transformações em curso, a indicar tendências paradoxais, para o bem e para o mal. Algumas delas indicam possibilidades de soluções colaborativas. Outras acenam para soluções divergentes, trágicas e violentas. Infelizmente, as tendências destrutivas estão ganhando o jogo.

Luiz Gonzaga Belluzzo - Os canhões do mercadismo

CartaCapital

As lições do especulador Soros ao funcionário Arminio Fraga

Em sua entrevista à Folha de S.Paulo, o ex-funcionário de George Soros, Arminio Fraga, também ex-presidente do Banco Central, lançou uma advertência a respeito da provável escolha de Lula para ocupar o posto que lhe pertenceu no Brasil.

“Se quem entrar se meter a besta, a inflação começar a subir e o mercado perder a confiança, vai ser um grande fiasco político, inclusive, e rápido. Esse discurso assim mais frouxo na política monetária só atrapalha, porque fica a desconfiança, e o custo aumenta. É uma tristeza ver como a coisa está sendo conduzida, as pressões políticas explícitas, os ataques ao BC, a ideia de que responsabilidade fiscal é uma grande maldade.”

Marcus Pestana - O estado da arte da economia brasileira

A economia determina o padrão de vida das pessoas e da sociedade. Há o movimento histórico cíclico do desenvolvimento econômico, que depende de fatores estruturais, e também, as intervenções governamentais através da política econômica (juros, câmbio, tributação, gasto público, políticas públicas visando aumento da produtividade). Os objetivos estratégicos de qualquer sociedade que orientam a política econômica são: i. crescimento econômico para gerar renda e emprego para as pessoas; ii. estabilidade, evitando inflação crônica e aguda, assim como estrangulamento cambial ou fiscal; iii. distribuição de renda e riqueza equilibrada e justa; e, iv. sustentabilidade ambiental.

Poesia | Receita de Mulher - De e na voz de : Vinicius de Moraes

 

Música | Jackson do Pandeiro - Forró em Limoeiro