terça-feira, 12 de novembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Crime em aeroporto expõe urgência de política de segurança

O Globo

Assassinato de delator do PCC mostra poderio das facções. Sem unir estados e governo federal, é impossível combatê-las

O assassinato, na área de desembarque do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, de um empresário que delatara crimes do Primeiro Comando da Capital (PCC) é a imagem sem filtros do poder crescente e letal das facções criminosas. Em plena tarde de sexta-feira, no terminal mais movimentado do país, ele foi executado com dez tiros, disparados por dois homens encapuzados que saltaram de um carro. As balas atingiram também um motorista de aplicativo que morreu no sábado e outros dois inocentes.

O empresário, acusado de lavar dinheiro para o PCC e de ter mandado matar dois integrantes da facção em 2021, fechara em março acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo. Suas informações levaram à prisão de dois policiais civis lotados no Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc). “Tenho comprovantes de pagamento, tenho contrato, tenho matrícula, tenho as contas de onde vinham o dinheiro, então dá para a gente fazer o caminho inverso”, disse ele ao MP, segundo reportagem do Jornal Nacional. Costumava ter escolta particular, mas no dia da execução ela não chegou. A alegação é que o carro quebrou. Os PMs que integravam essa escolta foram afastados.

Desafio inócuo - Merval Pereira

O Globo

Lula erra ao transformar o mercado em vilão, quando deveria entender que ele é, essencialmente, um instrumento democrático 

O presidente Lula desafiar “o mercado” para uma luta em campo aberto justamente quando se discute o corte de gastos para equilibrar as finanças do país não é apenas demonstrar desconhecimento do que seja esse tal de mercado, mas informar que não está disposto a ceder às exigências de cortes porque entende que ele tem “gana especulativa” e age com “uma certa hipocrisia”.

O presidente pode até ter razão ao criticar a ganância de alguns investidores, mas erra ao transformar o mercado em vilão, quando deveria entender que ele é, essencialmente, um instrumento democrático ao difundir informações e exprimir uma tendência da opinião pública. O economista austríaco liberal Friedrich Hayek defendia o mercado como transmissor de informação e estimulador da criatividade, levando à análise dos riscos econômicos e sociais do aumento do papel do Estado.

Patrimonialismo americano – Pedro Doria

O Globo

No final da semana passada, o senador republicano Mike Lee publicou na plataforma X um post curto. Argumentou que o Federal Reserve, o banco central americano, deveria ser controlado pelo presidente da República. Imediatamente Elon Musk retuitou a mensagem de Lee. Entrou na campanha pelo fim do banco central independente. Enquanto isso, as criptomoedas todas disparavam como não se via há anos. Bitcoins voltaram a valer muito.

Para quem é atento, não há surpresa. Donald Trump é iliberal. Não quer banco central independente, deseja tarifas comerciais altas, despreza organismos multilaterais na gerência do globo. Tudo que o pensamento liberal criou nos últimos cem anos, Trump abomina. Por isso, tampouco deveria ser surpresa ver patrimonialismo, igualzinho ao nosso, brasileiríssimo, surgindo por lá. Neste exato momento, Musk e uma dúzia de bilionários do Vale do Silício já começaram a aumentar suas fortunas inflando o valor das criptomoedas.

Pedras no caminho de Baku a Belém - Míriam Leitão

O Globo

Entre a COP no Azerbaijão e a do Brasil, o mundo vai enfrentar muitos desafios, como a nova presidência dos Estados Unidos

Era para Baku ser uma preparação para Belém. Na capital do Pará, o Brasil quer consolidar um patamar mais alto de combate à mudança climática. A primeira pedra nesse caminho é Donald Trump que ontem mesmo, ao anunciar a nova administração da Agência de Proteção Ambiental, disse que a função será “desregulamentar”. A outra pedra é o próprio petróleo. Se em Dubai foi comemorado o discreto compromisso de redução do uso do petróleo, agora no Azerbaijão há pouca esperança de que esse assunto avance, até pelo fato de o país ser produtor petrolífero e depender dele. Além disso, Trump avisou que vai acelerar a produção de combustível fóssil.

Deportação ameaça brasileiros nos EUA – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Antes, a esmagadora maioria procurava ganhar a vida à própria sorte, mas hoje é um público mais diversificado: investidores, aposentados, profissionais de alta qualificação

Ao anunciar que Tom Homan será o diretor da agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE), o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, gerou grande insegurança na comunidade brasileira residente nos Estados Unidos, que chega a 1,9 milhão de pessoas, centenas de milhares em situação ilegal. “Eu conheço Tom há muito tempo e não há ninguém melhor para policiar e controlar nossas fronteiras”, afirmou Trump em sua rede social, a Truth Social.

Thomas Douglas Homan, esse é o nome completo, foi diretor interino da agência de Imigração de janeiro de 2017 a junho de 2018, durante o governo Trump. Grandalhão, louro de olhos azuis, notório “supremacista” branco, defende “tolerância zero” com imigrantes sem documentação em dia e a construção de barreiras físicas na fronteira com o México, principalmente o muro, uma das principais bandeiras de campanha de Trump. Agora, ficará encarregado de todas as deportações de imigrantes ilegais de volta ao seu país de origem.

Congresso não larga o osso das emendas - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Os parlamentares têm em Flávio Dino antagonista difícil de ser ludibriado

De poder conquistado não se abre mão, a menos que um grave e intransponível impedimento obrigue a isso. É uma constatação baseada em fatos semelhantes ao fato de que o Legislativo resistirá o quanto puder a largar o osso do uso avançado das emendas parlamentares sobre o Orçamento da União.

Os congressistas têm pela frente um daqueles duros de roer na figura do ministro Flávio Dino, cujos atributos para além da atividade jurídica o tornam um antagonista difícil de ser ludibriado. Próximo ao Planalto, experiente no Executivo e traquejado no ofício de parlamentar, Dino sabe por onde as pedras rolas e as cobras andam.

Precisamos falar sobre os ‘bros’ - Juliano Spyer

Folha de S. Paulo  

Quem é Dana White, o promotor de lutas celebrado por Trump no discurso da vitória

Logo antes da eleição presidencial nos Estados Unidos, a revista The Economist questionou: será que os "bros" (homens jovens) de Donald Trump comparecerão para votar? Poucos dias depois, descobrimos que sim, eles votaram.

Esta foi uma eleição surpreendente por pelo menos dois motivos: primeiro, nenhum instituto de pesquisa se arriscava a prever o vencedor; mas a contagem de votos revelou um apoio desproporcional ao candidato republicano.

Os motivos para esse resultado estão sendo analisados agora. Eleitores —não apenas brancos— optaram por Trump ao sentirem a perda de poder de compra. Mas há um aspecto subestimado: o da masculinidade. Ou, como descreveu a Economist, os "bros".

Durante a campanha, o nome mais mencionado pela imprensa, além do próprio candidato republicano, foi o do bilionário Elon Musk. No entanto ele não estava presente no palco durante os discursos de vitória de Trump e seu vice. A única pessoa fora do círculo familiar dos eleitos era Dana White, presidente do UFC.

Trump vence, Bolsonaro escreve - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

O texto do ex-presidente serve como registro de uma forma de ver o momento

Tem gente indignada por Jair Bolsonaro ter publicado um artigo na Folha. Não entenderam nada. Sonham com um mundo no qual a imprensa determina quem tem voz. Na realidade atual, o papel que melhor cabe a um jornal de relevo é justamente ser palco para as diferentes vozes, permitindo que todos possamos melhor ouvi-las e julgá-las.

No caso, o artigo triunfalista de Bolsonaro pouco nos informa sobre seu apreço pela democracia que diz defender. Suas ações quando perdeu em 2022 falam mais alto. Serve, no entanto, como registro de uma forma de encarar este momento: finalmente a política ouve o cidadão comum, que é de direita, contrariando décadas de discurso da mídia e das elites culturais.

Insensatez: pode vir mais um ‘voo de galinha’ - Pedro Cafardo

Valor Econômico

Pressão fiscalista interna, exagerada e quase histérica, eleva o risco de se estancar o crescimento, aumentar o desemprego

A semana passada foi angustiante. Nos EUA, contrariando as pesquisas, Donald Trump elegeu-se presidente com larga margem de votos e ganhou maioria no Parlamento. Aqui no Brasil, o Banco Central aumentou a taxa de juros enquanto o governo Lula preparava o anúncio de cortes nos gastos públicos.

Trump fez várias promessas na campanha, algumas preocupantes na área econômica. Prometeu sobretaxar as importações americanas, com óbvias repercussões no comércio global: criar imposto de 10% a 20% para produtos provenientes de todos os países e de 60% para os da China. Prometeu aplicar sanções a países que não usarem o dólar em suas transações internacionais, uma ameaça ao bloco do Brics. E, para não estender mais a lista, prometeu fechar as fronteiras do país e deportar milhões de imigrantes ilegais.

Escala 6x1 evita que pauta seja dominada pelos cortes - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Proposta do Psol tem pouca viabilidade, mas evita que a pauta do campo progressista seja dominada pela repercussão negativa dos cortes

Depois de perder a única prefeitura que comandava, Belém (PA), onde o prefeito e candidato à reeleição, Edmilson Rodrigues, não chegou a 10% dos votos, ver sua bancada de vereadores se reduzir para aquém de partidos como o PRTB, e registrar, em São Paulo, o mesmo percentual de votos a despeito de ter gasto 16 vezes mais, o Psol resolveu bombar a proposta que acaba com a semana de seis dias trabalhados por um de folga.

Para sair das cordas, funcionou. A proposta do Psol é a única do campo progressista a pautar o debate público. Enfrentou ainda o estigma de um partido dominado pela pauta identitária ao projetar a deputada trans Erika Hilton (SP), líder do Psol, como autora da PEC. Apresentada em maio, a proposta é uma variação da pauta do movimento “Pela vida além do trabalho”, ambos em torno da redução da jornada de trabalho de 44 horas, lançado na mesma época pelo ex-balconista Rick Azevedo, que acabaria se tornando não apenas o vereador mais votado do Psol como o dono de um mandatos mais baratos do país - R$ 2 por voto (o de Guilherme Boulos custou R$ 38).

Quem tem medo da PF? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A ação federal no caso do delator morto em São Paulo é tão essencial como foi no de Marielle no Rio

O assassinato audacioso de um delator do PCC, à luz do dia, no aeroporto internacional do principal Estado do País, confirma brutalmente o quanto o crime organizado está ganhando a guerra, faz o que quer e está infiltrado nas instâncias de poder e nas polícias. Logo, é fundamental acelerar o pacote antiviolência do Ministério da Justiça e, finalmente, com absurdo atraso, conferir mais poder de atuação da Polícia Federal – obviamente, com os correspondentes recursos financeiros e humanos.

O delator morto, Antônio Vinícius Gritzbach, que vem sendo equivocadamente chamado de “empresário”, era parte do esquema criminoso, foi preso sob acusação de assassinato e, só então, com patrimônio milionário, decidiu fazer delação premiada para amenizar sua pena. Ele estava dentro do esquema, sabia muito, era uma testemunha-chave, um troféu para a investigação.

O impacto da eleição de Trump sobre o Brasil - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

Algumas promessas de campanha e declarações do presidente eleito certamente devem estar causando preocupação ao governo brasileiro

A eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA terá não só profundas repercussões na política interna norte-americana, como também no cenário internacional, com forte impacto na geopolítica, na economia global e em alguns temas globais, como meio ambiente, mudança do clima, imigração, transição energética e avanço da direita. Ajustes, acomodações e resistências acontecerão em função das mudanças prometidas, a partir de janeiro.

As políticas econômicas e comerciais do governo Trump, se cumpridas as promessas, em função de políticas expansionistas para criar empregos, medidas nacionalistas e protecionistas de política industrial, com o consequente reflexo na inflação, no déficit público e na taxa de juros do Federal Reserve (Fed), poderão impactar o comportamento do dólar, a inflação e a taxa de juros no Brasil.

A fábula como ilustração da casa comum e o legado para os que virão - Marcio Junior*

Voto Positivo 

Pedrinho sonhou. Sonhou que estava sentado numa pedra, com os olhos nos carneiros do rebanho. Súbito, foram se sumindo os carneiros e apareceu uma estrada que ia perder-se nas montanhas azuis. Um vulto vinha vindo pela estrada. Um homem... Um velho de andar trôpego...

O velho chegou e sentou-se na pedra.

− É daqui? – Perguntou Pedrinho.

− Sou de todos os lugares e todos os tempos. Sou a história.

Pedrinho encarou-o, surpreso. O velho não era mais o velho, sim uma deidade semelhante a certa figura feminina que ele vira no Partenão, com a cara de musa.

Monteiro Lobato. O Minotauro. P. 106.

Não é preciso procura exaustiva para percebermos que estamos lendo mal; a Progress in International Reading Literacy Study (Estudo Internacional de Progresso em Leitura) - PIRLS 2021 demonstrou que há uma dificuldade das nossas crianças em ler e interpretar textos, sejam eles informativos ou literários, e que essa dificuldade atinge não só um grande número de crianças, sendo apenas um pequeno número delas as que conseguem ler, no 4° ano do Ensino Fundamental, de forma minimamente satisfatória e que vai proporcionar base para aprender, ao longo do tempo, por meio de textos.

Poesia | O Sonho, de Pablo Neruda

 

Música | Chico Buarque - Futuros amantes