quarta-feira, 5 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

TSE na luta contra as fake News

Correio Braziliense

A política é feita de diálogo entre diferentes, e muitas vezes divergentes, e não de inimigos que precisam se anular

A democracia é um valor inegociável. A afirmativa é inquestionável para as sociedades depois do pós-guerras, mas cada vez mais o modelo democrático como o conhecemos até hoje se vê ameaçado, com tentativas populistas e golpistas de perpetuação no poder ao redor do planeta. É preciso que as instituições combatam com o vigor necessário essas iniciativas para que nações não se vejam envoltas em regimes totalitários. Ao tomar posse no comando do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta segunda-feira, a ministra Cármen Lúcia prometeu combater "a mentira digital" contra as eleições, dando sequência ao que fez o ministro Alexandre de Moraes como presidente da corte eleitoral, a quem ela exaltou. À frente do TSE nos próximos dois anos e responsável por conduzir as eleições municipais, Cármen Lúcia promete não dar trégua ao que considera ser o que corrói a democracia.

Vera Magalhães - Governo fraco vai ao sabor do vento

O Globo

Ao minimizar dificuldades no Congresso e se omitir em questões cruciais, Lula evidencia momento de crise de governabilidade

Lula tem como uma de suas características mais essenciais o fato de, em público, nunca reconhecer que as coisas vão mal em casa. No máximo, distribui uns puxões de orelha, reconhece um tropeço ou outro, mas falhas estruturais em seus governos ou nos do PT, aí não.

A semana começou com o presidente tardiamente reunindo seus líderes para colocar uma fechadura na porta arrombada do Congresso. Escalados para relatar o tom do encontro, o ministro Alexandre Padilha, deputados e senadores presentes trataram de minimizar as últimas derrotas, creditando-as somente ao fato de o governo não ter maioria no Parlamento para temas da “pauta de costumes” — uma redução grosseira do tamanho do problema.

Mas nem bem raiou o dia seguinte, e o resultado do PIB levemente mais gordinho no primeiro trimestre já transformou a (leve) cautela da véspera em euforia, com Lula cravando nas redes sociais que os dados seriam a “prova” dos acertos do governo.

Bruno Boghossian – Uma coalizão pela metade

Folha de S. Paulo

'Pacto de governabilidade' com o centrão exibe um governo que depende de uma bancada conservadora

As derrotas sofridas no Congresso levaram o governo Lula a traçar de maneira nítida os limites de atuação política deste mandato. Operadores do presidente deixaram claro como nunca que o Planalto pretende se concentrar na agenda econômica e poupar energias quando o assunto esbarrar na pauta conservadora.

Essa escolha foi apresentada de maneira crua pelo líder do governo no Congresso. O senador Randolfe Rodrigues disse à Folha que o "pacto de governabilidade" de Lula com partidos de centro-direita (em especial PSD, União Brasil, PP e Republicanos) envolve "emprego e comida na mesa", sem incluir temas de costumes e segurança pública.

Luiz Carlos Azedo - Taxação das blusinhas sai de pauta e gera impasse

Correio Braziliense

Relator do projeto de lei que institui o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover) disse que a alíquota de 20% em compras internacionais até US$ 50 é um “corpo estranho”

O plenário do Senado adiou para esta quarta-feira a votação do projeto de lei que institui o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover). O relator da matéria, Rodrigo Cunha (Podemos-AL), retirou do parecer o “jabuti”, aprovado na Câmara na última semana, que estabelece a cobrança de uma alíquota de 20% sobre as compras internacionais de até US$ 50. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), diante da retirada, reclamou com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e pediu para adiar a votação. As bancadas do MDB, União Brasil e PP são a favor da manutenção da taxação.

O pedido de adiamento foi feito pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que argumentou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende vetar uma série de dispositivos que são parte da taxação. Esse encaminhamento criou mais um atrito com Lira, que revelou ter negociado a aprovação da cobrança com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por intermédio do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Ele avisou a Haddad que negociava com “um só governo”.

Wilson Gomes - É isto um debate público?

Folha de S. Paulo

Começo a duvidar de que haja um sentimento sincero de ultraje moral nessa conduta

Na semana passada, escrevi sobre como valores como tolerância, racionalidade e confiança recíproca foram drenados do debate público nacional, deixando em seu lugar a aridez dos conflitos buscados a todo custo e sem razão substancial. O que torna impossível tanto uma convivência política não beligerante quanto a negociação de projetos comuns.

Expresso esse lamento não por alguma nostalgia de um passado mítico em que o lobo pastava com o cordeiro ou por alguma utopia de futuro em que cidadãos socráticos resolvem seus inevitáveis desacordos numa troca aberta e leal de razões, orientada exclusivamente pelo princípio de que o melhor argumento deve prevalecer.

Vivemos em uma sociedade pluralista, em que as diferenças são cada vez mais numerosas e conscientemente elaboradas. Ou a nossa jovem democracia, um projeto experimental perene, encontra uma maneira de acomodar e negociar essas diferenças, ou será substituída por um regime autocrático liderado pela parte mais forte, como se tentou fazer em 8 de janeiro.

Elio Gaspari - Há fumaça no acordo com os planos

O Globo

No escurinho de Brasília, o filme termina ferrando as vítimas

Sente-se forte cheiro de queimado no acordo verbal fechado há duas semanas pelas operadoras de saúde com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. À primeira vista, foi um alívio. Depois de cancelarem os planos de dezenas de milhares de pessoas, inclusive de uma senhora de 102 anos, freguesa da Unimed desde 2009, com mensalidade de R$ 9.300, as empresas comprometeram-se a suspender o massacre.

À segunda vista, o negócio não é bem assim. Pelo menos 30 mil vítimas ficarão sem contrato, e a Pax Liresca durará enquanto tramitar, nas palavras do doutor Lira, “uma proposta legislativa que tenha a possibilidade de inovar”.

Tradução: o problema foi remetido ao escurinho de Brasília. Todas as malfeitorias das operadoras baseiam-se em leis ou normas produzidas naquele mundo de sombras. É só lembrar que, em 2020, as operadoras relutaram em cobrir o pagamento dos testes de laboratório para detecção da Covid-19. Afinal, o rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde não falava de testes para uma doença que havia acabado de aparecer. A negociação com Lira teria impedido a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Depois da CPI da Americanas, impedi-las tornou-se um serviço público.

Fernando Exman - Lira dá as cartas e prepara novos passos

Valor Econômico

O café de Arthur Lira segue quente. Nos últimos dias, ele lembrou a todos que contam os dias para vê-lo longe da presidência da Câmara como é poderosa a sua cadeira, ainda que a campanha para a sua sucessão já esteja na rua.

A despeito das reservas que seu nome enfrenta no Palácio do Planalto, enviou alertas aos seus interlocutores de que eram inevitáveis as derrotas do governo nas sessões em que o Congresso apreciou vetos presidenciais. Tinha o termômetro do plenário, e avisou que de nada valeria adiar as votações. Em outra frente, decidiu avocar a solução de questões polêmicas envolvendo setores econômicos que vinham sendo adiadas pelo Executivo, mas receberam acolhimento no caleidoscópio de interesses que refletem a atuação do Legislativo.

Hélio Schwartsman - Tem arenque na praia

Folha de S. Paulo

Esquerda utilizou fake news para se opor a PEC sobre terrenos de marinha

Sou contra a mal chamada PEC das Praias, mas o que me impressiona nesse caso é que a polarização está gerando um nível de ruído que compromete a própria discussão.

Opositores da emenda afirmaram que ela levaria à privatização das praias do país. Seria um ótimo argumento contra a medida, se ele fosse verdadeiro, mas não é. A PEC nem trata de praias, mas dos terrenos de marinha, isto é, áreas que ficam acima da linha da areia —mais especificamente, o que fica na faixa das 15 braças craveiras (33 metros) a contar da preamar média de 1831— e já são hoje concedidas a particulares mediante o pagamento de taxas específicas. Pelo atual regime, quem ocupa legalmente um terreno de marinha já pode fazer uso privativo dele e nele construir. Pode também transmiti-lo a terceiros, inclusive herdeiros. Em algumas situações, já pode até comprá-lo e tornar-se proprietário de fato e de direito.

Lu Aiko Otta - Drenagem urbana sob holofotes após RS

Valor Econômico

Obras de drenagem têm recebido pouca atenção porque são caras e seus benefícios não são percebidos com facilidade pela população

À beira do Lago Paranoá, a 4,4 quilômetros do Palácio do Planalto, tratores rasgam a terra vermelha para construir um grande reservatório, com capacidade de 96 mil metros cúbicos, para as águas pluviais de Brasília. Como todo o planeta, a capital federal enfrenta os efeitos da mudança do clima. As chuvas de verão têm colocado as avenidas cuidadosamente planejadas da cidade debaixo d’água com uma frequência que não se via há apenas uma década.

Historicamente, obras de drenagem têm recebido pouca atenção porque são caras e seus benefícios não são percebidos com facilidade pela população. Por isso, os políticos que eventualmente as patrocinam têm dificuldade em colher dividendos, comentou o economista Gesner Oliveira, ex-presidente da Sabesp e sócio da GO Associados. “Tivemos de viver uma tragédia como a do Rio Grande do Sul para o problema se tornar mais concreto.”

Zeina Latif - Tranquilidade aparente

O Globo

A precaução passa por recuperar a capacidade fiscal do Estado

O mundo se defronta com muitos problemas que eram ignorados ou desconhecidos na virada deste século, por falta de informações ou instrumentos para análise. No entanto, crise financeira, pandemia, guerras e eventos climáticos mudaram essa percepção. Uma boa caracterização do atual estado do mundo é de grandes incertezas.

Apesar disso, os atuais níveis de volatilidade nos mercados mundiais estão próximos das mínimas históricas, em meio à valorização de ativos, deixando uma impressão de calmaria. Não é bem assim. O que ocorre é a incapacidade de traçar cenários nessas circunstâncias, e o problema está na dificuldade de atribuir probabilidades a essas fontes de incerteza.

Vinicius Torres Freire - PIBão, PIBinho e os anos 20

Folha de S. Paulo

Lula 1 e 2 foi de PIBão, década de 10 foi de desastre e 2024 corre o risco

A economia brasileira cresceu 0,8% no primeiro trimestre de 2024 em relação ao último trimestre de 2023, como previsto. Para o número ficar menos impalpável, vamos fazer o exercício de imaginar que a economia crescesse a esse ritmo, trimestre ante trimestre, até o fim deste ano. O crescimento de 2024 seria de algo perto de 2,2%. Em 2023, havia sido de 2,9%. Em 2022, de 3%.

Ruim? Dadas as expectativas e previsões, muito erradas em 2022 e 2023, de modo algum.

Dado o crescimento médio que se viu de 2017 a 2019, de 1,4% ao ano, também não (trata-se do período entre a Grande Recessão de 2014-2016 e a epidemia, de 2020).

Dadas as previsões de crescimento potencial de 1,5%, também não é um ritmo ruim. Crescimento potencial: em tese e sem mudanças produtivas relevantes, o crescimento regular que o país poderia ter sem correr o risco de alta da inflação ou passar por outros desequilíbrios incapacitantes, por exemplo.

Marcelo Godoy - Banda podre da polícia agradece

O Estado de S. Paulo

Coronel diz que decisão de permitir desligar as câmeras só interessa a quem ‘faz coisa errada’

O coronel José Alexander de Albuquerque Freixo concluiu 33 dias de caminhada até Santiago de Compostela. Deve ter ido procurar respostas. Ex-subcomandante da PM paulista, ele foi destituído pelo governador Tarcísio de Freitas quando este preparava o fim das gravações contínuas das câmeras corporais da polícia.

Uma primeira resposta foi dada por Albert Camus. Ele contava que o pai, ao assistir à execução de um facínora na guilhotina, vomitou. E concluía: “A Justiça que faz vomitar o homem justo não é Justiça”. Há quem acredite combater o crime só com a força. A autorização para os PMs desligarem as câmeras vai além dessa dimensão; ela afeta a eficiência policial. Esta não existe sem comando e controle.

Nicolau da Rocha Cavalcanti - O Brasil invisível aos olhos da esquerda

O Estado de S. Paulo

Sem compreender o país que governa, o exercício do poder torna-se fonte de perplexidade, confusão, divisão e ineficácia

A Presidência de Jair Bolsonaro fez muito mal ao País (cf. artigo A machadada totalitária de Bolsonaro, 13/10/2022). Mas a verdade é que, mesmo após o término do seu governo, mesmo depois de a Justiça Eleitoral declará-lo inelegível, continuamos enredados na irracionalidade, no acirramento de ânimos, na ausência de diálogo sobre os temas fundamentais do País.

É possível – trata-se de uma escolha – continuar responsabilizando Jair Bolsonaro pelo atual estado de coisas. Afinal, ele causou danos profundos e duradouros na política, na administração pública, no ambiente informativo, no imaginário coletivo. Mas, a meu ver, essa escolha, além de diversionista, é improdutiva. É preciso exigir de quem está agora no poder, nas várias esferas, a capacidade de reagir a tudo isso. Nessa matéria, a responsabilidade recai especialmente sobre Luiz Inácio Lula da Silva.

Martin Wolf - O nacionalismo ameaça a ordem mundial

Valor Econômico

Ocidente precisa sobreviver como uma comunidade de democracias liberais e terá perdido a luta se o nacionalismo autoritário destruir isso

próximo presidente dos Estados Unidos declara que seu país não cumprirá mais o compromisso assumido sob o tratado da Otan, de sair em defesa de um membro da organização. Os europeus não conseguem encontrar um substituto confiável. Temendo a ameaça de uma Rússia revanchista, alguns passam a ser leais à Rússia e à China. A Europa se dissolve.

Isso é plausível? Espero que não. Mesmo assim, por trás do pesadelo está a realidade. Estamos entrando em um período de ressurgimento do nacionalismo, da xenofobia e do autoritarismo.

Como Oscar Wilde poderia ter observado: “Eleger Donald Trump presidente uma vez pode ser considerado um infortúnio, mas elegê-lo duas vezes parece descuido”. Sua volta indicaria algo muito perturbador sobre o estado da superpotência ocidental.

Robert Kagan, da Brookings Institution, observa em um podcast que fez comigo que a proximidade de Trump com o poder se deve a forças antiliberais poderosas. As implicações dessas atitudes para a democracia dos EUA são preocupantes. Mas essa preocupação não está limitada ao âmbito interno.

Poesia | Graziela Melo - A morte

A morte

É uma meia volta

que não tem volta!

Só tem ida!

É como

um beco

que não tem

saída!

No dia,

os vivos

te molham

em copioso

pranto...

mas logo

esquecem

do teu

encanto

e se reengajam

nas seduções

da vida!

Poesia | Ferreira Gullar recitando Poema Sujo 001 (IMS)

 

Música | Um Carioca vive morrendo de amor Dori Caymmi e Joyce Moreno, MPB4, Zé Renato