terça-feira, 25 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Legalizar cassinos e jogos de azar é a melhor solução

O Globo

Não faltam exemplos no mundo para inspirar legisladores a mitigar os riscos associados à atividade

Desde 1946, quando cassinos e jogos de azar foram proibidos no Brasil, nada impediu que a jogatina se expandisse na clandestinidade — basta lembrar a popularidade do jogo do bicho. O Estado se tornou o único banqueiro autorizado com as loterias, mas o poder público deixou de exercer sua função de regulador. Com a internet, o brasileiro passou a apostar em sites no exterior, sem ter a quem reclamar caso enganado. Só com a recente regulamentação das apostas esportivas a situação começou a mudar. Um novo passo é o Projeto de Lei que legaliza cassinos, bingos e o jogo do bicho, aprovado na Câmara e na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Passados 78 anos da proibição, está claro que a melhor alternativa é legalizar o jogo. É preciso, é verdade, tomar cuidados para mitigar riscos como lavagem de dinheiro ou dependência dos apostadores. Mas há formas de punir responsáveis por manipulações criminosas. E sobram exemplos no mundo para inspirar a regulação de cassinos e outras modalidades de apostas. “Os indicadores econômicos e sociais dos países melhoraram, não houve aumento da violência nem da evasão fiscal”, diz o senador Irajá (PSD-TO), relator do projeto na CCJ do Senado.

Merval Pereira - Sinais para o futuro

O Globo

Lula parece ter compreendido que precisa dos órfãos do PSDB, de centro-esquerda, para combater a direita

O presidente Lula — que passou os últimos anos tentando jogar o PSDB e o ex-presidente Fernando Henrique para a direita como parte de uma estratégia política que visava a isolar seu principal rival partidário — foi ontem visitá-lo em São Paulo, no mesmo roteiro que o levou a Noam Chomsky e ao escritor Raduan Nassar, dois próceres da esquerda. Pelo menos no momento em que se comemoram os 30 anos do Plano Real, que na origem o PT chamou de “estelionato eleitoral”, Lula parece ter compreendido que precisa dos órfãos do PSDB, de centro-esquerda, para combater a direita.

A direita, a reboque de seus extremistas, absorveu quase integralmente os eleitores tucanos num primeiro movimento de rejeição ao petismo, que desaguou na eleição de Bolsonaro em 2018. Depois do desastre que foi seu governo, parte desses tucanos votou no PT, uns pela primeira vez na vida cívica, para tentar recuperar a força da social-democracia. O terceiro governo de Lula, no entanto, não tem dado a esses eleitores, e não apenas a eles, a expectativa de um futuro melhor, mesmo que o clima político tenha amenizado.

Míriam Leitão - As causas do fogo no Pantanal

O Globo

O incêndio no bioma tem diversas razões, todas ligadas ao desmatamento e à conversão de áreas para a agricultura e pecuária

"O Pantanal está secando. Literalmente secando”, diz o engenheiro florestal e ambientalista Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. São várias as razões, todas ligadas ao desmatamento e à conversão de áreas para a agricultura e pecuária. Estamos longe do período em que geralmente há incêndio, o normal é que seja lá para agosto ou setembro. Por que está batendo recorde de focos de calor antes da época? Porque este ano não teve cheia. O regime de águas no bioma das águas está mudando. Isso está conectado com o que acontece em outros biomas.

Luiz Carlos Azedo - A caixa d’água do Brasil está pegando fogo

Correio Braziliense

A greve dos agentes ambientais, cujo papel na defesa dos biomas é fundamental, em meio às queimadas, chantageia um governo que mudou o tratamento dado à questão ambiental

O governo foi pego de surpresa em relação às queimadas, mas não foi por falta de advertência das instituições responsáveis pelo monitoramento do clima nem da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Depois das enchentes no Rio Grande Sul, que se enquadram na categoria dos eventos extremos, os incêndios no Pantanal e no Cerrado estão só começando — e já são avassaladores.

Ontem, no Palácio do Planalto, Marina se reuniu com o gabinete de crise formado também pelos ministros Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Valdez Góes (Integração), além da secretária-executiva da Casa Civil Miriam Belchior, que substitui o ministro Rui Costa, em férias. A situação é ainda mais crítica porque os servidores dos órgãos ambientais anunciaram, também ontem, uma greve por tempo indeterminado. Ou seja, o governo federal está com as mãos atadas.

Hélio Schwartsman - Superprodução de elites

Folha de S. Paulo

Jovens bem formados e sem emprego fortalecem a direita radical?

Mesmo que o presidente Emmanuel Macron consiga evitar que o Rassemblement National (RN) saia com um primeiro-ministro das eleições legislativas que começam no próximo domingo (30), é líquido e certo que o grupo da ultradireita avançará várias casas. E, a crer nas pesquisas, os jovens são em grande medida responsáveis pelo crescimento do partido comandado por Marine Le Pen.

Boa parte da imprensa se pergunta como jovens, cujos avós deflagraram a revolução sexual e cujos pais asseguravam boas votações a partidos de esquerda, puderam ir tão para a direita. Sabe-se que a orientação política tem forte componente hereditário.

Dora Kramer - Arthur Lira derrapa na rampa

Folha de S. Paulo

Deputado caminhava bem, até decidir render homenagem à obsolescência legislativa

O poder é bicho traiçoeiro. Tanto confere altitude ao dono como lhe retira de sob os pés a escada quando a esperteza despreza os conselhos do bom senso. É nessa zona de perigo que entrou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PL), ao abrir o baú de anacronismos para atrair a ala reacionária do eleitorado interno ao plano de fazer o sucessor.

O deputado pode, e tudo indica que conseguirá, eleger o substituto em fevereiro de 2025. Mas se arrisca a sair do posto menor do que entrou e a descer a rampa do Congresso Nacional sob a égide de inimigo da opinião pública representada pela instituição que preside.

Joel Pinheiro da Fonseca - Responsabilidade e vontade política

Folha de S. Paulo

Qualquer alta da receita é neutralizada por aumento de gastos obrigatório

Nenhuma regra, por si só, garante seu próprio cumprimento: se governo e Congresso quiserem, ela será violada. Vimos isso com as sucessivas violações do teto de gastos e agora com o novo arcabouço. Quando o tema é gasto público (ou isenção tributária, o que dá no mesmo), Lula e a maioria dos deputados e senadores estão juntos: querem sempre mais. Sem vontade política, as regras são só palavras mortas num papel.

No momento, quem pressiona por algum tipo de responsabilidade fiscal são o ministro da Fazenda, a ministra do Planejamento e os sinais preocupantes que vêm do mercado. Lembrando que responsabilidade fiscal não significa nenhum tipo de austericídio caricato, mas simplesmente que o aumento de despesas se dê de forma controlada, sem que a relação dívida/PIB cresça de maneira explosiva.

Andrea Jubé - O Lula de 2002 ajuda a decifrar o de 2024

Valor Econômico

Passado bate à porta provocando reflexão sobre o presente e o futuro

Na era da velocidade, do instantâneo Instagram, do conciso X (o ex-Twitter), quando tudo soa efêmero, o passado bate à porta provocando uma reflexão sobre o presente e o futuro. Por isso, a estreia há poucos dias do documentário “Entreatos”, de João Moreira Salles, na grade da Netflix nos desafia a apertar a tecla “stop” e olhar para trás, para o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva na iminência de vencer a eleição para a Presidência da República em 2002. Para compreender o Lula de 2024 é importante não esquecer o Lula de 22 anos atrás.

Pedro Cafardo - Um olhar não ortodoxo para juros astronômicos

Valor Econômico

A despeito de ajudar a controlar a inflação, taxas elevadas deixam sequelas devastadoras para a sociedade, como baixo crescimento, aumento da dívida pública e ampliação da desigualdade de renda e riqueza 

Muitos jovens que trabalham na Faria Lima, em São Paulo, nem haviam nascido quando o Brasil viveu seus terríveis anos de hiperinflação, nas décadas de 1980 e 1990. Mas é possível que eles carreguem nas costas, além dos característicos coletes almofadados, algum resquício do trauma daquele período, transmitido pelas gerações então castigadas.

Semanas atrás, o mercado se assustou quando o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ser a meta de inflação brasileira “exigentíssima” e “inimaginável”. O alvoroço se deu porque, para o mercado, ajustar para cima a meta de 3% ao ano seria um estímulo à volta da inflação e, talvez, aos anos terríveis.

Debelada a hiperinflação, em 1995, o país viveu quase sempre sob as taxas de juros reais mais altas do mundo. Um cálculo do professor Carlos Alberto de Augustini (FGV), publicado pela “Folha de S.Paulo”, mostra que as aplicações em renda fixa (CDI) deram retorno de 7.927% nos 30 anos do real, período em que a inflação (IPCA) acumulou alta de 704%. Ou seja, os ganhos foram mais de 11 vezes superiores à inflação.

Eliane Cantanhêde - Veredicto: o sistema não tem culpa

O Estado de S. Paulo

Por que a democracia brasileira sobreviveu? Uma resposta corajosa e racional

Quando Lula e Fernando Henrique se encontram amigável e até carinhosamente, é hora de esquecer as guerras e encrencas de outros tempos e pensar em como pode haver civilidade, parceria e convivência democrática entre adversários políticos, no caso, dois dos grandes líderes contra a ditadura e os maiores presidentes pós-redemocratização. É nesse clima, menos negativo, menos carregado, que escrevo sobre Por que a democracia brasileira não morreu?, dos cientistas políticos e professores Marcus André Melo e Carlos Pereira.

Corajoso, desmistificador e otimista são os três adjetivos que definem o livro, que joga luzes sobre dez anos da política, desde o impeachment de Dilma Rousseff até a derrota de Jair Bolsonaro. Na contramão da onda de desqualificação, irritação, desânimo, desistência, os autores nos fazem refletir sobre esses tempos turbulentos e tirar uma conclusão reconfortante: apesar de todos os pesares, o sistema político brasileiro não é tão imprestável assim.

Carlos Andreazza - Política de Estado

O Estado de S. Paulo

O orçamento secreto é camaleônico, e sua dinâmica se adapta a qualquer superfície

Arthur Lira e Ciro Nogueira são presenças confirmadas no Fórum de Lisboa. O Parlamento em semaninha de folgança, a três semanas do recesso, para que o País seja discutido na Europa; o restante do Congresso pulando as fogueiras de São João. E há um compromisso por votar as regulamentações da reforma tributária até 18 de julho.

Ninguém reclamará das comissões atropeladas e dos regimes de urgência impostos, afinal aprovado texto desconhecido enquanto se lhe metem ainda mais contrabandos. Lira quer uma marca para sua gestão. Gostaria que fosse a reforma tributária. Será a instituição do orçamento secreto.

Rubens Barbosa - ‘O Brasil é um deserto de homens e ideias’

O Estado de S. Paulo

As reuniões do G-20, da COP-30 e do Brics talvez sejam as últimas oportunidades de o País firmar sua voz na defesa de seus interesses concretos

O comentário sobre o Brasil de Oswaldo Aranha, feito há cem anos, continua atual. A falta de liderança no governo, no Congresso, no meio empresarial e na sociedade civil em geral torna difícil pensar um Brasil acima de interesses partidários, particulares e setoriais. A divisão política interna e a polarização de opiniões impedem que se discuta e, muito menos, que se forme consenso sobre um projeto nacional ou sobre a relevância do Brasil no mundo, suas prioridades e vulnerabilidades, com uma visão estratégica de médio e longo prazo.

A tarefa ainda é mais complicada não só pelas dificuldades internas, mas sobretudo porque o mundo passa por rápidas transformações com a emergência de uma nova ordem internacional. Na economia global, as regras são colocadas de lado e prevalecem o poder e interesses dos países individualmente considerados, com ênfase no protecionismo e em medidas restritivas unilaterais que desrespeitam as regras vigentes e chegam a ser utilizadas como armas na competição entre Estados.

Poesia | Os três mal amados (Trecho), de João Cabral de Melo Neto

 

Música | Geraldo Azevedo - Óia eu aqui de novo (Antônio de Barros)