segunda-feira, 14 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Paralisia do Congresso prejudica mercado de carbono

O Globo

Incêndios e tragédias ambientais revelam custo da demora para legalizar créditos de emissões no Brasil

Aprovado pela Câmara no final do ano passado, o Projeto de Lei que regulamenta o mercado de créditos de carbono no Brasil continua parado no Senado. Pelas informações que circulam em Brasília, não há perspectiva de que avance ainda neste ano. Num momento em que o país se dá conta da pior forma possível — pelas tragédias de enchentes e incêndios florestais — da urgência de lidar com as mudanças climáticas, a postergação só contribui para revelar a miopia do Legislativo diante da questão.

O projeto aprovado está longe de ser perfeito, mas pelo menos formaliza a negociação de créditos de carbono no país, hoje apenas voluntária. Com a compra e a venda reguladas por lei, empresas com dificuldades de reduzir emissões serão obrigadas a adquirir a permissão de outras que reduzirem. Tal mecanismo induz a transição a um sistema produtivo mais limpo e contribui para o Brasil cumprir as metas de corte assumidas no Acordo de Paris. Também pode servir de embrião nas negociações sobre um mercado global de carbono, que deverão ser destaque na COP30, a Conferência do Clima da ONU, prevista para ocorrer em Belém no ano que vem.

Quaest aponta preferência por Lula e racha na direita

Rafaela Gama / O Globo

Ex-coach e governador de São Paulo podem disputar apoio de eleitores de Bolsonaro, apesar da liderança do atual presidente em intenções de voto

Rio de Janeiro - Ema sondagem divulgada pela Quaest neste domingo sobre a eleição presidencial de 2026, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), dividem as intenções de voto de eleitores de direita, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assume a liderança geral. Os dados foram antecipados pelo colunista Lauro Jardim.

Em um cenário sem Jair Bolsonaro nas urnas, 32% dos eleitores declarariam apoio ao atual presidente, enquanto 18% afirmam que votariam em Marçal, e 15% em Tarcísio. O instituto ouviu 2.000 eleitores entre os dias 25 e 29 de setembro, antes do primeiro turno da disputa municipal. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Carlos Pereira - O Supremo como ator político?

O Estado de S. Paulo

Percepção de que o STF é politicamente motivado gera perda de legitimidade e restrição de poderes

No artigo “Has the Supreme Court become just another political branch? ”, Matthew Levendusky e coautores mostram que a Suprema Corte americana tem enfrentado um declínio sem precedentes de sua confiança e legitimidade.

Os autores mostram que o ponto de virada na percepção negativa dos cidadãos americanos sobre a Suprema Corte foi a decisão do caso Dobbs v. Jackson Women’s Health Organization, em 2022, na qual a Corte considerou que a Constituição dos EUA não conferia o direito ao aborto, deixando aos estados a competência de regular a questão. A mudança de interpretação sobre o aborto coincidiu com a alteração da composição da Corte. Donald Trump teve a oportunidade de indicar três juízes, o que permitiu a formação de uma maioria de seis juízes indicados por Republicanos. Os juízes votaram em bloco contra o aborto, derrotando a preferência minoritária de três juízes indicados pelos Democratas. 

John Burn-Murdoch - Esquerda perde apelo nas minorias étnicas

Financial Times / Valor Econômico

Políticos de todos os espectros fariam bem em começar a ouvir o que os diferentes eleitores de minorias étnicas realmente querem, em vez de se basearem em estereótipos cada vez mais errôneos

Em ambos os lados do Atlântico, um dos padrões mais antigos em demografia eleitoral começou a se desintegrar. O principal indicador de uma queda de apoio ao Partido Trabalhista nas eleições gerais do Reino Unido deste ano veio do eleitorado de origem muçulmana, enquanto os melhores resultados dos Conservadores ocorreram em áreas com grandes populações hindus. No geral, o Partido Trabalhista conquistou menos da metade dos votos de não brancos pela primeira vez na história.

Nos Estados Unidos, o vale do Rio Grande, de maioria hispânica, mudou drasticamente a favor de Donald Trump em 2020, americanos vietnamitas na Califórnia abandonaram os democratas, e bairros de maioria negra na Filadélfia ficaram significativamente menos “azuis” (menos inclinados a apoiar os democratas). Os republicanos tiveram o melhor desempenho entre eleitores não brancos em quatro décadas, desde 1960.

Preto Zezé - O que a favela disse na urna

O Globo

A economia e o cuidado com a vida diária, especialmente das mulheres, maioria nas cidades, serão decisivos no segundo turno

O primeiro turno das eleições municipais deu muitos sinais ao mundo político. Notamos eleitores dispostos a continuar manifestando sua indignação contra tudo e todos, como o meu amigo Rafael, morador de uma favela em São Paulo. Ele não queria candidatos já conhecidos. Jovem, faz um discurso crítico às políticas sociais como única forma de diálogo com as favelas.

Rafael reconhece a importância do Bolsa Família, mas afirma que não deseja depender do Estado, pois quer montar o próprio negócio. Seu candidato não foi para o segundo turno, e agora ele está indeciso.

A jovem de uma favela de Maceió votou pela reeleição do prefeito JHC (PL), que, teoricamente, é conservador. No entanto observou mudanças positivas em sua comunidade e decidiu lhe dar uma segunda chance, acreditando que ele poderá concluir o que começou. JHC venceu com 83,25% dos votos. Numa favela do Recife, Júnior, um motoboy, votou em Jair Bolsonaro em 2022, mas desta vez optou por João Campos (PSB). Para ele, apesar de Campos apoiar Lula, é um político decente, que fez muito pelas favelas e pela cultura do brega, com que se identifica.

Bruno Carazza - O PT não envelheceu, mas perdeu vitalidade

Valor Econômico

Por que mesmo com controle do governo federal, a segunda bancada no Congresso e uma das maiores fatias do fundão o PT foi tão mal nas eleições?

Muito já se discutiu, nos últimos dias, a respeito do resultado insatisfatório do Partido dos Trabalhadores nas eleições de domingo passado. O fato de o principal partido de esquerda, que também é o partido do presidente da República, que vem a ser um dos políticos mais populares da história, ter feito apenas 248 prefeituras no país despertou muita conversa sobre a perda de competitividade de Lula, do PT e da esquerda.

Os dados são desanimadores para os afiliados ao partido. O PT foi apenas a nona legenda em número de municípios conquistados, assim como os 3.128 futuros vereadores petistas colocam o partido no longínquo oitavo lugar no ranking. Em ambos os casos, o PT perde para o PSB, desde 2016 a maior força em bases locais entre os partidos que ocupam o espectro de diversos tons de vermelho que representam a esquerda brasileira.

Fernando Gabeira - A derrota dos extremos na urna

O Globo

Considero Eduardo Paes agregador, amigo dos sambistas, enfim, alguém cujas características podem vencer o rancor

Uma mensagem da vizinha:

— Você foi um pouco injusto.

Como assim? Era uma linda manhã de segunda-feira. Bem cedo, o sol inundara a casa com um brilho escandaloso, a temperatura da água estava perfeita, assim como a intensidade da brisa. Qualquer injustiça, ainda que pequena, contaminaria a beleza do dia.

Ela acha que atribuí ao tom alegre e enérgico da campanha de Kamala Harris algo que estava bem diante de mim na vitória de Eduardo Paes. Devo uma explicação. Considero Eduardo Paes agregador, alegre com seu chapéu-panamá, amigo dos sambistas, enfim, alguém cujas características podem vencer o rancor das correntes extremas.

No entanto não me referia apenas à personalidade do candidato, mas à atmosfera da campanha, ao clima coletivo posto em m archa sob a inspiração de um nome. Sem negar as qualidades de Paes, a razão de seu êxito, para mim, não está principalmente no humor, mas sim nas realizações.

Marcus André Melo - Dois equívocos sobre a geografia do voto

Folha de S. Paulo

Os resultados das eleições municipais não revelam mudança de preferências políticas, mas o domínio de partidos

Abundam os chavões explicativos sobre os resultados das eleições municipais nas diversas regiões do país. Um deles é o mito do Nordeste vermelho, a partir do qual se buscaria dar conta de um suposto "DNA político" na região. Na realidade, o padrão de voto para o Legislativo federal na região não exibia nenhuma especificidade clara em termos partidários. Dois terços dos representantes do Nordeste na Câmara pertencem a legendas do núcleo duro do centrão, de centro ou centro direita, como mostrei aqui.

Em 2022, o núcleo duro do chamado centrão (PLPP, Republicanos), somado ao PSC e Patriotas, elegeu 35% dos deputados federais. As legendas de esquerda —PT, PSB, PC DO B, Verde, Rede, PSOL, Solidariedade— lograram eleger 33%. Em outras palavras, o Nordeste é tão "conservador" quanto o Brasil.

André Gustavo Stumpf - Verdade dolorosa

Correio Braziliense

Conservadores e liberais, que fizeram a maioria dos novos eleitos, pretendem um governo democrático moderno. Nesta eleição, os extremos foram derrotados pelo centro

Eleições costumam resultar em surpresas às vezes dolorosas. Winston Churchill, primeiro-ministro inglês que comandou a Inglaterra e liderou o mundo ocidental na Segunda Guerra Mundial, foi derrotado nas eleições de seu país logo após a rendição alemã. Foi excepcional líder na guerra, mas o eleitor inglês entendeu que era hora de mudar e de reconstruir os países em momento de paz. Ele perdeu. Nessa última eleição brasileira, ocorreu algo semelhante. O povo quis mudar e fez surgir nova geração de políticos conectados ao século 21, os melhores exemplos são Tabata Amaral e João Campos, dois jovens de esquerda.

Fracasso nas urnas acelera negociações entre PSDB e PDT por nova federação

Paulo Celso Pereira / O Globo

Partidos negociam federação, junto com o Solidariedade, após sofrerem derrotas expressivas nas eleições municipais deste ano

Rio de Janeiro - Após sofrerem uma derrota expressiva nas eleições deste ano, dirigentes do PSDBPDT e Solidariedade (SD) devem se reunir nas próximas semanas para negociar uma nova federação partidária. A medida é considerada inevitável diante da chamada cláusula de barreira, que estabelece um número mínimo de votos que os partidos precisam nas eleições à Câmara de Deputados para ter direito a fundo partidário e tempo de TV.

A cláusula, criada em 2017, já havia afetado partidos pequenos — fisiológicos ou não — nas eleições de 2018 e 2022. Com o resultado do último domingo, a tendência é que ela mude também o destino de algumas das mais tradicionais legendas do país na Nova República.

Atravessando uma profunda crise há quase uma década, o PSDB viu sua bancada federal ser reduzida a 13 parlamentares em 2022 e agora perdeu quase metade de seus prefeitos: saiu de 520 eleitos em 2020 para 269. O desafio agora é sobreviver à cláusula, que exigirá em 2026 um número ainda maior de votos.

Alfredo Maciel da Silveira – Nomes na mesa

Até onde me lembro, dos filmes de faroeste, as tribos indígenas norte-americanas tinham o "Conselho dos Anciães".

Na China de hoje, posso estar errado, acho que é institucionalizado o mesmo tipo de Conselho Consultivo em nível nacional.

Somos mortais!....

Fico pensando o quanto vimos perdendo com a despedida de tanta "massa cinzenta" e de tantas lideranças da nacionalidade que forjaram nossa Democracia, agora sob as crises superpostas, social, econômica e política, que a deslegitimam.

Democracia pra quê? Pergunta nosso povo, quando não vê futuro pela frente, para si e seus filhos!

Como defendo a primazia da questão econômica, vou adiantar aqui alguns nomes de quadros que julgo imprescindíveis como referências.

Mas antes, já que nos falta o "Conselho dos Anciães", respondo, quem une a todos nós, quem está vivíssimo e lúcido para liderar a organização das forças vivas da nação, unindo passado e presente numa Frente de Salvação Nacional?

Poesia | Tomara, de Vinicius de Moraes

 

Música | Mônica Salmaso - Suburbano coração (Chico Buarque)