sexta-feira, 20 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Incêndios florestais expõem Brasil a retaliação global

O Globo

Origem criminosa do fogo deverá ser explorada pela UE e por outros países para barrar importações brasileiras

Além da devastação ambiental, os incêndios florestais que castigam o Brasil criarão graves problemas econômicos, em particular no comércio internacional. A ameaça mais urgente vem da entrada em vigor na União Europeia, em 1º de janeiro de 2025, da regra que proíbe importações de produtos de áreas desmatadas ilegalmente. Se as queimadas forem vinculadas ao desmatamento ilegal — e, dada a proliferação de incêndios criminosos, não será difícil fazer a conexão —, o país poderá perder US$ 15 bilhões em receitas, o equivalente a mais de um terço das exportações para o bloco europeu. Entre as mercadorias mais atingidas estão café, carne, cacau, soja e os próprios produtos florestais, como madeira ou móveis.

Fernando Abrucio - Urgências que colocam o país em risco

Valor Econômico

Entre os grandes problemas atuais, o primeiríssimo da lista é a questão ambiental e climática. A resolução dela é essencial para evitarmos uma destruição enorme de nossas estruturas econômicas e sociais

Países que não enfrentam urgências severas podem pagar um custo muito alto. E não se trata apenas dos efeitos mais imediatos, capazes de matar pessoas, como na pandemia de covid-19, ou gerar recessão e perda de empregos. Algumas questões prementes têm consequências temporais mais longas.

O Brasil tem hoje temas urgentes a enfrentar que podem piorar as condições de curto e de longo prazo. Se a sociedade não se mexer para tirar a classe política do modo tartaruga ou avestruz de ser, teremos uma década muito difícil pela frente, com perdas que afetarão fortemente a qualidade de vida dos cidadãos.

A procrastinação das urgências é uma marca da história brasileira. A abolição da escravatura é o melhor exemplo. O país tinha sido colonizado por um padrão escravocrata que gerara uma sociedade muito desigual, embebida na barbárie. O patriarca da Independência, José Bonifácio, já propusera em 1823 o fim gradual da escravidão, que teria terminado, se sua proposta tivesse sido aceita, na década de 1850.

Mas o fim desse modelo bárbaro só se deu em 1888, quase 40 anos depois do que imaginava o membro mais ilustrado da elite brasileira. E assim o Brasil foi o último país ocidental a sair da lista infame dos que escravizavam pessoas, com efeitos terríveis no curto prazo de então e consequências nefastas até hoje.

José de Souza Martins - A lentidão da consciência eleitoral

Valor Econômico

Já próximos do dia de votação, mesmo na nebulosidade da campanha, o eleitor começa a compreender qual é o jogo, quanto há de falso e de verdadeiro nas candidaturas

Não está claro em que momento do processo eleitoral o eleitor começa a tomar consciência de que já começou e começa a se interessar por seu lugar e seu protagonismo nele. Refiro-me à subjetividade política do cidadão.

Esse é um momento cíclico e rotineiro da manifestação da vontade política dos cidadãos. A decisão do voto é a da sua invenção na tomada de consciência das armadilhas que procuram tolher-lhe o direito de livre opção eleitoral.

Aqui esse momento é demorado e não é rotineiro. Os partidos e os eleitores com ele se defrontam e nele se integram como um movimento anômalo e convulsivo da política.

Não raro pressupõem que as possíveis mudanças decorrentes de uma eleição devem ser temidas. A insurreição golpista de 8 de janeiro de 2023 expressou essa concepção anômala da política de maneira dramática, muitas pessoas levadas ao desespero na manifestação apocalíptica do seu inconformismo.

Andrea Jubé - Sucessão em dois tempos: presente e futuro

Valor Econômico

Considerar a sucessão de Lira jogo jogado é um erro e um risco

Para usar as palavras de um assessor que despacha no Palácio do Planalto, o líder do Republicanos, Hugo Motta (PB), “a preço de hoje, está eleito presidente da Câmara”. E com a simpatia de uma ala expressiva do governo, que incluiria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Não é bem assim”, retrucou um importante deputado do PT, ao ouvir da coluna as palavras proferidas pelo assessor palaciano. Este parlamentar petista argumentou que depois de se reunir com Motta, Lula e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, receberam em seus gabinetes os adversários dele na corrida sucessória, os dois líderes baianos Elmar Nascimento, do União Brasil, e Antonio Brito, do PSD.

Bruno Boghossian - Nunes ganha vantagem sem empolgar

Folha de S. Paulo

Eleitor saturado com Marçal e consolidação de voto ajudam prefeito em momento de contagem regressiva

O quadro de estabilidade captado pela nova pesquisa do Datafolha dá vantagem a Ricardo Nunes (MDB) nesta etapa da eleição de São Paulo. Sem sair do lugar e sem produzir muita empolgação, o prefeito ganha favoritismo num momento de contagem regressiva do primeiro turno e menos de um mês depois de ver sua campanha em xeque.

Três pontos da pesquisa são positivos para Nunes. O primeiro é a consolidação progressiva de seu eleitorado na faixa dos 27%, que seriam suficientes para levá-lo ao segundo turno. O percentual de apoiadores do prefeito que dizem estar totalmente decididos subiu e chegou a 65%. Para comparação, o idolatrado Pablo Marçal (PRTB) tem 71% de eleitores convictos.

Marcos Augusto Gonçalves - Cadeirada de Datena não atinge eleitor

Folha de S. Paulo

Repetição do resultado reforça hipótese de segundo turno entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos

cadeirada desferida pelo candidato José Luiz Datena em Pablo Marçal não atingiu as intenções de voto registradas pela mais recente pesquisa Datafolha, em São Paulo. Os números repetem o cenário da sondagem anterior, com o prefeito Ricardo Nunes numericamente à frente (27%), seguido por Guilherme Boulos (26%), e o clown Pablo Marçal (19%) na rabeira.

A hipótese de um segundo turno entre Nunes e Boulos ganha mais fundamento com a repetição do resultado. Reforça a hipótese de que os dois passem para a nova etapa o fato de que repetem de certa forma o confronto histórico entre direita e esquerda como nos tempos de tucanos contra petistas. A ver.

Ruy Castro - Em breve, armas de fogo nos debates

Folha de S. Paulo

Nos embates políticos do passado e nas guerras, os adversários sabiam de onde viriam os ataques

Em 1890, com o aperfeiçoamento em Londres dos motores a combustão, das baterias elétricas e do aço, tornou-se possível a construção dos submarinos, longamente sonhada. Eles seriam invencíveis numa guerra naval, por navegarem submersos e poderem atacar de surpresa os navios inimigos. A ideia foi levada à rainha Vitória, que se chocou: "O quê!? Vamos atacar sem antes mostrar nossas cores???". Foi preciso Vitória morrer para o primeiro submarino ir à guerra.

Vinicius Torres Freire – A política do horário de verão

Folha de S. Paulo

Não há urgência para 2024, diz gente no Planalto; se adotado, começa só em novembro

Assessores políticos de Luiz Inácio Lula da Silva não estão animados com a ideia de decretar horário de verão para este ano. Para eles, o assunto subiu no telhado, tem inconveniências políticas e técnicas e não seria tão urgente, embora digam não ter ideia do que o presidente pretende decidir, até o fim do mês.

ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) recomendou oficialmente que se adiante o relógio em uma hora, ainda neste ano, em reunião da cúpula da gestão do setor elétrico, nesta quinta-feira (19). O ONS é uma espécie de diretor nacional de tráfego da eletricidade: diz de onde sai a energia e para onde vai.

Na estimativa dos técnicos, a economia seria de R$ 400 milhões durante um horário de verão inteiro (outubro a fevereiro). Mas a poupança maior se dá em outubro (2,9% do consumo bruto total), caindo em novembro (2,5%), dezembro (1,4%) etc.

Celso Ming - É o lobo mau, mas a criança dorme...

O Estado de S. Paulo

Ah, sim, foi mais duro do que habitualmente o tom do comunicado do Banco Central (BC) nesta quarta-feira, logo depois da decisão de aumentar os juros básicos (Selic) em 0,25 ponto porcentual, pontuam os analistas do mercado financeiro.

Uma das características da comunicação entre os humanos é a de que o tom é quase sempre mais importante do que o conteúdo literal da mensagem.

Vejam o que acontece com tantas canções de ninar, especialmente as mais antigas. Falam de coisas terríveis: do lobo mau que escancara seus dentes, do boi da cara preta, da cuca que vem pegar, da bruxa que come pequeninos... e, no entanto, a criança dorme placidamente. Dorme porque o tom sereno da canção é mais importante do que as brutalidades relatadas.

No comunicado do Copom, o tom foi em sentido oposto. Não foi tranquilizador, foi mais de advertência contra perigos, que chama de riscos. Ou seja, o tom que justifica a volta de um maior aperto monetário é, no linguajar do mercado financeiro, uma atuação mais de falcão (hawkish) do que de pombo (dovish).

Eliane Cantanhêde - Israel esquenta, Rússia esfria

O Estado de S. Paulo

Brasil e China atendem a ‘chamado’ de Putin e voltam a articular acordo entre Rússia e Ucrânia

Depois do excesso de ambição e sucessivos fracassos na tentativa de recuperar o protagonismo do Brasil e o prestígio internacional de Lula, o governo agora trabalha com a China, em silêncio e comedidamente, na busca de algum acordo de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia. O momento é propício, já que os dois lados dão sinais de exaustão diante de uma guerra que se prolonga sem perspectiva de vitória para um ou para o outro.

O primeiro sinal de abertura da Rússia ao diálogo foi dado por Vladimir Putin, quando citou Brasil, China e Índia como potenciais mediadores. A partir daí, a diplomacia voltou a agir. Na semana passada, o chanceler russo, Serguei Lavrov, conversou com o brasileiro Mauro Vieira em Riad, e depois com o assessor internacional Celso Amorim, em Moscou. E Amorim já engatou contatos com seu correspondente chinês.

Paulo Sotero - Trump, uma ameaça à democracia

O Estado de S. Paulo

Teatro de absurdos não respeita fronteiras nacionais. Ex-presidente é um exemplo a ser repudiado por seus vizinhos nas Américas

Alucinado ante a perspectiva de perder a eleição presidencial de novembro para a vice-presidente Kamala Harris, filha de pai jamaicano e mãe indiana, o ex-presidente Donald Trump vem dando crescentes sinais de instabilidade emocional e descontrole. Desorientado pela solene surra que levou da ex-senadora e ex-secretária da Justiça da Califórnia no primeiro e único debate da campanha, na semana passada, Trump entrou na reta final da disputa diminuído por sua incapacidade de manter uma postura condizente com a dignidade do cargo que pleiteia.

Luiz Carlos Azedo - Polarização naufraga no Triângulo das Bermudas

Correio Braziliense

A disputa pelas prefeituras pode se encerrar no primeiro turno em 13 capitais. Estão nessa situação Rio de Janeiro, Salvador, Boa Vista, Florianópolis, João Pessoa, Macapá, Maceió, Palmas, Porto Velho, Recife, São Luís, Teresina e Vitória

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) se manteve na liderança da disputa eleitoral em São Paulo (9,32 milhões de eleitores), com 27% de intenções de votos, em empate técnico com Guilherme Boulos (PSol). Pablo Marçal (PRTB) permanece na terceira posição, mas fora do empate técnico, com 19%, segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem. No Rio de Janeiro (5,09 milhões), o prefeito Eduardo Paes (PSD) manteve-se na liderança absoluta, com 59% de intenções de votos, enquanto Alexandre Ramagem (PL) está com 17%.

presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro emitiram sinais trocados em suas principais bases eleitorais. O primeiro, aposta num candidato de esquerda em São Paulo, Boulos, e num de centro no Rio, o prefeito Eduardo Paes. O segundo, num candidato de extrema direita no Rio, Ramagem, e um candidato de centro em São Paulo — Nunes.

Vera Magalhães - A força do cargo na reta final

O Globo

Meios tradicionais da política e avaliação entre regular e boa ainda impulsionam prefeitos em capitais importantes

Depois de representar uma das maiores rupturas em pleitos municipais nos últimos anos, com o incêndio Pablo Marçal tendo virado assunto e modelo para candidatos em todo o país, a eleição vai chegando à reta final com a onda aparentemente contida e os incumbentes, prefeitos que disputam a reeleição, demonstrando a força do cargo e dos meios tradicionais da política.

Quando se faz um sobrevoo nas capitais do país, mesmo mandatários que enfrentaram problemas graves e não se saíram tão bem, como Sebastião Melo (MDB), da devastada Porto Alegre, se mostram competitivos a menos de 20 dias do primeiro turno.

O tira-teima da eleição de 2022, que, se imaginava, seria uma das tônicas da campanha, vai se mostrando um pouco mais complexo. Nem Lula nem Bolsonaro brilham como indutores de votos, com seus candidatos mais próximos tendo dificuldade de herdar a maioria do eleitorado que ambos reuniram há menos de dois anos.

Bernardo Mello Franco – Nada de Novo

O Globo

A incivilidade de Pablo Marçal transformou os debates de São Paulo num jogo de todos contra um. Ou quase. Uma das candidatas à prefeitura resolveu investir na dobradinha com o coach. É Marina Helena, do Novo.

Sem decolar nas pesquisas, a economista se dispôs a atuar como escada para o aventureiro do PRTB. No debate de segunda-feira, ela não se limitou a tabelar com o coach. Também replicou seus métodos ao envolver a vida pessoal de uma adversária em acusação sem provas.

A candidata do Novo disse que Tabata Amaral teria usado um jatinho particular para visitar o namorado no Recife. Ameaçada de processo, ela informou que pedirá desculpas se a rival apresentar comprovantes de voos comerciais. Como o ônus da prova ainda cabe a quem acusa, fica valendo o desmentido da deputada do PSB.

Flávia Oliveira - A violência como regra

O Globo

Quando vaticinou-se que a corrida municipal de 2024 seria nacionalizada, parecia somente a redução, paulistana sobretudo, do embate Lula x Bolsonaro de 2022. Quem imaginaria que, a duas semanas do primeiro turno do pleito que elegerá prefeitos e vereadores país afora, a nação inteira estaria comentando com repulsa, perplexidade e doses cavalares de humor os ataques entre prefeitáveis da maior, mais rica e mais importante cidade brasileira? Muita gente. Afinal, não é de hoje que o Brasil é território de muita, muita mesmo, violência política.

Era questão de tempo para a brutalidade, que começou nas redes sociais e avançou por sabatinas, culminar na cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB), ao vivo, em pleno debate. Não há como fingir surpresa, já que ofensas, injúrias, agressões e até tentativa de assassinato estão cada vez mais integradas ao cardápio de campanhas assentadas em lacres e likes nas redes sociais, na criminalização de adversários, na vitimização de si mesmo, se dividendos render.

Cláudio Carraly* - Os super-ricos e a Democracia são incompatíveis

Nos últimos anos, o fosso entre os bilionários e o restante da população mundial alcançou níveis alarmantes, gerando preocupações crescentes sobre os impactos socioeconômicos e políticos dessa disparidade. A concentração extrema de riqueza nas mãos de uma pequena elite não apenas exacerbou a desigualdade, mas também minou a estabilidade democrática e a coesão social em todo o mundo. Dados recentes do Credit Suisse revelam que os 1% mais ricos detêm mais da metade de toda a riqueza global, enquanto os 50% mais pobres possuem menos de 1% da riqueza total. Essa disparidade é uma mancha na sociedade humana, exacerbando a pobreza, a exclusão social e a injustiça econômica.

A disparidade entre os mais abastados e o restante da sociedade continua a alargar-se, acarretando consequências não apenas para os estratos menos favorecidos, mas também para o crescimento econômico e a estabilidade política em âmbito global. O poder financeiro dos super-ricos frequentemente se converte em uma influência política desproporcional, permitindo-lhes manipular políticas públicas em seu próprio benefício, operando para minar processos democráticos e privilegiar seus interesses individuais em detrimento da necessidade da maioria. Esta influência indevida desse nível de poder econômico, quando ocorre na esfera política, contribui fortemente para a erosão da confiança do público nas instituições, elevando a crescente instabilidade das estruturas democráticas.

George Gurgel* - As eleições municipais de 2024

No Brasil, as distintas realidades regionais e municipais desafiam a construção de novas maneiras de pensar e fazer política no município, refletindo nas formas e conteúdos de organização da sociedade e no próprio exercício da cidadania, a partir da nossa diversa e excludente realidade cultural, social e ambiental.

As eleições municipais,   que irão acontecer em outubro próximo,  colocam em disputa as concepções de governar e de se relacionar de cada um de nós com o lugar em que vivemos, desafiando a construção de novas formas e meios de fazer política, diante das nossas urgências, em função das distintas  realidades econômica, social e ambiental, agravadas com a crise climática em curso - sintoma da insustentabilidade do mundo em que vivemos,   vivida atualmente de forma angustiante e trágica por toda a sociedade brasileira.

Os resultados das últimas eleições municipais de 2020 registraram um nível de abstenção recorde de 23%, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, refletindo no nível de participação do eleitorado de apenas 41%, junto ao nível de insatisfação que foi de 31% da população.

Ao mesmo tempo, constatou-se, nos pleitos municipais de 2020, um maior protagonismo dos movimentos sociais em defesa de uma efetiva participação política das mulheres, dos afrodescendentes, dos indígenas, LGBT+, discutindo as questões específicas da sociedade, renovando as Câmaras Municipais e Prefeituras dos médios e grandes municípios, trazendo novas lideranças, representando a voz rouca dos excluídos da sociedade para a disputa e o exercício do poder municipal. Há ainda que se destacar a eleição de lideranças religiosas, particularmente evangélicas, o que já vem ocorrendo no Brasil, nas últimas décadas.

Poesia | Memória - Por Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Caetano Veloso - Sem Samba não dá