quinta-feira, 1 de agosto de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Decisão do Copom de manter juros reforça credibilidade

O Globo

Ante a deterioração das expectativas de inflação para este ano e 2025, BC adota cautela

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve a taxa básica de juros em 10,5% ao ano. A decisão unânime de deixar a Selic com o mesmo percentual de maio se justifica pela piora nas projeções de alta de preços. Desde a reunião anterior da autoridade monetária, realizada em junho, as estimativas para este ano e o próximo subiram. A de 2024 para 4,10% e a projetada para 2025 para 3,96%, ambas acima do centro da meta, que é de 3%. Com a troca de comando no BC próxima e ataques de dentro do governo à política de juros, o Copom optou pela cautela para ancorar as expectativas.

Luiz Carlos Azedo - O mundo se tornou mais perigoso para Lula

Correio Braziliense

A narrativa errática do petista em improvisos, emoldurada pelo chamado Sul Global, trouxe para o centro do debate sobre a política externa um vetusto viés terceiro-mundista 

“Quero dizer que o Brasil está de volta. Para cooperar outra vez com os países mais pobres, sobretudo da África, com investimentos e transferência de tecnologia. Para estreitar novamente relações com nossos irmãos latino-americanos e caribenhos, e construir junto com eles um futuro melhor para nossos povos” — discursou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recém-eleito, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 27, realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito, em novembro de 2022.

Antes de tomar posse, sua expectativa era de que voltaria a ser um player da diplomacia mundial, em contraste absoluto com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que havia acabado de derrotar nas eleições daquele ano e que transformara o Brasil num “pária mundial”. Ao lado de sua futura ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, Lula nadou como um campeão olímpico na raia ambiental, com a promessa de conter imediatamente a devastação da Amazônia.

Maria Cristina Fernandes - Lula adivinha e chancela o pensamento de Maduro

Valor Econômico

Presidente brasileiro antecipou proposta de Maduro para que a justiça dê a última palavra na Venezuela

Numa semana em que o país esteve magnetizado pelo encanto das ginastas brasileiras na Olimpíada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pisou fora do tablado a despeito das (arriscadas) chances oferecidas para um triplo carpado.

O momento ilustra uma situação que se repete desde a posse. Feitos deste ano e meio, muitos dos quais resumidos por Lula em rede nacional no domingo à noite, se perdem pela má-comunicação não do governo, mas do chefe de Estado.

Com aquele balanço, Lula parecia buscar imunidade para a semana de contigenciamento no Orçamento. Com as férias dos ministros em desalinho, Fernando Haddad (Fazenda) e Rui Costa (Casa Civil), os cortes corriam o risco de buscar sua paternidade no terceiro andar do Palácio do Planalto.

Dois dias depois, sem teleprompter, Lula concedeu a entrevista que visava a preparar o terreno de sua visita ao hostil Mato Grosso. Começou com um presidente determinado a mostrar seus esforços em apagar incêndios no Estado e terminou pelo fogo que ateou às próprias vestes. Ao passar pano para a nota petista sobre o “processo democrático” na Venezuela, e preconizar a Justiça daquele país como última palavra mostrou os limites de sua nova clausura. Revisita os temas com seus antigos códigos e mostra dificuldades em incorporar o que há de novo na conjuntura.

Maria Hermínia Tavares - O impasse venezuelano

Folha de S. Paulo

Primeiro Hugo Chávez, depois Nicolás Maduro seguiram o conhecido roteiro da gradativa concentração de poder

Não se devem fazer previsões, principalmente sobre o futuro, reza o ditado atribuído à sabedoria chinesa. Seja qual for a sua origem, aplica-se à crise política venezuelana provocada pelas suspeitas de que o presidente Nicolás Maduro, para manter-se no poder, tenha falseado o resultado da eleição do domingo, 28/7.

Venezuela, neste século, é um caso notável de regressão autoritária resultante da corrosão de um regime democrático de cinco décadas, promovida por uma liderança eleita segundo suas regras.

Bruno Boghossian - Uma simpatia rançosa

Folha de S. Paulo

Declarações do petista estreita o campo de ação do governo como articulador regional

As primeiras declarações de Lula sobre a eleição na Venezuela não foram só um reflexo da simpatia rançosa por um regime que já provou seu desprezo pela democracia. Ao indicar que o país passa por uma disputa corriqueira, o petista deu um péssimo sinal sobre a maneira como pode lidar com os próximos capítulos dessa crise.

A decisão brasileira de exigir a apresentação dos boletins de urna antes de reconhecer o resultado da votação não foi pouca coisa. Em boa medida, a posição foi um reconhecimento das desconfianças sobre um órgão eleitoral que se mostrou um braço do regime de Nicolás Maduro.

O problema é que Lula já se esborrachou ao ensaiar o segundo passo. Deu ares de normalidade aos questionamentos feitos pela oposição, ignorando as provas de que Maduro nunca teve interesse em organizar uma eleição livre. Para completar, afirmou que a questão cabe à Justiça local. "E aí vai ter uma decisão que a gente tem que acatar", disse.

Thiago Amparo - Não há juízes em Caracas

Folha de S. Paulo

Lula apelar ao Judiciário venezuelano é, no mínimo, ingênuo, e, no máximo, hipócrita

O fato de a nota pró-Maduro do PT ser coerente com o histórico do partido não faz dela menos deplorável: a lente binária anti-imperialista ofusca que a fome e a repressão ao povo venezuelano não podem ser, hoje, creditadas primordialmente às sanções americanas, mas a um Maduro que, como Bolsonaro, prefere dar de comer aos seus militares do que aos mais pobres. Enquanto o PT aplaude, o Partido Comunista da Venezuela e a Internacional Socialista pedem mais transparência no pleito, o mesmo apelo que o próprio Itamaraty e Lula fizeram ao lado de Biden.

Roberto Macedo - Ricupero e sua visão do presente

O Estado de S. Paulo

Tenho com o embaixador e ex-ministro uma convergência de opiniões sobre aspectos da realidade brasileira

Rubens Ricupero recebeu muita atenção no noticiário recente pela sua atuação no Plano Real, que comemorou 30 anos no mês passado, e pelo lançamento de sua autobiografia intitulada Memórias (Editora Unesp), na forma de um livro com 47 capítulos em mais de 700 páginas. Essa atenção se justifica, pois teve muitos papéis desempenhados ao longo de sua já longa vida – está com 87 anos –, entre os quais os de professor, diplomata, embaixador, ministro, escritor e historiador. Um ótimo artigo-resenha deste livro foi escrito pelo economista Luiz Alberto Machado para a Fundação Espaço Democrático, do PSD, e pode ser encontrado em https://espacodemocratico.org.br/artigos/memoriasde-um-grande-protagonista/. Foi desse texto de Machado que retirei essas informações sobre a biografia de Ricupero.

Ainda não cheguei ao livro de Ricupero, e uma das razões é que estou muito ocupado com a conclusão de um livro meu, sobre educação financeira, e muito preocupado com a situação atual da economia, que procuro acompanhar diuturnamente. Vi que, quanto a isso, Ricupero foi entrevistado pelo jornalista Guilherme Evelin, deste jornal, cujo site publicou em julho duas matérias assinadas pelo jornalista sobre o embaixador, uma delas mais focada nesta situação atual. Para lê-las, basta acessar o site do jornal (www.estadao.com.br) e, no local de buscas, digitar Rubens Ricupero entrevistas.

William Waack – Como piorar uma situação

O Estado de S. Paulo

Lula lidou com a Venezuela sem obedecer a princípios morais

Não há opções fáceis nem boas na questão da Venezuela e qualquer operador razoavelmente profissional em relações externas se empenharia em não tornar mais complicada uma situação já difícil. Foi o que Lula fez ao minimizar a fraude eleitoral cometida pela ditadura de Nicolás Maduro.

Lula é um operador apenas da própria imagem e, como tal, tem uma irrestrita confiança na própria capacidade de “moldar” retoricamente os fatos. Desta vez não conseguiu. Ao contrário, sua imagem foi consideravelmente abalada mesmo nos setores políticos condescendentes com qualquer coisa que ele diz, e dispostos a aceitar qualquer “escorregão” do presidente.

Felipe Salto - Os pregadores do caos

O Estado de S. Paulo

A crítica construtiva é sempre válida. Pregações do caos, ao contrário, alimentam as expectativas quanto a cenários de crise fiscal e econômica que não têm sentido

Estamos longe do céu de brigadeiro na economia. Contudo, é impositivo rejeitar a pregação do caos. A lógica do “quanto pior, melhor” é péssima para o País. Os números atestam que as ações e sinalizações do governo na política fiscal estão na direção certa. Não há crise fiscal.

Essas pregações costumam surgir de modo quase coordenado. A intensidade e o peso das tintas são variáveis, mas o teor geral é o mesmo. De crise iminente à tragédia completa, há discursos para todos os gostos no espectro do catastrofismo.

Quem conhece economia e tem acesso a informações e análises de boa qualidade facilmente conclui que o Brasil tem bons indicadores, tanto no balanço de pagamentos quanto nas contas fiscais. O momento é de reconhecer os avanços e planejar o futuro, não de espinafrar tudo que o governo faz, inclusive quando acerta.

Celso Ming - Selic segue igual. Incertezas reforçadas

O Estado de S. Paulo

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve os juros básicos (Selic) em 10,50% ao ano, na reunião desta quartafeira, o que era esperado.

Mas não ficou tudo na mesma. Para efeito de sua política monetária, o Banco Central está lidando no momento com novas pressões da inflação. Provêm elas de três campos: deterioração das contas públicas; avanço da cotação do dólar (desvalorização do real); e aumento da demanda agregada por bens e serviços.

São fatores que descambam para um círculo vicioso: refletem tanto a perda de confiança na condução da política econômica como concorrem para aumento da insegurança, o que reduz a confiança na condução da política econômica.

Alvaro Gribel - BC aperta discurso, mas ganha tempo

O Estado de S. Paulo

O cenário para a inflação piorou e isso justifica o tom mais duro da autoridade monetária

O Banco Central fez o certo ontem e endureceu o discurso diante de um quadro para a inflação que piora por vários lados. Ainda assim, uma alta da Selic em setembro não é o mais provável, e a estratégia foi ganhar tempo, para ver se o cenário externo se torna mais favorável e se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, consegue impor dentro do governo uma agenda efetiva de cortes de gastos.

Antes da próxima reunião do Copom, a equipe econômica terá de enviar o Orçamento de 2025, e esse será um novo marco na relação de confiança entre o mercado e a política fiscal.

Míriam Leitão - Fed alivia, mas BC piora o tom

O Globo

Banco Central americano dá sinalização clara de corte, movimento aguardado por bancos centrais do mundo inteiro. Já autoridade monetária brasileira fez comunicado mais duro

O Banco Central manter os juros em 10,5% era esperado, mas foi de novo por unanimidade. Isso reduz a força do discurso de politização da autoridade monetária e aumenta as chances de uma transição menos tumultuada. A divergência entre indicados, por um e por outro governo, está agora resolvida e eles fazem a mesma avaliação da conjuntura. Desde a última decisão do Copom, as expectativas de inflação pioraram um pouco e o dólar subiu, dando alguma justificativa à “cautela” do BC. De outro lado, ontem veio uma boa notícia de fora, os juros americanos podem estar perto de cair. Isso muda um dado relevante para a definição da política monetária brasileira.

Merval Pereira - Cegueira deliberada

O Globo

É inaceitável que Lula diga que a eleição na Venezuela foi pacífica quando pelo menos 16 pessoas morreram

O presidente Lula, que se define como uma “metamorfose ambulante”, certa vez assegurou que a “evolução da espécie humana” é o centro político. Por isso, pessoas com mais de 60 anos tenderiam “ao equilíbrio” porque “idoso esquerdista tem problema”. Mas Lula já disse também que é de esquerda, mas que seu governo não é. Esse malabarismo retórico pode ser a explicação mais simples para a confusão em que o Brasil se meteu nessa questão da Venezuela. Uma cegueira deliberada.

A relação de Lula com os governos da Venezuela só é explicável pela tendência de esquerda que ele e seus principais assessores, como Celso Amorim, têm. Uma esquerda anacrônica, que se vê confrontada por outros esquerdistas que não tratam a democracia como uma etapa da luta política no caminho da implantação do socialismo, mas como uma questão fundamental e irreversível.

Malu Gaspar – A encruzilhada de Lula na Venezuela

O Globo

A esta altura, já está claro que não há nenhuma chance de a crise na Venezuela acabar com a saída de Nicolás Maduro do poder. Antes do pleito, ele mesmo avisou que, se não ganhasse a eleição, haveria um banho de sangue. Pois ele se proclamou vencedor e, mesmo assim, há um banho de sangue, porque o resultado é flagrantemente fraudulento, e a população tomou as ruas em protestos.

Pelo menos 16 pessoas já morreram, centenas ficaram feridas, e mais de 750 foram presas pelo regime. Um líder oposicionista foi sequestrado, e Maduro já disse que prenderá também a líder María Corina Machado e o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia. Sete embaixadores que pediram a divulgação das atas eleitorais foram expulsos da Venezuela.

Depois de prometer tornar públicas as atas, o ditador voltou atrás e disse que não tem como apresentar os documentos porque o Conselho Nacional Eleitoral, controlado por ele mesmo, “está no meio de uma batalha cibernética nunca antes vista”.

A única coisa que importa para Maduro é continuar no poder, mesmo que isso leve a um isolamento internacional ainda maior.

Guga Chacra - Não adianta Israel decapitar o Hamas

O Globo

Ação militar para matar Ismail Haniyeh certamente enfraquece o grupo no curto prazo, mas haverá um sucessor

Duas décadas atrás, em março de 2004, Israel matou o xeque Ahmad Yassin, fundador e líder espiritual do Hamas. Menos de um mês mais tarde, outra ação israelense no mesmo território matou Abdel Aziz al-Rantissi, líder da organização palestina. Era o que se denominava na época “ataque seletivo”. O objetivo era decapitar o comando do grupo durante a Segunda Intifada. Um fracasso. Três anos mais tarde, em uma breve guerra civil contra o Fatah, o Hamas assumia o controle de Gaza.

ação militar de Israel para matar Ismail Haniyeh, líder do Hamas, certamente enfraquece o grupo no curto prazo, mas haverá um sucessor. Inclusive, a organização sempre teve um processo sucessório. Até pouco tempo, o líder era Khaled Meshal, que talvez volte ao cargo. Muito cedo para sabermos. Inclusive, desde o atentado de 7 de outubro, o líder de facto é Yahya Sinwar, comandante militar do grupo em Gaza e arquiteto do ato terrorista.

Poesia | Trem de Ferro (Manuel Bandeira)

 

Música | Zeca Pagodinho - Vai Vadiar