quinta-feira, 30 de maio de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Economia ilegal afeta país de forma implacável

O Globo

Pirataria, contrabando, sonegação, desvio de água, luz, TV e internet drenam recursos de áreas essenciais

Práticas criminosas como pirataria, contrabando, sonegação fiscal, furto de serviços como água, luz, TV e internet têm custo alto para o país, apontou o evento “Caminhos do Brasil”, iniciativa dos jornais O GLOBO e Valor Econômico e da rádio CBN, com o patrocínio de entidades vinculadas ao setor comercial. Pelas contas do levantamento “Brasil ilegal em números”, produzido pelas maiores associações industriais brasileiras, o prejuízo chegou a R$ 454 bilhões em 2022, ou quase 5% do PIB. As perdas registradas por 16 setores econômicos somaram R$ 297 bilhões.

Os tributos que deixaram de ser arrecadados são estimados em R$ 136 bilhões. São recursos que poderiam ser destinados a setores prioritários como educação, saúde ou segurança. Só os furtos de água — equivalentes a 2,6 vezes o volume armazenado no sistema Cantareira, em São Paulo — representaram R$ 14 bilhões. Os de energia alcançaram R$ 6,3 bilhões.

Míriam Leitão - Coronelismo, emenda e voto

O Globo

O cientista político Carlos Melo diz que parlamentares se comportam como 'vereadores federais' e que, através das emendas, distorcem a relação legislativa

O Brasil está dominado pelo “coronelismo, emenda e voto” e por parlamentares que se comportam como “vereadores federais”. É o que pensa o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, sobre a crise política brasileira. Há uma hipertrofia do Legislativo e a atrofia do Executivo, que foi eleito para executar o Orçamento e já não consegue pelo crescimento das emendas parlamentares. O outro lado ruim do fenômeno é terem desaparecido os congressistas que pensavam as grandes questões nacionais, como havia no passado.

— A lógica hoje no Congresso Nacional é basicamente de interesses dos parlamentares em relação aos municípios. Outro dia, num ato falho, o presidente da Câmara falou “nos meus municípios”. É o velho patrimonialismo. Há deputados que carregam recursos em emendas para os seus municípios, seus currais eleitorais, fazem prefeitos, fazem vereadores e, portanto, garantem a base política, os cabos eleitorais, que vão reelegê-los — disse Melo, em entrevista que me concedeu na GloboNews.

Ricardo Patah* - Um novo modelo sindical

O Globo

É fundamental que existam sindicatos fortes para a defesa dos interesses dos trabalhadores num governo democrático

As mudanças no mundo do trabalho mostram um futuro cheio de desafios inéditos. Eles surgem no bojo da inteligência artificial e das tecnologias que emergem a todo instante, além das estratégias de negócios que comportam a terceirização sem limites. Tudo isso ampliado pela crise ambiental devastadora. A velocidade crescente das transformações exige que o movimento sindical promova estudos e estratégias para encará-las.

Vencer esses desafios é essencial para garantir a representatividade da classe trabalhadora. É fundamental que existam sindicatos fortes para a defesa dos interesses dos trabalhadores dentro de um governo democrático. Os sindicatos, historicamente, estão no nascedouro da democracia moderna. Vale lembrar que as democracias têm sido duramente atacadas pela ultradireita, pelo fascismo e pelo neoliberalismo, que difundem o ódio e o individualismo exacerbado.

Thiago Prado* - Marielle e a verdade que incomoda

O Globo

Sequência de problemas na investigação começa a ser questionada após meses de silêncio na esquerda

No último domingo, reportagem do Fantástico exibiu pela primeira vez os vídeos da delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018. Com o depoimento, a Polícia Federal (PF) indiciou, e a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou como mandantes do atentado, os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, além do delegado da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa. Os três estão presos desde o fim de março, acusados pelo crime. Uma voz solitária começou a expor nesta semana a verdade incômoda só reconhecida pela esquerda em conversas reservadas. Enquanto celebravam o encerramento do caso em entrevistas e postagens na internet, parlamentares do PT ao PSOL admitiam privadamente que há uma série de problemas no fato de a investigação estar toda baseada na delação de Lessa.

Maria Hermínia Tavares - Os danos de uma decisão

Folha de S. Paulo

Se os templários da Lava Jato desmoralizaram o combate à corrupção, definitivamente não a inventaram

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), cravou mais um prego no caixão da Operação Lava Jato, ao anular todos os atos da turma de Curitiba contra Marcelo Odebrecht.

Em fevereiro último, Toffoli suspendera os pagamentos de multas que somavam bilhões de reais, estabelecidas pelo acordo de leniência firmado entre o Ministério Público e a empreiteira fundada pelo avô de Marcelo, Norberto Odebrecht.

Cinco meses antes, o mesmo Toffoli anulara as provas entregues pela Odebrecht (hoje rebatizada como Novonor). As evidências expunham a corrupção em 49 contratos firmados com órgãos públicos nacionais e em uma dúzia de países estrangeiros, nos quais a construtora reconheceu ter desembolsado US$ 788 milhões em propina.

Malu Gaspar - A sinuca de Lula

O Globo

Não chegou a ser surpresa para ninguém que acompanhe os debates no Congresso Nacional ver o governo Lula ser derrotado nas votações da autorização para a saidinha de presos e do artigo da nova Lei de Segurança Nacional que previa a punição à disseminação de fake news. Era o caminho natural num parlamento dominado pela direita, ainda mais em ano eleitoral.

Já faz tempo que a cúpula lulista compreendeu que, nas “pautas de costume”, não há o que fazer a não ser marcar posição e torcer para não perder de muito. Sempre que entram na ordem do dia, temas como saidinha, demarcação de terras indígenas, descriminalização das drogas ou restrição a fake news vão direto para a coluna dos prejuízos da contabilidade governista.

Luiz Carlos Azedo - Derrota do governo foi recado de Pacheco e Lira

Correio Braziliense

O revés mais sério do governo foi o Congresso manter o veto de Jair Bolsonaro, de 2021, à criminalização das fake news eleitorais, que violam as regras democráticas

Há que se ter certa cautela na avaliação das derrotas sofridas pelo governo na derrubada dos vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Congresso, na noite de terça-feira. Do ponto de vista do jogo democrático, faz parte de um cenário em que o governo luta pelo restabelecimento do “presidencialismo de coalizão”, enquanto os partidos do Centrão que integram a sua própria base parlamentar, com os petistas docemente constrangidos, pretendem impor um “semipresidencialismo” informal e irresponsável.

A diferença entre um conceito e outro não é o compartilhamento do governo com os aliados, o que já existe, mas o grau de compromisso de suas respectivas bancadas com os interesses da sociedade e a qualidade de investimentos em políticas públicas. Uma análise atenta dos vetos derrubados e dos que foram mantidos mostra isso com clareza. As derrotas impostas ao governo foram mais simbólicas da agenda conservadora hegemônica no Congresso do que realmente um xeque-mate na governabilidade, para que o presidente Lula faça uma reforma ministerial. Não haverá reforma antes das eleições municipais.

Bruno Boghossian - Morte cruzada

Folha de S. Paulo

Acordo levou em conta prejuízo político diluído, mas é um negócio melhor para Câmara que para o presidente

O acordo para aprovar a taxação de compras internacionais começou a sair da caixa há uma semana. Enquanto o governo anunciava que vetaria a tributação, Fernando Haddad dava a senha. "Temos que buscar uma solução conjunta", disse o ministro, na Câmara. "Não pode recair sobre uma pessoa a responsabilidade por resolver esse problema."

Alguns ministros sempre foram favoráveis à cobrança de tributos sobre encomendas de até US$ 50 que chegam do exterior. Haddad e Geraldo Alckmin ouvem queixas da indústria e do comércio desde os primeiros dias de mandato, mas nunca haviam conseguido convencer Lula a queimar pontos de popularidade para proteger as empresas nacionais.

Vinicius Torres Freire - Tarcísio e o caldeirão do Huck

Folha de S. Paulo

Frustrados com Lula buscam alternativa, mas ricos 'frente ampla' rejeitam bolsonarismo

Certa elite brasileira adotou a candidatura de Tarcísio de Freitas a presidente em 2026, por gosto e por pragmatismo bruto, pois ainda não há alternativa na direita. A campanha midiática para passar um verniz no governador de São Paulo é cada vez mais legível, audível e visível.

Figuras típicas dessa turma aceitam Tarcísio assim como ele é. Outras, não. Mas podem se render a ele. Essa a novidade.

Gente com aversão ao programa destrutivo do bolsonarismo pensa em adotá-lo, dar-lhe polimento e expandir as alianças do governador paulista. O problema é como uma candidatura Tarcísio pode ser viável sem a transfusão de sangue de Jair Bolsonaro. Um Tarcísio muito limpinho levaria Bolsonaro a ameaçar um apoio a Caiado?

Thiago Amparo - No Congresso, a derrota é do país

Folha de S. Paulo

Fim da saidinha é motivo de festa para facções recrutarem novos membros

Congresso, as facções criminosas agradecem o fim da saída temporária. Toda vez que vossas excelências diminuem a progressão de pena no país, as mais de 70 facções que dominam o já abarrotado sistema carcerário fazem festa com a prospecção de recrutar novos membros. O Parlamento age como o departamento de recursos humanos do crime, capaz de transformar ladrão de galinha ou usuário condenado como traficante no novo integrante do Comando Vermelho e do PCC, facções presentes em 25 das 27 unidades da Federação.

William Waack - Jogo do perde-perde

O Estado de S. Paulo

As principais questões de mérito em disputa entre os dois Poderes estão subordinadas ao embate político ideológico de curtíssimo prazo

Uma das bolhas comemora e a outra lamenta o fato de o Congresso ser forte e o governo fraco. Para o País, é um jogo de soma zero.

Lula diz que sabia da extraordinária mudança na relação de forças entre os Poderes Legislativo e Executivo, mas preferiu confiar no gogó e no STF para enfrentar um problema que se tornou estrutural. O resultado não são apenas derrotas para o governo, como aconteceu nesta semana. É paralisia.

As principais questões de mérito em disputa entre os dois Poderes estão subordinadas ao embate político ideológico de curtíssimo prazo – e à popularidade do presidente, agora sob os cuidados de sua mulher (que ocupou parte do antigo estado maior petista). O exemplo mais evidente foi a questão da taxação das “blusinhas”.

Eugênio Bucci - A Polícia Militar ficou mais arrogante?

O Estado de S. Paulo

Em tempos de democracia, o governo paulista corteja o autoritarismo. A arrogância da repressão parece pior do que em 1984

Na sexta-feira à tarde, um episódio medonho na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco machucou o espírito de quem ama aquela escola. Perfilados diante das portas do Salão Nobre, policiais militares armados – e muito à vontade – barravam a entrada de estudantes que protestavam contra a presença do governador no recinto. Dentro do auditório mais solene da velha academia, tomava posse o novo procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa. Além do chefe do governo paulista, a cerimônia reuniu ministros do Supremo Tribunal Federal, o prefeito da cidade e mais uma porção de autoridades. Do lado de fora, nos corredores, a juventude que gritava palavras de ordem pacificamente era tratada aos empurrões. Há vídeos em portais noticiosos de grande credibilidade, como o G1. No meio da escaramuça, um policial leva a mão ao coldre, como se quisesse sacar a arma. Professores e professoras, numa prova de coragem e lucidez, se posicionaram como escudos físicos entre o contingente policial e os manifestantes. Foi a forma que encontraram de proteger seus alunos.

Fernando Exman - A economia gaúcha ontem, hoje e amanhã

Valor Econômico

Desolada, uma mulher contou à comitiva presidencial que visitava os flagelados no Rio Grande do Sul os dramas que enfrentava com o filho. Era dia 15 de maio. O abrigo onde estavam instalados em São Leopoldo abrigava 1.500 pessoas atingidas pela catástrofe climática que devastou o Estado.

“Ele fica pedindo os brinquedos, não está entendendo porque eu não estou dando os brinquedos dele”, lamentou, devastada, acrescentando que o garoto também não parava de perguntar se realmente procedia o que um amiguinho dizia. “É verdade que a escola foi levada pela água?”, repetia ele à mãe, que não sabia o que responder.

Àquela altura, não havia mesmo como prever quando voltariam para casa. Nem o retorno às aulas.

Carolina Nalin – Desemprego tem menor taxa em dez anos, e emprego bate recorde

O Globo

Emprego no setor privado bate recorde no país, e taxa de desocupação fica estável em abril

Número de trabalhadores com carteira chega a 38,1 milhões e sem carteira atinge 13,5 milhões, os maiores níveis desde 2012. Rendimento médio do trabalhador cresce 4,7% no ano

A ocupação no setor privado bateu recorde no país no trimestre encerrado em abril, com o emprego com e sem carteira atingindo os maiores níveis da série histórica, iniciada em 2012. A renda média do trabalhador cresceu 4,7% no ano (R$ 3.151), e a massa de rendimentos também chegou ao seu maior patamar da série (R$ 313,1 bilhões).

Poesia | Saudade, de Pablo Neruda

 

Música | Chico Buarque - João e Maria