segunda-feira, 28 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Urnas trouxeram más notícias a Lula e Bolsonaro

O Globo

Eleições municipais registraram avanço notável de partidos de centro e centro-direita, desafiando polarização

Depois da abertura das urnas do segundo turno neste domingo, ficou claro que a eleição municipal trouxe más notícias ao presidente Luiz Inácio da Silva e ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Tanto um quanto outro se revelaram pouco eficazes como padrinhos de candidatos — enquanto partidos de centro e centro-direita conquistaram avanços notáveis, em desafio à polarização ideológica.

O PSD é o partido que comandará o maior número de prefeituras: 887, seguido de MDB (854), PP (747) e União Brasil (584). O PL de Bolsonaro, que planejava fazer das eleições municipais um trampolim para consolidar sua força nacional, ficou em quinto, com 517. E o PT, de Lula, ficou em nono com 252, atrás até do PSDB (274).

Os alertas paulistanos e a reeleição do prefeito - Carlos Melo

O Globo

Vitória de Ricardo Nunes aponta para um dado fundamental desta eleição: Jair Bolsonaro restou como mito decaído

Se “São Paulo é como o mundo todo”, os problemas da cidade espelham o país e revelam ao sistema político, à opinião pública e à Justiça Eleitoral o imperativo de renovar um modelo desgastado. A começar pelos recursos, para além do fundo eleitoral: o uso arbitrário da máquina pública, obras sem licitação, o velho patrimonialismo, enfim. Tudo isso acaba por ter influência na eleição.

E compromete o entendimento se os reeleitos foram mesmo eficientes ou se esbanjaram recursos mal gastos, com foco exclusivo na eleição ou no favorecimento de grupos específicos. O tempo dirá, mas é necessário investigar. Outro ponto: o crime organizado ocupou espaço no debate público de modo inédito, seja por denúncias de associação com políticos, seja pela percepção geral de financiamento ilegal de campanhas, ficando uma perigosíssima sombra sobre a higidez do sistema.

Não bastassem essas questões, Pablo Marçal debutou numa eleição de modo avassalador. Houve uso e abuso das redes sociais, proliferação de fake news. Normalizadas, as mentiras campearam na mesma medida em que, paradoxalmente, escândalos deixaram de chocar uma sociedade letárgica. Sem regulamentação e punição efetiva para os excessos, o precedente torna-se inspiração.

A idade da queda – Fernando Gabeira

O Globo

Idosos muitas vezes têm problemas de equilíbrio, déficit de visão. Nesse caso, a casa torna-se uma perigosa armadilha

Lula caiu no banheiro, cortou a cabeça e, em algumas horas, já estava apto para as tarefas cotidianas. Ele pratica musculação, caminha com regularidade, e sua dieta deve ser orientada por nutricionista. Nem todos os idosos, no entanto, têm a mesma sorte quando sofrem um acidente doméstico.

Estou lendo um belo livro da escritora portuguesa Lídia Jorge. Chama-se “Misericórdia” e se passa dentro de uma casa de repouso, chamada Hotel Paraíso. São precisamente 70 internos. Quando morre um, há nova admissão.

A narradora, que usa cadeira de rodas, ficou chocada quando uma recém-admitida descreveu sua queda. Era idêntica à que sofrera:

— Era demasiado semelhante ao que havia me acontecido três anos atrás, quando caí junto da porta de entrada e lá estive várias horas deitada de bruços, e o vizinho da Villa Sol me foi levantar do chão.

Lula e Bolsonaro perderam em São Paulo – Demétrio Magnoli

O Globo

Sem surpresa, triunfou o continuísmo, o peso das máquinas estaduais e municipais

Não foi piramidal a ideia de Lula de exibir a eleição paulistana como embate contra Bolsonaro. A derrota de Guilherme Boulos fica parecendo uma vitória bolsonarista — e não é. Em São Paulo, sem surpresa, triunfou o continuísmo — o peso das máquinas estaduais e municipais.

Lula perdeu, obviamente, em São Paulo, pois Boulos é o homem do presidente no PSOL — a figura que inseriu o partido na órbita do PT. A rejeição — a Lula, mas especialmente ao próprio Boulos — fez o serviço. Poucos deram crédito ao giro retórico do candidato rumo ao centro, concluído por uma contrafação eleitoreira da célebre Carta aos Brasileiros assinada por Lula no longínquo 2002. Ninguém ligou para a vice, Marta Suplicy, a quem o pensamento mágico atribuía o poder de atrair o voto periférico da Zona Sul.

Nunes e Tarcísio falam em ‘futuro’ ao celebrar vitória - Vera Magalhães

O Globo

Não à toa uma mesma palavra esteve presente nos discursos do prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes, e do governador do estado, Tarcísio de Freitas, ontem: futuro. Durante todo o processo eleitoral, a coalizão construída para a campanha do emedebista foi tratada nos bastidores como um laboratório de uma nova frente ampla nacional.

O fenômeno de uma grande união suprapartidária elegeu Lula contra Jair Bolsonaro em 2022. Apenas dois anos depois, no entanto, o presidente não cuidou para que as alianças nas quais o PT figurou nos pleitos municipais tivessem uma configuração mais centrista, como aquela que levou nomes como Simone Tebet, João Amoêdo e Armínio Fraga ao seu palanque. Agora, a direita quer usar a vitória em São Paulo como ponto de partida para atrair essas forças para o seu quadrado.

Futuro da direita passa por acomodação entre Bolsonaro e Tarcísio - Malu Gaspar

O Globo

Numa eleição em que o Brasil rumou para o conservadorismo e a direita dominou o cenário, sobram interrogações sobre o dia seguinte, especialmente sobre os efeitos desse novo cenário sobre a configuração da direita e sobre a disputa pela presidência em 2026.

Uma das pistas para divisar uma resposta está na derrota no segundo turno dos candidatos pelos quais Jair Bolsonaro mais se empenhou —e que não por acaso ostentavam os discursos mais extremados. De Fred Rodrigues (PL), com quem o ex-presidente foi votar em Goiânia, a Bruno Engler, menino-prodígio do bolsonarismo em Belo Horizonte, passando por Cristina Graeml, apelidada de “Ivermectina Graeml” em Curitiba, todos apostaram na retórica agressiva ou na pauta de costumes para ganhar terreno e morreram na praia.

Duas derrotas em especial deram fôlego a desafiantes de Bolsonaro na direita: em Goiânia, onde Ronaldo Caiado emplacou Sandro Mabel (União), e Campo Grande, onde Teresa Cristina elegeu Adriane Lopes (PP). Ambos tem boas chances de chegar a 2026 como candidatos de seus partidos, justamente para aproveitar o apetite do eleitor pelo voto na direita e fazer boas bancadas para o Parlamento.

Fiasco da esquerda é novo alerta para governo Lula - Bernardo Mello Franco

O Globo

No dia seguinte ao primeiro turno, o ministro Alexandre Padilha tentou atenuar as derrotas da esquerda nas urnas. Alegou que “o conjunto de partidos que apoiam o governo” teria vencido as eleições municipais.

O balanço cor de rosa contabilizava triunfos de siglas do Centrão que ocupam ministérios, como PSD, MDB e União Brasil. Faltou dizer que essas legendas não apoiaram Lula em 2022 e não se comprometem a apoiá-lo em 2026.

Os partidos de esquerda e centro-esquerda disputavam o segundo turno em seis capitais. Perderam em cinco e venceram apenas em Fortaleza, onde Evandro Leitão (PT) bateu o bolsonarista André Fernandes (PL) por míseros 10 mil votos de diferença.

Sucessão presidencial passa por PSD e MDB - Andrea Jubé

Valor Econômico

São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, onde MDB e PSD derrotaram o PT e o PL, resumem o principal recado das urnas nas eleições deste ano

As ausências do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos palanques das principais vitórias do segundo turno, como São Paulo e Belo Horizonte, revelam que a sucessão presidencial está em aberto, e passará, obrigatoriamente, por PSD e MDB. Com a frase “o seu sobrenome é futuro”, o prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), lançou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como candidato à Presidência da República em 2026.

Resultados municipais tiram força da polarização - César Felício

Valor Econômico

PSD termina o processo como o grande vencedor, com 887 prefeitos eleitos; MDB elegeu 854

O resultado final das eleições municipais deste ano relativiza a polarização nacional entre os campos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro. Quem ocupou o espaço do centro no segundo turno, na grande maioria das 50 disputas, foi o vencedor. Os candidatos que não conseguiram sair do espectro ideológico de seus partidos, na maior parte dos casos, foram derrotados.

O PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab terminou o processo eleitoral com o maior número de municípios (887). Venceu no domingo 9 dos 10 segundos turnos que disputou, inclusive em Belo Horizonte e Curitiba, respectivamente com Fuad Noman e Eduardo Pimentel.

O segundo em número de municípios é o MDB, que reelegeu Ricardo Nunes em São Paulo Sebastião Melo em Porto Alegre e elegeu Igor Normando em Belém. No total a sigla ficou com 854 municípios. Na divisão por eleitorado governado, MDB e PSD praticamente empataram na liderança, o primeiro administrando 27,7 milhões de eleitores e o segundo, 27,6 milhões.

Direita e esquerda no Brasil do século XXI - Bruno Carazza

Valor Econômico

Resultado das eleições legislativas mostram um eleitorado em mutação e em disputa em ambos os campos

Mais uma eleição se encerra. Partidos celebram seus eleitos e minimizam a frustração das derrotas. Apesar de as fotografias dos prefeitos eleitos nas principais capitais ocuparem as principais páginas da edição de hoje dos jornais, o importante mesmo é não perder de vista o filme que se desenrola ano após ano. No enredo da política brasileira neste século, temos um “plot twist”, além de personagens principais saindo de cena e dando lugar a novos protagonistas.

Para mostrar a evolução da disputa política neste século, calculei o percentual de votos que cada partido conquistou para o Legislativo - seja ele municipal, estadual ou federal. Eu gosto desta variável porque ela demonstra a força da legenda como um todo, e não apenas a dos candidatos para o Executivo, que tem um forte cunho personalista. Para além de medir a preferência dos eleitores, o número total de votos para o parlamento também reflete a capacidade de cada agremiação em atrair puxadores de votos para seus quadros.

Polarização de gênero? - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Voto 'progressista' das mulheres existe há pelo menos 50 anos na Europa ou 30 anos nos EUA, e mais recente no Brasil

Nas eleições presidenciais americanas, nas eleições gerais na Europa e também nas municipais no Brasil há referências ubíquas a um suposto novo fenômeno no eleitorado: a clivagem de gênero (gender cleavage ou gap). O eleitorado feminino agora seria de esquerda, enquanto o masculino de direita. Ocorre que esta tendência não é exatamente nova; ela pode ser observada há pelo menos 50 anos (ou até 70 anos) em muitos países europeus e 30 anos nos EUA. No Brasil é mais recente, mas não apareceu agora.

Quando o sufrágio feminino adquiriu força no período entre as duas guerras mundiais e se generalizou no pós-guerra, a percepção geral era que o voto feminino era conservador. Há evidências nesse sentido para o período entre 1900 e 1955, quando o gap desaparece. Em "The Civic Culture" (1963), o primeiro grande estudo sobre valores e opinião pública, um clássico reverenciado da ciência política, Gabriel Almond e Sidney Verba concluíram que "o comportamento político das mulheres divergia dos homens apenas no sentido de ser mais apático, paroquial e conservador".

Nacionalização não ocorreu, mas ainda pode vir - Cláudio Couto

Folha de S. Paulo

Mais do que evitar levar consigo a culpa por eventuais derrotas, Lula escapou à armadilha de criar desafetos nestas eleições; já Bolsonaro, nem tanto

Como costumeiramente ocorre, as eleições municipais de 2024 não se marcaram pela nacionalização. Nem o eleitorado vota no município com a cabeça na política nacional, nem os pleitos municipais antecipam o resultado da subsequente disputa presidencial. Embora isto seja mais verdadeiro para pequenas e médias localidades, não deixa de valer para grandes, onde muitas disputas se resolvem só no segundo turno.

Apenas no caso da eleição para a Câmara dos Deputados a conquista de prefeituras e cadeiras nas Câmaras Municipais importa nacionalmente, pois constrói uma rede de articulação político-eleitoral relevante para candidatos cuja votação (apesar da regra proporcional do pleito) é primordialmente de natureza local, numa distritalização informal. Eleições majoritárias de base territorial ampla —governador, senador e presidente— têm outra dinâmica. Para elas, até ajuda dispor de uma ampla rede de correligionários implantada localmente, mas está longe de ser decisiva.

Eleição de 2024 foi a última pá de cal no enterro do PSDB - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Partido foi atropelado pelo bolsonarismo e, desde então, nunca mais conseguiu se recuperar

Os resultados das eleições de 2024 foram a última pá de cal no enterro do PSDB. O partido já havia sofrido perdas significativas nas eleições de 2022. Em uma federação com o Cidadania desde o último pleito nacional, as siglas que, em 2018, elegeram 37 deputados federais, perderam 19 parlamentares. Considerando apenas o resultado dos tucanos, a redução foi de 29 deputados para 13.

No Senado, o partido nunca havia tido menos de 10 integrantes desde 1990. Porém, em 2018 o número caiu para 8, e, em 2022, foi reduzido pela metade. Nos anos seguintes, a migração dos senadores Alessandro Vieira (SE), Mara Gabrilli (SP) e Izalci Lucas (DF) para outras legendas, fez com que o partido passasse a ter apenas um senador, Plínio Valério (AM), constantemente assediado por outras siglas.

Tarcísio temia ‘virada’ ao jogar sujo no dia da votação? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

O que soa mais surpreendente é que a margem de vantagem de Nunes sobre Boulos é grande o suficiente para que Tarcísio e o próprio Nunes não quisessem fazer marola

Guilherme Boulos chega à votação no segundo turno como chegou no primeiro: alvo de um jogo baixo, sujo, que demonstra medo, ou desespero, de quem faz. Antes, o adversário Pablo Marçal lançou aquele laudo grotescamente falso, envolvendo Boulos com drogas, agora o governador Tarcísio de Freitas joga no ar, sem mostrar qualquer prova, o apoio do PCC ao candidato do PSOL.

Tarcísio faz o que nenhum fez em 22 anos - Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Insinuações de ligações do PCC com candidatos e partidos fazem parte do embate político nos últimos 20 anos: a diferença agora foi isso ser tratado pelo governador em uma entrevista coletiva

Era outubro de 2002. O delegado Godofredo Bittencourt Filho, então diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) havia acabado de indiciar toda a cúpula do Primeiro Comando da Capital no maior inquérito até então feito contra a organização criminosa. Pela primeira vez um candidato petista ao governo de São Paulo disputaria o segundo turno. José Genoíno ia disputar a eleição contra o tucano Geraldo Alckmin.

Foi nesse contexto que surgiu pela primeira vez a informação de que um preso do PCC determinara o voto na candidatura de um petista. A informação vazou para jornalistas. Mas nem Alckmin nem nenhuma outra liderança tucana a divulgou em meio a uma entrevista coletiva. O mesmo aconteceu nas eleições seguintes: as administrações de Cláudio Lembo e de Rodrigo Garcia seguiram o mesmo roteiro de Alckmin. Nenhum deles tentou usar politicamente essa informação contra seus opositores.

Centro-direita vence eleições ao ofertar políticas que deseja o eleitor - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

Eleitor não deseja alternativas que gerem desequilíbrios macroeconômicos e corrupção, também não quer ver a democracia constantemente em ameaça; paradoxalmente, a maioria dos eleitores optaram, circunstancialmente, pela alternativa que se revelou menos pior e livre de surpresas

A centro-direita foi o maior vencedor das eleições municipais de 2024. Essa vitória foi consequência de uma melhor compreensão das demandas crescentes da sociedade brasileira por pragmatismo, política local, menos ideologia e vontade de empreender.

O perfil de eleitor e as respostas que os partidos políticos e candidatos têm ofertado para contemplar suas demandas não são fixas no tempo. Quem consegue capturar esse eleitor, ofertando as respostas que melhor preenchem as suas expectativas, consegue ser vitorioso nas eleições.

O modelo de desenvolvimento excludente, não apenas econômico, mas também social, implementado pela ditadura militar, gerou pressões crescentes por redistribuição. Seja na sua versão irresponsável ou com responsabilidade a partir do Plano Real, tudo virou sinônimo de inclusão social, de respeito à diversidade e de políticas de proteção a direitos e a minorias.

Estilo personalista impede Bolsonaro de capitalizar - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

O resultado das eleições municipais fortaleceu a direita e preparou o terreno para que esse campo político avance ainda mais no Congresso em 2026

À primeira vista, o bom desempenho da direita nas eleições municipais deste ano, confirmado pelos resultados do segundo turno, deveriam fortalecer o capital político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas há um elemento que o impede de aproveitar todo o potencial dessas vitórias: o fato de ter tratado essas eleições como um trampolim para o seu projeto de retornar à presidência em 2027, confiante em uma duvidosa anistia via Congresso, a ponto de sabotar candidatos apoiados por lideranças de direita que podem ocupar o seu lugar nas próximas eleições.

Nem Lula, nem Bolsonaro, centro-direita venceu segundo turno – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A vitória mais emblemática é a do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), contra Guilherme Boulos (PSol), com apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos)

Há muito a se considerar em relação aos resultados do segundo turno das eleições, mas uma coisa é certa: confirmam a tendência apresentada, já no primeiro turno, do predomínio das forças de centro-direita moderadas e conservadoras, tanto em relação ao PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quanto ao PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou com muita força ao segundo turno das capitais, mas morreu na beira da praia. Quando confrontaram as forças de centro-direita e moderadas, na maioria dos casos, ambos foram derrotados.

A vitória mais emblemática é a do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), contra Guilherme Boulos (PSol), com apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem o eleito atribui maior importância na sua eleição, e também de Bolsonaro. Pesaram na eleição as máquinas administrativas municipal e estadual e a aliança política ampla, que reuniu 10 partidos e garantiu o apoio da grande maioria dos vereadores paulistanos. Tarcísio sai das eleições municipais como grande vitorioso.

A esquerda no seu labirinto - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

A esquerda não encontra espaço para operar seu modelo sindicalista e se transforma em agente conservador

O professor Cristovam Buarque vinha ensaiando a crítica maior que apareceu, por completo, no seu artigo De farol a retrovisor, publicado no Correio Braziliense no último dia 23. O ilustre professor, ex-governador do DF, faz profunda crítica às esquerdas de maneira geral e ao PT, em particular. Ele que foi ministro da Educação do presidente Lula, duas vezes senador, era um petista raiz até votar a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Jamais foi perdoado. Independentemente de questões pessoais, a crítica à esquerda é uma realidade que se impõe pela verdade dos fatos.

As eleições de 2024 e as de 2026 - Ivan Alves Filho*

Escrevo logo após o encerramento do segundo turno das eleições de 2024. Ainda que de forma esquemática, convém observar, desde já, no tocante a essas eleições:

O grau considerável de abstenções, votos nulos e em branco nas grandes capitais, sobretudo no primeiro turno, atingindo a ordem de 40%;

em cidades importantes - e podemos citar Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Recife, Porto Alegre e, também, São Paulo - onde a polarização lulismo × bolsonarismo não aconteceu, houve vitórias do Campo Democrático;

Inversamente, onde essa polarização lulismo × bolsonarismo se deu, o lulismo foi derrotado, a exemplo de Cuiabá e Natal. A única exceção foi Fortaleza.

Eleições mostram esquerda diante de enigmas que podem devorá-la - Rodrigo Nunes*

Folha de S. Paulo

Não será fechando os olhos e apostando na volta a uma normalidade perdida que os problemas serão resolvidos

[RESUMO] Professor de filosofia analisa que fraco desempenho da esquerda nas eleições municipais deste ano decorre de uma série de complexos problemas aos quais ela não vem oferecendo resposta adequada, como a crescente desigualdade econômica, a precarização do trabalho, a submissão da política à lógica das redes sociais, os desastres ecológicos e o crescimento da extrema direita. Fazer de conta que a crise é passageira, e não produto de tendências de longo prazo, apenas irá acelerar derrocada das forças progressistas, avalia.

A despeito de eventuais viradas na votação deste final de semana, o veredito sobre o resultado das eleições municipais está dado. Ele indica uma incapacidade da esquerda em transformar sua volta à Presidência, uma vitória apertada há dois anos, em uma retomada mais ampla, capilarizada na política local em diferentes partes do país.

Indica também que o governo Lula falhou até aqui em reacender o otimismo que acompanhou sua eleição duas décadas atrás, ou mesmo as memórias positivas do que veio depois.

Percebe-se ainda uma consolidação do centrão —como pano de fundo que, de tão pervasivo, ameaça a todo momento ocupar o centro da cena política brasileira— e do bolsonarismo —não apenas uma força que pode continuar a existir para além de Bolsonaro, mas um vírus suficientemente potente para sofrer mutações altamente contagiosas, como demonstrou a candidatura de Pablo Marçal em São Paulo.

Diante disso, proliferam os diagnósticos de crise, ou mesmo morte, da esquerda brasileira; todos são justos à sua maneira. Mas o que ocorre no Brasil está longe de ser um caso isolado.

E ainda que estas eleições tenham sido marcadas por questões bastante nossas —o fortalecimento de um bloco de lideranças evangélicas alinhadas à extrema direita, a infiltração crescente do crime organizado na política, o papel determinante das chamadas emendas Pix no aumento da taxa de reeleição—, elas têm como pano de fundo um conjunto de enigmas que a esquerda global hoje enfrenta, sem saber dar-lhes resposta.

É a vez de mudanças na economia - Celso Ming -

O Estado de S. Paulo

Mesmo antes dos resultados do segundo turno das eleições, já se sabe que alguma mudança importante precisa ocorrer na política econômica.

Ainda que disfarçadas de desenvolvimentistas, as velhas propostas populistas do governo do PT já não conseguem alavancar apoio político.

O presidente Lula ainda tenta manter no ar a narrativa de que a perda de apoio político se deve unicamente à comunicação ineficaz por parte de seus ministros e dos políticos petistas e aliados, que não conseguem dar a devida ênfase aos bons resultados da atual política, como o crescimento da atividade econômica e a redução do desemprego.

Poesia | Soneto do amor total - Vinicius de Moraes

 

Música | A Possibilidade -Jorge Aragão