domingo, 16 de junho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Alcance do PCC prova fracasso do Brasil no combate ao crime

O Globo

Expansão da facção revelada pelo GLOBO mostra que passou da hora de o governo federal cumprir seu papel

Em 31 de agosto de 1993, surgia na Casa de Custódia de Taubaté, em São Paulo, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), criada sob o pretexto de combater a opressão no sistema penitenciário e de evitar massacres como o do Carandiru, que deixara 111 mortos um ano antes. Três décadas depois, o PCC tornou-se uma potência do crime. Domina rotas internacionais do comércio de drogas, controla presídios, influi nos índices de violência e desafia governos, como mostrou a série especial do GLOBO “Multinacional do tráfico”.

O foco no faturamento, especialmente a partir da ascensão do chefão Marcos Willians Herbas Camacho, ou Marcola, rapidamente expôs a realidade da organização criminosa. Nas últimas décadas, o PCC não só consolidou sua hegemonia nos presídios paulistas, como expandiu seus domínios para outros estados e países, despertando a atenção de autoridades internacionais. Em 2021, foi incluído numa lista de bloqueios do Departamento de Tesouro dos Estados Unidos.

Merval Pereira - Imagem congelada

O Globo

O mundo mudou, e Lula não mudou com ele na prática, embora na retórica pareça ter mudado

O sucesso que o presidente Lula faz no exterior justifica suas viagens internacionais, polindo a própria imagem e a do país, que passou quatro anos sendo enxovalhada pelas atitudes radicais e retrógradas do seu antecessor. Mas não tem consequências para as crises de seu governo, onde se vê a cada dia mais impotentes diante do avanço da oposição.

Agora mesmo, na reunião da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Genebra, Lula foi aplaudido de pé ao defender a democracia, e emitiu conceitos estimulantes a seus correligionários de esquerda no mundo, como a direta afirmação contra Elon Musk, ao afirmar que não precisamos buscar em Marte a solução de nossos problemas, é a Terra que precisa de cuidados.

Míriam Leitão - Caixa de horrores de Arthur Lira

O Globo

Matérias retrógradas, destruidoras de direitos, estão sendo aprovadas a toque de caixa na Câmara dos Deputados

A sensação que fica é que há, à disposição do presidente da Câmara dos Deputados, uma caixa de horrores, de onde saem assombrações que ele pode usar na medida da sua conveniência. De lá acaba de sair a urgência para votar uma lei medieval, que retrocede onde deveríamos avançar. Um projeto que, se aprovado, ataca a mulher numa sociedade em que as mulheres se sentem acuadas diante dos números alarmantes de estupros e feminicídios. Uma sociedade na qual tantas meninas são proibidas de viver seu tempo de menina.

Bernardo Mello Franco - Marcha do atraso

O Globo

A bancada fundamentalista terminou a semana com duas vitórias na Câmara. Avançou em pautas que pioram a vida de mulheres estupradas e dependentes químicos.

Em votação relâmpago, os deputados aprovaram a urgência do projeto que restringe o direito ao aborto seguro. A ideia é mandar para a cadeia quem interromper a gravidez após a 22ª semana. Mesmo nas situações em que a lei permite a prática: estupro, risco à vida da mulher ou anencefalia.

Na mesma quarta-feira, a Comissão de Constituição e Justiça aprovou uma proposta de emenda que criminaliza o porte de qualquer quantidade de droga. O texto dificulta a distinção entre usuário e traficante e abre caminho para aumentar o encarceramento de jovens negros e pobres.

Dorrit Harazim - Direito a um futuro

O Globo

Não está claro que pena seria reservada a crianças brasileiras que engravidaram por estupro

Cena modorrenta no plenário da Câmara dos Deputados em Brasília. Grupinhos de parlamentares, alguns sentados, outros de pé, uns de frente e muitos de costas para a mesa presidida pelo chefe da Casa, Arthur Lira. Várias cadeiras vazias. O clipe de 40 segundos começa com Lira entediado consultando o celular. Em seguida, aproxima o microfone e comunica em tom monocórdio:

— Orientação de bancada pelo acordo feito.

A cena modorrenta não se altera. Quem se interessasse em saber o que era pautado leria apenas “discussão e votação de propostas legislativas”.

Lira pausa um pouco, confere a orientação de bancada do PSOL e finaliza assim a banalidade de seu dia:

— Em votação. Aqueles que aprovam a urgência permaneçam como se acham. Aprovada.

Uma voz isolada dizendo “PCdoB contra, presidente”, ainda consegue ser registrada. Com Lira já de pé, um retardatário acrescenta, melancolicamente:

— Presidente, só para registrar a posição contrária do PT também.

Luiz Carlos Azedo - O trauma do aborto é um segredo das famílias brasileiras

Correio Braziliense

"Foi imediata a reação contrária da opinião pública, pelas redes sociais e nas ruas, à tentativa de criminalizar o aborto de crianças vítimas de estupro com penas de até 20 anos", observa o jornalista

Prêmio Nobel de Literatura de 2022, recebido aos 82 anos, a escritora francesa Annie Ernaux tinha 23 anos, em 1963, quando engravidou do namorado. Um relacionamento recente, sem muitas expectativas. Jovem universitária, de repente sua vida virou de ponta-cabeça. Sem poder contar para sua família, que vivia numa pequena cidade conservadora do interior da França, tomou a dramática decisão de fazer um aborto. Seu livro O acontecimento (Fósforo Editora), tradução de Isadora de Araújo Pontes, relata sua difícil e solitária trajetória em busca de um aborto, que à época era ilegal na França.

Annie Ernaux levou 30 anos para relatar essa história, já escritora consagrada, com uma obra literária toda pautada por forte conteúdo autobiográfico. "Faz uma semana que comecei esta narrativa, sem nenhuma certeza de continuá-la. Só queria testar meu desejo de escrever sobre isso", registrou em seu diário. O peso do domínio masculino sobre o corpo feminino transborda no texto, que todo homem deveria ler. "Se eu não relatar essa experiência até o fim, estarei contribuindo para obscurecer a realidade das mulheres e me acomodando do lado da dominação masculina do mundo".

Elio Gaspari - A Super Casa Civil é ilusão

O Globo

Lula e a torcida do Flamengo sempre souberam que a eleição de 2022 produziu um Congresso conservador. Com quase dois anos de governo, entrou no inferno astral das derrotas parlamentares e cada hierarca aponta para um responsável. A raiz dos erros vem de Lula e tem data. Em março de 2023, ele reuniu o Ministério e disse o seguinte:

“É importante que toda e qualquer posição, qualquer genialidade que alguém possa ter, é importante que antes de anunciar faça uma reunião com a Casa Civil para que a Casa Civil discuta com a Presidência da República, para que a gente possa chamar o autor da genialidade e possa anunciar publicamente como se fosse uma coisa do governo.”

Lula achava que esse modelo de administração poderia funcionar e Rui Costa, seu chefe da Casa Civil, acreditou. Pensou até mesmo que poderia filtrar o acesso de ministros ao presidente.

Lourival Sant’Anna - O futuro do centro

O Estado de S. Paulo

Moderados de direita e esquerda ainda predominam na Europa, mas cenário preocupa

O líder de um partido historicamente ligado a Charles de Gaulle, que liderou a resistência contra os nazistas, anuncia apoio ao grupo oriundo do regime nazista na França. Militantes brasileiros que ostentam a bandeira de Israel festejam a vitória da extrema direita francesa, antissemita. A última vez que uma tal confusão de ideias ocorreu, no Entre guerras, floresceram o nazismo e o comunismo.

A Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen, venceu as eleições para o Parlamento Europeu com o dobro da votação do Renascimento, movimento de centro liderado pelo presidente Emmanuel Macron: 31,4% a 14,6%. O partido conservador moderado Os Republicanos obteve apenas 7,25%.

Quando os resultados de boca de urna saíram, na noite de domingo, Macron convocou eleições para 30 de junho e 7 de julho para a Assembleia Nacional. O objetivo de Macron era despertar os franceses para a ameaça extremista e aglutinar as forças moderadas de direita e esquerda em torno do centro.

Eliane Cantanhêde - Reações tímidas e medrosas

O Estado de S. Paulo

Sem rumo e base sólida, governo sofre derrotas e Lula titubeia em temas graves

Governo fraco é alvo fácil de pressões da Câmara, do Senado, do mercado e da opinião pública, e é isso que acontece no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, que sofre derrotas no Congresso e titubeia em questões de grande relevância, como a equiparação do aborto a homicídio e o veto a delações premiadas de presos. O governo finge que não tem nada a ver com isso, vai, volta e fica no meio do caminho.

Até a reação à devolução da MP sobre PIS/Cofins, para compensar R$ 26 bilhões de perdas com a desoneração da folha de pagamentos, foi tímida, medrosa, com Lula, seus ministros e líderes apoiando a decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e deixando no sereno o ministro Fernando Haddad. Devolver projetos é quase um tapa na cara, o Planalto ofereceu a outra face.

José Roberto Mendonça de Barros - Um cenário bem mais difícil

O Estado de S. Paulo

Não há o menor sinal de que o presidente Lula irá dar algum apoio ao corte de gastos

Na edição de 19 de maio, escrevi neste espaço que o cenário econômico estava mais difícil, pois, desde a divulgação da inflação americana de março, uma sucessão de eventos reforçou uma perceptível piora das contas fiscais do ano corrente. Isso devido ao início das transferências para o Rio Grande do Sul e à necessidade de cobrir a perda de receita decorrente de duas pautas-bomba nascidas no Congresso: a renovação dos subsídios a 17 setores e a redução das contribuições previdenciárias dos pequenos municípios.

Nesse contexto, foi editada a MP 1.227, que limitava o volume de créditos de PIS/Cofins que as empresas poderiam utilizar, então enviada ao Congresso sem discussão prévia em nenhum fórum.

Celso Ming - Lula e o barranco à frente

O Estado de S. Paulo

Se o motorista não acredita que existe um barranco à frente e insiste em seguir na mesma direção, a trombada fica inevitável. Assim é o governo Lula, que vem trombando insistentemente com o Congresso, com o Supremo, com os governadores, com os evangélicos, com o mercado, com o agronegócio e outros setores importantes da economia, com alas do PT e com ele próprio.

A falha na percepção da existência do barranco começa com a falha do entendimento de que, se é para governar no interesse dos brasileiros, é para levar a sério a natureza de um governo de coalizão.

Grande parte do governo e o próprio presidente Lula agem como se a vitória nas eleições lhes assegurassem o direito de impor as diretrizes do PT que, por si sós, são de economia antiga e confusas.

Marcelo de Azevedo Granato - Crises que separam, crises que irmanam

O Estado de S. Paulo

A todas as nossas diferenças a Constituição atribui igual valor, o que faz de nós pessoas iguais. É essa a mentalidade que deve guiar um esforço de união nacional

Estamos acostumados a falar em crise no Brasil. No governo Dilma Rousseff, a palavra foi associada sobretudo à economia, com suas óbvias repercussões sociais. Dali em diante, porém, a crise mais pronunciada pelos brasileiros é a política. Foi ela que sobressaiu aos abalos provocados pela Operação Lava Jato, pela proeminência das redes sociais, das novas relações de trabalho, da religiosidade na sociedade. Até a pandemia de covid-19 foi transformada em crise política, que serviu, ainda, aos que arquitetaram a devastação da Praça dos Três Poderes em janeiro do ano passado.

Mas a tragédia climática e humanitária que se abateu sobre o Rio Grande do Sul nos expõe a outra crise, bastante diferente. Uma crise em que não se distingue uma pessoa ou um grupo “inimigo”; uma crise a ser combatida através da união dos cidadãos e da solidariedade ao povo gaúcho. Nisso, ela difere da crise política que há anos deforma nossa sociedade, fabricada para produzir desunião e conflito.

Celso Lafer - Sobre a diplomacia do governo Lula

O Estado de S. Paulo

A condução da política externa requer um esforço de sintonia com a sociedade para amainar riscos de polarização interna

Lula da Silva assumiu o seu terceiro mandato com o objetivo de se contrapor ao que foi o peso de passivos diplomáticos oriundos do “negacionismo” circunscrito da visão de mundo do presidente Jair Bolsonaro.

A repercussão internacional da eleição de Lula foi altamente positiva. Foi substanciada pelas suas prévias realizações diplomáticas, a vis atractiva de sua personalidade, seu conhecido interesse pelas relações internacionais, e pela sinalização, inovadora em relação ao Lula I e II, da ênfase que pretende dar ao meio ambiente.

É indiscutível que do ponto de vista quantitativo o Brasil de Lula está de volta ao mundo. É o que atestam suas muitas viagens internacionais, importante presença em reuniões em instâncias multilaterais, plurilaterais e regionais e as não menos numerosas visitas de altas personalidades estrangeiras.

Oscar Vilhena Vieira - A direita parlamentar parece ter perdido sua bússola moral

Folha de S. Paulo

Lira e seus liderados têm de explicar por que tanta violência contra meninas e mulheres

Com o objetivo de adular a extrema direita e constranger o governo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, facilitou a aprovação de regime de urgência para votação do infame PL 1904/24, que equipara a prática de aborto ao crime de homicídio, mesmo nos casos autorizados por lei, se realizado após 22 duas semanas de gestação.

Conferiu urgência também ao mal dissimulado PL 4372/16, que pretende impedir a homologação de acordos de delação premiada de réus presos.

A movimentação parlamentar causou perplexidade mesmo entre aqueles que não mais se deixam surpreender pela voracidade e soberba do centrão e da extrema direita na promoção de interesses mais mesquinhos e pautas obscurantistas, em detrimento do Brasil.

Celso Rocha de Barros - Malafaia e o aborto

Folha de S. Paulo

Deixem mulheres estupradas fora de maquinações para eleger presidentes da Câmara e Senado

Silas Malafaia é um profissional da sinalização de virtude com o sofrimento alheio. Ficou milionário entregando a seus seguidores certificados de bom comportamento cristão para quem exigir de pequenos grupos excluídos uma aderência à interpretação literal da Bíblia que ninguém, repito, ninguém no cristianismo moderno exige de si mesmo.

Sim, Levítico 18:22 e 20:13 proíbe a homossexualidade, mas também proíbe a cobrança de juros (25:37). O ex-banqueiro Paulo Guedes certamente já violou as disposições do Levítico mais vezes que o mais produtivo dos atores pornôs gays.

Nós, como sociedade, aprendemos que o mercado de crédito é um aliado do crescimento econômico, e aprendemos a respeitar os LGBTs. Nos dois casos, progredimos, e não acho que violamos a essência do evangelho.

O que já era errado na perseguição aos LGBTs cruzou a linha da indecência com o projeto de lei apresentado por Sóstenes Cavalcante, o homem de Malafaia no Congresso, que equipara ao homicídio o aborto realizado após 22 semanas de gestação, veja bem, para os casos em que a lei já permite o aborto, como nos casos de estupro.

Vinicius Torres Freire - O recomeço de Lula 3, a eleição municipal e a ofensiva reacionária

Folha de S. Paulo

Projetos de leis de selvageria social e risco de derrota em outubro dificultam retomada

Não é surpresa que esse Congresso proponha leis contra a civilização e o debate racional de problemas sociais.

Veio o ataque à "saidinha" de presos. Quer inscrever na Constituição o princípio da prisão em massa de quem for pego com droguinhas, uma contribuição para o recrutamento de soldados para as facções do crime, entre outros problemas.

A lei já reacionária sobre a interrupção voluntária da gravidez ("aborto"), piorada na prática por guerrilha jurídica e institucional, pode ficar mais desumana.

Bruno Boghossian - Tática de isolar extrema direita dá sinais de fadiga na Europa

Folha de S. Paulo

Falta de coordenação e mudança na preferência do eleitor abre buracos no chamado cordão sanitário

Por muito tempo, a Europa confiou que um apelo às forças políticas moderadas seria suficiente para isolar a extrema direita. A coalizão entre esquerda e centro-direita para bloquear o Chega em Portugal, a reprovação multipartidária à AfD na Alemanha e a união contra os Le Pen na França são exemplos desse caminho.

A consolidação da ultradireita na paisagem partidária, os ajustes cosméticos feitos por algumas legendas, a simpatia crescente do eleitores e o acovardamento de representantes da direita tradicional, porém, abrem buracos nesse cordão sanitário.

Hélio Schwartsman - Depois da revolução

Folha de S. Paulo

Livro provoca e diverte ao mostrar situações em que consensos da esquerda identitária se tornam meio delirantes

"Morning After the Revolution", de Nellie Bowles, é um livro feito para provocar —e consegue fazer isso.

Antes de continuar, um pouco de contexto. Bowles é uma jornalista que até pouco tempo atrás abraçava de corpo e alma os consensos da esquerda identitária. Apoiava todas as causas gays, feministas e antirracistas e participou de um cancelamento. Bowles, perseguindo um sonho de infância, se tornou repórter do The New York Times. Mas aí veio o amor. Ela se apaixonou por Bari Weiss, que era a colunista de direita do NYT. Bowles, hoje casada com Weiss e já fora do jornal, se tornou crítica de muitas das ideias que antes defendia. Para os que simpatizam com a autora, ela despertou do sonho dogmático; para seus críticos, é uma traidora que produziu uma obra equivocada e desbalanceada.

Muniz Sodré - Degeneração política

Folha de S. Paulo

Sem meias palavras, séria e honesta Maria da Conceição afirmava 'a crise brasileira é política'

Evento: seminário sobre a redemocratização brasileira em Washington, organizado no final dos anos 1980 pela Universidade de Maryland. Numa mesa, Darcy Ribeiro prometia entre jocosa e seriamente que, se o elegessem imperador, resolveria em três meses o problema econômico do Brasil. Maria da Conceição Tavares interrompe: "Não seja leviano, Darcy!" Ele então pergunta que êxito os economistas haviam obtido nos últimos 20 anos. Sempre autoafirmada como séria e honesta, ela responde: "Nenhum!" E contemporiza baixinho que Darcy levantava com verve o problema da decisão política.

Luiz Gonzaga Belluzzo - Querida Ceiça

CartaCapital

Sempre a rever as próprias ideias, nunca a negar o que escreveu

Ainda mergulhado em minhas tristezas e amarguras com a despedida de minha grande companheira de tantas batalhas, vou oferecer ao leitor de ­CartaCapital um perfil mais afetivo do que acadêmico de minha querida amiga Maria da Conceição Tavares.

Na posteridade da animada festa que celebrou seus 80 anos, na alegria que sempre mereceu dos amigos, Ceiça vestiu uma camisa do Vasco e saiu por aí. Foi ao jogo contra a turma da camisa listrada rubro-negra. Acompanhada do filho Bruno e do neto torceu e vibrou na arquibancada. O time do Almirante não fez feio. Empatou jogando de igual para igual com o adversário.

O leitor avisado imagina que, se nos gramados Conceição se conforma com empates, no campo das porfias ­intelectuais e políticas ela não tem piedade dos adversários. Posso garantir: é lenda. Os colegas e alunos que conviveram com a professora sabem que sua inteligência inquieta e irreverente não ataca o interlocutor, mesmo em casos terminais em que o cidadão apresenta graves sintomas de neo­liberalismo ou de esquerdismo infantil.

Poesia | Nudez, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Alceu Valença - Cabelo no pente (Ao vivo na Fundição Progresso)