sexta-feira, 26 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Combate à fome exige eficiência de programas sociais

O Globo

Como explicar que o Brasil permaneça no mapa da ONU tendo ampliado gastos com pobres desde a pandemia?

É uma vergonha o Brasil continuar no Mapa da Fome das Nações Unidas. No triênio entre 2021 e 2023, 3,9% da população brasileira foi considerada subnutrida — ou 8,4 milhões de pessoas. Houve melhora em relação ao levantamento anterior, quando a subnutrição atingia 4,2%, mesmo assim o país está muito acima do limite de 2,5% por triênio, necessário para deixar a lista da ONU.

A vergonha é ainda maior porque, entre 2014 e 2020, o Brasil ficou fora do Mapa da Fome. Hoje apenas cinco países latino-americanos — Chile, Costa Rica, Cuba, Guiana e Uruguai — satisfazem ao critério das Nações Unidas para isso: prover a quantidade mínima de calorias e nutrientes para uma vida ativa e saudável a mais de 97,5% da população.

Fernando Abrucio - Sucessão da Câmara e a democracia

Valor Econômico

Está em jogo o destino institucional do Legislativo, um processo que envolve uma avaliação acurada sobre os avanços obtidos e diversos problemas que a Casa ainda tem

Os atores políticos não estão de olho apenas na eleição municipal. Uma disputa que está mexendo com a elite da classe política é a sucessão na Câmara Federal. Depois de um dos presidentes mais poderosos da história da Casa, o deputado Arthur Lira, alguns candidatos surgiram e há meses fazem uma das mais longas campanhas da trajetória recente do Congresso. Pergunta-se muito qual nome seria o mais adequado para manter o poder obtido pelo Legislativo, mas pouco se fala sobre qual projeto seria melhor para que essa instituição servisse melhor à sociedade e à democracia do país.

É inegável que o perfil dos candidatos vai afetar o futuro da Câmara Federal. Nomes, com suas trajetórias institucionais, fazem sempre diferença em política. Só que está em jogo o destino institucional do Legislativo, um processo que envolve uma avaliação acurada sobre os avanços obtidos e diversos problemas que a Casa ainda tem. E, por enquanto, os concorrentes estão mais ávidos em fazer jantares e conversas reservadas com caciques políticos e deputados do baixo clero do que em apresentar projetos que definam os rumos da instituição nos próximos anos.

José de Souza Martins - A força política da bajulação

Valor Econômico

A destruição até dos laços de família com a polarização manipulada pelo bolsonarismo gerou a desorganização política do país com o crescimento da desorganização social

Um dos aspectos mais preocupantes da política brasileira desde o fim da ditadura militar e, acentuadamente, desde a ascensão de Jair Messias à Presidência da República, é o do declínio do humor político. Sinal de que está em decadência a consciência crítica popular que, entre nós, se manifestava no riso.

O bolsonarismo trouxe consigo o ódio às diferenças políticas, a satanização dos diferentes e das diferenças, a intolerância em relação ao outro, suas ideias, seu modo de ser. Trouxe, sobretudo, a ideologia no lugar do saber, da ciência, da arte, da liberdade de pensamento, da consciência crítica, do discernimento e da criatividade.

Vera Magalhães - A receita de Lula até 2026

O Globo

Para o Planalto, se a economia ‘chegar bem’, o presidente é favorito, e possibilidade de Bolsonaro rever sua inabilitação também é considerada nula

Conforme antecipei em meu blog no GLOBO, o governo Lula entende que a fase de reformas deste terceiro mandato se esgotou. No cômputo do que foi feito, além da reforma tributária, entra o novo arcabouço fiscal. No do que deixará de ser enfrentado, a ideia de revisitar as regras previdenciárias e uma batalha para reformar o Orçamento.

Segundo auxiliares de Lula, o caminho que o presidente vislumbra até 2026 tem como carro-chefe o crescimento acima de 2% nos quatro anos de gestão, acompanhado do aumento no emprego e na renda e de uma gestão fiscal suficiente para entregar a meta proposta. Será suficiente? No entendimento do Planalto, se a economia “chegar bem”, o presidente é favorito.

Andrea Jubé - Os palcos eleitorais de 2024 como prévia de 2026

Valor Econômico

Nacionalização das eleições marcará disputas municipais

Já ficou claro que a nacionalização das eleições municipais, em uma espécie de terceiro turno do pleito de 2022, ou prévia de 2026, transcende a disputa em São Paulo entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, e o deputado federal Guilherme Boulos (Psol).

Na capital paulista, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apoia Nunes e emplacou o vice do emedebista, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caminhará com Boulos, e indicou uma vice petista, a ex-prefeita Marta Suplicy.

São Paulo será o palco mais emblemático do novo round entre lulismo e bolsonarismo. Mas não será o único.

Flávia Oliveira - Efeito Kamala

O Globo

Empolgação em torno dela lembra a vitória de Barack Obama em 2008

Quis o destino que a desistência de Joe Biden de concorrer à reeleição e, na sequência, apontar a afro-asiática Kamala Harris — filha de mãe indiana e pai jamaicano — como substituta na corrida à Casa Branca ocorresse no mês que o Brasil consagrou como Julho das Pretas e na semana em que se comemora o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, 25 de julho. A decisão anunciada na tarde do último domingo ativou o entusiasmo de uma campanha, até então, bastante morna do Partido Democrata.

Bernardo Mello Franco – O julgamento de Biden

O Globo

Resultado da eleição em novembro definirá lugar do atual presidente na História

A pouco mais de cem dias das urnas, Joe Biden desistiu de concorrer à reeleição nos EUA. Não acontecia desde 1968, quando Lyndon Johnson jogou a toalha em meio à Guerra do Vietnã. O presidente anunciou a decisão pelas redes sociais, como convém aos tempos modernos. Na quarta-feira, explicou suas razões em pronunciamento na TV.

Biden disse que a democracia americana está em risco. Sustentou que é preciso preservá-la, mesmo que isso signifique abrir mão de ambições pessoais. “Reverencio este cargo, mas amo mais o meu país”, afirmou. “Decidi que o melhor caminho é passar o bastão para a nova geração”, prosseguiu. Pode parecer altruísmo, mas é só realismo político.

Laura Karpuska - Brechas

O Estado de S. Paulo

Partidos vivem uma realidade distante, e tomam decisões esquecendo-se do eleitorado

A confiança no governo não está das melhores no mundo. Não é um fenômeno novo. A pesquisa anual do Instituto Pew Research revela que, há décadas, os americanos têm perdido a fé na capacidade de seus líderes de governar pensando no bem comum. A decepção se alimenta de crises econômicas, do consumo desenfreado de notícias enviesadas nas redes sociais, de uma inundação de fake news e do conhecimento de malfeitos de políticos corruptos e comprometidos com pequenos grupos de interesse. A incapacidade dos partidos políticos de seguir uma agenda que verdadeiramente considere a vida das pessoas comuns apenas agrava a situação.

Celso Ming - A chaga dos lixões

O Estado de S. Paulo

O Brasil continua sendo o país dos lixões. Em 2022, o setor de resíduos emitiu aproximadamente 91,3 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e). Foi responsável por 4,0% das emissões totais de gases de efeito estufa do território brasileiro, como mostram os dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Cerca de 65% dessas emissões provieram dos resíduos em aterros e lixões.

Enquanto não cuidar dessa chaga, o Brasil não conseguirá cumprir as metas de descarbonização previstas, sem o que não conseguirá enveredar para a era da economia verde.

Orlando Thomé Cordeiro - Eles vieram para ficar

Correio Braziliense

O fator comum aos recentes processos eleitorais na França e nos EUA é o crescimento da extrema-direita e sua aliança com a maior parte da direita tradicional que, por sobrevivência e/ou oportunismo eleitoral, se rendeu ao populismo

Neste mês de julho, dois processos eleitorais no cenário internacional foram destaque na mídia, um no início do mês e o outro nesta última semana. O primeiro foi o segundo turno da eleição legislativa na França. Com o a velocidade quase supersônica com que os assuntos entram e saem de pauta, vale a pena recordar o processo. Em junho, após a vitória contundente do partido de Le Pen nas eleições para o Parlamento Europeu, Macron, em um movimento tão inesperado quanto ousado, resolveu dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições (essa é a vantagem do parlamentarismo: as crises políticas são resolvidas com novas eleições, enquanto no presidencialismo a solução é o impeachment).

Marcus Cremonese - Antevendo o passado em que estamos vivendo.

Observatório da Imprensa

Em março de 2022 reli o "Turning Back the Clock", de Umberto Eco (Vintage Books, 2008). O livro é uma coleção de artigos e ensaios em que ele analisa o que chamou, no sub-título, de "hot wars and media populism".

Um desses artigos, de julho de 2003, publicado no L'Espresso, prendeu minha atenção. Neste, Eco comenta uma tentativa de Berlusconi, de "retirar a legitimidade do sistema judiciário italiano". Berlusconi era então primeiro-ministro, pela segunda vez (2001-06). Em tom de desafio, ele disse que "já que foi eleito pelo povo" ele não aceitaria "ser julgado por alguém que alcançou aquele posto no judiciário graças apenas à sua qualificação profissional".

André Roncaglia - O novo acordo de Bretton Woods precisa ir além das promessas

Folha de S. Paulo

Precisamos construir um novo arranjo internacional que empodere política e financeiramente países em desenvolvimento

Nesta semana, autoridades do mundo inteiro se reúnem no Rio de Janeiro para mais uma rodada de debates do G20, o grupo das nações mais ricas do mundo. A agenda é focada na reforma da tributação global de grandes corporações e dos super-ricos e no redirecionamento de recursos para o combate das causas e efeitos da mudança climática.

Dentre as pautas que derivam deste grande objetivo, está a reforma das instituições de Bretton Woods, que comemoram 80 anos desde a sua criação ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1944. Ali foram criados o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional) com os respectivos intuitos de administrar um sistema monetário internacional e prover financiamento para o desenvolvimento econômico. Inicialmente operando com o regime de taxas de câmbio fixas, em um mundo já dominado pelo dólar mas ainda preso à fantasia do padrão ouro do período anterior às duas guerras mundiais.

Luiz Carlos Azedo - “Reeleição” de Maduro pode desestabilizar continente

Correio Braziliense

A situação da Venezuela é um desastre econômico e social. Mais: é uma ameaça à segurança política na América do Sul, em razão da militarização

Dos países da América do Sul, o que oferece maior risco à democracia na região, hoje, não é a Argentina, com seu presidente anarco-liberal Javier Milei, em razão de uma sociedade civil e estrutura política mais robusta, mas a Venezuela de Nicolás Maduro, que caminha no rumo de um regime autocrático nacionalista controlado por militares, com uma sociedade completamente desestruturada, cujos aliados estratégicos são Cuba, Rússia, China, Irã e Coreia do Norte.

O elo perdido com o Ocidente será a manutenção de Maduro no poder, por meio de uma fraude eleitoral já escancarada ou, caso isso não seja possível, um golpe de Estado. Não se pode falar em democracia plena na Venezuela com o sucessor de Hugo Chávez no poder. Para o Brasil, legitimá-lo com o conceito de “democracia relativa” será um grave erro. A democracia é um valor universal, ainda que a boa convivência com os vizinhos e a prioridade aos nossos próprios interesses econômicos, que são pilares da nossa política externa, venham a ser invocados nesse contexto.

Bruno Boghossian - A cilada de Maduro

Folha de S. Paulo

Governo Lula não terá nada útil a dizer sobre um processo dominado pelo regime chavista

Na maratona de encerramento da campanha venezuelana, Nicolás Maduro incluiu em seus discursos uma encenação. Do alto do palanque, o ditador simulou o pronunciamento que quer ouvir da autoridade eleitoral do país depois do fechamento das urnas: "Com 90% das mesas apuradas, a vitória do candidato Nicolás Maduro Moros é irreversível".

Transmitir aos apoiadores convicção na vitória é o mínimo que se espera de qualquer político que leve a sério a própria candidatura. No caso de Maduro, o domínio da máquina estatal e dos aparelhos eleitorais faz com que seja impossível deixar de lado algumas desconfianças.

Hélio Schwartsman - Maduro entregará o osso?

Folha de S. Paulo

Governantes da Venezuela têm muito a perder em caso de derrota eleitoral, o que pode levá-los a medidas extremas

Receio que Nicolás Maduro e seus lugares-tenentes já tenham queimado a linha da normalidade democrática. Não me parece muito realista o cenário em que, no caso de derrota no pleito presidencial do próximo domingo (28)entreguem o poder e se preparem para disputar a próxima eleição, como recomendou Lula. Pelas pesquisas de institutos independentes, o candidato da oposição unificada, Edmundo González, tem sólida vantagem sobre Maduro, o que é compatível com a escala da ruína econômica que o governo promoveu.

Poesia | Acontece, de Pablo Neruda

 

Leila Pinheiro, Guinga - Catavento e Girassol