Ex-presidente manobra para impedir crescimento de Ciro, o que reduziria seu poder de pressão sobre o Judiciário
A mágoa do pré-candidato do PDT Ciro Gomes com PT e Lula ficou translúcida na sabatina a que se submeteu na GloboNews, no fim da noite de quarta e madrugada de ontem. Um objetivo de Ciro, e talvez a única chance de se viabilizar como aspirante ao segundo turno, era conseguir apoio do PSB.
Lula não deixou. Preso, por ter sido condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no processo do tríplex do Guarujá, o ex-presidente insiste em manter a candidatura à Presidência, contra todas as evidências de que está inelegível, segundo a Lei da Ficha Limpa, sancionada por ele.
Como sempre em sua trajetória política, Lula não permite o surgimento de líderes concorrentes, no PT ou na própria esquerda. Exclusivismo que se tornou mais radical porque o projeto de sua candidatura —que atrai 30% de apoio nas pesquisas, o índice histórico do PT antes da vitória em 2002 —é usado como forma de pressão sobre a Justiça e instituições em geral, para soltá-lo, a fim de que dispute as eleições. E consiga foro privilegiado, para se proteger de outras denúncias.
Na barganha em torno da retirada do PSB da corrida ao Planalto, exigida por Lula, o PT aceitou cassar a candidatura petista de Marília Arraes em Pernambuco, para ajudar a reeleição de Paulo Câmara (PSB). Além disso, o socialista Márcio Lacerda foi forçado a deixar o caminho livre para o petista Fernando Pimental buscar a reeleição ao governo de Minas.
Ciro ficou sem chão. O PT, segundo ele, estaria “ensaiando uma valsa na beira do abismo”, com a pré-candidatura de Lula presidiário. A máquina lulopetista está em marcha. Até o chefe do MST, João Pedro Stédile, tomou a bizarra decisão de escalar militantes sem-teto para fazer greve de fome em favor do ex-presidente. Sem participação do líder, é óbvio. “Virou religião”, disse Ciro. “É caudilhismo do mais barato possível” .
As chances de toda esta manobra dar certo são escassas, como aconteceu com outras. Tribunais superiores no caminho dessa operação indicam não estar dispostos a protelar uma decisão definitiva sobre esta candidatura, para evitar qualquer grande insegurança jurídica na eleição presidencial.
O próprio presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luiz Fux, em despacho, considerou “chapada” a inelegibilidade de Lula. Ou seja, segura, indiscutível.
Enquanto o PT terá dificuldades nas urnas, tudo indica que, derrotado, o ex-presidente exercitará, mais uma vez, a vitimização e tentará entrar para a História como mártir. Mas sem precisar cometer suicídio como Getúlio.
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