- Folha de S. Paulo
Legendas deveriam propor visões, em tese exequíveis, de como uma sociedade deve funcionar
Em dias de convenções, é oportuno falar sobre partidos políticos. Eles são o elo mais fraco de nossa democracia, que, apesar de vários e graves déficits, vem resistindo bem ao teste de estresse a que foi submetida nos últimos quatro anos.
A ideia central da democracia representativa é equilibrar os desejos do eleitor com as responsabilidades inerentes à governança. Se coubesse à população definir, sem filtros, todas as políticas públicas por meio de plebiscitos e referendos, chegaríamos facilmente a situações inadministráveis, como salários mínimos crescendo sempre acima da produtividade e sistemas de seguridade social mais generosos do que a capacidade do país de pagar por eles.
O problema de fundo são os efeitos da agregação. Nos contextos em que o erro é distribuído aleatoriamente, como encontrar a resposta certa a uma pergunta factual, as multidões são sábias; mas, quando o erro é sistemático, isto é, baseado em vieses cognitivos, como ocorre num bom número de decisões políticas e econômicas, seguir as massas só potencializa os equívocos.
Caberia aos partidos fazer a ponte entre as aspirações do povo e os constrangimentos ditados pela realidade. São múltiplas as vias de atuação. Para início de conversa, legendas deveriam propor visões, em tese exequíveis, de como uma sociedade deve funcionar. Isso não só permitiria ao eleitor escolher a tribo com a qual se identifica como ainda lhe daria pautas concretas pelas quais pelejar, tanto fora quanto dentro da sigla, enquadrando os caciques que colocassem seus interesses pessoais acima de tudo.
Partidos também deveriam atuar como porteiros do sistema, selecionando criteriosamente quais candidatos os representarão, e zelar para que, uma vez eleitos, se mantenham pelo menos moderadamente fiéis à plataforma.
Enquanto não tivermos legendas que cumpram um pouco melhor essas funções, nossa democracia continuará mais confusa que o necessário.
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