- Valor Econômico
Ataque a Bolsonaro poderá ser oito vezes maior que a Marina
E de repente Ciro, o Grande, que receberia as hostes do Blocão, do PSB e do PCdoB virou o Ciro pequeno, diminuto. Cioso de sua hegemonia na esquerda, o PT tratou de dar os contornos do cordão de isolamento do candidato do PDT, ao garantir a neutralidade que pôs fim à recalcitrância do PSB. Com 33 segundos (4,5%) num programa eleitoral de 12 minutos e meio, Ciro será praticamente um leão sem dentes na campanha em rádio e TV. Pouca vazão para muita voracidade. Os petistas terão o triplo do tempo de propaganda; e os tucanos, nove vezes mais que Ciro para baterem bumbo por Alckmin, pelo ungido de Lula - ou para destroçarem adversários preferenciais de acordo com a estratégia do momento.
Ciro perdeu os exércitos que esperava ter em razão da racionalidade do sistema político e, como sempre, de seus próprios erros: desequilíbrio, destempero, insolência, a verborragia que não lhe trai o pensamento. Mas também há algo de estrutural. Fosse a eleição presidencial solteira, o PT teria pouca ou nenhuma moeda de troca a oferecer ao PSB. É tudo muito entrelaçado, disputa nacional com as estaduais. A legislação brasileira é uma máquina de reproduzir o passado - e nesse passado recente petistas ainda acumulam poderosos recursos. Para ficar em apenas um deles, o mais valorizado na negociação das alianças eleitorais: o maior tempo de propaganda entre os 35 partidos. É, para usar um conceito caro à ciência política, muita dependência de trajetória.
Sem contar o trivial. Forças centrípetas puxam a corrida presidencial para desfechos dentro da lógica majoritária: a turma do Blocão - PP, DEM, PRB, PR e Solidariedade - abriu mão de pretensos pré-candidatos e juntou-se a Alckmin; o PSC casou Paulo Rabello de Castro como vice de Alvaro Dias (Podemos); o PV acaba de aderir à Marina Silva (Rede).
A direita mostrou uma razoável capacidade de coordenação eleitoral. Os dirigentes da esquerda falharam na articulação de uma candidatura comum. Vai ter Ciro, Manuela D'Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (Psol), e o PT, seja com Jaques Wagner ou Fernando Haddad. O apelo à unidade não vingou, e dificilmente vingaria sem Lula no páreo. Deixaram o trabalho para o eleitorado. Se a coordenação feita pelos profissionais da política não funcionou a contento, é de se perguntar se funcionará pelo voto útil dos amadores no primeiro turno, caso a disputa fique entre dois concorrentes à direita.
Não será tão fácil tirar Bolsonaro do segundo turno. O ex-capitão do Exército agrada um eleitorado que é tão politicamente incorreto e empedernido quanto o candidato do PSL. O dado que chama a atenção é o percentual elevado que Bolsonaro apresenta nas pesquisas espontâneas, ou seja, quando o entrevistado sequer precisa consultar a lista com o nome de todos os concorrentes.
Esse núcleo de simpatizantes, com mais de 10%, lhe tem garantido um piso de votação numa disputa em que a diferença entre avançar ou não ao segundo turno tende a ser muito estreita. Além disso, na pesquisa estimulada, conforme divulgou nesta quinta-feira pesquisa CNI/Ibope, Bolsonaro tem a maior fatia de eleitores convictos. Um em cada três de seus simpatizantes diz que a decisão é definitiva e não mudará de candidato.
Como para os adversários a única coisa definitiva é a morte, e a campanha está aí para mudar opiniões, é bem provável que Bolsonaro desidrate com a quantidade de ataques que virá em sua direção. Mesmo com a redução do período de propaganda em rádio e TV - que era de 45 dias e agora será de 35 dias - e mesmo com a diminuição à metade dos programas eleitorais, que eram de 25 minutos. Isso porque, no que interessa mais, as inserções de 30 segundos exibidas durante a programação normal das emissoras e que são mais eficientes, a propaganda aumentou. Passou de seis para 14 minutos diários - ou de 30 para 70 minutos, se considerados todos os cargos em disputa (de governador, senador e deputados federal e estadual). A campanha nos veículos de comunicação de massa será dez dias mais curta, porém mais intensa, com um bombardeio, no geral, 81% maior.
Para cada inserção de 30 segundos de Bolsonaro, Alckmin e PT terão 62. A demolição de Marina Silva - terceira via que quase chegou ao segundo turno em 2014, quando concorreu pelo PSB - foi feita numa relação de oito para um. Ou seja, Bolsonaro seria mais de oito vezes vulnerável aos ataques de PT e PSDB do que foi Marina há quatro anos.
Se o tempo fosse o mesmo. Só que, em 2018, as inserções, em vez de totalizarem 270 minutos, ocuparão ao todo 490 minutos, distribuídos em 980 spots de 30 segundos. Haverá mais espaço para propaganda negativa contra Bolsonaro do que houve contra Marina. Em 2014, Dilma Rousseff (PT) teve 246 inserções, Aécio Neves (PSDB), 99; e Marina, 44. Neste ano, de acordo com projeção da coluna, Alckmin terá cerca de 392 spots; o candidato do PT, 130 (se não fizer coligação); e Bolsonaro, apenas oito. É muita desvantagem. Haja rede social para garantir a liderança ou um lugar no segundo turno.
De todo modo, para que um candidato da esquerda avance à segunda etapa, será necessária uma coordenação do eleitorado. Se as preferências nesse campo se pulverizarem, crescem as chances de um segundo turno entre Alckmin e Bolsonaro. A neutralidade do PSB na corrida presidencial aumentou a propaganda do tucano em 20 spots e 20 segundos no horário eleitoral. Mas o PT, ao isolar Ciro, agiu para garantir a hegemonia no seu campo, ainda que com o risco de enfraquecer a esquerda e de podar uma novidade eleitoral em Pernambuco. Partidos podem ter uma vocação nacional ou regional; executiva ou legislativa. O PT mais uma vez reafirmou seu centralismo. Talvez porque o antipetismo não tenha divisas - e porque Ciro não tenha se mostrado exatamente um sujeito confiável.
Divisão territorial
A escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) para vice de Alckmin reforça a divisão de territórios da geografia eleitoral. Com tucanos apostando no Sul e Sudeste, seria mais lógico que o candidato do PT viesse do Nordeste.
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