segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Comunicação é política - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Sidônio Palmeira não tem como fazer milagres sozinho

A pesquisa do Datafolha que aponta a queda da popularidade de Lula vem agitando a mídia tradicional, redes sociais, analistas e influenciadores de todos os matizes políticos. A manchete que acompanha a divulgação dos dados é dramática: "Aprovação de Lula desaba e é a pior de todos os seus mandatos".

Lula teria batido 24% de aprovação e 41% de reprovação, algo inédito para o político que, em 2010, terminou seu segundo mandato com aprovação recorde de 87%.

De acordo com o monitoramento realizado pelo Núcleo de Integridade da Informação da Nova Agência S.A., na noite do dia 14, as hashtags #DataFolha, #ForaLula e #AprovaçãoDeLula apareceram entre os temas mais comentados do X. À direita, repetia-se: "esse governo acabou", e à esquerda falava em "enfrentamento urgente".

No dia seguinte as análises continuaram a se multiplicar, bem como chamadas à ação vindas da oposição. O senador Flávio Bolsonaro compartilhou um link do perfil Conexão Política sobre a aprovação de Lula no Nordeste ter caído para 16%, com os comentários: "o Brasil inteiro dá as costas a Lula" e "o Brasil todo vai para rua em 16 de março pelo impeachment dele". No dia anterior, o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira também havia feito uma convocação pelo impeachment de Lula nas redes sociais ao afirmar: "A aprovação de Lula recua 15 pontos entre os mais pobres" e "16/03 é o começo do fim desse governo".

Membros do governo, por outro lado, procuraram minimizar a gravidade da situação. Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso Nacional, afirmou que o resultado seria o reflexo de uma "tempestade perfeita". Nos últimos dois meses, ao mesmo tempo em que os preços dos alimentos teriam subido por causa da alta do dólar, o governo ainda estaria colhendo os frutos amargos da "crise do Pix".

Porém, a linha adotada é de que a queda de popularidade é algo temporário e facilmente reversível. O deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, entende que o governo Lula está "virando o jogo" e que a pesquisa "reflete uma situação anterior". Para retomar a popularidade, Lula irá fazer mais viagens, falar mais em rádios locais e o governo irá apresentar medidas como isenção de imposto de renda, aumento crédito, "gás para todos" e gratuidade de novos remédios. A ideia é, como disse José Guimarães, ter entregas em 2025 e "chegarmos firmes em 2026".

O despreocupado otimismo governista e o marasmo das soluções apresentadas ecoam a falta de entusiasmo com o governo e suas principais lideranças por parte de seus próprios eleitores. Mas, mais preocupante do que isso, é que parece ter se tornado lugar comum entre analistas e membros do governo separar o poder da economia e da política do impacto da comunicação. Nem mesmo a crise do Pix, puxada pelas mais de 300 milhões de visualizações do vídeo de Nikolas Ferreira, parece ter alterado tal percepção.

Se é possível tirar alguma lição, ainda que tardiamente, do poder das redes sociais, é que comunicação é política. Sidônio Palmeira não tem como fazer milagres sozinho. E, em um cenário político e econômico desfavorável, desprezar o poder avassalador da comunicação da oposição é, no mínimo, temerário.

 

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