Folha de S. Paulo
Sidônio Palmeira não tem como fazer milagres
sozinho
A pesquisa do Datafolha que
aponta a queda da popularidade de Lula vem
agitando a mídia tradicional, redes sociais, analistas e influenciadores de
todos os matizes políticos. A manchete que acompanha a divulgação dos dados é
dramática: "Aprovação
de Lula desaba e é a pior de todos os seus mandatos".
Lula teria batido 24% de aprovação e 41% de
reprovação, algo inédito para o político que, em 2010, terminou seu segundo
mandato com aprovação recorde de 87%.
De acordo com o monitoramento realizado pelo Núcleo de Integridade da Informação da Nova Agência S.A., na noite do dia 14, as hashtags #DataFolha, #ForaLula e #AprovaçãoDeLula apareceram entre os temas mais comentados do X. À direita, repetia-se: "esse governo acabou", e à esquerda falava em "enfrentamento urgente".
No dia seguinte as análises continuaram a se
multiplicar, bem como chamadas à ação vindas da oposição. O senador Flávio
Bolsonaro compartilhou um link do perfil Conexão Política sobre a
aprovação de Lula no Nordeste ter caído para 16%, com os comentários: "o
Brasil inteiro dá as costas a Lula" e "o Brasil todo vai para rua em
16 de março pelo impeachment dele". No dia anterior, o deputado
bolsonarista Nikolas
Ferreira também havia feito uma convocação
pelo impeachment de Lula nas redes sociais ao afirmar: "A
aprovação de Lula recua 15 pontos entre os mais pobres" e "16/03 é o
começo do fim desse governo".
Membros do governo, por outro lado,
procuraram minimizar a gravidade da situação. Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do
governo no Congresso Nacional, afirmou que o resultado seria o reflexo de uma
"tempestade perfeita". Nos últimos dois meses, ao mesmo tempo em que
os preços dos alimentos teriam subido por causa da alta do dólar, o governo
ainda estaria colhendo os frutos amargos da "crise do Pix".
Porém, a linha adotada é de que a queda de
popularidade é algo temporário e facilmente reversível. O deputado José
Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, entende que o governo Lula está
"virando o jogo" e que a pesquisa "reflete uma situação
anterior". Para retomar a popularidade, Lula irá fazer mais viagens, falar
mais em rádios locais e o governo irá apresentar medidas como isenção de
imposto de renda, aumento crédito, "gás para todos" e gratuidade de
novos remédios. A ideia é, como disse José Guimarães, ter entregas em 2025 e
"chegarmos firmes em 2026".
O despreocupado otimismo governista e o
marasmo das soluções apresentadas ecoam a falta de entusiasmo com o governo e
suas principais lideranças por parte de seus próprios eleitores. Mas, mais
preocupante do que isso, é que parece ter se tornado lugar comum entre
analistas e membros do governo separar o poder da economia e da política do
impacto da comunicação. Nem mesmo a crise do Pix, puxada pelas mais de 300
milhões de visualizações do vídeo de Nikolas Ferreira, parece ter alterado tal
percepção.
Se é possível tirar alguma lição, ainda que
tardiamente, do poder das redes sociais, é que comunicação é política. Sidônio
Palmeira não tem como fazer milagres sozinho. E, em um cenário
político e econômico desfavorável, desprezar o poder avassalador da comunicação
da oposição é, no mínimo, temerário.
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