quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O que pensa a mídia / Editoriais / Opiniões

Angústia com segurança exige resposta ágil

O Globo

Pesquisa constatou que violência se tornou maior preocupação do brasileiro, à frente da economia

Além de constatar queda na aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a última pesquisa Quaest mostra que a violência é hoje o tema que mais preocupa os brasileiros. Mencionada por 26% dos entrevistados, ultrapassou a economia (21%). Os pesquisadores recomendam cautela ao associar qualquer preocupação específica à queda na popularidade de Lula — atribuída sobretudo ao fiasco do Pix —, mas seria ingênuo supor que a segurança pública tem pouca influência sobre a opinião a respeito do governo. O resultado é um recado aos governos federal e estaduais. A população está insatisfeita com as medidas adotadas até agora. Propostas de solução, como a PEC da Segurança, caminham lentamente e geralmente esbarram na falta de consenso entre as esferas de governo. Isso precisa mudar.

De crise em crise não se constrói imagem – Vera Magalhães

O Globo

Lula está desnorteado, sem saber ao certo como navegar nas novas águas da economia

O que falta ao governo Lula 3 é uma cara. Os dois primeiros mandatos do petista tiveram o êxito que se viu, a ponto de sobreviverem a escândalos de corrupção que mobilizaram o país, como o mensalão, e de terminarem com a eleição de alguém que nunca havia disputado eleições, como Dilma Rousseff, porque havia o que mostrar, mas, sobretudo, havia um bom resumo para a posteridade do que aqueles oito anos representaram na História brasileira.

Lula chegara ao poder tão ou mais desacreditado pelos agentes econômicos do que hoje, mas estreou oferecendo austeridade fiscal e diálogo com setores mais amplos da sociedade, proposto desde a campanha, com a Carta ao Povo Brasileiro. Saiu, oito anos depois, tendo mantido o controle da inflação legado pelo Plano Real, mas, sobretudo, tendo promovido a ascensão social de um grande contingente de pessoas, graças não só a programas de renda, como o Bolsa Família, mas a um projeto de acesso à educação superior a famílias nas quais nunca havia existido um universitário.

O que se prevê da relação entre Planalto e Congresso - Fernando Exman

Valor Econômico

Governo pretende ocupar a agenda legislativa e aprovar o máximo de itens da sua pauta prioritária já no primeiro semestre

Eleita a nova cúpula do Congresso no sábado (1º), o governo Lula pretende ocupar a agenda legislativa e aprovar o máximo de itens da sua pauta prioritária já no primeiro semestre. O horizonte a partir de julho é incerto e preocupa.

É preciso logo de saída, portanto, aproveitar o bom relacionamento estabelecido com os novos presidentes da Câmara e do Senado, ainda que hoje sejam distintas as expectativas no Executivo em relação ao deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e ao senador Davi Alcolumbre (União -AP).

São reconhecidos o controle que Alcolumbre tem do plenário e a sua capacidade de mobilização das bancadas. No entanto, sua adesão à pauta do Planalto dependerá de cada caso, dizem fontes graduadas do governo, ainda que em seu Estado ele tenha se aproximado do PT com vistas à eleição de 2026.

A faixa e a Bíblia: posse e ‘inauguração’ – Roberto DaMatta

O Globo

Num regime aristocrático ou autocrático, não há disputas. Mas, nas democracias, a disputa requer pompa e circunstância

As etapas que legitimam a investidura de um cidadão como presidente são semelhantes nas democracias. Há candidatos, e uma eleição diz quem é o vitorioso. Mas, entre a vitória nas urnas e o cargo de supremo magistrado da nação, há diferenças que o estudo comparado do lado simbólico da vida social revela.

Porque nós, pós-modernos, guiados pela racionalidade tecnológica e pela implacabilidade dos mercados, investimos num ritual tão elaborado quanto dispendioso para investir um eleito na Presidência? Num regime aristocrático ou autocrático, não há disputas. Mas, nas democracias, a disputa requer pompa e circunstância ritual, talvez na esperança de assegurar uma continuidade que, como testemunhamos, tem a fragilidade das promessas humanas.

A “reinauguração” de Donald Trump revela como, nos Estados Unidos e no Brasil, esses ritos de passagem de poder mostram concepções diferentes de poder e política. Nos Estados Unidos, o rito se faz numa “inauguração”; no Brasil, numa “posse”. Dir-se-ia que procuramos chifre em cabeça de cavalo, mas “posse” remete a apropriação, ao passo que “inauguração” fala de história, de inicio, meio e fim — etapas que este furioso mandato de Donald Trump torna discutível.

Pochmann, pede para sair – Elio Gaspari

O Globo

Com a credibilidade de Lula em baixa, o melhor que o economista Marcio Pochmann tem a fazer é sair da presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele é um antigo quadro do PT e, em menos de dois anos, envenenou sua gestão com a proposta de criação de um IBGE +. Em tese, a novidade abriria uma janela para que o instituto firmasse parcerias com empresas privadas.

Quando interesses privados se misturam com a academia, coisas horríveis podem acontecer. Professores de Harvard e da London School of Economics meteram-se com o falecido ditador líbio Muammar Gaddafi. No Brasil, um braço da Fundação Getulio Vargas meteu-se com o então governador Sérgio Cabral.

Servidores e diretores do projeto de Pochmann batizaram-no de “IBGE Paralelo”. Ironia da vida: em 2007, quando o doutor presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, era acusado de cumprir a tarefa de “estatizar” o Ipea. (Em 2010, o instituto abriu um escritório na Caracas de Hugo Chávez.) Agora, acusam-no de querer privatizar o IBGE.

Combustível para a tentação do populismo - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Com aprovação de Lula em baixa, será grande a pressão por adotar medidas que elevarão as despesas

O governo espera divulgar amanhã o resultado das contas públicas em 2024, que deve ser melhor do que o esperado pelo mercado e apontar para o cumprimento da meta fiscal do ano. São boas notícias que embutem um grande risco: o de parecer que está tudo bem. Não está, e o risco é piorar.

Na prévia calculada por Felipe Salto, economista-chefe da Warren Rena, as contas do governo central (conjunto formado por Tesouro Nacional, INSS e Banco Central) registraram no mês de dezembro saldo positivo de R$ 22,2 bilhões. No acumulado do ano, o saldo ficou negativo em R$ 44,6 bilhões, ou 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB), metade do déficit de 0,8% do PIB estimado pelo mercado no início do ano passado.

Vai ‘tombinar’, Copom? - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

O cenário mais provável talvez seja confirmar a alta de março e uma outra, sem indicar de quanto

Na primeira reunião do Copom do ano, com a maioria dos diretores indicados pelo presidente Lula, muitos participantes do mercado ressuscitaram um verbo de tempos mais criticados da política monetária para falar sobre o desfecho da decisão hoje: “O Banco Central vai ‘tombinar’?”.

A referência é a Alexandre Tombini, então presidente do BC durante o governo Dilma Rousseff e que foi duramente criticado por adotar uma política monetária menos restritiva do que as condições na época exigiam. Mas não estaria a pergunta acima fora do lugar diante do choque de juros anunciado pelo Copom na sua última reunião de 2024?

Em dezembro, o Copom elevou os juros em 1 ponto porcentual, para 12,25%, e sinalizou outras duas altas na mesma magnitude para as reuniões de hoje e de março, quando a taxa Selic chegará a 14,25%. Assim, o que está em jogo não é o tamanho da alta de juros, mas o que será sinalizado para o futuro próximo no comunicado que acompanhará a decisão hoje.

O dólar volta a ficar apenas muito caro - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Real se valoriza, mas volta ao nível ruim de novembro; taxas de juros não recuaram

dólar custava R$ 4,95 faz um ano. Em 18 de dezembro, chegou ao pico do ano, a R$ 6,27. Nesta terça, baixara a R$ 5,87. Copo meio cheio ou meio vazio? Continua bem azedo, mas a baixa é um alívio até surpreendente e despiora relevante.

Quando o dólar havia chegado a R$ 5,40, lá por junho, havia gente importante na praça financeira que recomendava, na surdina, alguma intervenção do Banco Central a fim de conter as "apostas unidirecionais" (dólar sempre subindo) e os efeitos secundários do que então se chamava "exagero" ("overshooting") em expectativas inflacionárias etc. A partir de meados do ano, mais ou menos, o real passaria por um ritmo peculiar de desvalorização no mundo, consideradas as moedas relevantes e de países comparáveis.

Moralismo, tribalismo e a guerra digital - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Há sempre uma vítima, um infrator, uma denúncia, a punição, e a convicção dos linchadores de que estão do lado da virtude

Somos todos soldadinhos de uma guerra disseminada. Armados até os dentes e certos da justeza de nossa causa, somos os combatentes generosos e destemidos sem os quais o mal prevaleceria no mundo. Às vezes, somos a última linha de defesa do que é justo e sagrado; outras, estamos na vanguarda da batalha pela restauração do bem.

O campo de batalhas em que nos batemos inclui mídias sociais, bancadas de telejornais, programas de rádio e podcasts, comentários na imprensa, debates acadêmicos, publicações literárias, discussões parlamentares, discursos públicos e tudo aquilo que um dia se chamou de esfera pública. O digital, como meio, recurso e arena, permeia tudo isso, mesmo quando conversas, declarações e publicações eventualmente ocorrem offline.

Avanço chinês em IA muda o jogo - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Após sucesso da DeepSeek, EUA terão de repensar sua estratégia em geopolítica e investimentos

Donald Trump ainda celebrava sua vitória sobre Gustavo Petro, da Colômbia, quando sentiu o golpe. Ações de empresas de chips, como a Nvidia, derreteram depois que o mercado acordou para os avanços dos chineses na inteligência artificial (IA) —o front que realmente importa.

DeepSeek não precisou de muito mais que um ano para passar de obscura startup chinesa para empresa que concorre com gigantes da IA, como OpenAIGoogle e Meta. Sua façanha foi oferecer um modelo de IA gerativa tão eficiente quanto os das empresas líderes, mas a um custo incrivelmente menor.

Uma obra de autodemolição – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Lula pode até reaver popularidade, mas é difícil recuperar credibilidade

Pesquisas de opinião habitualmente trazem notícias boas e ruins quando se trata da avaliação de governos. A mais recente do instituto Quaest, no entanto, só carrega dissabores para a administração e para a pessoa de Luiz Inácio da Silva (PT).

A tendência de queda na visão positiva e o aumento da negativa vinha se desenhando há algum tempo com certo equilíbrio entre as duas correntes. Agora o levantamento mostra a ultrapassagem dos que desaprovam em relação aos que aprovam tanto as ações governamentais quanto as atitudes de Lula.

A conta da derrota de Boulos chegou para Lula – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O acidente doméstico que levou Lula a duas internações, a queda de sua popularidade e a volta de Donald Trump à Casa Branca também deram novo fôlego à oposição

Não existe nada mais corrosivo na política do que uma derrota eleitoral daquelas que o sujeito perde mesmo; é que, dependendo da situação, às vezes, pode perder ganhando. O raciocínio vale para as eleições da Prefeitura de São Paulo, nas quais o prefeito Ricardo Nunes (MDB), com forte apoio do governador Tarcísio de Freitas (PR), derrotou Guilherme Boulos (PSol), o candidato apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quem perdeu ganhando foi o outsider Pablo Marçal (PRTB), que se projetou nacionalmente como nova liderança da direita.

A derrota até hoje não foi digerida pelos petistas que tentaram resistir à candidatura, mas engoliram Boulos goela abaixo, porque havia um prévio acordo entre o presidente Lula e o candidato do PSol para que não disputasse a Presidência em 2022. Os gastos da campanha à prefeitura contribuíram para aumentar a frustração no PT: R$ 81.212.249,00, contando o fundo partidário.

Um pedaço do mundo - Cristovam Buarque*

Correio Braziliense

Até novembro, quando ocorrerá a COP, o Brasil inteiro precisa imaginar qual é o rumo que sugerimos para o futuro da humanidade

Até recentemente, o mundo era a soma dos países, agora, cada país é um pedaço do mundo; o mundo não é mais a soma de países soberanos, mas um sistema integrado deles. Os problemas passaram a ser planetários: mudanças climáticas, migração em massa, poder das big techs, crime organizado, internacionalização das cadeias de produção, pobreza, desemprego, inteligência artificial. Depois da radicalidade da globalização econômica e cultural, da disponibilidade das estatísticas globais com possibilidade de processá-las em computadores, das mudanças climáticas e depois da visão da Terra fotografada desde o espaço, já não faz sentido dizer "o que importa é meu país". Não se justifica mais dizer "Amazônia é nossa e podemos queimá-la, pavimentá-la, explorar seu petróleo". A Amazônia é nossa, mas temos uma responsabilidade para cuidar dela em nome da humanidade.

Trump, o xerife do mundo - Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

O presidente dos Estados Unidos, ainda que munido de quase superpoderes e em posse da maleta com os códigos nucleares, não tem licença para governar o planeta ou se indispor com outras nações

A chamada "deportação expressa", que permite expulsões rápidas de imigrantes ilegais sem audiência judicial, foi ampliada pelo governo Trump, abrangendo qualquer pessoa que não comprove dois anos de residência nos EUA. - (crédito: reprodução/tv globo)

Em nove dias de governo, Donald Trump provocou um terremoto político ao assinar quase 100 ordens executivas e revogar 78 medidas tomadas pelo seu antecessor, o democrata Joe Biden. Além de declarar emergência nacional na fronteira com o México, começou a promover a propalada caçada aos imigrantes ilegais nos Estados Unidos e determinou que entre 1,2 mil e 1,5 mil estrangeiros não documentados sejam presos diariamente. Ao ser questionado pela jornalista brasileira Raquel Krähenbühl sobre a relação com o Brasil, Trump disse ser excelente, mas emendou da pior forma possível: "Eles precisam de nós, não precisamos deles; todos precisam de nós".

El gobierno Lula es rehén del Parlamento brasileño - Fernando de la Cuadra

El próximo sábado 1 de febrero se concretizará la elección del nuevo presidente del Senado y de la Cámara de Diputados de Brasil. El favorito para el Senado es Davi Alcolumbre del Partido Unión Brasil. También existe bastante consenso que el candidato “tapado” para presidir la Cámara es Hugo Motta del Partido Republicanos. Lo que también es un hecho confirmado es que, desde antes de la proclamación de ambos candidatos, las demandas y presiones que ejerce el Congreso Nacional sobre el gobierno se ventilan a plena luz del día.

Se sabe que la actual gestión deberá realizar un ajuste ministerial en un futuro mediato, sin embargo, la Cúpula de la Cámara de Diputados aguarda la elección del nuevo comando de la Casa para negociar directamente con el presidente Lula da Silva la reforma ministerial, saltándose la ronda de negociaciones con el actual ministro de la Secretaria de Relaciones Institucionales y, por lo tanto, quien debiera ser el responsable de liderar la articulación política, Alexandre Padilha.

Fechando as "Portas Abertas” para enigmáticos fluxos migratórios - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Lá se vão os tempos épicos dos westerns   em que os criminosos e justiceiros moviam-se de um lado para o outro nas zonas de fronteiras: alguns para evitar a justiça, outros para capturar fugitivos.  Representados no cinema por John Wayne, Gregory Peck, Clint Eastwood e outros, os justiceiros norte-americanos invadiam o território mexicano, sem constrangimentos legais, para punir com as próprias mãos crimes praticados no Meio-Oeste. Em caminho inverso, o exército mexicano não fazia o mesmo: parava no rio Bravo, e dava o caso por encerrado, satisfeito por se livrar do transgressor.  

Poesia | Eu sei, mas não devia, de Marina Colasanti

 

Música | Tom Jobim - Samba de uma nota só