quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

A crise política tem nome - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Janja não pode responder por erros do governo nem pela demora do presidente em tomar decisões

Desde que pesquisas começaram a indicar acentuada queda na popularidade do presidente Lula, o Palácio do Planalto busca um culpado para a crise. Lula reuniu o núcleo duro do governo no domingo, na Granja do Torto. Na véspera, o ministro chefe da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, também teve uma conversa reservada com sua equipe.

Na reunião do Torto, o diagnóstico indicou que os principais problemas estavam relacionados à economia. Na lista apareceram a divulgação da portaria sobre monitoramento do Pix sem combinar com os russos, a taxação das blusinhas e até a inflação dos alimentos.

As críticas mais fortes partiram dos ministros da Casa Civil, Rui Costa, e de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Os dois disputam os rumos do governo com o titular da Fazenda, Fernando Haddad, que não estava presente por causa da viagem ao Oriente Médio. O vice Geraldo Alckmin, escanteado no Planalto, não foi convidado.

Sidônio relatou que a queda na aprovação do governo já era esperada e disse que a temporada de turbulência pode demorar porque o efeito de “bondades”, como mais crédito consignado, leva tempo para ser percebido.

O ministro também vai mudar nomes de programas sem qualquer apelo popular, como o “Mais Acesso a Especialistas”, do Ministério da Saúde.

Nos bastidores, dirigentes do PT e ministros elogiam o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que fez uma avaliação precisa sobre o terceiro mandato do presidente. Em carta enviada a amigos, Kakay afirmou que “Lula está se esforçando muito para perder” a reeleição, em 2026.

Integrante do grupo Prerrogativas, que reúne advogados ligados ao PT, Kakay disse em público o que todos falam em privado. Existe um novo Lula na praça, isolado. O receio, agora, é de que Jair Bolsonaro (PL), mesmo denunciado por tentativa de golpe, consiga unir a direita na próxima campanha.

Virar esse jogo, porém, depende do próprio Lula. A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, não é culpada por erros do governo e muito menos pelo fato de Lula ter se cercado de políticos que só o bajulam.

Dificuldade para demitir e fazer reforma ministerial Lula sempre teve, mas antes contava com um time de conselheiros que apontava para ele a necessidade da correção de rota.

Nem sempre um dos grilos falantes conseguia mudar a opinião do chefe e os embates acabavam aparecendo. Certa vez, no primeiro mandato de Lula, um poderoso ministro fez um desabafo durante reunião do PT: “Todos nós sabemos o nome da crise. Só não podemos dizer qual é”. Qualquer semelhança com a realidade atual não é mera coincidência.

 

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