quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Nova vacina contra dengue exige análise veloz da Anvisa

O Globo

Desenvolvida pelo Instituto Butantan, ela traz vantagens logísticas, pode ser produzida em escala e deter epidemia

Até o início deste mês já havia 6,6 milhões de casos de dengue notificados no Brasil, o quádruplo do total registrado em 2023. As mortes chegavam a 5.922 até o último dia 14, quase o quíntuplo. Para combater a doença, é necessária ação em duas frentes. A primeira, bastante conhecida, embora nem sempre executada de modo eficaz, consiste em erradicar os focos onde prolifera o mosquito Aedes aegypti, transmissor da moléstia. A segunda é a vacinação — e o Brasil acaba de dar um passo fundamental com o desenvolvimento de uma nova vacina pelo Instituto Butantan, de São Paulo.

Dino, o Xandão das emendas? - Vera Magalhães

O Globo

Insistência do ministro do STF em regular a liberação das emendas adquire um potencial de paralisia do governo

Já havia entre deputados e senadores o temor de que Flávio Dino se eternizasse como uma espécie de xerife das emendas parlamentares, mantendo a relatoria de toda e qualquer ação que ingressar no Supremo Tribunal Federal a respeito do tema e solicitando à Polícia Federal a abertura de inquéritos em série para fiscalizar a destinação dos recursos orçamentários. A nova decisão do ministro, suspendendo novamente a destinação dos recursos, reforçou essa percepção.

Emendas são foco de corrupção desde que o mundo é mundo. Com o alargamento, a partir do governo Jair Bolsonaro, do quinhão do Orçamento da União a que os congressistas têm acesso, a partir de diferentes rubricas e de expedientes de pouca transparência, as denúncias de desvios de recursos explodiram.

O golpe final de Arthur Lira: cambalacho, sigilo e deboche - Breno Pires

Revista piauí

A derradeira manobra do presidente da Câmara captura as emendas das comissões, privilegia Alagoas mais uma vez, descumpre lei e zomba das decisões do STF

Poucas vezes, talvez apenas no regime de exceção, uma autoridade nacional fez tão pouco caso de decisões do Supremo Tribunal Federal – e tripudiou sobre determinações legais. Como golpe final de seu quadriênio como presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL) acaba de comandar uma operação ilegal que anula os poderes das comissões permanentes e promove desvio do destino previamente determinado para as emendas, redirecionando os recursos para o estado que o elegeu, e inaugura uma nova fase do orçamento secreto. Dessa forma, acaba de ser criado um novo mecanismo: as “emendas dos líderes”, cujo objetivo é o de sempre: esconder quem é quem nas planilhas de bilhões de reais.

O cambalacho é liderado por Lira, mas tem como cúmplices dezessete líderes partidários da Câmara, incluindo seu probabilíssimo sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o líder do governo Lula, José Guimarães (PT-CE).

O esquema começou a ser gestado na tramitação da Lei Complementar nº 210, sancionada em 25 de novembro deste ano, quando os legisladores estabeleceram que as emendas de comissão poderiam ser indicadas pelos líderes partidários. Até aí, embora a medida não favorecesse muito a transparência, não havia irregularidades. A lei deixava claro que as trinta comissões permanentes da Câmara deveriam analisar as indicações recebidas de seus integrantes, aprovar as que coubessem e então fazer esses valores “constar de atas, que serão publicadas e encaminhadas aos órgãos executores” – ou seja, os ministérios.

Drummond em três tempos - Bernardo Mello Franco

O Globo

Em agosto de 1954, Getúlio Vargas puxou o gatilho e saiu da vida para entrar na História. Ao ouvir a notícia, Carlos Drummond de Andrade pôs papel na máquina e começou a bater a crônica do dia seguinte. “Súbito, a pessoa do presidente deixou de interessar ao debate político. As queixas contra ele desaparecem, e a paixão se cala, como vazia de seu objeto”, escreveu.

Após meditar sobre o respeito aos mortos, o poeta anotou que a carta-testamento dividia a nação “em dois grupos que guerreiam: o dos pobres e humilhados e o dos ricos e opressores”. “Entre os que, de consciência limpa, divergiam do presidente, estavam muitos dos melhores e mais puros homens do país, e não mereciam ser tratados como inimigos do povo”, protestou.

O novo ministério de Lula 3.0 – Elio Gaspari

O Globo

Com os maus ventos da economia, Lula. preencheu o vazio do período de Festas e o início do recesso com a novidade de uma reforma ministerial. Como ela acabará, não se sabe, mas começou mal.

Paulo Pimenta, o ministro-chefe da Secom, deverá ser substituído pelo marqueteiro Sidônio Palmeira. Essa mudança parte da premissa de que o governo se comunica mal. É uma meia verdade. A outra metade está na falta de ações e de criatividade que marcaram o Lula 1.0. O pacote de contenção de gastos foi envenenado por bruxarias da ekipekonômika plantando as virtudes do confisco de parte do seguro-desemprego, sem ouvir o ministro do Trabalho.

No mundo da comunicação, a única novidade, com que Pimenta nada teve a ver, foi a constatação de que as fotografias postadas pelo Planalto sofrem uma discreta manipulação. Com a ajuda de filtros, Lula aparece sempre corado e fagueiro. Seus visitantes acabam cobertos por uma velatura cinzenta. Disso resultou que Fernanda Torres e Chico Buarque ficaram com uma aura vampiresca. Malvadeza.

Pausa para DR – Zeina Latif

O Globo

Respostas são necessárias para desatar os nós, tempestivamente, por meio de discursos e ações fiscalmente responsáveis, para assim evitar a materialização das altas de juros sinalizadas

O estresse dos mercados decorre apenas do tímido pacote fiscal? Sem dúvida, ele foi o gatilho, mas há agravantes.

O contexto externo importa. O risco de uma política monetária mais restritiva nos EUA, aliado à desaceleração em curso na China, tem levado ao fortalecimento do dólar. Seu nível atual contra uma cesta de moedas de países emergentes é superior aos dos primeiros meses da pandemia, quando bateu recordes.

Claro que não é só isso. Estivéssemos nas mesmas condições internas das de dezembro de 2023, a cotação do dólar estaria na casa de R$ 5,30, e não acima de R$ 6.

A "sombra de futuro" de um Natal memorável – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O mundo desaprendeu e continua sendo palco de guerras sangrentas. A crise humanitária é significativa, com 76 milhões de deslocados, a maioria por causa desses

O filme Joyeux Noël (Feliz Natal), de 2005, dirigido por Christian Carion, é um auto de Natal no contexto histórico da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A coprodução reuniu cinco nações europeias (França, Alemanha, Reino Unido, Bélgica e Romênia) para uma ode à paz em quatro idiomas: francês, alemão, inglês e romeno. Diane Kriger (Anna Sorensen), Benno Fürmann (Tenente Nicolau Sprink), Guilhaume Canete (Tenente Audebert), Daniel Brühl (Hostmayer) e Gary Lewis (Padre Palmer) brilham nos papéis principais.

Em defesa da democracia, Justiça foi protagonista em 2024 - Luana Patriolino

Correio Braziliense

Judiciário lidou com questões sensíveis na política brasileira, com destaque para o avanço das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado, com conclusão prevista para o início de 2025, e das regras de transparência das emendas parlamentares

No centro das discussões mais importantes da política brasileira, o Poder Judiciário teve, em mãos, questões essenciais para o funcionamento da democracia do país. O Supremo Tribunal Federal (STF) se debruçou em regras de transparência e rastreabilidade das emendas parlamentares, além de avançar na investigação sobre tentativa de golpe de Estado e debater a responsabilidade das plataformas digitais no combate às notícias falsas. No Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o desafio foi o enfrentamento do uso malicioso da inteligência artificial (IA) nas eleições municipais de 2024.

O agro e a fome: dilema brasileiro - Lea Vidigal*

Correio Braziliense

Somos uma potência na produção agrícola e alimentar convivendo com o drama da fome e dos altos preços dos alimentos. Podemos alimentar o mundo, mas devemos alimentar os brasileiros

A fome é o maior dilema brasileiro. Dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, até o fim do ano de 2023, pouco mais de 4% da população do país estava em estado de insegurança alimentar grave. Em números absolutos, 3,2 milhões de pessoas. Bem menos que os 19,1 milhões que sofreram de insegurança alimentar grave em 2020, durante a pandemia da covid-19. Ainda assim, continuamos no Mapa da Fome da ONU (2024), e o contingente de 21,6 milhões (27,6%) de brasileiros sob algum tipo de insegurança alimentar em 2023 é imenso. 

Feliz 2015, ops, 2025! - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Sem correção de rumos nas contas do governo em 2025, o que aconteceu em 2015 será fichinha

O mercado brasileiro encerra 2024 sob um estresse agudo, com o governo Lula no meio de uma grave crise de credibilidade fiscal, mas o pior é que ninguém afasta o risco de 2025 ser ainda mais turbulento, numa repetição de 2015, primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff.

Naquela ocasião, o ambiente econômico se deteriorou de tal forma e velocidade que acabou contribuindo para o processo político de impeachment da ex-presidente no ano seguinte. Só para lembrar: a inflação subiu 10,67% em 2015, mas a projeção do mercado no início daquele ano era de uma alta de 6,56%. Já o PIB registrou queda de 3,8%, enquanto o consenso das projeções, no início do ano, apontava um crescimento de 0,5%. E o dólar, que fechou 2014 cotado a R$ 2,6550, encerrou 2015 a R$ 3,9601, alta de 48,9%.

Erros e ilusões na comunicação - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Presidente Lula ignora o mundo ao pedir que a Secom se restrinja a divulgação de feitos

No início do mês, Lula criticou duramente a comunicação do governo. Disse com todas as letras que "há um erro no governo na questão da comunicação" e se declarou obrigado a "fazer as correções necessárias". Esperem mudanças, portanto.

Que a comunicação governamental nunca tenha funcionado perfeitamente não é um diagnóstico difícil. A questão, contudo, é se a sua falha está nas causas que Lula aponta. Acho que não. Lula entende a comunicação governamental essencialmente como "divulgação das ações do governo". Faz, então, um cálculo simples: se sua administração está indo bem, mas uma parcela significativa dos brasileiros continua desconfiada ou insatisfeita, a informação não está chegando.

Síria, do júbilo à realidade - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Quedas de ditaduras devem ser celebradas, mas é preciso estar atento para os riscos futuros

Quedas de ditaduras geram sempre justificado júbilo para os povos libertados. O regozijo, contudo, não deve nos cegar para os perigos futuros. Não foram poucas as transições que acabaram dando lugar a ditaduras até piores que a original ou a cenários de mortífera anomia.

HTS (sigla árabe para Organização para a Libertação do Levante), o grupo que parece estar no comando da Síria, até vem dando as declarações certas. Fala em organizar eleições em breve e promete respeitar direitos de todas as facções políticas e religiosas.

A surpresa natalina de Dino para o centrão - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Ordem para investigar sistema de partilha de emendas vai incomodar líderes do Congresso

Flávio Dino preparou uma surpresa natalina para o centrão. Na segunda (23), em pleno recesso de fim de ano, o ministro do STF mandou suspender o pagamento das emendas que representam a principal moeda do balcão de negócios do grupo. Foram bloqueados mais de R$ 4 bilhões. Como brinde, a Polícia Federal deve abrir uma investigação sobre o uso político do dinheiro.

O congelamento das emendas era uma questão de tempo. O tribunal já havia suspendido os pagamentos mais de uma vez, exigindo o mínimo de transparência na distribuição da verba. Os parlamentares descumpriram quase todas as decisões da corte, muitas vezes com apoio do governo e sempre à luz do dia.

É o melhor Natal desde 2013, mas não parece - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Pesquisas indicam mal-estar, economia não explica pessimismo, que cresce

A leitora diria que o clima no país está bom? É pergunta vaga, que suscita respostas impressionistas. Mas é apenas de um jogo, um exercício mental. Desconsidere, por ora, avaliação mais objetiva sobre condições materiais de vida ou sobre o estado da política, por exemplo. Como parece o humor de seus concidadãos?

Vivemos o "melhor Natal" desde 2013. A expressão vai entre aspas porque costuma apenas descrever balanços de vendas do comércio ou de indicadores como salário médio ou renda per capita. As pessoas podem estar insatisfeitas com sua situação econômica ainda que tenham melhorado de vida. Podem ter insatisfações gerais mesmo que reconheçam melhoras na economia.

Poesia | Soneto de Natal, de Machado de Assis

 

Música | Joan Manuel Serrat - Cantares (Caminante, no hay camino)