quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Trump fará mal ao planeta

O Globo

Efeitos nefastos do novo mandato se estenderão do clima à geopolítica, da economia à regulação da tecnologia

Ninguém pode se dizer surpreso com as primeiras medidas tomadas por Donald Trump ao assumir a Presidência dos Estados Unidos. Elas refletem tudo o que ele repetiu ao longo da campanha que o levou de volta à Casa Branca e, por absurdas que sejam, se alinham com o desejo dos eleitores americanos. Não quer dizer que sejam menos preocupantes ou menos assustadoras. Vistas no conjunto, representam retrocesso em diversas áreas — do clima à geopolítica, da economia à tecnologia. A colonização de Marte prometida por Trump é para lá de incerta, mas o Planeta Terra certamente ficará pior com ele no poder.

Na política externa, há uma contradição entre o Trump que se proclama “pacificador e unificador” e o Trump que pretende retomar o Canal do Panamá, nutre pretensões sobre Groenlândia e Canadá e quer mudar o nome do Golfo do México. De um lado, ele foi essencial na negociação para libertar reféns do Hamas — fato que suscitou aplauso unânime na posse. De outro, ameaça a China e fala em investir nas “Forças Armadas mais fortes de que o mundo tem notícia”. Qual Trump prevalecerá, o bélico ou o pacifista?

Realinhamento dos astros - Vera Magalhães

O Globo

A entrada de Sidônio Palmeira representa ganho de prerrogativas de Rui Costa, com consequente enfraquecimento de Haddad

Se um raro evento astronômico permitiu nos últimos dias, com o ápice nesta terça-feira, que seis planetas estivessem visíveis a olho nu e aparentemente alinhados, no céu de Brasília são apenas dois os que continuam a se destacar, mas a chegada de um satélite promete realinhar a órbita do governo Lula.

A entrada de Sidônio Palmeira, com poderes até aqui inéditos para um titular da Secretaria de Comunicação do governo, já representa, por mais que exista um discurso de contemporização na Esplanada, um ganho de prerrogativas de Rui Costa, com consequente enfraquecimento de Fernando Haddad como ministro catalisador dos rumos da administração.

Um certo antagonismo entre os titulares da Casa Civil e da Fazenda não é exclusividade da gestão Lula 3, nem mesmo dos governos petistas. Trata-se de fenômeno que se repete com frequência bem maior que os vistos pelos telescópios, em maior ou menor grau, desde Fernando Henrique Cardoso, com Pedro Malan e Clóvis Carvalho, até Jair Bolsonaro, com cotoveladas entre Ciro Nogueira e Paulo Guedes. O ápice, por envolver dois protagonistas com ambições políticas, foi na primeira passagem de Lula pelo Planalto, mas escândalos acabaram abreviando os voos tanto de José Dirceu quanto de Antonio Palocci.

Trump achou um modelo – Elio Gaspari

O Globo

Por causa do frio, a posse de Donald Trump aconteceu na Rotunda do Capitólio. Má ideia. De certa maneira, foi uma revanche. No 6 de janeiro de 2021 aquele lugar foi invadido pela turma que queria melar a vitória eleitoral de Joe Biden. Cenograficamente, é um lugar bonito. Fica embaixo da cúpula dos cartões-postais. Em seu espaço circular estão estátuas de notáveis da História americana. Em 1876, Dom Pedro II lá esteve e definiu-o:

— Fui ver o Capitólio. Aspecto majestosíssimo. Agradou-me muito o todo da arquitetura. Tudo o que é escultura é medíocre.

O mundo teve de aturar a mediocridade das esculturas da Rotunda.

Trump assumiu resgatando a memória de William McKinley (1897-1901) e devolveu-lhe a denominação da montanha mais alta dos Estados Unidos, cassada em 2015.

Não é retórica. Trump promete o início de tempos dourados. McKinley governou no auge de uma era folheada a ouro. Em seu primeiro mandato, o PIB americano cresceu a taxas inéditas. Àquela época, a U.S. Steel era maior que o governo federal. (Em 2025, faltou pouco para que a U.S. Steel fosse absorvida pela japonesa Nippon Steel.)

Negacionismo de Trump faz mal à saúde e prejudica clima - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Conservadorismo de Musk não tem contradição com reacionarismo de Trump, mas é paradoxal o apoio ao negacionismo do presidente

O “meme” é mais antigo do que a internet. Surgiu de uma correlação entre a bagagem genética e a bagagem cultural, como um termo criado pelo neodarwiniano britânico Richard Dawkins, na década de 1970, em seu livro O Gene Egoísta (Companhia das Letras). Para ele, a evolução humana não depende apenas de nossa bagagem genética (nossos genes), mas, também, de uma bagagem cultural, uma memória comportamental, que ele batizou como “meme”, palavra derivada de “mimeme” (imitação, no grego).

Um meme poderia ser qualquer ideia, comportamento ou tendência que tem a capacidade de passar de pessoa para pessoa por meio da imitação ou da nossa herança cultural. Com o passar dos anos, o termo ganhou outros significados, tendo se popularizado na internet como qualquer imagem, vídeo, bordão, hashtag ou áudio que sofre modificações e “viraliza” (mais uma comparação com a biologia), prática que mudou de escala com a inteligência artificial (IA).

O segundo mandato de Trump e o mundo - Martin Wolf*

Valor Econômico

Um renascimento econômico é improvável, principalmente porque a economia dos EUA está muito longe do desastre que ele proclama ser

Que impacto a segunda vinda de Donald Trump terá sobre o mundo? O mundo é imprevisível. Trump também é imprevisível. Seu primeiro mandato transformou os Estados Unidos e o mundo. Seu segundo deverá ter um impacto ainda mais profundo.

“A partir de hoje”, disse Trump em seu discurso de posse, “os Estados Unidos da América serão uma nação livre, soberana e independente”. Estamos tão acostumados a esse tipo de expressão de autopiedade vinda dele e daqueles que o cercam, que elas (quase) deixaram de surpreender. No entanto, ele está falando do país mais poderoso do mundo, que liderou a inovação por um século e meio e moldou o mundo em que vivemos.

O que, afinal, impediu os EUA de serem uma nação livre, soberana e independente? A resposta, ao que parece, são as obrigações autoimpostas e restrições voluntariamente aceitas ao seu próprio poder. Agora, sugere ele, os EUA farão o que quiserem. Os EUA deixarão de ter pretensões de liderança moral e se proclamam outra grande potência sob o antigo lema “o poder faz o direito”.

O novo momento das relações Brasil-EUA - Fernando Exman

Valor Econômico

Autoridades do governo vão avaliar, dia após dia, cada medida administrativa e discursos do presidente Donald Trump

Sem precipitações retóricas em público, autoridades do governo vão avaliar, dia após dia, cada medida administrativa e discursos do presidente Donald Trump antes de se arriscarem a vaticinar o destino da bicentenária relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos. Nos bastidores, contudo, alguns pontos de atenção já estão sobre a mesa.

Os laços são históricos. Cerca de 200 anos atrás, o diplomata José Silvestre Rebello entregava suas cartas credenciais ao presidente James Monroe em Washington e se tornava formalmente o primeiro encarregado de negócios do Brasil nos EUA. Como consequência desse ato, na prática o governo americano reconhecia a independência do Brasil. O episódio é visto como uma das primeiras vitórias da diplomacia nacional.

Os EUA consolidaram-se, dessa forma, na posição de aliado estratégico. Em 1916, ultrapassaram a Europa como principal parceiro comercial do Brasil, ocupando o lugar por quase cem anos. Perderam o posto em 2009 para a China.

Está justamente aí um dos motivos da irritação observada atualmente em Washington.

Trumponomics - Márcio Garcia


Valor Econômico

Seria produtivo trazer Trump para uma estada no Brasil, para que ele possa se dar conta de como tarifas altas generalizadas prejudicam a economia e encarecem a vida dos cidadãos

Com muita pompa e circunstância, Donald Trump assumiu seu segundo mandato na segunda-feira passada. E logo no primeiro dia, assinou 41 decretos. Em seu primeiro mandato, tinha assinado apenas um. Como prometido, os decretos cobrem ampla gama de temas de sua campanha. Para a economia, os principais são o comércio internacional (tarifas) e a imigração, além do repúdio aos compromissos de mitigação da mudança climática.

Inicialmente, os mercados reagiram positivamente, pois não houve anúncios imediatos de majoração de tarifas. Trump determinou que agências federais dos EUA investiguem práticas comerciais potencialmente desleais. Também pediu uma avaliação dos acordos comerciais anteriores, especialmente aqueles com a China, México e Canadá. Por fim, criou uma nova agência, o Serviço de Receita Externa, para arrecadar tarifas. E, mais tarde, anunciou que no início de fevereiro imporia tarifas de 25% sobre o México e Canadá.

Tem início a era da tecnoplutocracia americana - Bruno Carazza

Valor Econômico

Sinais de convergência de Trump com donos do dinheiro vão além da foto dos bilionários das big techs

A foto viralizou e, muito mais do que a repercussão momentânea própria de nosso tempo, tem tudo para permanecer como símbolo deste momento histórico. Os bilionários da tecnologia perfilados em destaque na cerimônia religiosa da posse do presidente Donald Trump representam não só a aproximação de magnatas com o poder. Trata-se do prenúncio de uma era em que a influência econômica na política americana escalará para patamares nunca antes alcançados.

A presença de grandes empresários e executivos de multinacionais nas celebrações de posse é uma tradição tão forte na cultura americana que os casais presidenciais sempre têm que se submeter a um exaustivo ritual de eventos, jantares e bailes, tamanha é a atração que a troca de comando do país mais poderoso do mundo exerce sobre os donos do dinheiro.

Lula no país das maravilhas - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Congresso volta das férias com sangue nos olhos, mas governo acha que marketing resolve tudo

Dia desses o presidente Lula reclamou para ministros, no Palácio do Planalto, que faltavam cartazes de divulgação dos programas do governo nas cidades. Lembrou dos tempos do país das maravilhas em que muitas farmácias exibiam a inscrição “Aqui tem farmácia popular” e até ônibus tinham propagandas afixadas.

“Não vejo mais esses cartazes”, protestou ele. “Nós estamos virando algoritmo.” Lula cobrou protagonismo desses e de outros projetos, como o Pé-deMeia, que dá bolsas para alunos do ensino médio e já teve quase duas dezenas de “lançamentos”.

Perdendo fôlego de vez? - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Com o mercado de trabalho ainda mostrando vigor, talvez seja cedo para falar de esfriamento

O ritmo de desaceleração da economia brasileira tornou-se um dos assuntos mais discutidos entre analistas, na semana passada, após os dados referentes a novembro da produção industrial, de vendas do varejo e de volume de serviços terem registrado queda acentuada, e também após alguns indicadores antecedentes já apontarem para outro recuo em dezembro.

Seria esse debate prematuro? Há motivo para considerar que os dados de novembro e a perspectiva para nova contração em dezembro são suficientes para indicar uma tendência mais preocupante para o desempenho da atividade ao longo de 2025? E se os números de dezembro vierem tão fracos como os de novembro, essa perda de fôlego poderia fazer o Banco Central hesitar em seu choque de juros para conter as expectativas inflacionárias?

Pela melhoria de vida dos trabalhadores - Luiz Marinho*

Folha de S. Paulo

Necessidade de reindustrialização, valorização do trabalho decente e adaptação às mudanças tecnológicas são questões centrais

O ano de 2024 carimbou um período significativo para o mercado de trabalho brasileiro, com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) consolidando sua liderança em questões essenciais como a geração de empregos, a promoção da igualdade e o enfrentamento à precarização.

Entre os destaques, está a redução histórica na taxa de desemprego, que atingiu 6,1% no trimestre encerrado em novembro, menor índice desde o início da série da Pnad Contínua em 2012, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse dado reflete não apenas uma economia em recuperação, mas também políticas públicas que priorizam a ocupação formal e a dignidade no trabalho.

O crescimento foi acompanhado por avanços salariais consistentes, com a renda média de R$ 3.255,00 em outubro de 2024, uma alta de 3,9% em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Trump e impostos do Brasil e do mundo - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Medidas ameaçam acordos internacionais e criam risco de guerra tributária, além de conflito comercial

Em dezembro, o Congresso aprovou lei que permite ao governo estabelecer tributação mínima, efetiva, de 15% sobre multinacionais instaladas no Brasil, brasileiras inclusive. Duas medidas anunciadas por Donald Trump ameaçam países que aprovaram tal lei ou normas que "discriminem" empresas dos Estados Unidos ou ameacem a "soberania" e a "competitividade" americanas. Promete retaliações.

Além de guerra comercial, Trump quer promover guerra tributária, se por mais não fosse porque há pressão dos parlamentares republicanos e do conselhão da oligarquia empresarial que aderiu a seu governo, como as "big techs".

A agenda de Trump - Deirdre Nansen McCloskey

Folha de S. Paulo

Muitas de suas propostas serão contestadas em tribunal, e o Judiciário ainda não está totalmente do seu lado

Eu moro em Washington e nesta segunda a cidade estava bloqueada para a segunda posse de Donald Trump. Serei diretamente afetada pela implementação da sua agenda de usar o poder coercitivo do Estado federal para atacar imigrantes, funcionários públicos federais e gays, porque uma de suas ordens será que o Departamento de Estado emita passaportes e outros documentos conforme o gênero em que você nasceu. Quando o meu for renovado, em janeiro de 2027, ele terá que dizer gênero "masculino" em vez de "feminino". Uma pessoa rica como eu não precisa se preocupar muito. Mas pessoas trans pobres serão as únicas prejudicadas.

Ele não pode obter tudo o que quer, porque os Estados Unidos ainda são uma nação de leis. Muitas de suas propostas serão contestadas em tribunal, e o Judiciário ainda não está totalmente do lado de Trump. E o Exército, crucialmente, ainda não é político, como sempre foi, surpreendentemente. Vocês, brasileiros, sabem bem como são importantes um Judiciário independente e um Exército apolítico.

Trump: a tragédia climática - André Borges

Folha de S. Paulo

Presidente faz a China parecer um dos países mais compromissados com a questão ambiental

Entre todas as atrocidades já ditas e cometidas por Donald Trump, salta aos olhos o retrocesso absoluto com o meio ambiente. O presidente americano anuncia ao mundo, no auge de sua postura arrogante e ditatorial, que os Estados Unidos sairão do Acordo de Paris, que o governo ampliará o consumo de combustíveis fósseis, que cortará incentivos a carros elétricos.

Em uma "declaração de emergência energética", Trump decide que vai aumentar a produção doméstica de petróleo e gás, enquanto assina uma ordem para interromper a concessão de licenças a projetos de energia eólica, tanto em terra quanto no mar.

Vale do Silício flerta com Trump - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Musk não é o único empresário da área de tecnologia que passou a colaborar com republicano

Se fosse apenas Elon Musk, poderíamos atribuir a transformação a uma idiossincrasia. O dono da Tesla passou de empresário mais ou menos normal politicamente, que fazia contribuições tanto para democratas como para republicanos, a ogro da extrema direita, que despejou mais de US$ 250 milhões na campanha de Donald Trump e por isso ganhou um assento em seu gabinete.

O problema é que não é só Musk. Ainda que de forma menos caricata, outros empresários do Vale do Silício, por vezes descrito como o bastião da ideologia de esquerda nos EUA, também se bandearam para a direita ou parecem dispostos a fazê-lo. Em alguns casos, trocaram uma história de militância no Partido Democrata por Trump.

Desníveis e desigualdades salariais na Administração Pública Brasileira - Cláudio Carraly*

Ao escrever o presente texto uma questão se apresentava todo tempo, especificamente a falsa premissa que funcionários privados são mais eficientes que públicos. Ocorre que apesar da importância esse tema, ele não cabia diretamente no ensaio atual. Por isso após o final, haverá uma segunda parte onde discorro sobre a questão citada. Desculpem pelo meu excesso, atenciosamente, Cláudio Carraly. 

A questão dos salários na administração pública brasileira sempre foi um tópico de discussão e interesse público, a disparidade entre os salários dos servidores públicos nas mais diferentes carreiras, particularmente aqueles na alta administração, é um tema que suscita polêmicas e críticas frequentes, causando distorções nas três esferas nacionais, governo federal, estados e municípios. No Brasil, o contraste entre os vencimentos dos juízes, promotores, parlamentares e membros das forças armadas em comparação com servidores públicos de níveis mais baixos é notável e tem gerado um intenso debate sobre equidade, justiça e eficiência no setor público, neste texto, vamos explorar a extensão dessas desigualdades salariais, compará-las com outros países democráticos e discutir as implicações dessa disparidade para a sociedade na totalidade.

A questão das disparidades salariais é de uma complexidade multifacetada que permeia debates e discussões, propomos uma reflexão extensiva dessas desigualdades, abordando especificamente as discrepâncias entre as carreiras na alta administração e a base do funcionalismo, com a inclusão de dados comparativos globais, buscamos contextualizar a realidade brasileira, adicionalmente, desafiaremos a percepção comum sobre o número de servidores públicos no nosso país, fornecendo informações que revelam uma realidade muito diversa do que muitos imaginam, sendo inclusive instrumento de desinformação ideológica.

Para compreender essas desigualdades é imperativo realizar uma análise aprofundada de cada setor, ao considerar a remuneração de juízes e promotores, torna-se evidente que seus salários, embora correspondam à importância crítica de suas funções, geram questionamentos sobre a justiça social e a distribuição equitativa de recursos. Os parlamentares, por sua vez, desfrutam de vencimentos que, quando comparados ao restante do funcionalismo, suscitam debates sobre representatividade e comprometimento com o bem público. Outra distorção que encontramos dentre muitas outras, se encontra nas forças armadas, que apresentam diferenças salariais substanciais entre altos oficiais e soldados rasos, destacando a necessidade de uma revisão urgente da remuneração em toda escala de hierarquia. 

Poesia | Praia do Caju, de Ferreira Gullart

 

Música | Belchior -Tudo outra vez