Valor Econômico
Nova pesquisa do Datafolha liga sinal de alerta sobre popularidade do presidente
Os números do Datafolha caíram como uma bomba
no Palácio do Planalto. A queda de mais de dez pontos na aprovação de Lula é um
acontecimento nunca visto em seus três mandatos como presidente.
A se confirmar essa tendência, fica cada vez
mais palpável o risco de uma espécie de “Bidenização” de Lula até 2026. Os
paralelos existem, e vão muito além da idade avançada.
Lula não apresenta os sinais de senilidade que forçaram Biden a desistir de concorrer à reeleição. A popularidade do brasileiro, porém, começa a ser assombrada por uma circunstância que, no caso de Biden, foi muito mais nociva do que os lapsos de memória e o raciocínio lento no debate presidencial.
Mesmo antes da campanha começar, trumpistas
já bombardeavam as redes sociais com críticas sobre o aumento do custo de vida.
Por mais que Biden comemorasse que a inflação havia caído de 9% para menos de
3% ao ano, a mensagem martelada pelos republicanos era que o bife estava quase
40% mais caro e abastecer o carro custava quase 60% a mais do que no final do
governo Trump.
Situação semelhante vem sendo enfrentada por
Lula. Embora a inflação tenha caído do patamar de 12% em 2022 para 4,5% ao ano
atualmente, com o café 50,4% mais caro nos últimos doze meses, acompanhado de
itens como contrafilé (20,6%), gasolina (10,7%) e serviços como o de manicure
(10,1%), a sensação que se difunde na sociedade é que Lula não cumpriu a
promessa de oferecer picanha barata para o eleitor.
Os integrantes da equipe econômica de Lula
podem até argumentar que o aumento de preços foi mais do que compensado pela
elevação do rendimento médio real da população. De fato, dados do Dieese
mostram que o comprometimento do salário-mínimo com o custo da cesta básica
caiu nos dois anos da gestão petista (veja o gráfico). No entanto, como
aconteceu nos Estados Unidos, Lula não conseguiu reverter o forte aumento do
custo de vida observado desde a pandemia.
Outro aspecto que chama a atenção é que Biden
e sua vice, Kamala Harris, mostraram-se inviáveis eleitoralmente mesmo com a
economia operando em pleno emprego. E mesmo com o mercado de trabalho
superaquecido, com os empresários com dificuldades para contratar mão-de-obra,
a direita americana conseguiu convencer parte significativa do eleitorado de
que os imigrantes eram causa dos problemas do país.
No Brasil o foco da direita não são
imigrantes, mas nos últimos tempos recrudesce o sentimento de que os benefícios
sociais, principalmente o Bolsa Família, desestimulam as pessoas a procurarem
emprego.
Apesar de hoje termos mais pessoas recebendo
o benefício (eram 14,5 milhões de famílias em 2021 e agora são 20,5 milhões) e
seu valor médio ter sido turbinado de R$ 190 para R$ 670 mensais, não há
evidências, porém, de que essa situação tem afetado o mercado de trabalho.
Segundo dados da PNAD Contínua, o número de pessoas fora do mercado de trabalho
ficou praticamente estável nos dois últimos anos. Além disso, a quantidade de
pessoas desalentadas e que trabalham menos horas do que gostariam está caindo,
enquanto o número de empregados cresce em todas as categorias - exceto
trabalhadores domésticos com carteira assinada.
O fato de Lula não conseguir capitalizar, em
popularidade, os níveis historicamente baixos de desemprego e a principal
vitrine de sua gestão ser vilipendiada pelos adversários dão a dimensão do
problema que o líder petista enfrenta.
Por fim, é inevitável não fazer um último
paralelo com Biden. Caso o presidente decida não concorrer à reeleição, por
motivos de saúde ou devido à popularidade baixa, o tempo joga contra. Escolher
um sucessor perto demais da eleição, como aconteceu com Kamala Harris, pode ser
fatal.
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