terça-feira, 28 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É um erro criar atrito com Trump por imigração ilegal

O Globo

Ele próprio precisará da cooperação de vizinhos latino-americanos para conter a onda migratória nos EUA

A primeira onda de deportação de imigrantes ilegais dos Estados Unidos para a América Latina do governo Donald Trump tem propiciado choques diplomáticos contraproducentes tanto para os países latino-americanos quanto para os Estados Unidos. Felizmente, a crise do fim de semana — deflagrada pela reação do presidente da Colômbia, Gustavo Petro — parece ter sido debelada. Mas a turbulência é um prenúncio da nova realidade sob Trump.

Depois que ele autorizou o uso de aviões militares para deportação de imigrantes ilegais, Petro anunciou numa rede social que lhes negaria permissão para aterrissar em solo colombiano, sob a alegação de que os deportados eram tratados como criminosos por não voar em aeronaves civis. Numa reação populista, chegou a oferecer o avião presidencial para o transporte.

Trump não perdeu a oportunidade de obter ganhos políticos, tentando fazer da Colômbia um exemplo. Declarou a imposição imediata de uma tarifa de importação de 25% sobre produtos colombianos, sanções financeiras e o cancelamento de vistos a integrantes do governo. Petro reagiu prometendo aumentar as tarifas sobre produtos americanos e parecia pronto para uma guerra comercial. Depois, pensando provavelmente no prejuízo que causaria ao país, voltou atrás e aceitou o transporte por aviões militares.

Liderança digital - Merval Pereira

O Globo

Tudo indica que o futuro, tanto da esquerda como da direita, se faz longe dos líderes analógicos

O presidente Lula advertiu que talvez não possa disputar a reeleição em 2026 por estratégia política, para se fortalecer ainda mais no PT ou então teme mesmo que a saúde o impeça de governar, como aconteceu com Joe Biden nos Estados Unidos — situação que, aliás, foi citada por ele na conversa que teve com seus principais assessores e ministros?

Em qualquer das hipóteses, a dúvida mostra que os petistas não têm saída a não ser tentar convencê-lo a disputar, mesmo que a derrota se mostre mais provável no momento de encarar as urnas. A pesquisa Quaest divulgada ontem confirma a desconfiança de que o governo Lula não corresponda às expectativas — e já exibe maioria de avaliações negativas.

Paralelamente, a direita brasileira, incentivada pelo novo governo Trump nos Estados Unidos, vê com mais esperança a possibilidade de vitória, mesmo que Bolsonaro, tornado inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não dispute a eleição.

Conjuntura é desfavorável para o governo Lula – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O novo ministro da Comunicação, Sidônio Palmeira, não dará conta do recado sem uma reversão da inflação, que está sendo prevista para 5,5% neste ano

Estava escrita nas estrelas a queda de popularidade do governo, o que torna a conjuntura política desfavorável à reforma ministerial, cujo foco seria a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e agora terá de se restringir à preservação de sua governabilidade. A aprovação do trabalho do chefe do Executivo, na Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira, mostra que sua popularidade recuou de 52% para 47% em relação a dezembro. A desaprovação de Lula foi superior: subiu de 47% para 49%.

A avaliação negativa do governo, que saltou de 31% para 37%, enquanto a positiva recuou de 33% para 31%, também de dezembro a janeiro, puxam a popularidade de Lula para baixo. O quadro é mais grave porque o presidente perdeu força junto aos seus eleitores mais fiéis, os nordestinos, as mulheres e os brasileiros de baixa renda. No Nordeste, a avaliação positiva despencou de 67% para 49%: a negativa subiu de 32% para 37%.

Pesquisa mostra governo sangrando em suas fortalezas - César Felício

Valor Econômico

Genial/Quaest representa para o governo o retrato de uma área devastada depois de uma tempestade

A pesquisa Genial/Quaest representa para o governo o retrato de uma área devastada depois de uma tempestade. O dado mais impressionante não é a queda da aprovação abaixo da reprovação pela primeira vez desde o início do governo (47% a 49%). Nem a avaliação de bom e ótimo em apenas 31%. Chama mais a atenção a redução da aprovação em todas as fortalezas do voto lulista: Nordeste (67% para 60%), Mulheres (54% para 49%), ensino fundamental (60% para 57%), renda até dois salários mínimos (63% para 56%).

Próximo sufoco - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A boca do jacaré entre preço da Petrobras e preço na bomba aumenta. E o governo com isso?

No rastro da crise do Pix, da indigesta inflação dos alimentos e da pesquisa Quaest mostrando que, pela primeira vez, o índice de aprovação da gestão Lula é menor do que o de desaprovação, vem aí... o ácido e imprevisível debate sobre preço dos combustíveis. É mais um terreno pantanoso e difícil de atravessar para qualquer governo, ainda mais quando as coisas já não andam uma maravilha.

Falar em aumento do custo da comida na mesa, da inflação em geral e dos consequentes juros em alta é falar, automaticamente, do preço dos combustíveis, que têm um peso enorme na composição de preços finais e na inflação. E mais: na popularidade dos governantes.

Tributo é entrave à exportação - Raul Jungmann*

O Globo

Imposto Seletivo sobre as exportações de minério de ferro é erro estratégico, político, econômico e constitucional

A indústria da mineração continua sendo encarada como gerador infinito de dinheiro para compensar formas discutíveis de gestão do dinheiro público. A pressão por arrecadação não encontra semelhança nos esforços para cortar gastos na máquina estatal ou otimizar a administração, tanto no que se refere aos variados orçamentos quanto às políticas públicas, em que pesem os esforços do ministro Fernando Haddad.

O comportamento arrecadatório se revela novamente no veto ao dispositivo que desonera as exportações do Imposto Seletivo (IS) no âmbito da reforma tributária. Restabelecer a desafortunada medida de cravar uma alíquota de IS sobre as exportações de minério de ferro é um erro estratégico, político, econômico e constitucional. O Brasil exporta 325 milhões de toneladas por ano, o que exige esforço e investimentos das empresas. Nem sempre a cotação internacional é favorável, e os principais concorrentes, caso das mineradoras da Austrália, não passam por esse ataque fiscal. A carga tributária no Brasil sobre o minério de ferro é uma das maiores.

O que as capas de jornais “disseram” sobre Trump - Pedro Cafardo

Valor Econômico

É difícil saber quão amplo será o apoio mundial ao autoritário, nacionalista e imperialista programa anunciado por Trump

As edições impressas dos jornais vêm perdendo fôlego em todo o mundo, mas a forma como as primeiras páginas são editadas ainda diz muito sobre como são recebidas as notícias nos diferentes países.

A posse do presidente Donald Trump, nos Estados Unidos, foi na segunda-feira, dia 20, quando ele já anunciou as primeiras medidas, assinando 41 decretos com seu canetão de US$ 115. Por uma questão de fuso horário, porém, a maior parte das repercussões das medidas só apareceu nas capas da maioria dos jornais impressos não americanos na quarta-feira, dia 22.

Vale a pena então observar algumas dessas capas.

Trump, uso da força e o ‘reinado da hipnocracia’ - Assis Moreira

Valor Econômico

Uma conversa com Pascal Lamy em meio à retaliação de Donald Trump contra a Colombia

Cedo da manhã nesta segunda-feira, converso ao telefone com Pascal Lamy, ex-diretor geral da Organização Mundial do Comércio (2005-2013) e ex-comissário de comércio da União Europeia (1999- 2004), em meio à demonstração de força de Donald Trump contra a Colômbia, que agita a América Latina.

A opinião de Lamy tem peso na cena internacional. É um arguto analista da situação global, respeitado, consultado e ouvido por autoridades do mundo inteiro, e com frequência agora ainda maior diante do estado de calamidade atual.

De entrada, ele observa sorrindo que não ficaremos entediados com Trump de volta à Casa Branca. Pessoalmente, não ficou nada surpreso com a retaliação contra a Colômbia, incluindo tarifas de 25% sobre seus produtos na primeira semana e 50% a partir da segunda, depois que Bogotá recusou o pouso de dois voos com imigrantes deportados dos EUA – situação revertida um dia depois por um suposto "acordo" entre os dois países.

Nunca foi tão bom ser um bilionário - Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

Se os EUA continuarem elegendo um presidente bilionário, apoiado fartamente por outros bilionários, o lugar de destaque na festa de posse talvez tenha de ser aumentado

As duas cenas ocorreram no mesmo dia. Em Davos, nos Alpes suíços, a organização não governamental Oxfam divulgava aos participantes do Fórum Econômico Mundial seu relatório mostrando que a riqueza dos bilionários cresceu US$ 2 trilhões em 2024 e que o mundo está perdendo a guerra contra a desigualdade. Em Washington, Donald Trump tomava posse como 47.º presidente dos Estados Unidos tendo como convidados em lugar de honra alguns dos homens mais ricos do mundo.

Pode até ser que alguns desses multibilionários apoiem Trump por verem nele capacidade de tornar o mundo melhor para todos. O que interessa a todos eles, porém, é a possibilidade de o apoio ao presidente da maior potência econômica e militar do planeta facilitar seus negócios e torná-los ainda mais ricos. Naquela cena, se alguém estivesse preocupado com desigualdades não estava entre as figuras mais notadas. A depender de algumas das personalidades que terão grande destaque ao longo do governo Trump, por isso, o quadro apresentado pela Oxfam tenderá a piorar para quem não é bilionário.

Segurança alimentar e resiliência climática: um vínculo essencial para o futuro - Mario Lubetkin*

Correio Braziliense

A próxima reunião de ministros da Agricultura da Celac 2025, que será realizada em Comayagua, Honduras, no início de fevereiro, será uma oportunidade para consolidar esses compromissos e avançar na implementação de políticas e ações que fortaleçam a segurança alimentar e melhorem a nutrição na região.

A recente apresentação do relatório Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional 2024 evidencia uma realidade incontestável: a América Latina e o Caribe encontram-se em um ponto crítico na luta contra a fome e a má nutrição. Embora, nos últimos dois anos, a fome na região tenha diminuído —de 45,3 milhões de pessoas, em 2021, para 41 milhões em 2023—, o progresso é desigual e frágil. A situação entre sub-regiões é particularmente preocupante; um exemplo é o Caribe, onde a taxa de fome aumentou de 15,4% para 17,2%.

Um novo imposto para as big techs? - Luiz Cáudio Allemand

Correio Braziliense

A tributação do novo mercado digital tem se tornado preocupação crescente entre os países, pois a atual abordagem tributária internacional permite que as plataformas de tecnologia se beneficiem de uma posição confortável

Vivemos na borda da quarta revolução industrial, na era do conhecimento. Tanto na Europa quanto no Brasil, a denominada "sociedade participativa na era da informação" se baseia na tecnologia, formando uma grande rede hiperconectada.

Essa sociedade é marcada pela expansão tecnológica e, consequentemente, pelo grande volume de dados, tendo como pano de fundo a informação como um ativo de agregação de valor, geradora de riqueza e bem-estar, que lhe garante o desenvolvimento social e econômico, resultante da popularização da internet, da mídia social e de uma revolução tecnológica trazida por ela.

A digitalização da economia, a partir do fenômeno big data, impõem aos governos, o desafio de criar regras para uma economia digital, que exige a implementação de novos instrumentos para atuação fiscal.

Os chineses chegaram à IA – Pedro Doria

O Globo

DeepSeek muda tudo no jogo da inteligência artificial. Muda na geopolítica a disputa entre Estados Unidos e China

Nvidia, que fabrica os chips usados para treinar inteligência artificial, perdeu ontem perto de US$ 600 milhões em valor de mercado. É a maior perda em dólares, num único dia, de uma companhia na história do mercado de capitais. O motivo é que, com algum atraso, caiu a ficha para os operadores sobre o tamanho do impacto que será causado pelo DeepSeek, concorrente chinês do ChatGPT. Porque o DeepSeek muda tudo no jogo da IA. Muda na geopolítica a disputa entre Estados Unidos e China. Muda a briga que há no Vale do Silício sobre quais empresas ganham e quais perdem.

O DeepSeek foi também o app mais baixado para iPhones ontem. É só ir lá e se cadastrar. É de graça e tem também para Android. Mesmo em sua melhor versão, ele não é superior ao melhor modelo do ChatGPT. Só que, dependendo da tarefa, chega bem perto. É claramente superior ao Grok, de Elon Musk, e ao Llama, da Meta de Mark Zuckerberg. Está na disputa pesada com Gemini, do Google, e Claude, da Anthropic. Os chineses entraram na briga. Mas não é isso que realmente faz diferença. O que faz diferença é o custo.

No principio era a máquina - João Pereira Coutinho

Folha de S. Paulo

Com a inteligência artificial, o conhecimento e a ignorância aumentam

Casos de longevidade são casos de curiosidade. Falo do que conheço. Gente com 80, 90, cem anos? Não foi apenas a dieta, o jogging ou a medicina que prolongaram a vida. Foi a curiosidade: a ambição constante de saberem um pouco mais do que sabiam no dia anterior. Se isso é válido para os meus conhecidos, é válido para Henry Kissinger, morto aos cem, que continuou pensando, escrevendo e publicando até o fim. Um tema, em particular, ocupou os neurônios do cavalheiro na fase crepuscular: a inteligência artificial.

Nas palavras do seu biógrafo, o historiador Niall Ferguson, faz sentido: se o poder destrutivo das armas nucleares ocupou grande parte da sua vida, era inevitável que os desafios da inteligência artificial também aparecessem no radar. O resultado dessa curiosidade pode ser lido no seu último livro, "Genesis", que escreveu em coautoria com Craig Mundie e Eric Schmidt.

É a existência humana que está em causa, argumentam eles. Não apenas no sentido mais básico da expressão. Há dimensões dessa existência que podem mudar de forma mais sutil. A história da humanidade é a história do seu desenvolvimento tecnológico, de como a espécie saiu da caverna, inventou a agricultura, criou cidades, melhorou os transportes, combateu doenças, pisou a Lua.

Com não reagir às deportações de Trump - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Reações escandalizadas se devem a vieses e caem como uma luva para o republicano

As deportações dos últimos dias foram basicamente iguais às feitas pelos EUA já há alguns anos. No governo Biden, por exemplo, mais de 7.000 brasileiros foram deportados para cá, inclusive com o uso das algemas. Os 88 brasileiros que chegaram na sexta-feira, aliás, tinham sido apreendidos no governo Biden e aguardavam a deportação.

O que mudou, então? Primeiro: agora foram aviões militares. Segundo: o presidente agora era Trump. Ele próprio alardeia seu combate contra a imigração como algo sem precedentes. Ele de fato promete aumentar substancialmente as deportações, mas o que vimos essas dias foi continuidade, não mudança.

Bullying diplomático - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Petro teve a intuição correta, mas, para enfrentar abusos de Trump, seria necessária uma ação coordenada de vários países, o que é quase impossível

O presidente da ColômbiaGustavo Petro, até que tentou peitar Donald Trump na questão dos voos de repatriação em que os deportados viajam algemados e são submetidos a outros tratamentos degradantes absolutamente desnecessários. A valentia do colombiano não durou um dia.

Como resposta à negativa de Bogotá de receber os voos, a Casa Branca anunciou que iria impor uma tarifa alfandegária de 25% a produtos colombianos, que passaria a 50% na semana seguinte. Petro rapidamente recuou e Washington suspendeu as sanções.

Lula põe intuição à prova – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Presidente antecipa 2026 e quebra regra básica do manual da política

É raro, senão inédito, que um presidente da República abra oficialmente a temporada da sucessão ou reeleição com dois anos de mandato pela frente.

Reza o manual que isso antecipa o "fim" da gestão em curso, alimenta disputas internas, dá mais espaço para a oposição atuar sem ser acusada de só querer atrapalhar o governo devido a interesses de palanque e deixa à vontade os governistas de ocasião que por conveniência ainda não tenham explicitado a intenção de, adiante, pular do barco.

Além disso, para um governo que tem atraído desconfiança, essa antecipação estimula suspeitas bastante fundadas de que não se possa esperar nos próximos dois anos quaisquer ações de caráter impopular, a despeito de serem necessárias.

Uma égua passeia no Piranhão - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Se Eduardo Paes conseguir implantar 10% do programa de ordenamento, o Rio será refundado

Outro dia uma égua desfilou pelas ruas internas do Centro Administrativo São Sebastião, sede do governo municipal conhecido popularmente como Piranhão. Com aparência saudável e cheia de garbo, o animal divertiu servidores e usuários dos serviços da prefeitura. Alguém sugeriu que ela buscava informações sobre o "choque de civilidade" que Eduardo Paes pretende implantar no Rio em seu quarto mandato.

Um dos focos do ordenamento será orientar os motociclistas para que não trafeguem na contramão e não usem calçadas como atalho. Também deveria valer para as éguas —por que não?— ou para os três porquinhos que circulavam em São Cristóvão. Como na fábula, eles pareciam buscar uma residência em boas condições de fabricação e uso no antigo bairro imperial, que hoje integra o projeto Porto Maravilha de novas moradias.

Poesia | Soneto CXVI, de William Shakespeare

 

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