O Estado de S. Paulo
Vídeo de 2024 é quase uma confissão de impotência ante o mercado, assim como a carta de 2002 era a mensagem de que o PT não faria nada do que sempre propôs
Em 2002, quando disputei a minha primeira
eleição a presidente da República, na sucessão de Fernando Henrique Cardoso,
deparei-me com um PT que jurava que não era o PT. A Carta ao Povo Brasileiro,
urdida nos porões da burocracia petista, vendia a alma em troca da aceitação do
mercado financeiro de um governo de esquerda.
E aí já começava a ópera bufa. Aqueles
ativistas radicais que pregavam o “fora FHC” em manifestações estridentes, os
que saíram em caravana pelo dito “Brasil real” para apontar as mazelas do
governo capitalista pareciam não existir mais. Já dos que haviam criticado e se
posicionado contra o Plano Real, nem uma sombra restou.
Lula passara a ser o comandante de um partido pronto a dar garantias de que seria perfeitamente adequado ao establishment. A Carta ao Povo Brasileiro expressava um cavalo de pau ideológico desavergonhado. Ela dizia que sim, os contratos seriam respeitados, mas queria dizer mais: que o mercado financeiro podia confiar que o governo petista manteria tudo como dantes. A Carta sepultou as palavras de ordem e mudou a forma de o Partido dos Trabalhadores compreender a realidade. Antigos inimigos execráveis passaram, rapidamente, à condição de parceiros.