terça-feira, 24 de dezembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula sujeita a uso político as agências reguladoras

O Globo

Ao negociar escolha de diretores com Alcolumbre, ele mina a independência essencial para o sucesso do modelo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva seguiu a prática do antecessor, Jair Bolsonaro, de dar ao Congresso a prerrogativa de indicar nomes para as diretorias das agências reguladoras. Para prestigiar o senador Davi Alcolumbre (União-AP), favorito para comandar o Senado a partir de fevereiro, o governo antecipou a negociação das indicações. Há 17 vagas a preencher, e mais dez serão abertas em 2025. Com a decisão, Lula tenta melhorar o relacionamento com o Parlamento, mas os efeitos da tentativa de pacificação política serão deletérios.

As agências foram criadas na década de 90, na esteira da reforma do Estado nos governos de Fernando Henrique Cardoso. Privatizações, concessões e parcerias entre os setores público e privado exigiam independência nas instituições de regulação, tanto em relação ao governo quanto aos interesses empresariais. Dotados de mandatos fixos e não coincidentes com o calendário eleitoral, os diretores das agências têm a missão de assegurar a estabilidade nas regras em todos os mercados, sobretudo para os consumidores. Devem garantir que contratos, muitos deles de longo prazo e envolvendo cifras bilionárias, sejam cumpridos, independentemente de quem esteja no poder. Não chegou a ser surpresa que os investimentos e as chances de sucesso de políticas públicas aumentaram, desestimulando a prática de começar tudo do zero a cada quatro anos.

Esta não é uma comédia natalina – Pedro Doria

O Globo

A história de como se deu uma operação de ataque virtual maciça contra a atriz Blake Lively, revelada na edição de domingo do New York Times, ensina muito sobre como funciona a comunicação na internet. Sobre como as redes sociais são facilmente manipuláveis. Custa algum dinheiro construir o consenso a respeito de um tema, mas não é difícil. Por tabela, somos todos também presas fáceis dessa manipulação. As táticas usadas contra ela também não se limitam ao mundo do entretenimento. Fazem parte do arsenal de incontáveis grupos políticos pelo mundo.

Dino acaba com a farra de Natal - Merval Pereira

O Globo

O ministro do Supremo mostra que não tem nenhum tipo de amarras, nem mesmo com o governo

Muitos parlamentares passarão o fim de ano sem os presentes que prepararam para si próprios e para os seus. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino acabou com a festa das emendas parlamentares antes do Natal, e fez muito bem. Suas decisões não foram seguidas pelo Congresso. O Parlamento achou que podia dar um jeito, driblar as exigências de transparência, de definição clara de quem envia o dinheiro, para quem e por quê. Exatamente para evitar o que acontecia — o dinheiro ir para municípios sem destinação prévia e sem obrigação de prestação de contas —, uma farra com o dinheiro público que tinha de ser controlada.

Emendas em nova frente de conflitos - Míriam Leitão

O Globo

Decisão de Dino vai na mesma direção de todas as outras que têm buscado ao longo do tempo garantir transparência ao uso do dinheiro público

O ano estava terminando quando houve novo evento na conflagrada relação entre Congresso e Judiciário. Ontem, dia 23, antevéspera de Natal, o ministro Flávio Dino mandou suspender a execução de R$ 4,2 bilhões em emendas de comissões. O problema é que parte das emendas havia sido remanejada exatamente quando o funcionamento de todas as comissões havia sido suspenso. Ao serem remanejadas, 40% delas passaram a beneficiar Alagoas, terra natal do presidente da Câmara, Arthur Lira. Esse é mais um capítulo da mesma luta travada durante o ano todo para desmontar o orçamento secreto. Ele sempre reaparece e se refaz, de outra forma, com novo nome.

Flávio Dino suspende pagamento das emendas de Arthur Lira - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A partir de 2025, as bancadas e as comissões da Câmara e do Senado deverão registrar, em ata, o nome do parlamentar que sugeriu cada emenda ao Orçamento

Estava escrito nas estrelas que as emendas do “orçamento secreto” se tornariam casos de polícia. Nas últimas semanas, várias operações de busca e apreensão e ordens de prisão foram executadas pela Polícia Federal (PF) em razão de desvios de recursos dessas emendas, por meio de obras e serviços superfaturados, com objetivo de engordar o caixa dois eleitoral e o patrimônio de políticos, servidores e empresários envolvidos. Ontem, o vice-prefeito de Lauro de Freitas, Vidigal Cafezeiro (Republicanos), e outras três pessoas foram presas por suspeita de desvio de dinheiro de emendas parlamentares.

Lula destaca respeito e harmonia entre poderes em discurso de Natal - Raphael Pati

Correio Braziliense

Presidente agradeceu às orações por cirurgia e disse que está "mais firme e forte para continuar a fazer o Brasil dar certo"

Em tradicional discurso da véspera de Natal, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), destacou a relação entre os Três Poderes e os governos estaduais e municipais. No pronunciamento realizado em cadeia nacional nesta segunda-feira (23/12), o chefe do Executivo disse que o diálogo e trabalho conjunto com outras esferas do poder público é a “base de tudo o que fazemos”.

Admirável mundo novo - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

Estão governo e empresas brasileiras conscientes das mudanças e preparados para defender os interesses nacionais neste novo cenário mundial?

No meio de grandes transformações na economia e na ordem internacional, estamos entrando numa nova etapa histórica pela interação de diversos fatores de grande intensidade.

Em primeiro lugar, a supremacia ocidental econômica, financeira e militar dos últimos 200 anos está sendo questionada e, na visão de muitos, está sendo reduzida. O mundo começa a se dividir em um grupo de nações ocidentais (sem definição geográfica) – EUA, Europa, Japão, Austrália e outras – e, de outro, um crescente grupo de nações, liderado pela China, tendo como base o Brics, formado por dez países, com 13 nações convidadas como associadas e mais de uma dezena pedindo para integrá-lo. A influência dos EUA, como a nação mais poderosa do mundo, parece estar em declínio, como se vê na tentativa de conter o conflito no Oriente Médio.

‘La nave va’ - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Violência, provas do golpe, crise fiscal, dólar, juros e emendas parlamentares… Feliz Natal!

As expressões que dominaram o debate e as preocupações de 2024 no Brasil vão ficar de herança para 2025: violência, tentativa de golpe, crise fiscal, juros, dólar e emendas parlamentares, que infernizam a vida dos brasileiros, azedam o humor nacional e respingam no governo, mesmo quando ele não tem nada a ver diretamente com isso.

No escândalo das emendas, pode-se até dizer que este governo (mais um…) é refém do Congresso e, simultaneamente, corréu e vítima da enxurrada de dinheiro público que sai de planilhas de Câmara e Senado, passa pelo Planalto e chega sabe-se lá onde – e se devidamente como a lei, a ordem e os princípios básicos de gestão pública mandam.

Lula brigou com o mercado e perdeu - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Falas contra a responsabilidade fiscal não criaram o problema, mas dificultam a solução

Até quando Lula vai brigar com "o mercado"? Diz-se que o mercado —ou seja, os investidores profissionais— é contra o presidente. Pode até ser. Óbvio que não se trata de profissionais fazendo apostas ruins intencionalmente para derrubar o governo; esse tipo de discurso beira a insanidade. Mas não me parece absurdo ver uma sensibilidade maior do mercado com Lula do que com outros atores.

Quando o Congresso aprova a prorrogação de isenção fiscal a vários setores econômicos, não me consta que os investidores tenham reagido com a mesma sensibilidade com que reagem a uma tirada do presidente.

Golpismo no Brasil segue organizado e sem pudor - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Lição de casa bolsonarista desconsidera ou refuta investigação da PF e trata Braga Netto como herói

Cláudio Castro recebeu os jornalistas para um balanço de fim ano —como se tivesse grandes realizações a destacar. Acabou defendendo o indefensável: a política de segurança pública do Rio. Entre outras platitudes, disse que "o criminoso perdeu o medo do Estado". Poderia completar o pensamento dizendo que não há mais medo porque o criminoso muitas vezes está dentro do Estado.

Com esperança de eleger-se ao Senado em 2026, Castro engrossou o coro golpista afirmando ver "um excesso de criminalização" na prisão de Braga Netto e não encontrar "elementos claros" contra o general palaciano, investigado por participação no plano para monitorar, prender ou matar o ministro do STFAlexandre de Moraes, o presidente eleito, Lula, e o vice na chapa, Geraldo Alckmin. Formado em direito, o governador terá lido o relatório da Polícia Federal, com quase 900 páginas, ou decorou uma rápida e rasteira lição de casa bolsonarista?

Lula colhe tempestade – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Defesa verbal do ajuste não combina com ações do presidente em sentido contrário

Nem tudo o que o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) diz vale a crença na escrita. Suas profissões de fé no ajuste fiscal intercaladas com ações em sentido contrário, demonstram isso.

Daí a desconfiança com que foram recebidas suas palavras no vídeo divulgado na última sexta-feira, em texto elaborado de forma a hastear bandeiras brancas ao "mercado".

Ali o presidente deu um tempo no negacionismo, evitou a versão conspiratória do ataque especulativo ao real com vista a derrubar o governo; firmou compromisso com a estabilidade econômica, o controle da inflação e sinalizou a edição de novas medidas de contenção de gastos.

Ciência a serviço do mal - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Quando a tecnologia é posta para explorar vulnerabilidades humanas, a regulação se faz necessária

ciência pode ser perigosa. É o que ocorre quando ela é posta para explorar vulnerabilidades de nossos cérebros e produzir os chamados estímulos supernormais.

Os dias duros do Pleistoceno, durante os quais era difícil conseguir as calorias necessárias para manter-se vivo, nos transformaram em máquinas de procurar gorduras e carboidratos e acumular as sobras na forma de tecido adiposo. Funcionou bem até que inventaram o baconzitos e o cheesecake. A proporção de obesos e diabéticos no planeta explodiu.

Memória: | (Gilvan e Graziela) Exilados voltam e passam o Natal presos

Jornal do Brasil - terça-feira, 26/12/78

Legenda: Graziela e Gilvan Cavalcanti de Melo foram liberados na Polícia Marítima às 11 horas

Exilados voltam e passam o Natal explicando por que voltaram sem passaportes

Fora do país há seis anos, absolvido em setembro último da acusação de pertencer ao PCB, o ex-funcionário do INPS Gilvan Cavalcanti Melo, chegou do Panamá com a mulher e os dois filhos, no domingo e foi preso. A Embaixada do Brasil informara que poderiam desembarcar só com a carteira de identidade, mas a polícia deteve o casal por 12 horas durante a noite de Natal, para saber porque estavam sem passaportes.

O Sr. Gilvan e D. Graziela Cavalcanti Melo passaram a noite num sofá da Delegacia de Polícia Marítima, onde foram interrogados ontem de manhã e liberados depois de preencherem um questionário mimeografado. Os filhos, Gilvan de 16 anos, paralítico, e Ana Amélia, de 12, foram dispensados pela polícia ainda no aeroporto e ficaram com parentes.

GARANTIA

Hoje, com 43 anos, o Sr. Gilvan de Cavalcanti Melo, nascido em Pernambuco, foi demitido do INPS por decreto baseado no AI-5, em 1972, sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro. Logo após foi com a família para Buenos Aires, Porto Alegre e finalmente Santiago onde trabalhou na Corporação de Fomento.

Com a derrubada do Governo Allende, asilaram-se na Embaixada do Panamá, país onde o Sr. Gilvan conseguiu trabalho numa empresa de administração. Morou durante algum tempo em Cuba que lhe forneceu documento de identidade.

Ao saber de sua absolvição em processo na 2ª Auditoria da Marinha em 19 de setembro, o Sr. Gilvan consultou a Embaixada do Brasil no Panamá e recebeu a garantia de que poderia voltar normalmente apenas com a carteira de identidade brasileira emitida em 1972 se viajasse por uma empresa aérea brasileira.

A família embarcou num voo da Varig às 8,43 de domingo e chegou ao Aeroporto Internacional do Rio às 19,50. Levados para a Polícia Marítima e Aérea, o casal e os dois filhos foram informados de que teriam que prestar depoimentos, por não estarem com passaportes.

Após entendimento com os policiais, o Sr. Gilvan conseguiu que os filhos fossem liberados, enquanto ele e a mulher eram levados à sede da Polícia Marítima, na Av. Rodrigues Alves. Ali passaram a noite do Natal, recostados num sofá. O advogado Humberto Jansen chegou à delegacia às 7hs, mas só conseguiu liberar o casal, às 11h, depois que os dois prestaram depoimentos de uma hora cada um. 

No questionário tiveram que informar as condições de saída do país, como viviam e onde trabalhavam no exterior e porque voltaram. Agora o que quero fazer mesmo é assistir um jogo do meu Vasco”, disse o Sr. Gilvan.

Poesia | Organiza o Natal, de Carlos Drummond de Andrade - por Ivan Lima

 

Música | MPB4, Chico Buarque - Roda Viva